Recentemente, integrado numa viagem de grupo organizada por uma associação de que já falei vagamente, em texto anterior, fiz uma viagem, por via marítima, a Casablanca e Gibraltar. Em Casablanca aproveitei para visitar El Jadida - a antiga cidade dos Portugueses conhecida por Mazagão - a cerca de 90 kms a sul (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Mazag%C3%A3o_(Marrocos) ).
É impressionante a fortaleza ali erguida em tempos de recursos rudimentares comparados com os actuais. Ainda hoje as ondas tentam incessantemente vencê-la sem descanso e sem sucesso. Enquanto hoje espalhamos areia de manhã , à tarde ou à noite na Costa da Caparica, e de um dia ou mesmo de uma hora para a outra, em tempo de invernia, vai tudo embora….
Fica a noção de que os Portugueses chegavam e se instalavam para ficar e levantavam as suas fortalezas, as suas casas e igrejas com a solidez, a fé e a grandeza de espírito de quem vai ficar ali eternamente.
Assim foi feito pelos vários cantos do mundo.
No alto daquela fortaleza lembrei-me de uma conversa ( no meu inglês de sotaque obviamente português contra um inglês espanholado ) que, no ano passado, numa outra oportunidade, do lado de lá do Atlântico, em S. Francisco, tive com o porteiro do Hotel onde estava, homem dos seus quarenta anos, enquanto esperava, em minutos de inquietude, o “transfer” para o aeroporto, antecipadamente contratado, que afinal nunca mais chegaria:
- Posso fazer alguma coisa por si?
- Não, obrigado! Estou à espera de transporte para o aeroporto, que já devia ter chegado!
- De onde é? Para onde vai?
- Lisboa, Portugal!
- Ah, Portugal, Futebol, Cristiano Ronaldo! Um país pequenito (“chiquitito”) ao pé de Espanha! Conheço!
- Um país pequenito!? Respondi mostrando-me surpreendido…Um grande país!
O meu interlocutor ficou suspenso e surpreendido.
- Conhece Angola, Moçambique, Brasil, Timor, Cabo Verde, Guiné, Índia …etc.
- Claro! Foi abanando a cabeça afirmativa e sucessivamente a todos.
- Foram os portugueses que descobriram meio mundo, nomeadamente o Brasil e fixaram as fronteiras de um dos maiores países do mundo. Desse e de outros diversos grandes Países actuais.
- Sabe que os portugueses tiveram a ousadia e a coragem de dividir o mundo em duas partes, no tempo dos descobrimentos, num tratado com Espanha, em Tordesilhas?
Ah, simmm! O Brasil…! E Angola e Moçambique..
- Qual o seu nome?
- Monteiro!
Estendendo-me a mão num gesto voluntarioso, e abanando a cabeça em sentido afirmativo:
- Portugal, um grande país…!!!
- Encantado, “Mr. Montero”, Andrés! Do Equador!
- Essa era a parte de Espanha!
-Sim, claro! Por isso falo espanhol!
- Preciso afinal da sua ajuda Andrés! Temos mesmo de apanhar um táxi! O transporte contratado não aparece!
Num gesto rápido:
-Não há problema! Um momento!
Meteu a mão ao bolso, deu dois ou três passos à frente, tirou do bolso um apito cujo silvo curto e agudo se fez ouvir até ao incómodo .
-Gostei de falar consigo! E repetia, apontando para mim incisivamente:
-Portugal, grande país!
Em menos de um minuto o táxi ali estava.
Em quase todas as partes do mundo os portugueses estiveram e deixaram obra e não só…
Antero Monteiro (2009-05-07)
6 comentários:
Concordo Antero. Temos que puxar pelo orgulho nacional. Acho que sobrepomos demasiado os aspectos negativos da nossa acção descobridora. Aliás a tendência para denegrir o que é nosso está expresso na terminologia muito própria: “isto, só neste país” ou “é o país que temos”. Muitas vezes, estes queixumes têm toda a legitimidade, diga-se. Mas quando nos dá para comparar o respeito que outros países dedicam aos seus heróis e como transmitem além fronteiras os seus feitos, verificamos como a nossa atitude é no mínimo modesta. Comparemos a grandiosidade do túmulo de Cristóvão Colombo na catedral de Sevilha, com o de Vasco da Gama ou pior ainda os restos mortais de Pedro Álvares Cabral, divididos entre a Igreja de Nª Sª da Graça em Santarém, a capelinha de São Tiago em Belmonte e o Brasil.
A. A.
«...reconheço que há portugueses azedos - entre as elites - que gostariam de ter nascido no estrangeiro e que não perdem uma oportunidade para desancar o seu país. Nunca os compreendi. Mesmo quando eram escritores de génio, como Eça de Queirós, ou grandes caricaturistas, como Rafael Bordalo Pinheiro ou pertenciam a círculos snobes como os Vencidos da Vida, com todo o respeito que me merecem as suas ilustres pessoas…»
in:
...neste blogue em 12/03/2008...
A citação acima foi feita por Jaime Coelho com referência ao Livro "Portugal e o Futuro", escrito por um homem que, em várias dezenas de anos seguidos mostrou, segundo disse, que não é "dado a depressões" (Mário Soares).
Já o tinha escrito noutro ponto, mas vale a penar repetir que
"Este povo europeu que, por um lado não foi hegemónico, e por outro tem uma história imperialista e colonizadora, construiu uma hiperidentidade"
Ó Isidro,
" O Portugal e o Futuro" que conheço foi escrito pelo Spínola.
Li-o em 1973, pouco depois da sua publicação, um pouco às escondidas, contra a corrente do regime, dada a solução federalista que advogava para as colónias...
De Mário Soares não conheço tal título, o que não quer dizer que não haja , mas talvez parecido, não igual, para não ofender o registo de propriedade intelectual/autor.
Antero Monteiro
Antero,
Obrigado pela correcção.
Confirmo o autor, o título e a citação, mas corrijo que é de um artigo do autor em questão
cfr.
http://www.fmsoares.pt/ms/textos/002/114.pdf
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