De ilusão em ilusão,
Começa-se pela primeira, a história do achamento, que foi uma grande história e que da história ficou claro que só com a falência da miragem do oriente o luso épico manhosismo para ali se foi iludir.
Ele foi atrás do ouro, embrenhando-se nos sertões da Capitania de Minas Gerais, e regressando ‘mineiro’, boçal e rico.
Ele inventou essa triangulação amorosa conhecida por ‘casa grande e senzala’, e o ouro se transformou em açúcar.
Ele foi colono e, com a independência, virou emigrante e, regressado rico e ostentoso, era o ‘brasileiro’.
Era, por isso, uma terra de crescimento, suportada pela catequização do índio autóctone, pela escravatura do preto arrancado de África e pelas fomes fugidas da Europa e, até, do Oriente.
Eram os ‘brasis’, equivalente luso do’El Dorado’ ali, mais acima.
E foi essa terra, fecundada pelo tudo de uns e pelo nada de outros, que acabou por ficar túrgida de coronéis Floro Bartolomeu e outros, de cangaceiros Corisco, Lampião e mais, de Estado Novo e de ditaduras militares de Castello Branco, Costa e Silva, Geisel, Figueiredo, de guerrilha urbana de Marighela e Lamarca e de democracia de ‘directas, já’!
O que foi e até hoje.
Há um imenso Brasil de riqueza
Em 2002 a Petrobrás comprou a maior empresa petrolífera da Argentina por mais de mil milhões de dólares e depois, em 2005, um grupo cimenteiro brasileiro adquiriu uma sua congénere também argentina por outros mil milhões de dólares, em 2006 a aquisição de uma das maiores empresas de minério do Canadá representou um negócio de dezoito mil milhões de dólares e em 2008 a compra da americana Anheuser-Busch por cinquenta e dois mil milhões de dólares, transformou a InBev na maior indústria cervejeira do mundo.
É ainda este país que assegura 27% do mercado mundial de soja, num crescimento ‘chinês’ superior a 10% ao ano, que produz um em cada três bifes de vaca vendidos no mundo e que é o maior exportador mundial de frango, com receitas de cinco mil milhões de dólares em 2007.[1]
Há um imenso Brasil de pobreza
O salário mínimo é de R$ 415 (160 €), para os que trabalham.
Sem trabalho garantido e com um rendimento regular ou inferior a R$ 120 (50 €) contabilizam-se cerca de 11 milhões de famílias, num total de cerca de 45 milhões de pessoas (1/4 da população) para os quais, desde 2003, foi instituída a bolsa de família – benefício variável entre R$ 15 e 95 (mais ou menos entre 5 e 45€) que tem a única condição de as crianças permanecerem na escola e serem vacinadas. Da importância desta bolsa atesta o facto de 87% do valor da mesma servir para adquirir produtos alimentares.
Há um imenso Brasil de violência
Nos últimos 20 anos o número de assassinatos cresceu 237%, perdendo a vida, vítimas da violência, cerca de 40 000 pessoas, o que representa 11% deste tipo de morte a nível mundial.
Em 2003 o número de reclusos era de 285 000, tendo agora atingido os 340 000 (173 reclusos/100 000 habitantes), cifrando-se o défice de vagas nos estabelecimentos prisionais em mais de 100 000.
E, no entanto, o número de elementos das forças policiais é de 535 000 (1 polícia por cada 304 habitantes, índice comparável à generalidade dos estados europeus ou Estados Unidos.
No entanto também, e paradoxalmente – ou não – o Brasil investe 70 vezes menos que os Estados Unidos no combate à violência, apresentando um índice de violência 88 vezes superior, por exemplo, a França.[2]
Há um imenso Brasil de mudança
‘Quem tem fome, tem pressa’, dizia alguém socialmente sem fome mas conhecedor do problema.
E é essa pressa da fome, numa terra demais túrgida de tanta riqueza, que, apesar de tudo, fez crescer o social porque o económico e todos os demais associados caminham nesse sentido de crescimento, numa febre de 40 anos sinteticamente assim retratada:
Em 1970 O Produto Interno Bruto “per capita” era de $ USD 3220 e hoje é de 6884, a esperança de vida era de 53 anos e hoje é de 72 anos, o número médio de filhos por família era de 6 e hoje é de 2, apenas 18% das mulheres estavam no mercado de trabalho e hoje são já mais de 57%, havia 1,3 milhão de telefones fixos e hoje são já mais de 160 milhões de telemóveis, havia 1 carro para 47 pessoas e hoje há um carro para 4 pessoas.[3]
Há um imenso Brasil de esperança
Deus é brasileiro, rezava a revista The Economist, a propósito das gigantescas descobertas de petróleo que poderão colocar o Brasil ao nível dos maiores produtores mundiais, embora a carecer de um investimento de 600 mil milhões de dólares (para se ter uma ideia, a Petrobrás, em 54 anos da sua existência, investiu um total de 124 mil milhões de dólares...)[4] para retirar, de 6 quilómetros de profundidade e a cerca de 300 quilómetros da costa, 50 mil milhões de barris de ‘brent’.
“Não vamos nos deslumbrar e sair por aí gastando o que ainda não temos ou torrando dinheiro em bobagens. O pré-sal [5] é um passaporte para o futuro. Sua principal destinação, repito, deve ser a educação das novas gerações e o combate à pobreza. Vamos investir esses recursos naquilo que temos de mais precioso e promissor: nossos filhos e nossos netos.”
Assim falou Lula da Silva, por ocasião da celebração do dia da independência neste 2008 (7 de Setembro) num actual noivado de 80% de aprovação da sua política por parte do povo brasileiro.
Há um imenso Brasil de futuro
Por isso, e para quem quiser entender, que Brasil é Carnaval, telenovelas, putas, bandidos e jogadores de futebol, informa-se que não. Não, e não não apenas.
Porque para um país que perversamente rasteja com o mensalão [6] e idealisticamente sobe aos céus agarrado aos seus balões de fantasia [7], há um imenso futuro!
[1] In Revista Veja, Julho de 2008
[2] Artigo de Wlamir Leandro Motta Campos, publicado na Net. O autor é consultor legislativo, especialista em gestão de políticas públicas nas áreas de segurança pública.
[3] In Revista Veja, de Setembro de 2008
[4] In Revista Exame, de Agosto de 2008
[5] As jazidas ora descobertas encontram-se sob um manto de sal de a 4 quilómteros de profundidade e de dois de espessura, sendo, por isso, referido no Brasil genericamente como o ‘pré-sal’
[6] O mensalão, denunciado em 2005, constituiu um dos maiores escândalos da democracia no Brasil. Tratava-se basicamente de um esquema montado por figuras proeminentes do PT que fazia chegar cerca de 30 000 reais por mês aos deputados que garantissem o sue voto favorável às propostas do governo.
[7] Em 2008 o Padre Adelir, de Santa Catarina, e para chamar a atenção para S. Cristóvão, padroeiro dos camionistas, atou-se a 1 000 balões e desapareceu nos céus, nunca mais tendo sido visto...
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