quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Por esta estrada - AO MESMO TEMPO A ESPERANÇA




Quando só o lucro interessa, a consciência humana tem de ficar
fora dos negócios para não ser visitada por nenhum anjo inquietante.
Frei Bento Domingues, Público de 28/09/2008



Talvez nem tudo seja assim tão mau. A actual crise financeira por que passa a humanidade, - segundo alguns comentadores, a pior de sempre, - poderá fazer nascer uma nova esperança para a humanidade. A lição que se pode retirar da presente situação pode ajudar a transformar a história dos homens numa caminhada mais justa e equilibrada. Poderá estar a aparecer no horizonte o anúncio de uma outra ordem mundial onde a trapaça financeira dê lugar à exigência ética como reguladora das relações entre os homens.
A economia mundial tem sido sustentada por um sistema financeiro especulativo, assente na procura do lucro a qualquer preço, alimentada pela ganância e pela rapina. Um sistema opressivo que tem impedido o desenvolvimento de Estados e de povos. Instituições que ainda na véspera apresentam os maiores lucros e premeiam os seus maus administradores com obscenos ordenados, entram em colapso e deixam no rasto da sua queda inquietação, pobreza e mais pobreza.
Agora pede-se aos Estados a quem se relegou para o simples papel de olheiros desinteressados, porque convinha a alguns, que intervenham, que policiem, que subsidiem. A crise assentou-se entre nós e, desgraçadamente, está à nossa mesa. Está nos salários em atraso, nas empresas que encerram, nos filhos sustentados pelos pais e com o diploma de doutor no bolso…
Duma santa aliança entre políticos e interesses financeiros nasceu este estado de coisas. Incentivou-se a iniciativa dos mais espertalhaços, promoveu-se o capital a ídolo global e o lucro como a suprema conquista da felicidade. É este mundo que agora treme na sua base; são estes os náufragos que pedem salvação quando, com a sua arrogância, nunca salvaram ninguém.
Mas desta crise que, com os seus estilhaços, atinge toda a gente, talvez nasça uma nova situação. A desorientação dos mercados financeiros, alimentados artificialmente pela especulação e pelo jogo da Bolsa, poderá levar à procura de caminhos alternativos. Poderemos estar perante o acordar da consciência colectiva que leve a humanidade a construir uma economia com base na justiça e na verdade e não fundada na ganância e no lucro.
O edifício desmorona-se e isso pode ser um sinal de esperança. Por onde andarão agora os teóricos do liberalismo e os gesticuladores que anunciaram o fim da história?


Eduardo Bento

3 comentários:

Jaime disse...

"talvez nasça uma nova situação"...

Talvez... Depois da análise realista, uma nota de esperança. Vinda de ti, Eduardo, é quase uma certeza. Oxalá!
Jaime

Autsil disse...

Outrora as NAUS partiam em busca de quê? Uns movidos pela fé, outros a aventura mas seja como for existe uma constante: o vil METAL já bem enxargado por Camões.

Uma grande diferença em relação aos nossos dias, o tempo. Hoje, a internet veio permitir a conquista de muita coisa entre elas o ensejo de enriquecer o mais rápido possível mas igualmente cair rápido na maior das misérias com a bolsa e toda a maré de especulações e seus derivados.

A bolsa no meu entender tornou-se o maior arnaque à escala mundial ...os valores de outrora incorrem na mutação...as religiões as filosofias a ética vão sobrevivendo mas o ser humano está por demais agueirrado ao conforto e quando este não existe a miséria instala-se sob as mais vis "nuances" desde a tristeza ao desespero e à revolta extrema: Le 11 de Setembro não passa de um simples exemplo, entre outros que possam ainda surgir.

Que Deus nos preserve de tais horrores e que o homem saiba tirar lição devida Um abraço amigo do 13
A. Lopes

Anónimo disse...

Veja a diferença, porque foi traído pelo uso de uma fonte secundária que deturpou o artigo original do frei Bento, em que apenas se diz que:

"Quando só o lucro interessa, a consciência humana corre o risco de ser visitada por um anjo inquietante"

Quanto aos 700 mil milhões de dólares a aplicar pelo governo americano na recuperação das fraudes não prenunciam o que é sugerido, porque em nada se parecem com "nacionalizações".