segunda-feira, 11 de maio de 2009

UMA RAPOSA FEZ UMA RAZIA NO MEU GALINHEIRO


Levantei-me cedo como de costume. Quando o sol surgiu no horizonte já eu contava duas horas na jorna. Era a hora de regressar a casa. “Anda cá ver” atirou com ar desgostoso a mulher que me saltou ao caminho. “Que foi mulher?. O que é que aconteceu?” retorqui. “As galinhas. Ficámos sem galinhas.” “Roubaram-nas?” “Não, estão todas mortas.” “Não me digas que a gripe suína também entrou no galinheiro!” “Parece-me que foi obra de bicho.” Acerquei-me do local do crime com propósitos de detective, e analisei a situação. Seis galinhas desventradas e mortas, uma franga com pouca vida, e duas que tinham desaparecido. “Solta a franga, mulher.” Ao menos o galo não passou por isto, porque lhe tínhamos posto uma gravata vermelha pelo Carnaval. Pela forma do ataque e pelos rastos, só podia ser obra de raposa. O gineto ou o saca-rabos actuam doutra forma. Cá estão os pelos de raposa na rede, e o cheiro, aquele cheiro característico deste animal, tão desagradável, inversamente proporcional à sua beleza à vista. Condiz. Ainda há dias vi da minha varanda a “matreira” seguida de uma ninhada, numa vereda do mato. É natural que o animal tendo dificuldade em conseguir alimento para as suas crias tivesse que recorrer a acções mais arriscadas, mesmo em território de humanos e de cães, para a sobrevivência dos filhos e de si própria.

A Bolsa já abriu e eu tenho de verificar como se estão a portar os índices. Efectuei de véspera uma entrada curta, porque me palpita que o “bull market” já começou. Penso que finalmente os “touros” vão entrar em acção, e afastar os “ursos” que têm dominado a situação desde finais de 2007. Vamos então ver. Que desilusão! O PSI20 está em forte queda. A minha análise técnica desta vez falhou. Ainda bem que coloquei um “stop” apertado. Atenção. Um email urgente do meu vizinho! Os javalis destroçaram-lhe o batatal na noite passada. Os meus tomates estão em perigo.

Vou antes tratar do porco, que está inquieto à espera da vianda. Este ao menos está bem cevado. Que S. Luís o dê por esmola. Só espero que ninguém venha espirrar para cima dele. Tenho que ter cuidado sobretudo com aquela gente da capital, que de vez em quando surge por aqui. Acho que estão no centro da “pandemia”. Pelo menos, as televisões de Lisboa não falam doutro assunto. Sinal de que a situação por lá é preocupante. Vou impedir-lhes o acesso à pocilga, com a desculpa de que o bácoro está a dormir. Eles acreditam em tudo. São delicados e muito educados. É só, “ obrigado” para aqui, “obrigado” para acolá. São muito teóricos e muito ingénuos.

Para compensar as perdas na “Bolsa” vou fazer um pouco de “trading” no mercado monetário. Pela análise dos gráficos, vou apostar na subida do euro em relação ao dólar e também ao yene. O BCE não vai baixar mais as taxas de juro e os índices de desemprego nos EUA estão a subir. Malditos cães que não me deixam concentrar. Respondem alvoroçados ao uivo de um lobo na colina fronteira.

Decidi então escrever para o “Criar laços”. Afinal este é seguramente o investimento com melhor retorno.


Ezequiel Vintém

18 comentários:

A.B. disse...

Ezequiel, meu caro amigo,

Cuidado com a Bolsa, a bolsa e o bolso...
Se não conseguiste preservar as galinhas e tens os tomates em perigo, mais difcicil será a defesa dos "tubarões"!

Com tão dificeis experiências, cuida de salvar os tomates ou, em alternativa, vais ter caminhar para a praça ou contar com a solidariedade dos vizinhos, se tiverem melhor fortuna.

Tens ao menos rezado umas novenas?
Encomendaste o galo ao padroeiro local ou passaste-o a fricassé?
Não deixes o suíno correr perigos desnecessários.
Este blog tem de facto melhor retorno e com um golpe de magnanimidade, consegues mesmo fazer aí uma procissão e tratar-lhe definitivamente da saúde!
Anda por aqui muita alma piedosa, embora citadina, que não é o meu caso, que não sabe nada dessas coisas e poderia ajudar a "agasalhar" o dito suíno.
Grandes males grandes remédios e acabam as preocupações.
Seja feita a tua vontade.
Solidariamente,esperando que a pipa esteja no mesmo sítio...
F.r. da Área Benta

Isidro disse...

O site stimator.com [http://www.stimator.com/ ©2009 MeoZon], entre outros com idêntico propósito, foi concebido para especular sobre o retorno previsível dos sítios internet, ainda que prevenindo sobre a necessidade de renovar os cálculos com base em outros critérios, porque não se pode confiar em bolhas. Eis o que encontrei em duas pesquisas muito inocentes:

(a) o site do Clube de Futebol inglês Manchester United (1 bilião com 9 zeros europeus), certamente porque usa a cor da gravata que o Ezequiel Vintém ofereceu ao galo por ocasião do Carnaval;

(b) o blogue Criar lacos [http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com] (56 euros, nada mais, nada menos) sendo pouco para medir o retorno da participação de uma velha raposa na cultura, sempre é mais que o atribuído à IGAC - Inspecção-Geral das Actividades Culturais [http://wwwigac.ml.pt] (48 euros)o que é melhor que nada, a bem dizer, porque só aquele tem uma raposa, o que faz quase toda a diferença.

Anónimo disse...

Estou a ficar embasbacado.
António da Purificação

Fernando disse...

Eu jà perdi o fio à meada!... Fernando

Antero disse...

Ó Isidro,

Tenta lá vender a raposa do Ezequiel por bom preço.

Ainda a não apanhou/ámos mas é questão de voltar a encher a capoeira ...!
Já me deste uma novidade. Não sabia que existia esse serviço de avaliação.

Amigo Nelson, isto começa a ter cotação superior a um euro por semana!!!

Antero Monteiro

PS.- O blog começa a ter uma grande versatilidade. Deve ser da globalização.

nelson disse...

Se caçarmos a matreira, só a pele terá uma cotação superior ao blog!... Isto se não tivermos que indemnizar o Vintém...
Nelson

Armando disse...

Aconselho-vos a não se meterem nessa empresa, que o Vintém mostra ser um ecologista dos sete costados. Aproxima-se mesmo do S. Francisco de Assis. Só não hesita é quando tem de colocar a gravata vermelha nos galos ou virar o porco de pernas para o ar.
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Nelson:
Há um ano sugeri-te que debatessemos no blog temas da teologia tomista e que cada um dos intervenientes fizesse, rotativamente, uma oração diária a que chamariamos pedrinhas do rosário. Nem resposta me deste.
Agora aparecem por aqui intervenções que valha-me...
António da Purificação

Isidro disse...

Passei a minha infância no meio de eventos como os que, mais acima foram apresentados, como ficcionados, pelo E.V., ouvi e vi dezenas de histórias similares e, francamente, tiro-lhe o meu chapéu pela ficção que nos empresta, com uma hábil combinação de bichos que, na actualidade, não estão disponíveis, todos juntos, em nenhuma zona residencial campestre como aquela em que ele viu o nascer do Sol.

Passando aos comentários, só posso dizer que:

(a) O F.r. da Área Benta esteve à altura do E.V. mas aquela da pipa é um pouco exagerada a não ser que esteja a repescar uma velha adega de Aldeia-Nova na qual um grupo de jovens teve a honra de provar, das mãos de uma velhinha, um barril de vinho corrente por abrir há 20 anos, cujo sabor adocicado ainda está na minha língua.

(b) respeito o alerta do António da Purificação, devidamente embasbacado e admito que seja mais do meu comentário que do artigo. Se foi o caso, o que só ele saberá, agradeço-lhe a menção, uma vez que tinha como objectivo salientar e não ofuscar o artigo do E.V. (acabei de me lembrar que tenho sido exageradamente avarento nos elogios e, mais dia menos dia, vou exprimir melhor alguns elogios).

(c) Fernando, isto já não tinha meada, pelo que nada perdeste. Por agora, está em "sueltos", como dizem "nuestros hermanos".

(d) Antero, naquele site de brincadeiras sobre avaliação de sites, o que conta não é o montante de cada um, são as diferenças entre alguns. Entre as minhas tentativas, nunca consegui encontrar valores negativos, nem o valor zero...
Quanto à raposa visionada pelo E.V., só se ele escolher uma fotografia para o blogue. Eu quero-a em liberdade.

(e) Nelson, suponho que, actualmente, só é permitido caçar raposas no âmbito de específicos controlos populacionais, a cargo de pessoas especializadas e caçadores autorizados, pelo que teremos de esquecer o preço da pele e, para começar, ver que o site referido não especifica se é valor diário, mensal ou anual... Porém, todos estamos contigo quando dizes, "Se caçarmos a matreira", pelo que já está dito o mais importante: (1) Se (2) caçar (3) matreira.

(f) Armando, em especial mas não só - há também os mencionados - deste-me as referências para as alíneas anteriores, mas os eventuais erros são da minha responsabilidade.

Anónimo disse...

Agora falo eu e vou falar com a retórica dum parlamentar.
Estivemos todos juntos, mesmo mais apinhados do que seria aconselhável, pela exiguidade da área coberta, que a descoberta era ampla. Aprendemos na mesma cartilha e rezamos pelo mesmo catecismo. Uns saíram sacerdotes (e deveriam ter sido todos), outros diáconos, outros intelectuais, outros escriturários e alguns camponeses. Agora partilhamos este espaço onde nos encontramos “ com o que temos para nos dar” (canção de José Mário Branco). Uns dão-nos experiências de vida, outros reflexões profundas, outros textos de ficção, outros pensamentos elaborados, outros pesquisas na net. E porque não alguns falarem da lavoura, da vida campesina ou da pesca.
Como dizia o António Aleixo: «Não sou esperto nem bruto, / nem bem nem mal educado: / sou simplesmente o produto / do meio em que fui criado».
È um espaço heterogéneo? Pois é. Não acham bem? Indiquem dois ou três redactores, que os temos bons e as baias donde não poderão sair. E fica o assunto arrumado.
Sempre a considerar-vos,
Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

Já que estou com a mão na massa peço mais estas emprestadas ao Aleixo.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do Mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Eu não tenho vistas largas
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.

Com toda a consideração
Ezequiel Vintém

nelson disse...

Purificação:
Tu é que falhaste o último encontro, onde iriamos discutir essa temática! Aguardo a tua colaboração sobre os ensinamentos de S. Tomás de Aquino.

Isidro disse...

A raposa a que se refere E.V. é uma figura do livro "Le Petit Prince", de Saint Éxupéry, no qual a raposa pede ao "Principezinho" que a cative, de modo a "Criar Laços", expressão do frontispíceo deste blogue, baseada ou não em acaso de coincidência. É esta a raposa que foi ao galinheiro do Ezequiel Vintém numa terra em que o uivo do lobo desencadeou o ladrar dos cães e o ruído que o impediu de continuar a descobrir a solução das crises financeiras, ainda que com a compensação de o voltar para este blogue, com uma ficção de elevada qualidade, bem à altura do bom humor que nos tem emprestado e que eu, com assumida ingenuidade e boa educação bem agradeço, como um privilégio citadino, também acreditando que muitos outros pensam o mesmo.

Ainda assim, o referido comentário do Ezequiel Vintém fez-me duvidar, por um momento, que ele tenha sido mesmo aluno entre os Dominicanos de Aldeia-Nova e Fátima, ou que se lembre bem do que pensa conhecer, ainda que, em traços gerais, seja evidente que apenas tentou indicar, por aproximação e com evidente honestidade intelectual, certo padrão de vivência típica, pela qual parece existir uma certa curiosidade pública que ele aguçou com brilhantismo literário, porque e passo a citar/observar:

«...
Estivemos todos juntos, mesmo mais apinhados do que seria aconselhável, pela exiguidade da área coberta, que a descoberta era ampla...».

Conclui-se que E.V saiu de lá antes de 1964 uma vez que, pelo menos desde esta data, estavam disponíveis um edifício adicional e mais dois pavilhões, inclusive um que seria dormitório separado para os mais velhos.


"...Aprendemos na mesma cartilha..."

Admito que, entre 1964 e 1966 havia um livro que era uma espécie de catecismo gigante chamado "Caminho, Verdade e Vida" que eu nunca percebi bem, ainda que deixando as dúvidas só para mim mesmo, até porque nunca ninguém me exigiu, ou pediu, que pensasse como aí se indicava. Tomei o princípio à letra e, em data oportuna e segura, deitá-lo-ia fora.


"...rezamos pelo mesmo catecismo..."

Acredito que a expressão seja válida em sentido figurado, embora seja importante ressalvar que, no ambiente que conheci, era mais fácil encontrar quem nos mostrasse que havia evangelistas melhores que outros e ícones falsos por razões nada divinas, ficando assim prevenidos contra catalogações grosseiras, algo que, bem pode dizer-se, vale uma vida - para mim os catecismos são um pouco reles sempre que alguém os apresente como aquilo que, de todo, não são, o que é válido muito para além das questões religiosas e todos os dias.


"...Uns saíram sacerdotes (e deveriam ter sido todos)..."

Isto aqui fia mais fino, não em relação aos que chegaram a sacerdotes - nenhum do meu ano, note-se, porque é lá com eles, nem aos que saíram por razões económicas, foram expulsos ou dispensados, porque, neste caso, dependeram de decisões de terceiros e, num ou noutro caso até já se exprimiram neste blogue com pena de não terem tido melhor oportunidade, o que lhes terá limitado a autodeterminação.

Fia mais fino, porque, salvo o devido respeito a todos os demais, há muitos outros que, chegados a certo momento em que nem sequer existiram perguntas embaraçosas, simplesmente fizemos as nossas escolhas e opções sem quaisquer dramas, nem pressões.

Antero disse...

FEIRA DO LIVRO DE LISBOA
Fugindo um pouco ao tema da raposa do Ezequiel Vintém:

Quem for amanhã ( 16-05-2009) à Feira do Livro de Lisboa, a partir das 17h00 horas, poderá encontrar mo pavilhão da D. Quixote o nosso amigo JOÃO DE MELO, em sessão de autógrafos.

" Sessão de autógrafos com António Lobo Antunes / Maria Teresa Horta/ João de Melo/ José Eduardo Agualusa
D. Quixote
Sáb, 16/05/2009 16:00
Leya - Sessão de autógrafos "

Aqui fica a informação para quem interessar.
Antero Monteiro

Isidro disse...

Segundo o © Portal da Literatura, o escritor João de Melo estará amanhã, 6.ª feira, 15/05/2009 na 79.ª Feira do Livro em Lisboa às:

17 horas na "Caminho"

18 horas na "D.Quixote"

Mais não sei, Antero.

Antero disse...

Isidro,

A informação que dei vem do próprio, com quem falei ontem... e tomei a liberdade de a inserir aqui.

Para ser franco não conheço nada do João de Melo na Caminho. Apenas na Assírio e Alvim, no Círculo de Leitores, na D. Quixote e nas Publicações Nelson de Matos ( nesta apenas um conto ilustrado por Francisco Simões "Luxúria Branca e Gabriela").

Antero

A. Silva disse...

Estive lá ontem, sexta-feira, depois das 18 horas para comprar o último do joão de melo (uma novela de 118 páginas) - A Divina Miséria e lhe dar um abraço.
Como àquela hora não havia muitos leitores a cumprimentar os autores ainda pudemos pôr a conversa em dia.
Toninho

Isidro disse...

Obrigado pela indicação, Toninho.

Já comecei a ler esse "abraço" e o modo como começaste a pôr a conversa em dia. Ora vê.

Se a "Divina Miséria" for o que está na seguinte sinopse, não serão poucos os que a lerão de uma só vez, quase sem parar.

Conto que o primeiro a fazê-lo partilhe a experiência (ainda não a tenho na mão e, de qualquer modo, não poderia fazê-lo de imediato), porque aqui soa-me a um verdadeiro pontapé de saída, ou um pontapé na linha avançada para o Nobel.


A Divina Miséria
Autor: João de Melo
Editor: Dom Quixote
Ano de Edição: 2009
N.º de Páginas: 120
ISBN: 9789722038133
EAN 9789722116060
PVP: 12 euros

Sinopse:

"Há histórias, personagens, invenções sobre o mundo que podem viver connosco durante anos e anos, ser parte do nosso imaginário e suscitar em nós a linguagem dos chamados «grandes sistemas» políticos e sociais do nosso tempo.

Esse é o caso desta novela. O autor trouxe-a consigo de estação em estação, de livro para livro, em momentos de pausa, pulsão de reescrita e obra inacabada, por entre outras ficções - como um texto que estivesse à espera da sua própria completude, para só então existir fora de quem o escreveu e criou.

A Divina Miséria separa-se definitivamente do seu autor para adquirir vida própria e propor-nos a imagem do obscurantismo moderno, os poderes terreno e divino como tema de uma literatura que tenta forçar os limites da própria imaginação.

Eis um ser vivo à margem do seu criador.

É de uma nova «trindade» que esta novela nos fala: o triunfo da religião sobre a morte simbólica da Igreja, a rota de colisão entre o humano e o transcendente, a grande potência invasora do mundo de hoje, mais forte do que Deus e senhora absoluta dos homens."