segunda-feira, 18 de maio de 2009

"MANDAMENTOS" do Estudante Dominicano


“Mandamentos” do estudante dominicano

Remexendo nos meus papéis no baú de recordações, encontrei o que se pode chamar “os dez mandamentos do estudante dominicano”. Recordo-me terem-nos sido dados por um professor de filosofia belga que ensinava Metafísica, História da Filosofia antiga e contemporânea, etc., o padre Paul Denis. Teria vindo a Portugal visitar um irmão engenheiro que trabalhava ali para os lados de Torres Vedras e tendo conhecimento das necessidades dos dominicanos em Portugal, por cá ficou durante alguns anos. Era um verdadeiro professor que enchia completamente as suas aulas. Dos 60 minutos, ela só dava praticamente meia hora. O resto era para revisão da actualidade, religiosa, política, cultural… Além das aulas, deslocava-se muitas vezes a Lisboa, onde dava conferências e fazia apostolado nos meios universitários e não só. Por volta de 58 ou 59 os superiores de Fátima dispensaram o seu serviço e regressou a Bélgica. A cegueira, ou os ciúmes nunca foram bons conselheiros. Ao reler este texto, compreendo melhor como os dominicanos , se esquecermos o período negro da Inquisição, estiveram sempre à frente, no seu tempo.
Vão em francês, no original, que toda a gente deve compreender. Hoje, vão só os cinco primeiros.
Toninho

1. Ayez foi dans l’Église. Ne vous permettez pas le jeu puéril de l’opposer aux hommes d’Église. À travers eux, donc à travers leurs mesquineries, elle réalise son oeuvre qui est celle du Christ. La présence d’une arrière-garde ne doit pas vous irriter; sans doute a-t-elle son rôle, elle aussi.
2. Aimez votre Ordre comme vous aimez l’Église. Sachez clairement ce que notre Père a voulu en le fondant; demandez-vous surtout ce qu’il ferait aujourd’hui en face du monder moderne. L’Ordre tombe en décrépitude s’il n’est pas en constant évolution. Que son avenir vous obsède et il gardera la fraîcheur de son âge d’or.
3. Soyez ouverts à votre temps; tâchez d’acquérir le “don de sympathie universelle”. Que la crainte des faux-pas ne paralyse jamais vos initiatives; vous-mêmes ne contrariez pas celles des autres. Soyez des audacieux comme le furent saint Thomas et Lacordaire, non des retardataires comme tant de leurs successeurs. Assumez une fois pour toutes les risque de cette attitude.
4. Sachez attendre. Le temps travaille pour vous, les jeunes, irrésistiblement, et il travaille vite. Une fleur s’épanouit à la chaleur du soleil mieux qu’en tyrant sur ses pétales; patientez donc pendant une matinée. Ne vieillissez jamais. Conservez cette vigueur d’âme qui fait la vrair jeunesse; jusqu’à votre dernier jour, gardez une foi intacte en votre ministère apostolique, en vos frères les hommes, en la grâce qui anime tous les enfants de Dieu.
5. Soyez unis, travaillez ensemble; notre charisme est un charisme d’équipe. Nous sommes nés au Moyen-Âge, aux temps des croisades et des corporations. Nos supérieurs doivent être des capitaines de bandes, non des présidents d’assemblées, moins encore des surveillants de collèges.

9 comentários:

Anónimo disse...

Quando se fala do que é ser aluno ex-dominicano o que será (?)... é ser-se aluno daquela casa e ficar-se com marca para toda a vida..será bom ou mau, ou bom e mau ao mesmo tempo ou bom para uns e mau para outros, (?)e a partir de que padrão de referência (?) pelo menos parece que se cultiva a inteligência e não se vira as costas ao mundo..(esta-se no mundo mas não se é do mundo?) e quando se fala em mandamento supôe-se um prescrição moral pela qual se deve pautar o comportamento (??) A partir dai sabemos o que fazer ou pelo menos sabemos o que não fazer :essa dicotomia entre o ter- de ou o dever , entre uma moral prescritiva e deontológica e uma moral virtuosa que faz o bem não porque tem-de mas porque o compreende e a ele adere profundamente..é também a diferença entre a Marta e a Maria:aquela bastava o cumprimento das obrigações enquanto a Maria preferia contemplar a visão do Amor ..e bem sabeis quem ficou com a melhor parte (?) O nosso tempo é de problematização (mas o que é isso ?)..valha-me Deus foram os padres dominicanos que primeiro me ensinaram a problematizar(!) e já lá vão 40 anos ..talvez por isso se diga que as pessoas se sentem compreendidas quando falo com elas..também, a disponibilidade que lhes dou quando as escuto foi-me dada pelos dominicanos (se eles não tivessem paciencia para me ouvir e eu agora não teria paciencia para ouvir os outros )..talvez que o problema bioético fundamental e que tem a ver com a humanização dos cuidados médicos estive-se resolvido se fossem os dominicanos os formadores dos estudantes de medicina..Praticar o bem é esse esforço persistente de criar laços de bondade e que abre ao homem o caminho para o seu ser bem formado..Ser-se dominicano é ser-se um que aderiu profundamente a uma visão do bem Cristão e que acolheu uma metodologia e orientação própria da escola de S.Domingos .. mas que optou por viver no meio das coisas próprias deste mundo e com elas lidar tão bem ou melhor que qualquer outro mas sem perder a marca da sua essência dominicana..

José Carlos Amado

Antero disse...

Caro Amigo Toninho,

Venham mais cinco... para não haver precipitações de análise.
Mas confesso que os primeiros cinco revelam uma invulgar sabedoria universal - concorde-se ou não com todos eles.
Derrapo um bocadinho na "fé" do primeiro ponto... Talvez ainda mais depois de ter lido a "Divina Miséria" do João de Melo, a opinião "dos do contra" quanto à Igreja e o Poder instalado.
Ainda bem que os Dominicanos nunca estiveram muito enquadrados nem identificados com os vícios e públicas virtudes da Igreja em geral, que desde onde chega a minha memória sempre vi muito com as vestes a preto e com ar de cultura e de abastança em comparação com o povinho.( Mas não é este o tema e do outro provavelmente ainda falarei em breve).
...Sem prejuízo de reconhecer que a obra da Igreja, em geral, é a todos os títulos meritória, pelo que não podemos tomar a árvore pela floresta ou o joio pelo trigo...
As questões colocadas pelo José Carlos Amado, de quem não me recordo, mas que, com o devido respeito, deve ser um "rapaz" da minha idade, mais ano menos ano, também encerram, muitas das nossas/minhas preocupações e maneiras de pensar e equacionar a vida.
Acho estes textos (ambos) de uma profundidade tão interessante quão explicativa dos nossos comportamentos e da forma de estar e pensar.
Devo confessar que nunca tinha ouvido falar desta notável "cartilha" aqui trazida pelo Toninho e fico a aguardar a parte restante.

Antero Monteiro

Jaime disse...

É preciso não esquecer, Toninho, que os que lhe dispensaram os serviços eram do tempo da inquisição. Mas, parafraseando o P.Paul Denis, ne vous permettez pas le jeu puéril d'opposer l'Ordre aux hommes de l'Ordre.
Não tenho muito vivos na memória pormenores desses tempos, até porque assistia de lado a esses acontecimentos. Mas ouvi falar de uma carta de despedida dirigida aos estudantes que ficou conhecida por testamento. São deste estes excertos?
Dele, praticamente, só recordo a silhueta alta que transportava o homem afável e bom que era impossível não reconhecer mesmo para aqueles que, como eu, não conviveram intelectualmente com ele. E recordo, sem grandes pormenores, os rumores da sua expulsão.
Jaime

Isidro disse...

Livra.
Eu nunca fui sujeito a tais Mandamentos. Porém, compreendo muito bem a menção e agradeço a oportunidade para voltar ao assunto.

Bem. Bem.
Pouco a pouco, sempre vem chegando um ou outro detalhe do Convento de Fátima no tempo em que, de facto, foi um Seminário Maior (já vos disse que, pelo menos entre 1969/71 não foi assim, pouco mais dizendo, porque isso só diz respeito aos liceais, aos dominicanos e outros que lá estivemos e lá passámos nessa data, sem inveja de quem nos precedeu).

O Toninho sempre diz que lá existiu um professor melhor que os outros e, desta vez, sempre levantou um bocadinho a ponta do véu quanto a outros detalhes, a que chama "Mandamentos", não sem alguma razão.

O Jaime Coelho lá deu mais uma pitada em francês para que alguns não tenham possibilidade de deturpar o que ele diz - há algum tempo, o Fernando Vaz já mostrou também como se domina esta técnica. O Toninho também não lhes ficou atrás, note-se, mas nós sabemos ler as entrelinhas.

Em data não muito distante, num Tribunal dos EUA foi deliberado, sob bastante polémica, parece, que não se alhearia dos "10 Mandamentos", porque a Constituição dos EUA não exclui certas disposições que a antecederam: "O tribunal reconhece que a Constituição não requer que tiremos todos os vestígios da nossa herança religiosa e das nossas tradições".

Os "10 Mandamentos" originais eram leis que diziam como os israelitas deviam viver como povo. Foram escritas em 2 tábuas de pedra durante o tempo em que vaguearam no deserto. Essas leis foram feitas para os ajudar a darem-se bem todos juntos. São um dos raros Códigos da Antiguidade que chegaram até nós. Lembram-se do Código de Hamurábi a outro nível?

Sobre os referidos "10 Mandamentos" foi produzido um filme de grande impacto em 1956 e 50 anos depois, pelo menos. Há muitas maneiras de o ver, nem todas coincidentes com o que destapei no parágrafo anterior mas, quem tiver umas luzes disto vai mais longe, se quiser.

Tendo em conta a sua importância histórica e o seu simbolismo, têm sido criadas dezenas de formulações adicionais dos "10 Mandamentos" incluindo humor e beatice, a par de algumas cuidadas formulações de certas técnicas, orientações e opiniões. Há para todos os gostos. Exemplos:

1) Os 10 Mandamentos contra a celulite
2) Os 10 Mandamentos para a Igreja Católica em África
3) Os 10 Mandamentos da inteligência fiscal
4) Os 10 Mandamentos da pesquisa
5) Os 10 Mandamentos para o sucesso
6) Os 10 Mandamentos dos contos
7) Os 10 Mandamentos da ingratidão
8) Os 10 Mandamentos da responsabilidade social
9) Os 10 Mandamentos do gestor integrado
10) Os 10 Mandamentos do homem casado
11) Os 10 Mandamentos para a redacção de um bom parágrafo
12) Os 10 Mandamentos para o advogado atender melhor os seus clientes
13) Os 10 Mandamentos para o sucesso do seu e-commerce
14) Os 10 Mandamentos para ser feliz
15) Os 10 Mandamentos ambientais
16) Os 10 Mandamentos da ecologia
17) Os 10 Mandamentos da gestão ética
18) Os 10 Mandamentos da internet segura
19) Os 10 Mandamentos da serenidade
20) Os 10 Mandamentos de um vagabundo
21) Os 10 Mandamentos do blogue
22) Os 10 Mandamentos do bom cinema
23) Os 10 Mandamentos do bom relacionamento com o chefe
24) Os 10 Mandamentos do cão
25) Os 10 Mandamentos do eleitor
26) Os 10 Mandamentos do estudante
27) Os 10 Mandamentos do orçamento equilibrado
28) Os 10 Mandamentos do trabalho em equipa

Que os tenham transformado em direito divino é outra história.

Não é, Ezequiel Vintém?

Nelson disse...

E eu bem que precisava dos "Dez mandamentos do blogue", para saber as linhas com que me hei-de coser!...

A,silva disse...

Isidro,
29) Os 10 mandamentos do apreciador de vinho.
Toninho

Isidro disse...

Nelson,

Com ou sem os ditos Mandamentos, não te tens saído nada mal.

Toninho,

Há várias composições, bem a preceito - uns são do provador, outros do vinho, outros do provador mais fino, chamado enófilo, etc.

Por mim, não começo antes de cheirar e, francamente, também não estou do lado da água-pé para a qual, de resto, nunca encontrei mandamentos. Et pour cause!

Isidro disse...

Para que não haja equívocos danosos:
"Et pour cause" = "for a good reason" = "por uma boa razão"

Anónimo disse...

Não conheci o padre belga que ensinou em Fátima, pois estava em Aldeia Nova quando ele foi embora para o seu país. Mas até parece que fui seu aluno, pois os seus ensinamentos, pelo menos o que se pode depreender deste escrito, devem ter voado de Fátima para o terceiro ano que eu frequentava.Sempre vi os dominicanos como gente de vanguarda e muito à frente do tempo. Quando estava em férias e convivia com os colegas doutros seminários, por exemplo os diocesanos, e conversávamos sobre os problemas que naquele tempo nos apoquentavam, eles ficavam admirados da abertura de espírito que nos incutiam os nossos professores de Aldeia Nova. Por isso, fiquei com esta mentalidade e este sentimento de que parece que estou à frente do tempo que vivemos, e isto devo a pessoas como o Padre Armindo, o Padre João Domingos, o Padre Bernardo Domingues, o Padre Miguel, o Padre Domingos, matemático,sem esquecer o grande latinista Padre Clemente Oliveira, que foram os meus professores dominicanos nos cinco anos que lá passei. Este espírito dominicano, baseado na "contemplata aliis tradere", pressupõe não só o estudo e contemplação das coisas de Deus e da vida que nos cerca, na sua maior profundidade,mas também na partilha dessa contemplação às pessoas com quem contactamos através da palavra e do exemplo.
Por tudo o que levemente referi, ficámos marcados pelo espírito dominicano.
Neves de Carvalho