quarta-feira, 2 de maio de 2007

"ONDE É QUE TU ESTAVAS NO DIA 25 DE ABRIL DE 1974?"


Antes de mais quero fazer eco a todas as vozes que já se levantaram para congratular-se com a entrada no blog do Neves de Carvalho...Mais uma “caneta”, de boa marca, que vem enriquecer o blog, e encorajar-nos a continuar. Que óptima ideia teve o António Ferreira ao introduzir o tema do 25 de Abril. Já lí duas vezes os textos que seguiram: do Neves de Carvalho, do Alexandrino, do Nelson, e do Celestino. Leio sempre pelo menos duas vezes todos os textos. A primeira em diagonal, para ràpidamente ter uma ideia do que é dito, (curiosidade!) e depois com mais calma e de forma reflectida.
Os momentos excepcionais que vivemos no dia 25 de Abril e nos dias e meses que seguiram, constituiram uma experiência única para cada um de nós; Ela marcou-nos profundamente. A prova é que cada um recorda exactamente o momento e o lugar em que recebeu essa notícia, que ia mudar a face do nosso Portugal. Como sabeis, devido à diáspora organizada pelo Provincial de então, Pe Raúl Rolo, deixei Portugal em Setembro de 1967. Quando abandonei a Ordem em 1970 e não me apresentei em Portugal para fazer o serviço militar, fui considerado como desertor e não pude voltar ao nosso país. Com a nossa Filosofia de quatro vinténs, já diziamos em Fátima que não é o homem que se constrói, mas são as circunstãncias da vida que o forjam. As tais circunstâncias fizeram com que nessa quinta feira dia 25 de Abril, me encontrasse em Clermont Ferrand. Entrei no meu escritório da Michelin às 8 horas e encontrei sobre a mesa um fax que dizia mais ou menos “ há uma revolta aquí em Lisboa não se sabe no que tudo isto vai dar. Comunicaremos por fax. Por telefone já não consigo...” a assinatura era do António Guimarães, responsável da Michelin em Portugal, meu amigo e cunhado do embaixador de Portugal no Marrocos. Imediatamente foi nomeado um dirigente françês para Michelin Portugal e o Guimarães assumiu a responsabilidade da administração Michelin do Brasil...(isto para a pequena história ). Os dez mil portuguêses de Clermont começaram a festejar timidamente a notícia para celebrar mais tarde a vitória em todas as associações, de modo especial na “Biblioteca Portuguesa” que o vosso servidor tinha fundado, alguns anos antes. Bem podeis imaginar que, privado de Portugal durante sete anos, o meu desejo era pegar no carro e precipitar-me para esse país que muito criticava, mas muito mais amava. A SAUDADE (mistura de muito amor e ausência prolongada) tornava-se insuportável! A prudência, que morreu de velha, a minha Isabel de 3 aninhos e o Benoît, de 2 meses levaram-me a adiar... Em agosto de 1975 deixámos o Bébé com a Mamie e fomos apresentar a Isabel aos avós trasmontanos. Ao chegar a Quintanilha, felizmente que ninguém me pediu para exprimir os sentimentos do momento. Minha mulher respeitou o meu silêncio que foi o nosso modo de comunicação de quase toda a viagem de ida! Na fronteira tanto os papeis como o carro e nós mesmos, tudo foi mirado à lupa o que eu achei normal, visto que a situação ainda se estava a consolidar. As três semanas passaram depressa! Ainda hoje quando pergunto à minha mulher (Auvergnate), que recordação guarda dessa viagem, a resposta é invariável: incêndios por toda a parte, apreensão e odor de queimado. Eu encontrei alguns amigos, as paisagens, e os odores da minha infância. Recordo também o cheiro a queimado, mas misturados com o perfume da LIBERDADE!...
Fernando Vaz

2 comentários:

Anónimo disse...

Não me surpreende que olhes positivamente para o 25 de Abril. Está conforme o teu esquerdismo militante. E dizem-me que és diácono! Ai...Ai... onde irá parar a Santa Igreja. Vivemos tempos conturbados.
Quanto ao senhor Padre Raúl ROlo tenho a dizer que não foi ele que provocou a diáspora mas sim os ventos demoníacos que então varriam a serra d´Aire. Sua reverência até era pessoa cordata e dialogante e fez tudo para que eu não deixasse a Ordem.
Agora pergunto eu: Quem nos honrou com a beatificação de Frei Bartolomeu dos Mártires?

José Oliveira (Imeldo)

Anónimo disse...

Meu caro Imeldo,
Se um dia uma pessoa ou uma ideia encontrar graça a teus olhos por favor informa-me para me congratular contigo. Desculpa, esquecia-me que disseste algo de positivo sobre o Padre Oliveira, mas não conseguiste terminar sem morder o Alexandrino e a mim mesmo. Conhecendo as tuas ideias reaccionárias nada me estranha que o Padre R.R. quisesse a todo o custo gurdar-te a seu lado : “qui se ressemble s’assemble” ou seja, os que se parecem, juntam-se. Fica sabendo que sou um grande admirador do frei Bartolomeu dos Mártires. Ele participou durante um ano no Concílio de Trento e teria dito aos Cardeais “Vossas Eminências precisam duma eminentíssima reforma”. Sim sou diácono, e poderemos um dia conversar sobre isso. Hoje só te digo que ‘diaconos’ quer dizer estar ao serviço e não estar de acordo...Vou utilizar um calão françês para te pedir: “laisses-moi la grappe...” Fernando