domingo, 29 de outubro de 2017

Aniversários em Novembro


Durante este mês celebram o seu aniversário os
nossos Amigos
NOME                                                                 Dia
  Isidro da Silva Dias                                                        6
  Armando Vicente Morais                                                 7
  Carlos Manuel Marques Pires                                           8
  Manuel Frias Pena                                                        9
  Leonel Dias da Silva                                                      9
  Fernando Tavares Caetano                                             9
  António Ezequiel Pereira Lucas                                       10
  Carlos Manuel Vieira Baleco                                           14
  Jose Antunes Ribeiro                                                   18
  Manuel Neves de Carvalho                                             19
  Luis Manuel Dias Esteves                                              19
  José dos Santos Fortunato                                            28
  Jaime Carvalho Coelho                                                  28
Para todos os nossos parabéns e os votos de um futuro cheio de 

Bençãos de Deus.

domingo, 1 de outubro de 2017

Fernando, eu me confesso Pessoa.

Por: Fernando Maria Faustino 
setembro de 2017

              Que linda tarde de setembro! O sol escalda e ilumina intensamente a cidade de Lisboa. Dentro do escritório do quarto andar da Rua dos Douradores, o calor é sufocante e o ar quase irrespirável. Aproximo-me da janela. Inquieto e nervoso, lanço um olhar atento sobre a cidade. Pessoas, vestidas de cores leves, caminham apressadas por uma urgência qualquer; outras deambulam vagarosas sem terem, aparentemente, uma tarefa a cumprir ou uma vida a realizar. O rumor do exterior esbate-se nas vidraças transparentes e relembro Cesário Verde. Sinto-me aprisionado numa vida que não quero. Ser correspondente comercial não é minha ambição, apenas uma necessidade. Não reclamo sinecuras ou outros rendimentos, pois aprendi com Ricardo Reis a viver a simplicidade da aurea mediocritas. Mas esta vidinha, consumida por traduções e retroversões de natureza comercial e regulada por imposições de horários rígidos com a precisão de um maquinismo futurista, banaliza e anula a existência humana. Por isso, a angústia, o tédio e a abulia enraízam-se na alma. Freneticamente, desço as escadas. Alheio à multidão, dirijo-me compulsivamente ao Café Martinho da Arcada. Sento-me à mesa, a mesa do Fernando — como é conhecida — e aguardo o lenitivo para a alma. O empregado, num olhar cúmplice, lança um cumprimento maquinal e enche o cálice de aguardente. Inicia-se então a luta entre a resistência estoica à bebida em busca da autodisciplina necessária — o médico e o fígado já tinham feito sérias advertências — e o desejo epicurista de fruir tão precioso néctar. Já que a vida é efémera, aproveite-se o momento e, de preferência, antes carpe horam que carpe diem. No fundo, é a quase indecisão entre o enlaçar e desenlaçar as mãos. Tomo o cálice nas mãos com a devoção de um ritual sagrado e bebo delicadamente a oferta de Baco. As papilas gustativas, ávidas, erguem-se numa ode triunfal e propiciam um turbilhão de sensações que povoam o corpo e a alma. Só Walt Whitman e Campos compreenderão o que em mim está sentindo é a alegre inconsciência libertadora da dor de pensar. Qual ataraxia, qual ausência de perturbação! Nem a felicidade do gato que brinca na rua me causa inveja. Se Lídia perde a mão do amado, eu perco-me nos vapores dionisíacos conducentes a uma interpretação cética da realidade que aniquila vontades e convicções. Reduzo-me à negatividade niilista do que sou ou fui, do que poderia ter sido e não fui. Cá estou mais uma vez com a mania das análises introspetivas. Paradoxalmente, sinto-me feliz, livro-me dos enleios obsidiantes da timidez e consigo alcançar essa coisa que é linda. 2 Hoje combinei encontrar-me com a Ophélia Queirós, a minha namoradinha, no Cais do Sodré para fazermos a sigthseeing trip no elétrico da Carris. Todavia, tenho de passar primeiramente pelo Príncipe Real — atualmente aluguei aí um quarto — para tomar um banho refrescante e mudar de roupa, se bem que a indumentária seja sempre invariável e formal. Saio do quarto e desço a Rua da Misericórdia. Perceciono com todos os sentidos atenta e objetivamente tudo o que me rodeia, talvez porque ame Cesário Verde, talvez porque Bernardo Soares e Alberto Caeiro têm falado muito comigo ultimamente. Ninguém é imune a influências literárias. À minha frente ergue-se a estátua de Camões. Não fosse o egrégio épico e o que seria a minha obra? Mas a minha admiração é também inveja, sentimento inconfesso e mesquinho. A sua grandeza faz sombra aos arbustos que querem ser árvores. Infelizmente não é sonho, mas realidade. Eu sou a árvore das árvores, eu sou o Supra Camões encarnado na antítese viva, lúcida e poética. Camões canta o Portugal do passado, eu canto o Portugal do futuro; ele canta o império material, eu o espiritual; os seus heróis não são eleitos nem predestinados por Deus, ao contrário dos meus. Li Edgar Allan Poe, John Milton, Alfred Tennyson, Baudelaire, Mallarmé, Vieira, Antero, Camilo Pessanha e tantos outros que Camões jamais lerá. Ele não tinha biblioteca, estudava as antologias de Rodhiginus, Voltarenus, Perrotus, Catari…, ou julgam mesmo que Camões andava pelo Oriente e pelas Áfricas com uma biblioteca atrás de si? Claro que não! A Ofelinha diz mesmo que sou demasiado certinho para ter estes pensamentos tão pretensiosos e perversos, todavia, não sou eu que o digo, é um outro que habita em mim e, assim, é fácil declinar qualquer responsabilidade. Bem, chega de presunção e vaidade pessoal, características nas quais não me penso nem constam no universo dos 127 nomes, entre pseudónimos, heterónimos e semi- -heterónimos da lista apresentada por José Cavalcanti Filho, pretensiosismo dos meus estudiosos ao quererem limitar-me a um número definido. Impossível! Sou infinitamente múltiplo. Meto pela Rua do Alecrim e um grupo de crianças, num alvoroço inocente, anima a tarde pachorrenta. Mergulho na memória longínqua dessa infância feliz que não tive, esse paraíso irremediavelmente perdido. É um misto de saudade e nostalgia, não a saudade melancólica e tristonha de Teixeira de Pascoaes até porque a minha evocação é alegria e também le temps perdu de Proust. Chego ao Cais do Sodré e a voz da Ofelinha traz-me à realidade. Ali está ela,19 anos, pequenina, cabelo curto, olhos negros e vivos. Conheci-a no escritório e a sua inocência interessou-me. Quis declarar-me e, apesar da minha pátria ser a língua portuguesa, não consegui encontrar nem o léxico nem a sintaxe nem a semântica para formular uma simples frase. Socorri-me, então, da célebre expressão de Hamlet «Oh querida Ofélia!» No dia seguinte, beijei-a apaixonadamente por um breve instante. Nunca mais voltei a vivenciar essa experiência genuína, sensual e inocente, pois tenho a obsessão de rejeitar 3 toda a espontaneidade de emoções e sentimentos, por conseguinte, procedi à elaboração estética do beijo, trabalhando-o, elevando-o a um plano puramente intelectual. Desse beijo, restam apenas representações mentais assim como de toda a relação que mantemos. Esta pulsão incontrolável de tudo intelectualizar fez de mim e dos outros que em mim vivem um fracasso nos amores. Salva-se o Ricardo Reis que, por benemerência de Saramago, o recriou imperfeito, volúvel nos amores, isto é, humanizou-o ao envolvê-lo com Lídia, empregada do Hotel Bragança, e que nada tem a ver com as Lídias, Neeras ou Cholés convencionais das odes. Esta Lídia, sim, sensual e sem preconceitos enlaçou-lhe a mão, o corpo e a alma e deu-lhe um filho cuja paternidade não assumiu. E ainda teve a ousadia de pedir a jovem Marcenda Sampaio em casamento. Enfim, todos os outros heterónimos — e eu próprio — são flores sem fruto. Onde está aquele Reis racional e clássico que eu criei? Chega, lá estou mais uma vez a divagar sobre a minha pluralidade. Já quase não me suporto com tanta autoanálise e a propensão para o egotismo exacerbado. — Boa tarde, Ofelinha! Sempre vamos de elétrico até Belém? A minha pergunta soa a consentimento tácito. Atiro-lhe um beijo paternal ao que ela corresponde com uma ternura infindável do seu olhar aveludado. Ao contrário de mim, tudo nela é espontâneo e transparente. As viagens de elétrico são a nossa predileção, são mesmo os momentos mais felizes que partilhamos, até porque temos em comum uma grande paixão por esta Lisboa de sete colinas luminosas e de gente secular. Sentamo-nos, frente a frente, no banco esverdeado do elétrico e, ocasionalmente, quando o guarda-freio muda de direção, as rodas chiam nos carris e os solavancos bruscos propagam-se secamente por todos os passageiros, quais figuras desconjuntadas. Embato bruscamente contra o meu Bebé (nome carinhoso dado por mim a Ofélia) e desfaço-me em desculpas britânicas. No fundo, foram as únicas vezes em que os nossos corpos se sentiram amplamente. Já passámos Alcântara. A vista é desafogada e a paisagem soberba. Embarcações multicolores deslizam preguiçosamente na superfície espelhada do Tejo azul. Porto Brandão ao fundo e, felizmente, ainda não construíram aqui nenhuma ponte. Ofélia, não te oiço. Eu sou a minha própria paisagem, sou o objeto da minha observação, procuro conhecer-me e desconheço-me, não sou quem se vê nem se pensa. Estou perdido e angustiado. Chegámos a Belém. De tanto pensar, tenho a alma dorida. Eu não fiz a viagem de elétrico, estive ausente e solitário como em todas as viagens que faço em mim. Ofélia, sim, feliz e jovial, Ofélia contemplou a beleza de Lisboa.

ANIVERSARIANTES

Aniversários em Outubro
Durante este mês celebram o seu aniversário os
nossos Amigos
NOME                                                                 Dia
  Elias Dias da Silva                                                         4
  Fernando José Vaz                                                       6
  António Alves Farinha                                                    6
  Víctor Manuel de Jesus Frazão                                         8
  Ricardo Quadrado Vicente                                             12
  Francisco da Silva António                                             12
  António Pereira da Costa                                               13
  Álvaro Amaral Milagre                                                  15
  Carlos Manuel Morais Pina                                             17
  Leonel Castelão Ribeiro                                                 18
  Manuel Evangelista Costa Pinho                                       26
  Manuel Gomes Pereira                                                  29
  Jorge Fernandes Lourenço                                            31
Para todos os nossos parabéns e os votos de um futuro cheio de 

Bençãos de Deus.