domingo, 6 de maio de 2007

MEMÓRIAS DE MIM (V) - DOMINUS VOBISCUM!...


Já não me ocorre o seu nome completo mas, para nós todos, era o Faustino. Referencio-o como oriundo de Lousada, perto do Porto, e julgo não ter chegado a Fátima. Dono de uma piada fina, espontânea e oportuna, dele recordo a sua natural apetência para a arte de Talma, naquelas representações teatrais que fazíamos por Aldeia Nova e que contavam com o Medeiros como grande entusiasta. Não se recordam do Medeiros, um açoriano de gema?... E um tal Soares?... Mas voltemos ao Faustino, que uma bela altura, num teatro, encarnou o papel de um tal Fausto Camolas Barbaças!... Mas, adiante!
Nós, os seminaristas da Beira Alta, em cada viagem para Aldeia Nova, íamos apanhando o velho comboio de máquina a vapor nas estações que serviam as nossas terrinhas. Em Vilar Formoso subia o Lines, no Rochoso o Igreja; na Guarda o Zé Lourenço, o Zé da Cruz (Pe. Pedro), o Valério, o Melro, o Salvado, o Brás, o Jesuíno e outros que já não recordo; em Celorico da Beira entrava eu, o Milagre, Os Saraivas, o Campos, o Barreiros, um Muxagata… e quem mais?... Enfim, lá íamos reservando uma carruagem só para nós. Chegados à estação da Pampilhosa, ali nos quedávamos durante duas longas horas para transbordo, esperando o trem que vinha do Porto e que trazia a malta de Trás-os-Montes, Minho e Douro.
O reencontro era sempre uma festa e também eles já traziam meia carruagem por sua conta e sempre esperando por nós, os da Beira. Por via de regra, o regresso a Aldeia Nova, acontecia à segunda-feira e daí que os passageiros que nesse dia mais povoavam os comboios fossem magalas, seminaristas (estorninhos como diz o Celestino), estudantes e outros aventureiros. Os nossos fatinhos pretos identificavam-nos e, por isso, os mimos em jeito de piropo, também iam sobrando.
-Estação de Coimbra B!... –Berrava o roufenho megafone, enquanto no cais se ouviam pregões estridentes e repetitivos das vendedeiras que soltavam em recto tono:
-Arrufadas de Coimbra e Cavacas do Luso… Bilha e água!...
Em Coimbra, a paragem era algo demorada dada a afluência de passageiros que subiam e desciam, sobrando tempo para comprar a bilha de barro cheia água de duvidosa proveniência. Dez tostões por unidade, até era barata feira!... Naquele dia subiram muitos soldados em Coimbra, que se apinharam na nossa carruagem, mas no extremo oposto àquele em que nós viajávamos. Um militar, quiçá mais erudito ou brincalhão, ao ver tanto seminarista , solta em voz sonante e com canónica entoação:
-Dominus vobiscum!...
Do meio de nós ergue-se o Faustino para responder no mesmo tom:
-És o maior burro que eu tenho visto!

Saudações amigas

Nelson


12 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Nelson por continuares a espevitar-nos a memória! Os soldados, e outros, gozavam connosco, nós vingavamo-nos nalgumas mocinhas que a uma légua de distância já emitiam perfume de freira e era tudo uma alegria! Se bem me recordo o Faustino era todo dinâmico e um pouco ‘descontrolado’. Ninguém lhe ganhava a tocar a manivela para mandar a àgua do poço para o depósito que se encontrava por cima da camarata. Um dia pôs a manivela a andar com tanta velocidade, desiquilibrou-se, apanhou com ela pelos queixos e ficou sem dois dentes. Posso enganar-me, mas penso que era o Faustino

Armando disse...

Acabado de chegar do Algarve, onde feliz ou infelizmente não tenho internet, abri o blog, logo pela manhã e voltei a fechá-lo achando que me tinha enganado. Aquilo só poderia ser um blog da maçonaria. Como é que isto poderia ter acontecido no espaço de alguns dias? Fiquei pensando: será que por artes cibernéticas, o blog foi usurpado? Ainda angustiado, voltei há minutos a tentar de novo. Então respirei de alívio.O blog que tanto prezo estava ali, inteirinho, com o Nelson ao leme, e o Fernando Vaz como gageiro. Cuidai bem da nave meus amigos, porque estamos todos no mesmo barco, e é preciso levá-lo a bom porto.
Felicitações jubilosas
A. Alexandrino

Unknown disse...

Amigos
Tenho gratas imagens do amigo Faustino que era dos meus lados. Já tentei a morada que existe na lista mas o carteiro não o encontrou. Um destes dias vou tentar pessoalmente em Paredes e na freguesia da morada existente. Nas listas telefónicas da zona não consta.
JMoreno

Anónimo disse...

Meus amigos,

Já não tenho presente a cara do Faustino!... de Lousada... Aparece nalguma foto? Quem o identificar, que diga. É nostálgico falar dos nossos encontros no comboio quando de regresso a Aldeia Nova... Máquinas a vapor... Fatinhos pretos... Caras de meninos... Parece que foi ontem... Mas já lá vão umas décadas!... Vamos mobilinar-nos para o próximo encontro de Aldeia Nova... Vamos em grupo ou individulamente, de comboio, de automóvel ou de elicóptero, pois o parque do recreio até dá para improvisar uma pista... Quantas coisas evoluiram ao longo deste anos!... Quem não se lembra da galena do Pe Oliveira? E do estudo à luz do petromax?.... O Fernando relembrou o Faustino a dar à manivela da nora que nos abastecia de água!...
Quem nos dera nesses tempos,sabendo o que sabemos hoje, como diz o povo!... Agora o que é importante é saber aproveitar os muitos anos que ainda temos pela frente... Cultivar a amizade e a tolerância no nosso meio ambiente. Ontem, regressado do Alentejo litoral(Vila Nova de Milfontes),onde tenho um pequeno apartamento adquirido com as economias familiares de uns longos anos de terabalho,abri,ao chegar ao gabinete da TAP -rotina já quase diária- o nosso Blog... Aquelas lutas ideológicas e quase fratricidas ente o Imeldo, o Ezequiel Vintem e alguns anónimos são, em liguagem académica, de partir o coco a rir... O Alexandrino até as qualifica de maçónicas... Pela minha parte, só não gosto da linguagem ofensiva e depreciativa de algumas intrvenções. Num Estado de Direito, inspirado nos valores democráticos e sociais é saúdável o debate ideológico. Porém, sempre com respeito mútuo e nunca ofensivo,a raiar linguagem desbragada...
Por isso permito-me apresentar um «ponto de ordem» a todos os intervenientes no Blog...Vamos continuar a expor ideias, religiosas ou polícas, mas com o «devido respeito por opinião contrária»» - expressão que os advogados muito usam na barra dos tribunais quando na defesa das suas causas se confrontram em alegações finais- .

Um abraço a todos

Zé Celestino

Anónimo disse...

Como o meu espírito fica saciado ao ouvir as palavras sensatas dum homem que voa por todos os Continentes, a «pregar» princípios da Ordem Jurídica Portuguesa. Um advogado desta dimensão, transmite-me a segurança de que a minha causa sairá vencedora. Estava ansioso por ouvir um sábio parecer sobre a famosa disputa. Não é verdade, que fui vítima de agressão injustificada? Não é verdade, que o Dr. Mário Soares disse que quem não se sente não é filho de boa gente? Não é verdade, que Dr. Jorge Coelho disse que quem se mete com o PS (ou antes com o Vintém) leva? Logo, eu sou apenas uma vítima, que responde à agressão em legítima defesa. Estou absolvido.
Mesmo assim, apresento as minhas desculpas às pessoas cujas sensibilidades foram ofendidas por alguma palavra ou expressão menos vernácula.
Certo dum parecer favorável à minha pretensão, aguardo o próximo encontro onde retribuirei com um abraço.
Ezequiel Vintém (ex-frei Pancrácio)

Anónimo disse...

Meus amigos,

Apreciando e ponderando o comentário ora apresentado pelo amigo E. Vintem à luz de todas as circunstâncias relevantes e atenuantes subjacentes ao mesmo, concluo estarmos perante um «bonus pater familiae»,tal como entendido no nosso ordenamento jurídico. Apenas o senão da ainda sua apresentação «clandestina». As suas palavras já são mais parcimoniosas. O amigo Imeldo,que o Vintem diz conhecer todos os passos, até gastronómicos, também tem vindo a ser mais tolerante para os seus adversários religiosos e políticos, os quais, em boa verdade,excederam os limites da razoabilidade nas suas «contra-alegações»....De relevar,a seu favor, a preocupação de conseguir ainda a conversão dos descrentes esquerdistas Alexandrino,Moreno,E. Bento e do Diácono Fernando Vaz...
É, no campo dos princípios cristãos, de louvar esta sua preocupação. A questão de fundo «sub judice» tem sido, desde sempre, e continuará a ser, objecto de controversas posições ideológicas no campo filosófico,teológico e político...
Nestes pressupostos e partindo do princípio de que o que nos une é muito mais forte do que o que nos separa, estou certo que saberemos conviver e fortalecer os nossos laços de amizade,ainda que, quando caso disso,invoquemos o direito ao princípio legal do contraditório...
Por fim e acedendo ao pedido de parecer(jurídico) do E. Vintem, concluiría que tanto o Imeldo como o E. Vintem já se retrataram, merecendo, ao abrigo do Artº. 362º do nosso Código Penal isenção de qualquer pena (ou penitência...)considerando que alguns dos termos constantes das suas intervenções, ainda que literalmente sensuráveis, foram escritos no calor das suas contra-alegações,em «defesa da honra» e de princípios ideológicos,religiosas ou políticos que defendem,que não com «animus injuriandi»...
Também não fixaria taxas de justiça/custas....dada a atipicidade e simplicidade do processo...
Espero que este modesto e parodiado parecer/comentário seja entendido pelo Imeldo e pelo E. Vintem, em particular, e, em geral, pelos Anónimos e conhecidos intervenientes do Blog- todos ex-dominicanos -como uma manifestação de simpatia por todos e contributo para a criação/reforço dos nossos laços de amizade.

Creiam-me sempre amigo,

Zé Celestino

Anónimo disse...

O parecer, aliás douto e simpático, do nosso querido amigo e eminente jurista, que é o Zé Celestino, é jurisprudência firmada. Na minha qualidade de editor, sei a quem recorrer sempre que controvérsia ultrapasse os limites do razoável.
Saudações amigas
Nelson

Anónimo disse...

Lá douto e simpático é. O que não é nada simpática é a factura de quinhentos euros que o eminente jurista me enviou por fax. E agora? Eu até me adiantei a prometer-lhe a recompensa de um abraço no próximo encontro a ver se pegava, mas não deu. Quem me menda a mim meter-me em altas cavalarias! Bem podia ter recorrido ao regedor aqui da minha freguesia, que também dá bons pareceres, sem cobrar nada. Na qualidade de ex-confrade tenho que te pedir um abatimento e um plano de pagamento faseado. Mesmo assim terei de recorrer a uma subscrição dos bloguistas, para conseguir a verba pedida.
Saudações bloguistas
Ezequiel Vintém (ex-frei Pancrácio)

Anónimo disse...

Acalma-te Ezequiel! Não desesperes, pois solidariedade é coisa que nos vai sobrando. Entretanto vamos (falo por mim), tentar sensibilizar o Celestino para que abata uns vinténs (dinheiro) à tua factura.
E viva o blog!
Nelson

Anónimo disse...

Exmº. Senhor Ezequiel Vintem, meu Ilustre Constituinte,

500 euritos pelo esforço desenvolvido para fazer o enquadramento jurídico-penal das mútuas ofensas verbais de dois ex-confrades não me parece muito!...Mesmo assim vou pedir um laudo à Ordem dos Advogados...
Abatimento é que não faço... Nem que tenhas de pedir um empréstimo ao Imeldo!...Apenas condescendo no pagamento em 10 prestações mensais e sucessivas, com vencimento no último dia de cada mês, vencendo-se a primeira no dia 31 do corrente mês de Maio/07... Cobrada a última prestação, emitirei o correspondente recibo de quitação(vulgo,recibo verde), porém, acrescido da taxa legal de IVA, ora de 21%... Se o não fizer tenho o fisco à perna, como bem sabe o meu grande amigo Nelson que foi Chefe da Repartição de Contribuições e Impostos de Mangualde... Mas cuidado, amigo Ezequiel Vintem...Não recorras ao regedor da tua freguesia para obteres pareceres jurídicos,ainda que graciosos...Tal prática é passível de fazer incorrer o bom do regedor em ilícito criminal pelo exercício de funções para as quais não esteja legalmente habilitado...A não ser que ele lá tenha um diplomazito de licenciado em direito obtido numa das muitas universidades portuguesas!...
Vá lá...se aceitas de douto e simpático o meu parecer, prometo que nas próximas consultas serei mais moderado em honorários. Terás, porém, de quantificar em vinténs os actuais 500 euros!...
Esperando, ainda assim, merecer o teu prometido abraço, sbscrevo-me com sinceras

SAUDAÇÕES BLOGUISTAS

Anónimo disse...

Caro ilústre causídico
A nossa justiça é só para ricos, é um mote ouvido em toda a parte e a toda a hora. Agora fiquei a saber quão verdadeiras são as queixas dos pobres. Até o recurso ao meu amigo regedor com quem bebo uns copos de tinto na tasca do Jaquim, me é vedado. Não há como fugir das garras dos advogados. Esta classe é um autêntico polvo que estende os seus tentáculos por todo o lado. Já que não posso escapar, vou tomar as precauções adequadas, ou seja, pedir vários orçamentos aos teus colegas e nossos ex-confrades. E tenho já um trabalhinho em mãos, que vai ocupar um causídico por algum tempo, além de ser um desafio motivante. Estou a pensar mudar de nome, porque o nome que o meu padrinho me atribuiu, está a tornar-se traumatizante.
Saudações bloquistas
Exequiel Vintém

Anónimo disse...

Meu caro ex - Frei Pancrácio, ora Ezequiel Vintém,

Não sejas tão radical!... Na classe dos advogados ( como em qualquer outra...) há homens de grande generosidade e espírito de missão... Neste grupo, incluo todos os nossos ex-confrades que pós Aldeia Nova/Fátima cursaram Direito e escolheram ser « ad vocatus»...
Não fossem esses advogados e a muitas e maiores prepotências/injustiças assistiríamos num mundo onde ainda proliferam muitos inimigos do Estado de Direito.
Certamente que já terás ouvido falar de São Ivo.É o santo padroeiro dos advogados, comemorado no dia 19 de Maio.
IVES HELOURY DE KERMANTIN - assim era o seu nome - nasceu e viveu em França na segunda metade do século XIII e faleceu no início do século XIV (1303).Cursou filosofia,teologia,direito civil e direito canónico, em Paris,onde terá sido discípulo de S. Tomás de Aquino.
Foi advogado,sacerdote e juiz eclesiástico. Enquanto advogado, era conhecido como o «advogados dos pobres».,porquanto atendia gratuitamente os pobres e desvalidos, patrocinando-os e dando-lhes orientação jurídica para que os seus direitos fossem respeitados.Mereceu, a nível académico, o reconhecimento de «Advocatus ultrus et juris»... Mas que retórica, dirás tu... Tens razão...
Vou terminar, dizendo apenas que o pensamento de S. Ivo inspira ainda hoje o Código de Ética dos Advogados.
Mais cedo ou mais tarde, estou certo,teremos oportunidade de falar pessoalmente destas e de outras coisas mais, criando/reforçando laços de amizade.

Cordiais saúdações

Zé Celestino

Em tempo: Em Fátima, onde estive apenas cerca de 3 meses (sou do grupo dos pinguins que aparecem no Blog)pedi e fui atendido para que não me alterassem o nome. Continuei (Frei)Celestino.