sábado, 23 de maio de 2009

MANDAMENTOS


Eu, que sou um leitor assíduo de todos os conteúdos que se publicam em "criarlaços", muito embora não tenha ainda contribuído com a minha participação, o que certamente farei numa qualquer ocasião trazendo a lume o que era, no meu tempo, a Aldeia Nova de 1946 que tinha aberto as suas portas em 1943, um período a seguir à 2.ª Guerra Mundial, na qual Portugal não entrara mas que lhe trouxera algumas consequências nefastas a nível do bem-estar da população que sentiu reflexos nocivos, inclusive a nível alimentar, uma vez que todos sabemos que Portugal nunca foi verdadeiramente um país auto-suficiente na maior parte dos bens de consumo, especialmente nos de primeira necessidade.
Essa análise/abordagem ficará para mais tarde.
Hoje, só o tema trazido a lume pelo Toninho relacionado com o padre Paul Denis, que também foi meu professor de Metafísica e de História da Filosofia de 1952-1954, em Fátima, me fez sair da quietude em que me tenho mantido.
Do padre Paul Denis por quem sempre tive uma desmesurada admiração pelas suas qualidades intelectuais fora do comum e humanas, possuidor de uma visão antecipada da evolução politica, social e económica do futuro dos povos que, hoje, passado mais de meio século, se pode dizer que ele não era, em Portugal, um homem da sua geração, era antes um visionário, que já vivia nos dias de hoje, sem se socorrer da Rádio que ainda tinha poucos anos de existência, da Televisão que só chegaria alguns anos mais tarde, do Telemóvel e da Internet que apareceram recentemente e que a maioria de nós usa para alargar os horizontes do nosso conhecimento, sem que tenha que queimar muito as pestanas á procura da originalidade das coisas.
Nunca me pareceu um rebelde, um "martelador" de ideias que pretendesse impor aos outros, nem sequer o seu pensamento filosófico, ele que, trabalhando com jovens, sabia ouvir quem era inexperiente, num mundo muitíssimo mais fechado que o mundo dos dias de hoje.
Dele, só tenho em meu poder, uma obra do filósofo Gabriel Marcel que ele utilizava no seu dia-a-dia, com o título "Du Refus a L'invocation" que me ofereceu com a seguinte dedicatória: "Em lembrança de três anos de amizade e de trabalho comum. Fátima 31.1.54 fr Paul Denis".
Quanto aos "Mandamentos" que o Toninho teve a amabilidade de transcrever, digam lá se eles não são dos dias de hoje tendo sido escritos há mais de 50 anos!
Quanto à história do regresso à sua pátria, de que eu desconhecia como continuo a desconhecer as causas, lamento!


Carlos Videira

26 comentários:

Isidro disse...

Ao contrário da minha prática habitual, hoje escrevo sem usar a segunda pessoa do singular (tu, etc.). Não é nada contra o novo comentador. É apenas uma homenagem igualmente destinada a quem a quiser. Posso?

O que diz sobre a alimentação na década de 40 explica bem o que era o país até ao advento da segunda industrialização, nas décadas de 50 e 60 e também a razão porque a falta de 10 escudos por mês retirou o António da Purificação de Aldeia-Nova contra a sua vontade, ele que é mais ou menos dessa época, parece.

Gostei de ler o discurso arejado, aplaudindo quem tinha estado a tentar lançar uma pedrada no charco ou, pelo menos, a tentar evitar o raciocínio pantanoso e obscurantista que tantas vezes lentificava e continua a lentificar inúmeras pessoas.

Oxalá tenha ficado bem recuperado das tentativas de lavagem cerebral, disfarçadas de Metafísica que, com certeza, tentaram fazer-lhe.

Ainda bem que permanece bem vivo - com uns 73 anos parece falar na internet com o à-vontade de um universitário da actualidade. Quem sabe se é um tal "Carlos Videira" que tem vindo a escrever livros de Informática?

Com base nas datas mencionadas, deduzo que esteve em Aldeia-Nova entre 1946 e 1951 e em Fátima entre 1951 e 1954, ou seja provou:

(a) O antigo ambiente conventual de Aldeia-Nova,

só ultrapassado a partir da década de 60, após o que terá entrado em regressão. Não tenho muitas indicações, mas julgo saber que houve ali um dedo espanhol no tempo do José Carlos, na década de 70 de que, parece, alguém, ou todos, têm dificuldade em falar;

(b) O ambiente de Seminário Maior, em Fátima,

no tempo em que a alvura era vestida aos 15/16 anos (julgo ter pertencido ao primeiro, senão único, grupo que esteve em Fátima sem tal imposição, entre 1969 e 1971, como normais (bons) liceais e sociais, para que se situem).

Mas, o que muitos outros gostariam(os) mesmo de saber é como decorreu o regresso a um Mundo que não dispunha regras de internato. [Digo-o com o extremo à-vontade de não ter tido tal problema, não construindo sentimentos de superioridade, nem de inferioridade] e saber, de ciência feito, que muitos lhe deram bem a volta (neste blogue há provas concludentes).

Anónimo disse...

Não percebo muito bem o que se entende por dedo espanhol a partir da década de 70 ..talvez se subentenda algum facilitismo nos curriculos ou nas exigências (?)..mas pelo que vejo nas décadas que nos precederam as coisa eram mesmo a sério..No que me diz respeito estou à vontade..sempre me dei bem com o rigor e as exigencias e para além disso ainda conseguia ser auto-didacta..A minha formação vem dessa casa porque a minha familia biológica não se quis dar a esse trabalho.
Tenho a agradecer aos padres a valorização do meu comportamento e as inumeras aquisições feitas não só em termos curriculares própriamente ditas mas também humanas..tenho ainda a acrescentar que pelo facto de ser autodidacta , a partir da idade dos 12 anos inicio a prática da disciplina de Yoga dentro das paredes do seminário ..imaginem um pequeno buda católico muito bem comportado a viver dentro das paredes de um mosteiro católico a seguir escrupulosamente tudo o que lhe diziam e a respeitar religiosamente todos os preceitos que lhe eram propostos .. dos 10mandamentos fazia a sua leitura fundamentalista e tinha no decálogo a base para saber melhor decidir o correcto agir, bem como decidir onde tinha pecado..Os colegas tratavam-me por "santo" mas não sem comentários jocosos muitas vezes..fui feliz nessa casa mas como tinha vocação para a vida religiosa e não tinha vocação para o celibato procurei outras paragens..por isso qualquer história que se conte em relação ao seminário no meu caso é mais complexo ainda por causa da práctica do yoga..Hoje continuo a practicar yoga e portanto sou um dos portugueses que practicam essa arte há mais tempo..essencialmente podemos dizer que é uma arte que trabalha a relação Mente-Corpo e Corpo-mente e até os ateus podem fazer dela uma práctica..
Da minha saída do seminário e da sua vivência ,posso dizer que foi complicado..A complexidade dessa situação torna-me prudente a usar da palavra em relação a esse meu periodo...mas posso dizer "grosso modo" que dei crédito aos argumentos dos que contrariavam esse género de educação.. O preconceito anti-religioso ,o senso comum e a estupidez andam muito bem a par e fazem optima parelha ..é gente que não tem nada para dar e tem muito para tirar e por isso dizer porque parece e ao mesmo tempo reforçar as suas convicções não lhes fica nada mal...

José Carlos Amado

Isidro disse...

(a) "...Não percebo muito bem o que se entende por dedo espanhol a partir da década de 70..."

- O "dedo espanhol" refere-se a uma só (?) pessoa, que não conheci. Não tendo por hábito dizer o que alguém disse, pergunto se será pelo contexto do seu tempo que não aparece por aqui mais ninguém dos anos 70 em Aldeia-Nova.

(b) "...Da minha saída do seminário e da sua vivência ,posso dizer que foi complicado...A complexidade dessa situação torna-me prudente a usar da palavra em relação a esse meu período...mas posso dizer "grosso modo" que dei crédito aos argumentos dos que contrariavam esse género de educação..."

- Quem está de fora lê e, por elementar respeito e consideração, guarda para si o que entendeu e, sobretudo, o que subentendeu. Não porque não saiba ou não possa saber. Apenas, porque sabe para que servem as fronteiras entre o que é público e privado e, dentro deste, distinguir o que é particular e o que é íntimo. Quem ainda não sabe bem exprimir isto, deve aprendê-lo quanto antes, sobretudo se tiver profissões jurídicas, políticas ou sociais e, além disso, ou principalmente, não quiser sujeitar-se a um reles papel de bufaria, inteiramente contrário a ter carácter.

(c) "...O preconceito anti-religioso, o senso comum e a estupidez andam muito bem a par e fazem óptima parelha ...é gente que não tem nada para dar e tem muito para tirar e por isso dizer porque parece e ao mesmo tempo reforçar as suas convicções não lhes fica nada mal..."

- eu continuo à espera de alguns desses, aqui ou algures, porque eram pelo menos tão bons como eu e, além disso, ou sobretudo, meus amigos e, um dia, não regressaram a Aldeia-Nova, ou, no ano seguinte, a Fátima, em Outubro de 1969, nem ninguém disse porquê.

Antero disse...

Caro Carlos Videira,

O teu texto (digo teu porque já nos aproximam a idade e a "confraria" a que pertencemos...), claro e interessante veio trazer mais luz sobre o autor dos "Mandamentos" que o Toninho em boa hora aqui trouxe. Já o disse em comentário anterior, surpreenderam-me pela sabedoria universalista e por ainda hoje e amanhã terem actualidade. Na altura em que foram exteriorizados seriam certamente vanguardistas e revolucionários.
Fico à espera de mais textos meu caro amigo.
Entendo, penso que bem, o texto do José Carlos Amado e os seus estados de espírito, do que diz e daquilo que por opção não diz.
Já sinceramente não entendo o enigmatismo que o Isidro, meu colega de turma do primeiro ao último dia de Aldeia Nova, põe em certos textos e afirmações. Na verdade não tenho por vezes entendido as afirmações, nem as próprias nem as claramente subentendidas e muito menos os desafios a terceiros para falarem sobre coisas ou factos desconhecidos do comum dos mortais (tendo-me por bitola).
Mas eu nestas coisas ao tempo era um simplório... Não me apercebi de nada de transcendente. Saí no final do 5ºano de Aldeia Nova, por opção minha e familiar, com diploma para começar a trabalhar e, como anticelibatário (é a primeira vez que o digo)... Nunca estive em Fátima nem falei muito com quem estivesse. Assim, Isidro, por vezes, as tuas cogitações ou afirmações são para mim enigmáticas e inacessíveis.
Mas acredito piamente que os que tiveram outro percurso mais aproximado (que tenham feito a transição de Aldeia Nova para Fátima e tivessem essa vivência mais transcendente) possam entender. Será?
Faço este comentário com sinceridade, por pensar que muitos estarão como eu e porque quando não percebo gostava de perceber. Só isso. Sem melindres.
Antero Monteiro

Isidro disse...

Para mim,caro Antero, e a quem mais possa aplicar-se, também sem melindres, já me parece um pouco de mais, saber-se melhor que eu o que apenas eu pensei e escrevi. Quanto a supostas afirmações subentendidas, ainda por cima claras, é também um pouco exagerado. Não há aqui, da minha parte, quaisquer enigmatismos, transcendências ou o que quer que seja dessas ilustres áreas.

Ainda bem que está aí a chegar algum ar fresco, através do texto sobre a Teoria da Conspiração.

E, claro, amanhã é um dia novo.

Carlos Videira disse...

O comentário do Isidro, à minha intervenção, lisonjeia-me, porque sendo eu estreante, não usa a segunda pessoa do singular (tu, etc.); espero que apenas tenha sido uma excepção e volte às boas práticas utilizadas no blog.

De idade, tenho 74; de Internet pouco mais de dois anos; de Informática, na óptica do utilizador, cerca de vinte.

Livros de Informática consulto alguns, essencialmente manuais de formação, o resto é apenas desejo antigo de saber, porque, tendo eu seguido uma carreira de funcionário público administrativo, quase toda no Ministério da Saúde, durante mais de quarenta anos, a maior parte dos quais desempenhando funções de chefia como responsável pelos serviços administrativos a nível distrital, na cidade da Guarda, tive sempre por lema “saber fazer” para saber ensinar e para poder planear, orientar, avaliar e controlar o trabalho da área da minha responsabilidade. Logo não sou o Carlos Videira que publica livros de informática.

“Tentativas de lavagem cerebral disfarçadas de metafísica” não dei muito por elas;

De facto estive em Aldeia Nova entre 1946 e 1951; em Sintra em 1951/52 no noviciado e, em Fátima, entre 1952 e 1954.

Fui colega de curso do padre Bernardo Domingues, do padre João Domingos e do padre Gil e, no noviciado e em Filosofia também do padre Miguel dos Santos.

Quanto ao meu "regresso a um Mundo que não dispunha de regras de internato", vou contar:

Eu passei a um outro Mundo quando saí de Aldeia Nova onde ficaram todos os meus professores, o padre Francisco Rendeiro director do seminário, (quanto eu admirava aquele homem bom às vezes com cara dura); o padre Oliveira, aquela sumidade do saber; o padre Tomás Videira que não era meu familiar; o padre Estêvão e o padre Lourenço, para além dos leigos Dr. Adolfo e o prefeito Sr. Vieira.

Em Sintra e em Fátima encontrei novo grupo de padres; os canadianos Pio Gaudrault, Louis Sylvain, Reed e um tal Le Blanc; os norte-americanos Agius e Matews e o Belga Paul Denis.

A mentalidade "p´ra frentex" destes estrangeiros era a de uma mudança de pelo menos 180 graus o que fez com que, os quatro anos de prática que tive com eles, quando regressei ao tal "Mundo que não dispunha de regras de internato", já estava numa caminhada muito avançada rumo à adaptação.

Também a prestação do serviço militar algum tempo depois, com a recruta feita em Coimbra, O Curso de Enfermagem Militar na Escola Nacional do Serviço de Saúde do Hospital da Estrela, em Lisboa e a prática de enfermagem no Hospital militar de Tomar, durante quase dois anos, fizeram o resto da adaptação, pelo que nunca senti qualquer trauma psicológico por ter frequentado o seminário, nem nunca me foi necessário disfarçar as minhas origens.

Nunca fui um "Pedro" que negasse "O Mestre" nem uma só vez!

Acrescento mais: quando com dezanove anos saí dos dominicanos e comecei a privar com o clero regular diocesano, aí sim, eu ficava espantado com a abissal diferença do conservadorismo destes padres, por comparação àquilo que eram os dominicanos, de alguma forma, até os de Aldeia Nova.

Mas alto aí! - não se infira de tudo isto que eu sou algum revolucionário, não senhor, sou um conservador mais progressista do que tantos que julgam ser o que não são! Sou, apenas, um Homem às direitas!

Se entendi o significado da palavra "alvura" vestimenta que não usei, posso contrapor a palavra "negritude" a propósito da qual, um dia quando visitávamos Aldeia Nova com alguns padres de Fátima, entre os quais o canadiano padre Reed, este ficou muito escandalizado e até irritadíssimo quando viu os meninos vestidos de preto, "comme les corbeaux" que era o nosso fato de passeio e das cerimónias nos dias festivos.

Para finalizar, ao Isidro, ao Antero e ao José Carlos Amado que comentaram o texto que enviei, sob o título "MANDAMENTOS" agradeço as referências e envio um abraço com a promessa de mais intervenções.

Carlos Videira

Antero disse...

Carlos Videira,
Somos do mesmo Distrito, o que é uma agradável coincidência.
Conheces por acaso, o António Valente (que foi nosso colega (meu e do Isidro)?
Esteve aí muitos anos a dirigir uma espécie de internato no Porto da Carne( se a memória não me falha...) e já está reformado. Deve ter agora cerca de 56 ou 57.
Antero Monteiro

Anónimo disse...

Começam a aparecer sinais de que o mundo não está perdido. nunca estive em Fátima, que não era bem um seminário maior mas um convento, aí alguns assopradores já se afastavam da sã doutrina católica, por isso o senhor os expulsou a todos. Penso que só restaram dois. e mesmo esses imbuídos de modernismo. Eu rezo pela conversão de todos.

António da Purificação

A. Silva disse...

O Videira já fez uma boa parte da sua auto-biografia, no tocante à sua passagem por Aldeia Nova, ainda na década de 40 e depois um ano em S. Pedro de Sintra e em Fátima. Gostei que aparecesse no nosso blog, reatando os laços que começou a apertar na sua juventude e que parece ter mantido até hoje. Continua a aparecer, amigo. Um pormenor que ele omitiu, talvez por modéstia, é que era um grande companheiro, um verdadeiro frater. E um grande actor, mais para o cómico. Tive a honra de actuar com ele na representação do Auto da Barca do Inferno, naquelas festas dos Reis (se a memória não me atraiçoa, ou seria no dia dos santos inocentes?). Ele desempenhava o papel de Diabo (principal) e eu de Diabo ajudante. O Videira era estudante do 3º ano e eu era noviço.

Ó Isidro, o que é que entendes por ambiente conventual? Na década de 40 e de cincoenta o ambiente não era diferente do de sessenta. E a preparação, pelo menos humanístíca, não era inferior à dos tais alunos colegiais e liceais de 65 prá frente. Não havia televisão, mas havia sessões de cinema algumas vezes. Porque houve durante algum tempo, um motor que produzia energia eléctrica.
"...na altura em que a alvura era vestida aos 15/16 anos..."
1º como diz o Purificação, o ambiente em Fátima não era de um Seminário Maior. Era um convento, com frades clérigos e frades não clérigos, uns com profissão solene ou perpétua e outros com profissão simples. Daí não se poderem fazer comparações entre o tempo em que os jovens eram frades que estudavam Filosofia e Teologia e outro tempo em que outros jovens da mesma idade, habitavam no mesmo local e iam frequentar aulas nos seminários de Fatima : Dominicanos, Monfortinos, Verbo Divino, Consolata. Foram essas as congregações e a Ordem dominicana que fundaram o CEF. Em 1968. Só mais tarde seria aberto a jovens não seminaristas.
2º Façamos umas contas de aritmética. Nesse tempo, mandava o Ministério da educação que os rapazes e raparigas entravam na escola primária após os 7 anos. Como esta tinha 4 anos, raro era o rapaz que a completava com menos de 11 anos. Como a maior parte dos alunos entrava com 12 anos, tomava-se o hábito, com uma média de 17, professava-se com 18 e solenemente nunca antes dos 21, de acordo com o Direito Canónico.
Um abraço. Toninho

Isidro disse...

Eu referi-me ao ambiente "conventual" de Aldeia-Nova dos anos 40 e 50, e ao ambiente de "Seminário Maior" de Fátima na mesma época, em pontos que foram questionados pelo Toninho, que teve longas carreiras em Aldeia-Nova e Fátima e pelo António da Purificação, que teve 5 anos de Aldeia-Nova nos primórdios da Escola Apostólica/Seminário Dominicano e, ao contrário de mim, continua a estudar o assunto, dia a dia.

Reconheço-lhes 100% de razão jurídica formal e até acrescento,

Parafraseando o Jaime Coelho, que vou a citar de memória, deste blogue - ao contrário de Aldeia-Nova, o Convento de Fátima não era um Seminário, no sentido tridentino do termo.

Parafraseando, também de memória, deste blogue, o Ferraz Faria, sobre certo Seminário Maior do Norte do país no fim dos anos 60, digo também que o Convento de Fátima não era como um Seminário Maior.

Porém, eu estou convencido, com base no que percebi de vários terceiros, que os meus reais 7 anos de Aldeia-Nova e Fátima (1964/71) foram bastante privilegiados em relação aos anteriores.

Comparados com os seminários diocesanos, menores e maiores, desse tempo, eu estive apenas no Colégio Militar, nas Escolas Internacionais Alemã, Inglesa e Francesa ou em qualquer dos colégios laicos desse tempo e penso que, em larga medida, também os meus antecessores, quem sabe se até durante os próprios primórdios de Aldeia-Nova, pelo menos em comparação com os mesmíssimos equivalentes diocesanos invocados por Virgílio Ferreira.

Não duvido que nos tempos anteriores se estudasse a fundo, entre os Dominicanos e houvesse professores que traziam novas perspectivas informativas, técnicas e pedagógicas, sobretudo do estrangeiro. De resto, eu vi, até aos 18 anos, pessoas que continuavam a progredir, em várias idades, algo que só é possível entre quem tem bases sólidas e um enquadramento apropriado.

Não roubo a memória de ninguém, mas também não deixo que ninguém me roube os meus melhores momentos de Aldeia-Nova e Fátima. Recomendo vivamente a todos que não tenham ambição inferior á minha, qualquer que seja a métrica com que se autoavaliem em beatice numa escala que vai de 0%, como eu, a 100%, como o António da Purificação.

Quanto ao Toninho que referi, e vi, a alguma distância em 8 meses por ano, durante os primeiros 5 anos e que soube como estava nos dois seguintes, repito - estava escrito na sua testa que, salvo um eventual cataclismo, se tem filhos, só podem ser emocionalmente equilibrados como ele. Quanto ao Ferraz Faria, a quem também me referi e que só vi durante cerca de 2 anos, fiquei com a mesma certeza. Que não me desmintam.

Anónimo disse...

Quem como eu teve como director, em Aldeia Nova, o que depois veio a ser o senhor bispo Francisco Rendeiro, não faz a distinção entre convento e seminário maior. Distingo sim, um tempo construtivo de vida piedosa e cristã e um tempo que depois veio de pura laicidade desagregadora e que nos arremeteu, a toods, para a licenciosidade onde ora estamos.

António da Purificação

Jaime disse...

De que foi um "tempo construtivo de vida piedosa e cristã", só duvida quem não leu "Conselhos aos meus seminaristas" da autoria de frei Francisco Rendeiro, mais tarde bispo de Faro e depois arcebispo-bispo-conde de Coimbra.
Jaime

Anónimo disse...

Não posso deixar de colocar a questão seguinte. Porque é que a fornada do nosso apresentado caro amigo Mário videira deu tão bons frutos (frei Bernardo, frei Gil, frei João Domingos)e ele próprio? O segredo não estará no tal ano que passaram em S.Pedro de Sintra, que deduzo se tratará do colégio do Ramalhão? Nunca se sabe se solução para o crescimento da Ordem não passará pelo regresso às práticas desses belos tempos. Fátima nunca foi tão produtiva.
Lanço o repto.
Ezequiel Vintém

carlos videira disse...

Ó Antero, o Valente Mateus, continua a viver aqui na cidade da Guarda.

Foi durante muitos anos professor num estabelecimento de reeducação de rapazes, agora chamado Colégio do Mondego, sedeado perto da cidade.

Ultimamente tenho encontrado mais a esposa do que ele.

Foi ele a primeira pessoa a falar-me no blog “criarlacos”. O seu endereço postal é o seguinte: António Valente Mateus – R. Dr. Aristides de Sousa Mendes, 10 - 6300 Guarda. Tel: 271 211 093.

Para o Toninho vai aquele abraço de amizade que torno extensivo ao Jaime que também comentou na área do meu texto.

Carlos Videira.

Isidro disse...

Sem prejuizo do respeito e consideração devidos ao António da Purificação que o diz, certamente convicto,

"...tempo que depois veio de pura laicidade desagregadora e que nos remeteu, a todos, para a licenciosidade onde ora estamos..."

é para dizer que ainda há grandes campeões dos costumes.

Porém, na minha experiência, a todos os níveis, os campeões desta disciplina não deixam nada que se aproveite atrás de si, nem no corpo, nem na alma (aqui é para seguir o léxico dele, porque, para mim, não existe um sem a outra e vice-versa, a não ser nas convenções linguísticas).

Pelo contrário, pessoas como o Toninho, pelo que, comprovadamente, fez por nós em Aldeia-Nova e como o Fernando que escreve neste blogue e parece como a Torre de Pisa - inclina-se com sabedoria, mas não cai, não merecem achaques como o que ali parece estar gravado.

Muito menos o merecem os que continuam no activo, como o frei João Domingos, proveniente desse suposto admirável mundo novo dos primórdios de Aldeia-Nova que, de modo concludente, liderou e chefiou, durante a década de 60 e o início dos anos 70 a tal coisa dita como desagregadora. E, quando digo, liderou e chefiou, significa que não esteve só, que eu sei nomes, factos, pressupostos, resultados, convicções e evolução pelas quais ele e outros deram tudo o que tinham e com o que continuam bem vivos.

Sei também que, quando se fala em licenciosidade, o falso pudor leva quase sempre a conversa para o mesmo equívoco que impede as adolescentes de se acautelarem devidamente, por si, pelos seus namorados e pelas suas famílias, muitas vezes apenas porque, no seu íntimo, imaginam uma vida melhor pelo simples facto de ficarem grávidas aos 14 ou 15 anos - é o gosto pelo risco? Nunca provei disto na minha família, nem o vi de perto, entre os meus amigos, vizinhos e conhecidos. Não é a catequese que as ajuda. É aprendizagem da palavra "não", igualmente dificil de ensinar por quem está a ser permanentemente influenciado para dizer "sim" a não importa o quê.

P.S.

Fiquei sem saber se o Jaime disse o que pensa ou fez ironia sobre os "Conselhos aos meus seminaristas", texto de que não encontrei rastos.

Idem, ao Ezequiel Vintém, sobre Sintra, porque, neste caso, fiquei certo de que ele abandonou o humor, por um momento, e reafirmou, para si mesmo, saudades de certa época da sua vida. Não comento, claro, mas aproveito para dizer que me tem chegado a indicação de que, algures em Sintra, existe um Seminário, ou semelhante, com um considerável número de adultos jovens, o que impressionou bastante quem os viu. Mais não sei.

Anónimo disse...

Não, Ezequiel, S. Pedro de Sintra,não é o Ramalhão, era um seminário menor dos autênticos, eu ainda por lá passei uns meses. Também quero dizer, com toda a estima, ao Isidro que o livro a que o Jaime faz referência é autêntico e muito instrutivo.
Não conheço o Toninho mas tirando uma ou outra tirada que me parece eivada de progressismo parece-me pessoa informada e muito sensata.
Antótnio da Puriifcação

Jaime disse...

Isidro, era ironia.
Sem desrespeito por fr. Francisco Rendeiro que conheci mas com quem não tive grande proximidade. Respeito-o até mais porque amigos meus que conviveram com ele de perto o admiravam: O fr. Bernardo Domingues (tio do P. Bernardo e do fr.Bento), o fr. Jacinto Pereira, o fr. Joaquim Frango e o meu próprio sogro.
Não era minha intenção desmerecer do homem globalmente admirável. Tão só ironizar oom o acessório.
Ele escreveu, de facto, salvo grosseiro erro da minha memória passados que são mais de 50 anos, dois pequenos opúsculos intitulados "Conselhos aos meus filhos" e "Conselhos aos meus seminaristas" - não necesssariamente por esta ordem - que eram, já nos critérios da época, considerados um pouco "beatos".

Ezequiel Vintém
Não se trata do colégio do Ramalhão, já existente na altura, mas do primeiro noviciado dos dominicanos, um bocadinho mais à frente, em S. Pedro de Sintra.
Jaime

A. Silva disse...

Ó Ezequiel, a fornada de 46 foi tão frutuosa que deu 5 noviços. Aos 4 que citaste há a juntar o fr. Andrade. Que penso não chegou a Fátima. Não é, Videira? Mas a percentagem foi também grande no presbiterado (3) E, os entrados no 1º ano, não deveriam ser muitos, por falta de espaço e outros motivos. Igual, só me lembro do meu ano. Chegámos 3 ao noviciado e ordenámo-nos os mesmos (Paulo, Henrique e eu); restam ainda 2.
Não me lembro do conteúdo, mas o livro do p. Francisco Rendeiro era bastante lido. Passou-me pelas mãos e à falta de melhor, lá servia de alguma orientação.
Ó Purificação, por onde andaste que nunca te vi,nem antes nem depois do fr. Francisco Rendeiro swe nomeado bispo? Ainda te lembras como a gente soube a notícia. Ora diz lá. A não ser que sejas um tal que passava os recreios a rezar na capela e aproveitava para escorripichar as vasilhas do vinho da missa.
Um abraço. Toninho

Anónimo disse...

Toninho:
Não posso responder ao teu desafio pois saí alguns anos antes de frei Francisco ter sido sagrado Bispo. Mas já então se dizia que ele era bispável. E até se apontava o facto de ele ter pregado um retiro aos bispos portugueses (Creio que no Sameiro) para favorecer a sua ordenação episcopal.
Outra questão: O Toninho e o A. Silva são a mesma pessoa?
Um abraço
António da Purificação

Isidro disse...

Venho interpôr-me, durante um momento, entre o T. e o A.P., spero que com permissão de ambos.

Introdução

A. Silva é o nome. Toninho é, coincidência ou não, uma aproximação do nome que A. Silva usava entre os Dominicanos e que, evidentemente, não me cabe indicar. Em outro pontos deste blogue, ele diz que é conhecido como "Toninho" entre os amigos.
O Toninho ao António da Purificação uma certa questão que, segundo parece, só pode ser respondida exactamente por quem esteve lá

Desenvolvimento

Há tempos o António da Purificação disse, em resposta ao Nelson, que é do tempo do frei João Domingos.
Agora, o António Videira diz também que é do tempo do frei João Dpmingos.
Aparentemente, o António da Purificação e o Carlos Videira não se conhecem

Conclusões

Eu ainda não quero acreditar na conclusão a que levam as premissas anteriores.
Mas que parecem estar em certa direcção, isso parecem.

carlos videira disse...

O Ezequiel traz à consideração de todos nós a produtividade daquele ano, iniciado em 1946, de que eu fiz parte, mas de que me excluí por vontade própria, por razões que a minha mente conhece mas não divulga, por terem passado já mais de cinquenta e cinco anos.
Muitas vezes me tenho questionado a mim próprio, ao longo da vida, do porquê de tal fornada.Tenho uma teoria explicativa que, podendo ser falível, não divulgo em público.
Sintra creio que não foi o segredo e, se contribuiu, a quota-parte é diminuta.

Como vulgarmente se diz que a mesma água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte, creio que a receita que funcionou naquela época, dificilmente voltará a dar idênticos frutos nos dias de hoje. Enfim, são conjecturas minhas que só poderão ter alguma validade em função da minha idade e da experiência vivida, porque, de ciência certa, calma aí!

Em Sintra estivemos numa mansão apalaçada numa quinta, salvo erro, de um Sommer de Andrade que esteve envolvido, juntamente com António Champalimaud, num dos mais longos e famosos litígios que existiram em Portugal pela disputa da fortuna de seu tio Henrique Somer, litígio esse que durou dezasseis anos e que terminou em 1973 favorável a Campalimaud. Essa quinta ficava a poucos metros da Igreja da freguesia de S.Pedro de Sintra.

No Palácio do Ramalhão, adquirido em 1941 pelas Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena funcionava e ainda funciona um colégio feminino e é também, simultaneamente, convento e casa generalícia da Congregação.

Toninho: Confirmo que o Domingos Andrade foi "dispensado" no noviciado, em Sintra e já não chegou a Fátima.

Ao Isidro: Confesso que sendo eu do ano dos padres Bernardo, João Domingos e Gil, não me lembro do António da Purificação mas, admito que a minha memória me atriçoe.

Como sou um distribuidor de abraços, a todos os que comentaram no espaço do meu texto "Mandamentos" e também para si, Ezequiel, vai um abração.

Carlos Videira

Anónimo disse...

Caro Carlos Videira
Começo por pedir desculpa pela troca do teu nome no meu comentário anterior. Explica-se pelo facto de ter convivido no meu local de trabalho durante 30 anos com um Mário Videira, igualmente óptima pessoa.
Retribuo o abração e espero pelo encontro anual dos ex-alunos para aquele abraço ao vivo. Na senda do Isidro, deu-me para pesquisar e verifiquei que a palavra abraço aparece numa grande maioria dos textos e comentários deste blog. A palavra beijo aparece fugazmente apenas em dois textos.
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com/2008/12/mistrios-do-pinhal-de-leiria.html
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com/2007/06/o-passeio-de-santo-antnio.html
Interessante, não é?
Não vale a pena preocupares-te demasiado com o António da Purificação. As nossas memórias apagaram certamente um tal personagem, por se recusarem a admitir que de Aldeia Nova saiu um tal beatarrão. Ou então ele passaria o tempo na capela e nós não dávamos por ele. Vê bem que ele é dos que entende que prova de fé seria levar o Cristo-Rei ao santuário de Fátima.
Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

É preciso chegar a esta idade para ser adjectivado de beato por dois escribas deste blogue. O João Domingos era um menino ao pé de mim quando chegou ao seminário menor. Daqui o Senhor não me escolheu para ir em frente. Guardei a memória do P.e João Domingos porque ele prossseguiu e não residia muito longe da minha aldeia. No ano em que entrei só mais um me acompanhou o Gonçalves dos lados do Caramulo.
Hoje tenho saudades, saudades do tempo em aue se rezava e se cantava o benedicite cete et omnia quae moventur...
Parece que alguns como Ezequiel, cobardemente escondido atrás de pseudónimo, esqueceram a matriz, essa marca original da vida piedosa ritmada pelo estudo e pela oração.
Seja como for não desisto de evangelizar.
António da Purificação

Isidro disse...

Uma vez que o António da Purificação diz que viu entrar, ainda menino, o actual frei João Domingos, pode ter ido inaugurar Aldeia-Nova, em Janeiro de 1944 e não nos presenteia com essa indicação. Isso não se faz - esconder que és um histórico e envergonhares-te de o dizer.

Se for assim, o António da Purificação merece ser lembrado como um sobrevivente dos primórdios de Aldeia-Nova, uma memória viva da época e, assim sendo, deve ser convidado a contar qualquer coisa mais, antes que se perca o resto desse tempo ele que é um dos primeiros a ver nascer os "baby-boomers" nascidos no pós guerra.

A mim, não me surpreenderia que o seu misticismo, ou beatice em termos mais exactos, tenha sido uma construção mental para lidar com a adversidade algo que, na minha experiência, não costuma ser obra de gente completamente parva como ele às vezes quer fingir que é, com um pouco de falsa humildade, parece.

Votos de felicidades, António da Purificação mas, cuidado, não uses a catequese para lavar o cérebro de criancinhas desprotegidas dos pais, porque, onde eles estiverem atentos, não te darão tal margem (tu próprio já descreveste aqui a ira de um que me pareceu bem ajuizado).

António da Purificação, amanhã é um dia novo.

Isidro disse...

P.S.
De qualquer modo, depois de ter lido o artigo do Carlos Videira melhorei um pouco a imagem que terceiros me tinham transmitido desse tempo.

Anónimo disse...

Caros amıgos estou a passar uns dıas na Turquıa ..por aquı as ıntervençoes vao ao rubro..nao estou em condıçoes de fazer uma ıntervençao mas nos proxımos dıas espero voltar..um grande abraço para todos
Jose Carlos Amado