sábado, 29 de junho de 2013

POBREZA ESCANDALOSA E POBREZA VIRTUOSA

1. O Papa Francisco não tem precisado das habituais campanhas de marketing destinadas à construção de uma vedeta, para consumo dos meios de comunicação social. Os gestos simples, calorosos e alegres de proximidade surgem como o seu modo de ser. O que lhe importa é deslocar os olhos das pessoas para o mundo dos pobres, excluídos e marginalizados, denunciando as opções económicas e financeiras que aprofundam o abismo entre os muito pobres e a dominação de interesses incontrolados, a nível local e global. Alerta para o carreirismo eclesiástico e o seu aburguesamento, ataca o moralismo hipócrita que, a coberto de preceitos e normas canónicas, oprime a consciência dos fiéis, em vez de os acolher, libertar e responsabilizar. Nota-se, na sua prática, a preocupação de ajudar a Igreja a tornar-se um rosto humano de Deus e a advogada da dignidade divina dos ofendidos. Destaca os que servem a Igreja e a sociedade sem nada pedirem em troca.
Estas atitudes podem tornar-se um incentivo para a reforma da Igreja no seu todo, das cúrias diocesanas e vaticana, assim como das congregações religiosas e movimentos católicos. Não servem para substituir o grande vazio mundial de lideranças humanistas e espirituais, nem para promover o culto da personalidade, a papolatria.
A forma como o papa Francisco acaba de evocar a figura de S. João Baptista mostra que não entende a Igreja como o sol do mundo. A Igreja é apenas a lua. Não é a fonte da Luz, precisa de ser iluminada. Como João Baptista, é a voz da Palavra que escuta e medita, não é a Palavra.           
2. Pertence, por isso, à verdade da Igreja ser radicalmente pobre. Nasce e alimenta-se da graça divina nas expressões da história humana, segundo a diversidade das culturas e tradições religiosas. Nas comunidades cristãs tudo é fruto de um dom para que cultivem a gratuidade nos serviços que prestam à sociedade: recebestes de graça, dai de graça.
As comunidades cristãs não são a salvação, mas sacramento, sinal e instrumento da salvaguarda e da cura da natureza. O alfa, o ómega e o coração do mundo é o Mistério infinito no qual vivemos, nos movemos e existimos. A Igreja existe para nos acordar para o essencial.          
O contributo destes breves meses de pontificado está de acordo com a liturgia do passado domingo: Jesus não recusou o papel profético que o povo reconheceu nele, mas recusou o de Messias. Porque terá sido e por que terá essa recusa um alcance permanente para a Igreja?
O profeta é um clarividente, um lúcido que procura que todos vivam com lucidez. O seu propósito não é ter poder, mas contribuir para que o povo e os governantes não se enganem, não enganem, nem se deixem enganar. Descubram onde está a verdadeira vida. Para o autêntico profeta, a paz é filha do direito, da justiça, da verdade e da sabedoria.
A figura do Messias, pelo contrário, é a de quem resolve, de forma “teocrática”, milagrosa os problemas económicos, sociais e políticos. O Messias é um caudilho que manipula a opinião pública para conseguir e manter o poder. Os textos evangélicos encaram as tentações messiânicas como diabólicas: não deixam Deus ser Deus, nem os seres humanos responsabilizarem-se pela sua história. Deus é um tapa buracos e os seres humanos paus mandados de forças obscuras.
Jesus só foi reconhecido Cristo (Messias), – aliás um Messias crucificado -, porque venceu a tentação caudilhista. Defendeu a causa dos pobres, denunciou a idolatria do dinheiro e os ricos avarentos, provocou a conversão dos “zaqueus”, dispondo-os a restituir os frutos da corrupção, sem nunca se tornar sectário.     
3. Não se espera que a Igreja seja uma academia, um centro de investigação, um conjunto de faculdades dedicadas ao ensino da economia, das finanças, da gestão e das ciências políticas. Desde o Papa Leão XIII, foi-se constituindo, embora avaliada de formas diferentes, a chamada Doutrina Social da Igreja que, de facto, é a doutrina social dos papas. É desejável que, no seio das comunidades cristãs, muitas pessoas se dediquem, com todo o afinco, a cultivar ciências, artes e sabedorias para produzir e distribuir, da forma mais justa e mais respeitadora da natureza, tudo o que torna a vida humana mais digna de ser vivida. Neste sentido, é normal, que numa Igreja pluralista, surjam pensadores da realidade social de várias orientações, mas que possam confrontar-se e dialogar[i].
Jesus Cristo não deixou à Igreja, em herança, nenhum tratado de ciências sociais. Como quem diz, se delas precisarem, inventem-nas por vossa conta e risco, mas sem a minha assinatura. Deixou-nos, no entanto, indicações preciosas: todas as instituições são para alimentar e dignificar a vida humana; é escandaloso colocar a vida humana ao serviço do dinheiro e das suas instituições.
Mais escandaloso ainda, é continuar a plantar árvores que só podem dar frutos de injustiça e miséria, pobreza escandalosa.

Fr. Bento Domingues OP
30.06.2013


[i]  Jeffrey Sachs, O Fim da Pobreza, Casa das Letras, 2005; Coord. Lucy Williams, O Direito Internacional da Pobreza, Sucuru, 2010; Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo, Economia dos Pobres, Temas e Debates, 2012; Tim Jackson, Prosperidade sem Crescimento, Tinta da China, 2013.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

UM DEUS IRREMEDIAVELMENTE MASCULINO? -Fr. Bento Domingues, OP


1. Consta que nas “redes sociais” circulam campanhas para correr com o Papa Francisco. Como João Paulo I não se soube defender das consequências de ter ressuscitado o estilo das atitudes, palavras e gestos de João XXIII, diz-se que o papa Francisco pode sair-se mal com o seu “populismo”, diversamente interpretado. Para uns, não passa de uma táctica para esconder o seu velho conservadorismo; para outros, é o caminho escolhido para ganhar apoios em todo o mundo, dentro e fora da Igreja Católica, para liquidar, de vez, o poder da Cúria Romana. Porque não pôr a hipótese de se tratar, sobretudo, de um modo de ser, de uma característica de personalidade?  
 A acusação mais grave contra este papa não se prende com questões de estilo, mas, sobretudo, de carácter teológico. O Pontífice romano teria falado de Deus, como Pai e Mãe, como Mãe, ou como Rosto materno de Deus.
 Esse género de antropomorfismos estiveram muito em uso em certas comunidades cristãs da América Latina e atraíram o sorriso atrevido João Paulo I. Não agradaram muito aos seus sucessores. Regressou agora, de forma descontraída, mas embateu com as rotinas de uso corrente no âmbito das religiões monoteístas: Deus é masculino, podemos chamar-lhe pai; mãe, nunca! Servir para pai e mãe, um deus unissexo, não fica bem na boca de um papa!
Na tradição da teologia mística do famoso Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V-VI), dizer Deus é referir-se à profundidade infinita e inapreensível do mistério. Nenhum nome lhe pode ser verdadeiramente adequado. Ao ser evocado na linguagem simbólica, sabe-se que esta vem dos abismos do silêncio e carrega, em cada afirmação, uma negação para vencer a tentação da idolatria. Quando alguém se fixa em representações de um deus unissexo ou pluri-sexual não se salta para fora dessa prisão. Só é possível chamar a Deus Pai e Mãe ou referir-se ao rosto materno de Deus, quando se vive na raiz da linguagem metafórica. Esta remete para a Realidade que não cabe em nenhum conceito nem se esgota em nenhuma experiência. O cristianismo não pode esquecer as suas raízes: o amor crucificado que não renuncia à pátria da alegria. Às expressões de “espiritualidades apoetadas”, de meladas facilidades, aconselharia uma cura na poesia de Herberto Helder, de Paul Celan, de Angelus Silesius ou na mística do Mestre Eckhart.
  2. As atitudes e as palavras do Papa Francisco não são nem herméticas, nem lamechas. São bem humoradas. Mostrou-o, mais uma vez, no dia 7 de Junho, na Aula Paulo VI, no encontro onde recebeu delegações dos colégios jesuítas da Itália e da Albânia. O cenário exigia solenidade, exaltação de grupo e aproveitamento apologético. Logo à partida, o Papa, olhando para a assembleia, destruiu um discurso preparado, de cinco páginas, que lhe pareceu completamente inadequado e aborrecido. Limitou-se a fazer um pequeno resumo e optou pelo diálogo. Faziam-lhe perguntas e ele respondia. As perguntas das crianças iam bem preparadas e tocavam na sua opção de ter renunciado ao luxuoso apartamento no Vaticano e a um grande carro. O importante foi a resposta. Não deu uma lição de grande asceta. Fixou-se em algo muito mais simples: não gosta de viver só. Gosta de viver no meio das pessoas. É uma questão de personalidade e contou o que, com humor, respondeu a um professor: por razões de ordem psiquiátrica.
3. No referido encontro, nem só as crianças tinham perguntas:Como adultos das escolas jesuítas, diga-nos algumas palavras sobre como poderá ser jesuítico e evangélico o nosso compromisso, o nosso trabalho, hoje, em Itália e no mundo?” A resposta não podia ser mais directa nem mais incisiva: ” Nós, cristãos, não podemos fazer de Pilatos, lavar as mãos. Temos de nos meter na política porque a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. Diz-se que a política está muito suja, mas eu pergunto, está suja porquê? Será porque os cristãos não se metem nela com espírito evangélico? É a pergunta que eu faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros. Mas eu, o que faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever cristão”.
Não basta dizer que os cristãos se devem meter na política. Importa reflectir sobre as razões que os movem nessa participação activa. O Papa destaca uma coincidência entre a razão política – a buscado bem comum – e a maior virtude teologal - a caridade. No entanto, tudo pode ser corrompido. Os antigos diziam que o melhor se pode tornar péssimo, optima péssima. Por isso, acrescenta o Papa Francisco: na política, mas com espírito evangélico. Para servir e não para se servir.
A política, hoje, está dominada pela finança e pelos seus jogos, locais e globais. O prestígio, no âmbito político, resulta de uma carreira brilhante no mundo da finança. Santiago Onzoño, da IE Business School, recorda que os grandes professores de finanças, sobretudo os que vivem nos Estados Unidos, estão a descobrir as virtudes da modéstia e da humildade. Estamos perante uma ciência ainda na fase da infância.
Em Portugal, continuam na fase da arrogância, de quem vive no segredo dos mercados, dos seus inescrutáveis desígnios e nos ditam as suas indiscutíveis leis. Ser cristão ou não é igual.

16 de Junho 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

HORÁCIO PEIXOTO DE ARAÚJO

A freguesia de Prado e o Munícipio de Vila Verde, homenagearam no passado sábado, dia 8, um ilustre filho da terra, o sempre nosso Horácio. O seu nome, passa a figurar na toponímia da terra que o viu nascer.

sábado, 8 de junho de 2013

O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS MAL PINTADO

1. Na passada sexta-feira foi celebrada a festa do Sagrado Coração de Jesus. A origem desta devoção deve-se a Santa Margarida Maria de Alacoque, religiosa da Ordem da Visitação, que manifestou ter recebido extraordinárias revelações pessoais de Jesus Cristo, entre 1673 e 1675.
Depois, a partir de Portugal, a Beata Maria do Divino Coração, condessa de Droste zu Vischering, obteve do Papa Leão XIII, em 1899, a consagração do mundo a esta invocação. Várias congregações religiosas, femininas e masculinas, assim como igrejas, paróquias, basílicas e outros monumentos passaram a ser designados como do Sagrado Coração de Jesus. A devoção das nove primeiras sextas-feiras de cada mês, acompanhada de doze promessas de garantia, teve um grande êxito, em vários países.
Em Lisboa, existe uma igreja paroquial dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, obra dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, que recebeu o prémio Valmor em 1975 e é monumento nacional, desde 2010. Apesar de todas as diligências, o Sagrado Coração de Jesus não conseguiu, na altura, encontrar nenhum grande artista que o quisesse pintar ou esculpir. Fui ao Google verificar se teria havido algum esquecimento. Entre as mais de quatrocentas imagens visitadas não encontrei uma que lá pudesse figurar, sem atentar contra a qualidade daquela arquitectura. Aliás, a reprodução de tais imagens é sempre a multiplicação da fealdade. Não é apenas um defeito português, é uma importação. A revista L’ Árt Sacré, dos padres dominicanos Marie-Alain Couturier e Pie Régamey, na secção campo contra campo, as imagens do Sagrado Coração de Jesus eram sempre apresentadas como a desfiguração da autêntica arte sacra. Eles apostaram no génio, em artistas como Matisse, Rouault, Léger, Bonnard, Chagall, Braque, Corbusier, entre outros, mas o Coração de Jesus continuou como está no Google.
Porque será que algumas das expressões mais belas do Antigo e do Novo Testamento tenham sido transformadas em insuportáveis figuras que apresentam entre as mãos, sobre o peito, a extracção de um coração ensanguentado, num realismo que é a própria negação do caminho simbólico, caminho da transcendência? Que terá isso a ver com a promessa bíblica evocada no baptismo, “dar-vos–ei um coração novo e infundirei em vós um espírito novo. Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne“? Será a troca de uma pedra da calçada por um naco de carne humana?
Como encontrar nas ditas imagens do “sagrado coração de Jesus” a beleza deste apelo? “ Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”
Sem sensibilidade para a linguagem simbólica, o pseudo-realismo torna-se grotesco.
2. Os textos da solenidade da sexta-feira passada são, precisamente, a orquestração literária deste apelo. Ezequiel era um profeta, testemunha da situação do povo a que pertencia, um povo no exílio, que se julgava abandonado. Ezequiel era também um grande poeta, alguém que salta para fora das evidências empíricas de uma cultura pastoril. Tem à mão uma realidade partilhada: a dos rebanhos e a dos pastores. Não vai fazer comparações. Vai colocar Deus a falar e a agir como nunca nenhum pastor o tinha feito. As metáforas são indispensáveis, mas podem ser perigosas. Ao servir-se de uma relação de pastor com as suas ovelhas, aplicada aos seres humanos, pode incorrer num equívoco. Ninguém gosta de ser ovelha, seja qual for o senhor. Tomada à letra, essa expressão é degradante, não é de cidadãos. Para não ofender as ovelhas, quando encontramos seres humanos servis, chamamos-lhes carneiros.
A parábola do Bom Pastor (Lc 15,3-7) faz a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento, pois a metáfora só vale para o pastor, para aquele que cuida das ovelhas, sem pensar no lucro que lhe dão, mas pelo amor que lhes tem. Usa, por isso, de uma irracionalidade: deixar em perigo noventa e nove, o rebanho todo, para ir atrás de uma desgarrada. Ao extremar as atitudes, até ao absurdo, indica que está a falar de outra coisa que não cabe no registo do razoável, que está fora da lógica dos números. Para Deus cada pessoa é insubstituível. Em todo o lado, noventa e nove são noventa e nove e uma apenas uma. Na lei dos grandes números mais um ou menos um não é relevante.
3. Paulo, na segunda leitura (Rom 5,5b-11), não fala em parábolas, nem constrói grandes teorias psicológicas ou filosóficas sobre o amor. Só lhe interessa mostrar que a lógica do comportamento de Deus em relação a nós, salta para fora do amor razoável. Segue a loucura da sua própria gratuidade. Não tem porquês. É a respiração do seu modo de ser. Não olha para quem merece ou não merece ser amado. É o amor que nos tem que nos pode tornar amáveis, se nele consentirmos. Mas o seu amor é anterior a tudo. Neste ponto coincide com S. João: Deus é amor, o amor que nos amou primeiro.

09.06.2013

Fr. Bento Domingues -ins "Público"

domingo, 2 de junho de 2013

O SEGREDO DA ALEGRIA DE JOÃO XXIII (2)

1. É próprio do moralismo destilar maldições sobre as mais autênticas alegrias humanas. Instalou-se, há muitos séculos, em certas correntes do cristianismo e reaparece, periodicamente, como se fosse a sua versão mais genuína pelo seu “desprezo do mundo”. É, na verdade, uma importação estranha à poética pregação de Cristo que respira, em cada gesto e em cada parábola, o gosto da plenitude da vida (Jo 20,30-31).
A evasão gnóstica foi denunciada por S. João ao falar de Cristo como Aquele que ouvimos, vimos com os nossos olhos e nossas mãos apalparam da Palavra da vida (…) E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa (1 Jo 1, 1-4). A pregação e a intervenção da Igreja só valem na medida em que forem Evangelho, isto é, revelação de que, da parte de Deus, todos somos amados, mas com um encargo: amai-vos uns aos outros (Jo 15, 12-17).
Dir-se-á que qualquer um, em dia sim, poderia escrever algo parecido. Esqueci, nas transcrições referidas, uma frase que perturba essa veleidade: ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Não fica por aqui: sois meus amigos se esta for a vossa prática. Se os bons sentimentos não chegam para a boa literatura, também não são as boas intenções que nos salvam.
2. João XXIII agradeceu sempre a Deus ter nascido com bom feitio, mas nunca se contentou com o seu contagiante bom humor, testemunhado nos fioretti, que sobre ele foram publicados. Recorde-se a resposta que deu a quem lhe perguntou quantas pessoas trabalhavam no Vaticano: mais ou menos metade.
No Resumo das grandes graças feitas a quem tem pouca estima por si próprio, mas recebe as boas inspirações e as aplica com humildade e confiança, podemos ler:
«Primeira Graça: Aceitar com simplicidade e honra o peso do pontificado, com a alegria de poder dizer que nada fiz para o provocar, absolutamente nada; antes, com a preocupação diligente e consciente de não ter chamado a atenção sobre a minha pessoa; muito contente, durante as variações do Conclave, quando via alguma possibilidade de diminuir no meu horizonte e voltar-me para outras pessoas, verdadeiramente digníssimas e venerandas, em minha opinião.
Segunda Graça: Surgirem, no meu espírito, como simples e de execução imediata, algumas ideias, nada complexas, pelo contrário bastante simples, mas de vasto alcance e responsabilidade em relação ao futuro e com sucesso imediato. Exemplos da expressão: colher as boas inspirações do Senhor, “simpliciter et confidenter”!
Sem ter pensado nisso antes, terem saído de mim, numa primeira conversa com o meu Secretário de Estado, a 20 de Janeiro de 1959, palavras sobre o Concílio Ecuménico, o Sínodo Diocesano e a remodelação do Código de Direito Canónico, contrariamente a todas as minhas suposições ou pensamentos sobre este ponto.
O primeiro a ficar surpreendido com esta minha proposta fui eu próprio, sem que alguma vez me tivesse dado indicações a este respeito.
E dizer que tudo, depois, me pareceu tão natural no seu imediato e continuo desenrolar!
Depois de três anos de preparação laboriosa, é certo, mas também feliz e tranquila, eis-me agora nas faldas da Santa Montanha.
Que o Senhor nos ampare para conduzirmos tudo a bom termo».
3. João XXIII poderia dizer, como o poeta: o Concílio aconteceu-me. Numa nota escrita em 1959 pode ler-se: “Este é o mistério da minha vida. Não procureis outra explicação. Repeti sempre a frase de S Gregório Nanzianzeno: voluntas tua pax nostra”.
Ao longo de toda a sua vida, como testemunha o seu Diário, o que procurou, em primeiro lugar, foi cultivar a humildade para estar disponível, livre, para o que Deus quisesse fazer dele. Cada passo nesta direcção era um motivo de alegria. Ele gostava da sua família, gostou da vida no seminário, de ser padre, de ser bispo, de ser papa e de descobrir que tudo foram etapas para chegar ao ponto de sentir que o mundo inteiro era a sua família. Nessa altura, sentiu-se na onda de Deus. Não era uma conquista ideológica ou teológica, mas o fruto de ter amado todos aqueles com quem viveu e a quem foi enviado: Bulgária, Turquia, Grécia, França. Descobriu, não só outras faces da Igreja Católica, mas também a Igreja Ortodoxa, o Islão e o mundo laico. Foi um acolhimento transformador, dele próprio e dos outros. Tornou-se um pontífice, uma pessoa que faz pontes, que põe mundos em contacto.
Ao ler o Diário de João XXIII parece que tudo lhe acontece sem premeditação, mas não sem método: “o esforço vigilante de reduzir tudo, princípios, preocupações, posições, trabalho, ao máximo de simplicidade e de calma; o podar atentamente a minha vida daquilo que apenas é folhagem inútil e gavinha e dirigir-me à verdade, à justiça e à caridade, sobretudo à caridade. Qualquer outro sistema não é mais do que atitude e busca de afirmação pessoal que se trai e se torna embaraçante e ridícula. (…) Deixo aos outros a superabundância da astúcia e da chamada perícia diplomática e continuo a contentar-me com a minha bonomia e simplicidade de sentimentos, de palavra e de trato. O resultado final é sempre favorável a quem permanece fiel à doutrina e aos exemplos do Senhor”.
Fr. Bento Domingues in Público (2/6)

sábado, 1 de junho de 2013

ANIVERSÁRIOS EM JUNHO

Durante este mês celebram o seu aniversário os
nossos Amigos
NOME                                                                 Dia
  João Jorge das Neves                                                   4
  Dinis Martins                                                              11
  António B. de Pinho                                                     27
  Elias Pereira Matias                                                      27
  João António Gomes Ferro                                             28
  António Luís Silveira da Costa Martins                               29
Para todos os nossos parabéns e os votos de um futuro cheio de 
Bençãos de Deus