segunda-feira, 12 de março de 2007

DA PARANÉTICA DO FREI CALVO À ANAMNESE DO Pe. ANSELMO

A propósito do frei Calvo que estava careca com dar recados aos Filipes para deixarem Portugal em paz, mas que os espanhóis não havia meio de perceberem por as mensagens serem em linguagem cifrada, dizia um comentador que também no tempo de Salazar se usava essa linguagem codificada e simbólica.
Porém reparem nos escritos de alguns teólogos actuais, e verão que coitados, se vêem na contingência de ter que usar a mesma linguagem, agora não sei com medo de quê.
Vejamos o exemplo que se segue:
“(…)
Dentro do horizonte hermenêutico, é preciso sublinhar a perspectiva teológica de género, pondo em questão a estrutura androcêntrica e patriarcal das doutrinas e teorias religiosas e teológicas.
(…)
O horizonte ético-praxístico implica a ética como teologia primeira. A teologia move-se no horizonte da razão prática e não no da razão pura e reconstrói-se através da leitura da História no seu reverso…
(…)
Inseparável do horizonte ético-praxístico é o horizonte utópico, que parte do princípio esperança, esperança que ilumina a razão e que, por sua vez, se deixa iluminar por ela. Para todos parece claro que a teologia é procura da intelecção da fé.
(…)
Indissociável do horizonte utópico, ético- -praxístico e anamnético aparece o horizonte político e económico, que exige uma praxis libertadora e inclusiva das pessoas, dos povos, dos países e continentes.
(…)
Não se pode esquecer o horizonte simbólico, porque, pela sua própria natureza, a teologia, se quiser manter-se fiel ao Sagrado que se revela e oculta, tem de substituir a linguagem dogmática pela linguagem simbólica. Como dizia Ricoeur, "o símbolo dá que pensar", enquanto o dogma tende a fechar o horizonte do pensamento e do sentido.
(…)
A teologia é teologia das religiões empenhadas na libertação, portanto, teologia libertadora das religiões. O horizonte do diálogo inter-religioso é a libertação-salvação enquanto experiência radical de sentido frente ao sem sentido dos explorados, dos humilhados, das vítimas e da morte.”
Padre Anselmo Borges s. j. in DN de 11.03.07
Os explorados, os humilhados, as vítimas e a morte, ficam muito sensibilizados e agradecem ao Sr. Padre ter-se lembrado deles, mas não percebem patavina do que esteve p’rái a dizer. De qualquer forma dizem tóbrigadinho, porque devem ser coisas muito importantes.
Isto é que vai aqui uma paranética!
Ezequil Vintém -Ex-frei Pancrácio

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo contigo. Certos discursos devem tranquilizar a consciência de quem os produz mas nada pretendem mudar de facto. Pensa no caso do sereníssimo César das Neves
cujas análises são um serviço prestado ao pensamento dominante.
Eduardo Bento