quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FELIZ 2009

E andamos nós aqui, em cada ano que finda, a fazermos preces e votos e propósitos, para que o novo seja um Bom Ano ou pelo menos melhor. Cada um de nós tem a sua bitola e fará o seu juizo. Por mim, enquanto editor deste nosso espaço, tenho que congratular-me pela participação, que se vai multiplicando. Estamos mesmo a "criar laços". O meu propósito vai no sentido de que este blog seja cada vez mais o ponto de encontro de velhos companheiros, contemporâneos ou não, que aqui vão mitigando saudades. E é com alegria e franca amizade que deixo para todos o meu abraço amigo e os votos de um
FELIZ 2009
Nelson

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

ANTÓNIO OLIVEIRA DOS REIS




Descobri hoje este blog que reune os antigos alunos do Seminario de Aldeia Nova.
Fui aluno deste estabelecimento de 1966 a 1971. O meu nome é Antonio Oliveira dos Reis, para os que tiverem boa memoria. Nomes como Taborda, Alberto Freitas, Antonio Francisco, colegas de classe.
O meu endereço e-mail é
areis@videotron.ca. Vivo ha trinta e dois anos em Montreal, Canada.
Gostaria de contactar outros antigos alunos desse periodo para relembrar as aventuras das quintas à tarde e domingos pelos arredores, passando pelas tardes de matraquilhos na taberna do sapateiro.

Até breve.


Antonio Reis (Padeiro)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS!...


Aqui, na Beira Alta, vivemos o cenário perfeito do Natal que nos contavam. Não temos neve agora, mas faz bastante frio, facto que convida a uma Consoada com a lareira por perto. Vai ser assim comigo e com os meus.
Quero deixar para todos vós, meus amigos, velhos companheiros da minha infãncia e juventude e a todos aqueles com quem já me cruzei neste nosso espaço, os votos de um
FELIZ NATAL
Nelson Veiga

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

REFLEXÕES (INOPORTUNAS) SOBRE O TEMPO DE NATAL

Exausta fujo às arenas do puro intolerável
Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
Sophia de Mello Breyner

É tempo de Natal.
Não trago hoje, para aqui, lamentosos tons sobre este tempo de consumismo e de ansiedade deslumbrada, que enfernizam a vida. Nem sequer falo do espírito de fraternal alegria que se foi perdendo e que esta Quadra nos trazia desde o mais fundo dos tempos. Nem direi do pai natal, essa figura alarve, que enche todos os anúncios com o seu barrete, as suas barbas, o seu fato encarniçado de publicitário.
Interrogo-me sobre a intolerável capitulação da nossa civilização perante o Nada, alienada, tomada de assalto pelo superficial.
Li há dias que numa escola de Inglaterra não se iria festejar o Natal para não ferir a susceptibilidade dos alunos de outras religiões. Se eu não soubesse que estava a viver neste tempo vazio, sem pontos de referência, ficaria embasbacado, e deixaria que o espanto me abocanhasse. Mas não. Este tempo está entregue ao triunfo triste do relativismo, à debandada da nossa civilização. Este tempo é propício à morte de todos os sonhos.
Como que temos vergonha, em nome do pluralismo cultural, daquilo que nos caracteriza e faz parte da nossa história. Estamos a ser expulsos da nossa própria casa, invadidos pela nossa estupidez.
Chegaremos ao ponto de recusar o domingo como dia de descanso porque isso é de origem cristã e poderemos estar a ofender pessoas de outras religiões que vivem entre nós. Chegaremos a apagar Afonso Henriques da nossa história, mau exemplo de intolerância para com os Mouros; tiraremos dos manuais escolares D. Afonso V, o «africano», em nome do multiculturalismo…
E a narrativa da batalha de Aljubarrota, por exigência da fraternidade ibérica passará ser assim: «E havendo encontro marcado entre portugueses e espanhóis, ali para os lados do mosteiro da Batalha, com muitos tambores, trombetas, pandeiretas, gaitas de foles e relinchos de cavalos, qualquer coisa correu mal. Nisto, os espanhóis começaram a sair com muita pressa e foram-se asinha sem se despedirem. Cinco deles ficaram para trás tendo sido encontrados por uma padeira que, com muita bondade e caridade, deu um pão a cada um e ainda lhes pagou o bilhete para Badajoz».
Triste tempo, este meu tempo. É nesta ideologia do vazio que vão apostando todos os demagogos que nos vão tratando da saúde. Com o nosso voto.


Eduardo Bento

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MISTÉRIOS DO PINHAL DE LEIRIA



O prometido é devido. Assim era pelo menos até alguns políticos passarem a fazer mau uso das promessas como quem utiliza a cenoura para incentivar as bestas a andarem na direcção pretendida.
Queriam os meus amigos saber como é que eu tinha quase morrido de susto no caminho de Caxarias para Aldeia Nova.
Então vamos lá descascar isto.

Cheguei a Caxarias “por volta da viragem do dia” ou se preferirem na hora de “vésperas”. Aliviei o comboio da minha carga e de mim próprio, enchi os pulmões do ar do pinhal e o cheiro a madeira serrada invadiu-me as glândulas olfatórias. Num ápice dei por mim ali sozinho. Nem carrinha do seminário, nem seminaristas a aguardá-la. Decidi esperar um pouco a ver no que aquilo dava. Deu em nada. Talvez eu tivesse chegado um dia mais cedo, ou me tenha atrasado um dia. O tempo das férias grandes era tão longo que a gente lhe perdia a conta.
Confirmado o receio de que ninguém me viria buscar e a certeza de que os telemóveis só surgiriam cinquenta anos mais tarde, resolvi (decisão forçada) pôr os pés a caminho. Mas que jeito faria o telemóvel naquele momento. Só que na época os sinais de fumo tinham caído em desuso e as próprias comunicações por fio era incipientes. Era o chamado tempo de transição.
O Sol apressava-se a recolher a penates quando iniciei a caminhada. Entre Caxarias e Urqueira o ânimo manteve-se em alta. Cruzei-me ainda com algumas pessoas, senti a protecção das casas e tive o caminho iluminado por alguns candeeiros. Ultrapassada a Urqueira, vi-me envolvido pela floresta com seus ruídos, seus silêncios e suas sombras a moverem-se na noite. Mutatis mutandis, o sentimento de insegurança e impotência era idêntico ao vivido num barco no meio do oceano - (sei do que falo). Sentir que a qualquer instante podia ser engolido.
Alguns quilómetros adiante o pinhal deu lugar a terras cultivadas e vinhas. Os espaços eram mais amplos, respirava-se melhor. Pousei mais uma vez a pesada mala e descansei, de pé, para não sujar o fatinho preto de seminarista. Dei-me então conta, que nem a gravata me atrevera a desapertar, como se qualquer pequeno desleixo na indumentária com que me tinham encadernado, constituísse um sacrilégio.
Repostas as forças, levantei a mala como um halterofilista levanta o peso limite das suas forças e recomecei a caminhada.
Alguns passos decorridos, reparei que num terreno junto à berma da estrada, me seguia um cão corpulento, que a penumbra não me permitia divisar com precisão. Que estranho o comportamento deste cão, pensei. Nem ladra, nem se aproxima, apenas me segue. Estava nestas cogitações acerca do carácter do animal, quando divisei no terreno contíguo à berma contrária, outro cão idêntico no vulto e no comportamento. De tão parecidos, julguei que o primeiro tivesse mudado de berma, mas não. Eram efectivamente dois. Mais se acentuou a minha estranheza pelo comportamento dos bichos. Porque não se aproximaram e cheiraram, como é usual no cumprimento entre cães? ( Aqui para nós, felizmente os humanos inventaram o aperto de mão e o beijo na face para se cumprimentarem). Parecia também que ambos sabiam da presença do companheiro. Adivinhava-se ali uma táctica e uma estratégia longamente ensaiada. Recordei-me de algumas leituras e percebi que só podiam ser lobos. “Canus lupus signatus”, diria o P.e Oliveira.
Estremeci, mas mantive-me calmo para não demonstrar medo, já que nestas situações qualquer sinal de fraqueza é um convite à determinação das feras para atacarem a presa, lera eu algures. Houve momentos em que parecia que se aproximavam, mas provavelmente eram sugestões do meu medo. Sendo um fervoroso adepto da preservação desta espécie, não o sou ao ponto de me imolar, por amor à causa. Quando o pinhal voltou a ladear a estrada, os meus companheiros desapareceram. Eram certamente lobos maus que se aperceberam que eu não era propriamente a capuchinho vermelho nem levava bombons para a avozinha.
Foi a altura de respirar fundo, pousar a mala e descontrair os músculos retesados.
Reiniciei a marcha, sentindo-me um pouco mais leve, apesar do cansaço de quase uma légua palmilhada com carrego e das emoções por ter conhecido lobos, assim ao vivo e em directo.
Mas como uma desgraça nunca vem só, eis que do interior do pinhal soou um silvo em tudo semelhante a um assobio de homem. Ainda eu estava na dúvida, pássaro ou homem, quando passados alguns segundos se ouviu um segundo assobio, agora indubitavelmente de humano. Nesse instante, os cabelos da cabeça (que saudades) eriçaram-se. No corpo inteiro a pele arrepiou. O coração desatou aos saltos desordenados.
Se ouvi ou imaginei ruídos humanos, de seres da minha espécie, porquê este terror de dimensões muito superiores ao sentido na presença das feras? Tive o impulso de gritar por socorro mas a voz não saiu. Há males que vêm por bem, pensei, pois é possível que não tenham dado pela minha presença. Nesse caso seria melhor manter-me o mais silencioso possível. Procurei acelerar o passo mas as pernas não respondiam, pesadas como chumbo. As pernas que o transportam, nunca conseguem ser tão rápidas quanto o pânico. Por isso não lhe devem dar ouvidos.
Pensei implorar a ajuda divina, o que me pareceu despropositado, pois minutos antes já o fizera para que me salvasse de ser devorado pelas feras. Pedir para me livrar de seres da minha espécie, criados à imagem e semelhança do criador não me caía bem. Estas lucubrações são, como é evidente, anteriores ao estudo da Suma e de outras disciplinas teológicas. Cheguei a desejar que as feras me voltassem a ladear. Sentia já saudades dos irmãos lobos, com lhe chamava S. Francisco de Assis.
Eu que aninhava no consciente e no inconsciente tantos fantasmas acerca dos lobos, neste momento, após conhecê-los, tinha mais receio dos homens. Compreendi então o que tinha aprendido com o saudoso P.e Oliveira, “Homo homini lupus”.
Por vezes parecia sentir passos quase a tocarem-me os calcanhares. È desta, pensava, mas como o golpe fatal demorava, voltava a cabeça, mas só o meu terror me perseguia.
No meio da aflição, consegui avançar até divisar as primeiras casas de Aldeia Nova que me acolheu no seu regaço protector. O coração retomou o seu ritmo e a cavidade do peito que lhe está destinada. No entanto, julgo que terá sido nesse preciso momento que ficou virado para o lado direito. É possível que após o turbilhão em que esteve envolvido, se tenha posicionado mal ao retomar o seu lugar. ( Conhecemos um médico nosso amigo que poderá explicar isto melhor.)
Certo, certo, é que ainda hoje - verifiquei agora mesmo - permanece virado à direita. Situs inversus, decretaram os médicos.


Armando José

domingo, 14 de dezembro de 2008

NELSON AMARAL VEIGA -15 de Dezembro - PARABÉNS

O festejado de hoje é sóbrio, discreto (e... Beirão), por isso"corremos o risco" de não publicar este apontamento. Votos de que continues a ser um lutador de causas para as Pessoas da tua terra adoptiva, com tempo e espaço para....os NETOS.
JM

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

TURMA DE 1965-1969 -(II) - OS VERDES ANOS

O uso e o abuso da razão

Há cerca de dois meses, ao escrever algumas linhas para rememorar a minha turma de Aldeia Nova, mencionei vários colegas sem método nem cautelas especiais. Emergiram naquele momento os nomes daqueles que recordei enquanto elaborava aquela mensagem.
Reparei, logo no dia seguinte, que deixei de fora, certamente entre outros, o António Valente, proveniente das mesmas terras da Beira, da Guarda ( penso que do Souto), por mero lapso, como se compreenderá.
Na companhia do Valente vivi uma aventura e aprendi uma lição que me marcou positivamente.
Empreendedor e mais arrojado do que eu, o Valente, sabendo que, como ele, tinha família em Lisboa, desafiou-me a rumar a Lisboa numas férias da Páscoa.
- Mas como!? só tenho 20 paus e duas ou três moedas pretas ( as de tostão e dois tostões… porque as de cinco tostões ou cinquenta centavos já eram brancas como se lembrarão) !
- Não tem problema! Umas sandes para a viagem, saco a tiracolo, pé na estrada e vamos à boleia! Para cá alguém nos paga a viagem!
Ia eu a caminho dos 14 anos e penso que ele teria mais um ano. Ruminado o assunto durante umas duas semanas, a vontade e a coragem foram emergindo. Não me lembro se nos autorizaram ou se chegámos sequer a revelar o nosso plano. Mas no dia de início das férias pusemo-nos a caminho.
No primeiro lance, apanhámos uma boleia de alguém que nos deixou perto de Porto de Mós na estrada principal de Porto - Lisboa, pois seguia noutro rumo e achava que era ali que nós poderíamos mais facilmente safar-nos.
Na ocasião os carros eram raros. Lá passava um ou outro de vez em quando.
Polegar virado a Lisboa e, palmilhados quase dois quilómetros desde a primeira boleia, lá parou um carro.
- Então, vão para onde?
- Lisboa!
- Mas que vão vocês fazer a Lisboa?
- Temos lá família e vamos lá de férias de Páscoa - respondemos quase a uma voz.
- Bom… estão com sorte, entrem lá!
Inquirida a nossa proveniência e depois de feita uma revoada de perguntas, para avaliação dos dois pardais, o débito da conversa passou quase totalmente para o nosso interlocutor. Esbanjando ao longo da viagem os conceitos da moral e autoridade, os perigos, de quem apanhava boleia e de quem dava boleia. Embora com ele não fizessem farinha, pois, se algum meliante se lembrasse de se meter com ele, trazia no porta-luvas com que se defender.
Lá soubemos, pouco depois, que a boa alma, homem entre os cinquenta e os sessenta, rumava exactamente para Lisboa e, apesar de vestido à civil, era oficial ( se bem me lembro tenente-coronel) da GNR.
O Valente queria ir mesmo até Lisboa. Eu também tinha família em Lisboa mas queria ficar no Sobralinho, logo a seguir a Alhandra, onde também tinha família e era mais fácil chegar.
Sem problemas, a viagem corria melhor do que a encomenda, dissipando-se gradualmente todas as nossas dúvidas e receios de antes do início da aventura.
Chegados próximo do meu destino, Sobralinho, lá fui dando indicações até que chegámos ao local onde me dava jeito ficar. Mas o nosso benfeitor tinha de parar exactamente na auto–estrada, única existente na altura, entre Lisboa e Vila Franca de Xira, lateralmente vedada por rede metálica, como ainda hoje acontece. Torcendo um pouco o nariz lá encostou e lá me despedi muito reconhecido, deixando o António Valente muito satisfeito com viagem garantida para junto da família.
Punha eu o pé na berma e dirigia-me à vedação perscrutando a rede, para inventar uma saída, quando, de repente, chegou um polícia de mota e, energicamente, evidenciando uma autoridade que os meus verdes anos potenciavam infinitamente, apitou para o condutor, apitou para mim, e enquanto tirava as luvas, fez-me sinal para entrar imediatamente no carro, barafustando que não podia sair ali, que ia ser multado, impedindo o condutor de arrancar, e, sempre em movimento, ia gesticulando e começou logo a verberar o condutor, porque parecia impossível, se não sabia que não podia parar ali, muito menos deixar passageiros, que era um perigo e uma irresponsabilidade grave … Um vendaval de palavras adequadamente intimidatórias, por certo cheias de razão, porque as regras de trânsito eu não as conhecia!
Com os meus botões e pelo que ouvira, começava a ter saudades da minha nota de 20 paus, que já nem chegava para o estrago, pois o GNR, se bem percebera, já tinha avaliado a minha infracção em mais de 40 escudos e a do condutor em montante quatro vezes superior …!
Lembrava-me então, oportunamente, da reza da minha mãezinha em dias de tormentosas trovoadas na Beira : “Santa Bárbara bendita que no céu está escrita com papel e água benta, livrai-nos desta tormenta!”
Por outro lado, assistia incrédulo a tamanha e inesperada desumanidade, sem perceber por que motivo o condutor nem sequer abria a boca para dizer fosse o que fosse… Grande calamidade! O homem nem se defendia nem defendia o pobre rapazola que ficaria sem a sua única nota, e, pelo que tinha ouvido, tinha ainda de seguir viagem, pois só poderia ser largado depois da saída da auto-estrada, em Lisboa, num mundo que praticamente não conhecia! E como vir parar ao Sobralinho?
Depois de uma torrente tão grande de razão e autoridade, o condutor, ainda sem nada dizer, calmamente, virou-se para mim, que tinha retomado compulsivamente o meu lugar no banco de trás, e disse:
- Chegue-me aí a minha carteira do bolso de dentro do casaco!
Paulatinamente, tirou um cartão que colocou na mão do GNR.
- Faça favor!
Qual milagre dos pães ou das rosas, o polícia bateu tacões e pala várias vezes seguidas: - Meu tenente-coronel, para cá e para lá, mil desculpas, …

Mas aí a torrente de palavras inverteu-se!
- Então o senhor nem sequer tem a urbanidade de me identificar, de verificar a documentação, de esperar uma explicação ou pedi-la, põe-me aqui entre a espada e a parede, age sem um mínimo de bom senso nem consideração por nada nem ninguém, começa a disparatar sem saber o que diz, não cumpre nada do que lhe recomendaram, nem quer saber que estou aqui a cumprir um dever de cidadania para deixar este jovem num local que ele conhece para poder encontrar-se com a família, etc., etc.…
E levou ali uma desanda, sem o deixar concluir sequer o “Meu tenen...”, “ Meu tenente-coro…”
– Quem é o seu comandante!? Que instruções lhe dão para se comportar como um carroceiro?...

O homem, fardado, chegara ali cheio de razão e autoridade. A atitude que tomara e a precipitação do seu comportamento, deixaram-no sem possibilidade de retrocesso, mesmo para cumprir o seu dever.

“Meu tenente-coronel pode seguir viagem, eu mesmo indico o caminho a este senhor (o senhor era eu..!) porque a rede ali à frente está partida e pode muito bem sair, sem problemas! O GNR lá foi indicar-me a saída e o bom do tenente-coronel só arrancou quando o da farda regressava ao local onde deixara a mota.
Não basta ter razão, é preciso saber usá-la sem abusar do direito que podemos ter.
Nunca mais esqueci esta lição. Nem esqueci a serenidade de velha raposa que levou o condutor, que estava a cometer uma falta grave, a deixar espalhar literalmente o agente, até ele perder o ímpeto e o fôlego ou desconfiar de tanta calma, e de seguida usar idêntica voracidade para reduzir a incontestável razão da lei e da farda a coisa nenhuma ou, pior ainda, a um reiterado pedido de desculpas.

Como poderia então esquecer o meu amigo António Valente, cúmplice destas andanças e das viagens de comboio na linha da Beira, até Celorico da Beira?
Em desagravo, aqui fica um abraço para o António Valente, rememorando esta aventura comum.

Um abraço para todos com votos de uma bela quadra familiar e natalícia.

(Lisboa, em 2008-12-11)

Antero Monteiro( asmont@netcabo.pt )

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

ALDEIA NOVA - O CRUZAMENTO

Foi de facto esta Aldeia o local onde vossas vidas se cruzaram e as marcas desse cruzamento se mantem vivas.
Tenho sido leitor atento do Blog e isso tem feito relembrar com saudade os tempos que tinha por vizinhos os seminaristas que ao longo de muito anos foram passando por aqui.
De uma boa parte me recordo bem, e quando leio alguns nomes no Blog a memória aviva-se e logo lembro muitos outros.
Já terão entendido que sou o vizinho- O miúdo de então- O Armando- filho do homem que vos escondia as bolas porque partiam as telhas.
Não tendo sido um verdadeiro seminarista pois era aluno do colégio de Ourém e apenas no 5ºano fequentei em Aldeia Nova algumas aulas para fazer a secção de ciências
a que tinha chumbado em Ourém- especial favor do Padre Alberto Vieira no ano 69/70, sinto com muita saudade toda a vivência desta casa nesses tempos que deram fama
à minha Aldeia.
Nasci e vivo neste mesmo local aqui ao lado do seminário como ainda hoje o tratamos.
Com o meu pai, que ainda está resoluto, lembro muitos de vós, especialmente os seus afilhados do crisma que ele apadrinhou no tempo do Padre João Domingos
o Celestino- o Moreira - O Ferreira - O Neves e outros.
Por hoje fico por aqui e peço-vos autorização para, de vez em quando, nesta qualidade de "meio seminarista" me cruzar nestas mensagens e reviver o passado que, embora
de modo diferente, também fui partilhando convosco.
Fico disponivel para o que fôr necessario da minha parte.

Um grande abraço


Armando Neto (Palheira)

domingo, 7 de dezembro de 2008

DA FUZETA A ALDEIA NOVA - VIAGEM QUASE TURÍSTICA


- Não te esqueças Armando. Nós fazemos um grande sacrifício para te ter a estudar, ainda por cima tão longe. Estuda, filho.
Eram as últimas recomendações antes da carroça encostar à porta da estação da CP, Moncarapacho-Fuseta. Ainda ninguém me explicou porque só neste local a palavra Fuzeta surge com “s”. Após tantos anos, parece-me que às pessoas tanto se lhes dá. Sendo ainda por cima um território adversário, será que é imposição de Moncarapacho? “Aceitamos contrariados a junção do nome Fuzeta, mas fica em grafia incorrecta para demonstrar o nosso desagrado”. Digo eu. Que há coisas que nunca se dizem.
O meu pai prende a mula à argola postada na parede da estação para o efeito, e a família apeia-se arrastadamente, a mãe lacrimejando, o pai com expressão solene e o filho com a vocação determinada no olhar.
Passam cinco minutos das onze da noite quando a máquina a vapor entra imponente na estação a arrastar as rodas de ferro que guincham intensamente uma dor de tortura.
Vou acenando um adeus às silhuetas paternas diluídas pelo fumo da locomotiva e pela penumbra da noite mal iluminada. O intenso cheiro a carvão abafa a brisa marítima que diariamente me entra pelas narinas ao passar junto dos locais que são meus, conquistados numa infância bronzeada de ria e mar. Só nos curtos períodos de férias voltaria aos jogos de futebol nos campos deixados livres pelas marés mortas, à pesca aos robalinhos, à descoberta dos ninhos escondidos nos sapais, a tantas brincadeiras intervaladas com refrescantes mergulhos na ria Formosa.
O “Correio”- assim se chamava o ronceiro comboio - deambularia toda a noite pelo Algarve e Alentejo, acorrendo a todas as estações e apeadeiros na missão de recolha de correspondência e encomendas.
A maioria dos passageiros era constituída por militares. Comportavam-se como se estivessem em território conquistado, livres das regras militares e das normas sociais que na família e na comunidade não podem ser infringidas. Não deixava de os intrigar a presença dum “estorninho” de negro vestido aos dez anos de idade. As perguntas sucediam-se mas não dissipavam a estranheza. Daí não ser de todo surpreendente, que no sono do “objecto estranho” surgissem tropelias como derramar-lhe aguardente pela goelas abaixo, aproveitando o facto de o desvio do ceptro nasal o obrigar a respirar pela boca. De imediato surgiam muitas vozes a reclamar contra a malvadez. Mas o mal estava feito, não obstante o “estorninho” conseguir sair da aflição embora a custo de muitas lágrimas e cuspidelas envoltas em ataques de tosse.
Porquê encadernar assim um gaiato para uma viajem de cerca de 500 quilómetros em transportes públicos? Para ser posto à prova? Para dar testemunho da sua vocação?
Quando os primeiros alvores da madrugada começavam a apontar no horizonte, o casario do Barreiro envolvia a carruagem e prestes o comboio se deteria a suar e a resfolegar, fumegando de cabo a raso como um cavalo cansado. Seriam seis da manhã, mais coisa menos coisa, porque na época os horários eram vagamente indicativos.
Era a altura de arrastar a pesada mala até barco que fazia a travessia do Tejo. Num quadro impressionista começavam divisar-se progressivamente as formas, as cores e os pormenores da cidade à medida que em sintonia a luz da manhã e a aproximação de Lisboa cresciam. O mar estendia o seu braço pelo estuário do Tejo acariciando-me com a brisa fresca num derradeiro adeus.
Chegado à estação Sul-Sueste bem junto à Praça do Comércio, não havia permissão para me demorar a olhar o Cais das Colunas ou verificar qual era a pata direita da frente do cavalo de D. José. Tinha que me pôr de imediato a caminho, carregando a mala do enxoval até S. Apolónia. O enxoval do pobre era ainda assim desproporcionado no peso para as forças duma criança. Aquela milha representava uma maratona, porque chegava tão exausto como um atleta. A distância não me cansaria, não fora o carrego da mala e das preocupações que os adultos me impunham: “não fales com ninguém”, “não aceites boleia de ninguém”, “ não compres nada a ninguém”, “não vás para casa de ninguém”, “não pares no caminho”, “não abandones a mala nem por um segundo”, não assim, não assado.
Que alívio quando me sentava no banco de segunda classe do comboio para o norte. È bem verdade que para norte é que é o caminho. Para lá me guiava não a estrela, mas o facho do cão de S. Domingos. Seriam mais algumas horas, até ouvir o grito “Caxarias”, que tinha a função de despertador e de anúncio publicitário duma terra por descobrir.
E se o comboio chegou atrasado? E se os do norte já tivessem chegado todos e a carrinha “Pão de forma “ tivesse abalado com a carga completa?
Menino só tens uma solução. Pensões, não há em Caxarias. E se as houvera não terias como pagar. Portanto, mais uma vez carrega a mala do enxoval e põe-te a caminho. Recordo-me de uma única vez em que isso me sucedeu. Não sei ainda hoje quantos quilómetros distam de Caxarias a Aldeia Nova, nem quanto tempo demorei. Sei que cheguei ao destino. Mas podia ter ficado pelo caminho, morto de susto. Porquê? perguntais.
Um dia vos contarei.


Armando José

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MEMÓRIAS À VOLTA DE UMA FOTO OU ENGROSSANDO OS LAÇOS QUE CRIÁMOS.


Obrigado ao Toninho por ter desencantado esta foto. Recordo-me. Fomos para uma visita de estudo com quintanistas de Aldeia Nova. Tenho momentos bem claros de pormenores da viagem e lapsos de memória relativamente a boa parte dela. Um dos que me recordo foi deste que a fotografia se encarrega de avivar. Uma grande névoa sobre todo o resto do percurso, até à volta, perto de Vila Franca de Xira onde a carrinha começou a falhar. Teve tempo de chegar à oficina. E o diagnóstico, rude, definitivo: motor gripado. O que implica que não anda mais até adequada reparação. Novo lapso: não faço ideia como viemos parar a Aldeia Nova. Só me recordo de voltar a buscá-la, uma semana depois. Não levava dinheiro. Porquê? (lapso). No entanto autorizaram-me o levantamento do material. Era nos tempos em que palavra de frade valia. Mandei cheque depois, fazendo jus à confiança. No regresso, já noite, por alturas do Cartaxo, um pouco antes, a Volkswagen voltou a emburrar. Consegui sair da estrada para debaixo de umas árvores e fiz algumas tentativas para levar o combustível ao carburador. Nada. Resolvi então ir à procura de uma pensão para passar a noite, sem êxito. Voltei e dormi na ampla carrinha (para que precisava, afinal, de mais) coberto por uma saca e só no outro dia percebi que dormira num acampamento de ciganos quando acordei rodeado deles, curiosos. Mais do que curiosos, exigentes. Queriam alguma coisa em paga da sua honestidade: “bem vê, podíamos tê-lo assaltado”. Não assaltaram. E também nada levaram porque um teso não tem nada para assaltar nem para dar. Milagre! Consegui, ao primeiro movimento de chave, uma resposta positiva do motor o que me pôs a salvo da constrangedora situação.
Prosseguindo a viagem dei boleia a um agente da PSP, devidamente fardado. Sublinho o pormenor porque era assim que, também nós, conseguíamos boleia: fardados.
Cheguei a tempo de cumprir as funções litúrgicas que me estavam destinadas na celebração do padroeiro do Olival. (Toninho, tens fotos?)
À distância, encontro explicações para o motor gripado. Em primeiro lugar negligência na verificação atempada dos níveis do óleo, certamente. Aconteceu-me isso mais do que uma vez para desmerecimento da minha fama de bom chauffeur. Olhando para a fotografia tenho a adicionar a esta razão o número de passageiros. Dez à vista e um fotógrafo; mais o almoço, pois não fomos, seguramente, a nenhum restaurante. Tudo isto fazia carga a mais para o esforço a que as serras nos obrigavam no caminho de Sintra, por onde passámos à ida
.

PS pró Toninho: Não queres identificar as caras? Reconheço-as mas não consigo dar-lhes nomes.

Um abraço a todos
Jaime

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Parabéns

Parabéns ao Jaime pelo ………………………….ésimo aniversário e, para ilustrar a “biografia” feita pelo Moreno, junto uma recordação dum desses momentos de uma visita de estudo a Lisboa, onde parece que a carrinha ficou empestada com um líquido viscoso e cheiroso. Para a próxima, também beberemos um copo à nossa. Um abraço.
Toninho

Dá-se um prémio a quem reconhecer o local da fotografia.