segunda-feira, 7 de maio de 2007

"As promessas eleitorais, só comprometem aqueles que nelas acreditam"



“Les promesses électorales n’engagent que ceux qui y croient…”
Foi uma frase pronunciada por um parlamentar de direita, quando lhe recordavam as promessas feitas durante a campanha eleitoral. Muitos outros deputados, e mesmo Presidentes da República, do centro, da esquerda ou da direita, poderiam dar respostas semelhantes. Na verdade, penso que os homens políticos, ao chegar ao poder, contraem uma doença terrivel: a amnésia. Quando estão na oposição são inteligentes, sabem reflectir, compreendem perfeitamente os cidadãos e têm soluções para todos os problemas. São animados por uma única preocupação: o bem do país e de cada um dos eleitores em particular. Quando chegam ao poder, parece que perdem com a memória, também a inteligencia e o bom senso.
Em princípio não ganha o mais capaz ou competente, mas o mais convincente, o que mente melhor. Há cursos especiais para ensinar os homens políticos a mentir, em pensamentos, palavras e atitudes. Em pensamento: devem pensar (no momento) aquilo que dizem, e afirmá-lo com tal convicção que mesmo os mais precavidos vão na onda. Há palavras que os professores dos políticos chamam de oiro e que estes devem pronunciar a tempo e a contra tempo, e outras que são banidas do vocabulário durante a campanha. Em resumo: o animal político ( a mulher é um animal político como o homem, dixit S. Royal ) deve ter uma extrema atenção a dizer o que o eleitor quer ouvir ( hic et nunc), e não a verdade. Há também professores que ensinam os políticos a mentir com as atitudes, que eles apelidam de ‘linguagem corporal’. Há mesmo quem diga que não escolher a cor apropriada da gravata, do fato, ou do vestido, durante um debate televisivo, pode fazer perder as eleições a um ‘animal político’. Finalmente o que se pede a um político é que seja um bom actor e que faça sonhar os espectadores que somos quase todos nós.
Com 53,03%, Nicolas Sarkozy é o 23° Presidente da República Francesa. Esta eleição consagra a proeminência da direita na vida política francesa a partir do fim do reino Miterrand em 1995. Nicolas Sarkozy entrará em função no dia 16 de maio, data em que se termina a Presidência de Jacques Chirac.
Os eleitores deslocaram-se em massa. Votaram 83,97% dos inscritos. Só em 1981, com a eleição de Miterrand, é que podemos deparar com uma participação equivalente. Quais foram as ‘palavras de oiro’ que levaram os franceses a deslocar-se e que, sobretudo, fizeram ganhar Sarkozy? Ele utilizou-as em todos os seus discursos: trabalho, autoridade, moral, respeito, mérito, identidade nacional, orgulho de ser françês, mais Europa, espirito de fraternidade, França em movimento.
S. Royal não conseguiu federar a sua volta e ainda menos em torno de suas ideias. Foi abandonada por muitos socialistas que não lhe reconheciam uma estatura de chefe de Estado. Seus discursos foram vagos e muitas vezes contraditórios. Pelo contrário N. Sarkozy foi claro e martelou em cada discurso que tudo o que propunha com clareza seria posto em prática com pugnacidade. Terminou o seu primeiro discurso como eleito Presidente da República dizendo: “...e do fundo do coração, com a sinceridade mais total que é a minha, neste momento em que vos falo, digo: viva a República, viva a França”...
A eleição presidencial apenas terminada, os partidos começam já a preparar-se para outra campanha: a eleição dos deputados, nos dias 10 e 17 de junho. Os tenores ou ‘elefantes’ do partido socialista, sobretudo Dominique Strauss-Kahn (que teria certamente ganho a eleição contra N. Sarkozy) já entraram na arena. Quanto a mim, que nunca fiz nem farei parte de um partido ( fui solicitado por vários) espero que o partido do centro ( Movimento Democrático) de François Bayrou obtenha um número suficiente de deputados para apoiar a direita, ou a esquerda segundo as propostas que sejam feitas. Sou contra uma oposição sistemática e um poder absoluto. Quando para as esquerdas, tudo o que vem da direita não pode ser senão mal e vice-versa, perdem-se muitas energias em polémicas estéreis. Já é mais que tempo que os politicos trabalhem para o país e sua população e não para os partidos e ainda menos por interesse pessoal.
Concluo dizendo que nesta eleição, a democracia ganhou! Antes de mais a participação foi massiva. A política ganhou legitimidade e os políticos dignidade. A França viveu ontem um serão eleitoral apaziguado, durante o qual, vencedores e vencidos se manifestaram respeito mútuo! Fernando.

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu, acrescentaria, à tua lúcida e interessante análise às eleiçoes em França, mais o seguinte. Sarkosy,astutamente, usou mais uma expressão que o eleitorado quer ouvir: "canalha" referindo-se aos jovens que vêm praticando destruição e todas as formas de violência. O eleitorado francês começa a ter medo e por isso vai ao encontro de quem lhe estende uma promessa de Ordem. É claro que os jovens são excluídos, mas quem vai ao encontro das vitimas da sua violência? Quanto à distinção entre candidatos...não vejo entre eles grandes diferenças. Pertencem ao rebanho dos políticos europeus que capitularam perante os interesses financeiros da economia global. E neste campo os socialistas são responsáveis por maiores mentiras e mais trição. Trição aos ideais sociais que apregoam. É claro que eu consideraria monstruoso e uma aberração histórica um Le Pen ganhar as eleições.
Penso também, ao contrário do que dizes, a democracia não ganhou nem deixou de ganhar. O sistema democrático no mundo foi tomado de assalto pelos partidos em que os demagogos, os actores, os que melhor se sabem insinuar triunfam, caçando os votos e excluindo tudo o que dê sinais de participação cívica. Estamos perante uma espécie de democracia.
Um abraço do amigo
Eduardo Bento

Anónimo disse...

Meu caro Fernando,

Apreciei,com interesse,a tua nota sobre as eleições presidenciais em França.
O mundo dos políticos é um labirinto muito complexo... Salvo raras excepções, todo o político gosta mais do poder do que o diabo gosta de almas...
O nosso Rafael Bordalo Pineiro,concecebeu a figura do Zé Povinho a fazer um grande manguito aos políticos e comparou a política a uma «grande porca» na qual muitos mamam. E como não chega para todos, perecem bacorinhos a empurarem-se uns aos outros para ver o que consegue a melhor teta...Por isso desenhou uma grande porca com muitos bacorinhos a abocalhar-lhe as tetas...
Sem prejuizo de uma participação,enquanto cidadãos, na vida política, devemos estar atentos aos políticos que empurram tudo e todos para abocanhar a melhor teta... e fazer-lhes, sempre que seja oportuno, o devido manguito...

Aquele abraço

Zé Celestino

Anónimo disse...

Fernando: Aqui vivemos e sentimos a mesmíssima coisa!... A política, pelos parasitas que congrega à sua volta, é uma praga que enxameia a democracia, que sendo por defenição "o poder ao povo", sobra sempre um "povo sem poder". Como deves ter reparado nas minhas crónicas jornalísticas, estou habituado a surrar mais que a enaltecer. Mas faço-o conscientemente, sem ter subjacente ao meu pensamento qualquer simpatia ou antipatia político-partidária. Todos os políticos nos atraiçoam e enganam. Prometem-nos o sol e a lua e, depois de acomodados à volta da gamela com os seus pares, tudo se esquece e o eleitor vê defraudada a esperança que descarregou na urna de voto. Aqui, em Portugal, a participação eleitoral já raramente ultrapassa os 70%. É a esperança que esmorece.
Obrigado pela tua achega, que vou partilhar com os leitores do "Renascimento".
Um abraço
Nelson