Memória Breve do notável santo e homem culto, latinista horaciano, o padre Clemente de Oliveira cuja figura será sempre celebrada em todo e qualquer florilégio que antologia fizer dos dominicanos portugueses.
Foi o P.e Oliveira o primeiro dominicano com que hei tido contacto depois que senti em mim despertar aquele apelo do Senhor que alguns designam, muito apropriadamente, por vocação. Concluído o curso na Un. De Lisboa, procurando um contacto com os dominicanos fui encaminhado para Queluz, onde um amigo me dizia haver um convento dominicano e em que discretamente pontificava um santo de nome Oliveira. (Coincidência ou não era meu homónimo).
Descobri no Pe. Oliveira um santo e um sábio, o maior latinista que conheci, eu que frequentei umas aulas livres do gramático notável Nicolau Firmino.
Era de uma inteligência fina, homem clarividente, bondoso mas que nunca deixava fazer o ninho atrás da orelha (perdoe-me ele este grosseiro plebeísmo!) Ouvi depois, quando passei por Fátima, antigos alunos seus contarem interessantes histórias acerca do ambiente de trabalho e de disciplina com que decorriam as suas aulas. Parece que os alunos, imóveis e atentos participavam nas suas aulas com religioso silêncio e laboriosa compostura bebendo as suas lições. Lamento nunca ter sido aluno do Pe Oliveira.
Este homem raro recebeu-me várias vezes no seu cenóbio de Queluz. Daqui me apontou os pedregosos recantos da serra d`Aire onde cheguei num domingo de Abril ecoando, então, por toda a capela a salmodia do ofício divino. Era a hora de Vésperas. Aquele monástico som encheu-me a alma e de mim se apoderou para sempre.
Num dos encontros que tive em Queluz com o Pe Oliveira, o sábio varão retrovertia os Lusíadas para latim, tarefa em que andava empenhado há alguns anos. Era já noite quando nos encontrámos e (pasme-se !) o velho frade fazia o seu trabalho com uma lupa que ele próprio havia construído e desenrolava a sua tarefa alumiado por dois cotos de vela para poupar na electricidade. Eu sei, ele tinha feito voto de pobreza.
Lembro-me. Precisamente nesse dia ele traduzia aquela passagem do Canto V em que a ninfa Tétis sai do mar impudicamente toda nua.
…………………………mihi nocte
Eminus albae, solius, nudae Thetis
Pulchra species sese obviam dedit.
Então o homem sentado à luz de dois pedaços de vela comentava:
«Devemos olhar esta e outras passagens dos Lusíadas à luz da cultura clássica. Devemos olhar com olhos espirituais aquilo que a concupiscência da carne nos convida a olhar com lubricidade. Estas referências dos autores pagãos e dos seus seguidores são uma prefiguração de Maria. Tota pulchra es»
Quem duvida da sabedoria da santidade do Pe Oliveira? O último encontro que tive com ele falou sobretudo, do necessário espírito de humildade que deve ter todo o homem religioso.
( Por falar em humildade… Oh Alexandrino, tu que ainda há dias mereceste de mim alguns elogios pelo teu equilíbrio…Com o teu último texto para o Blog pareces estar possuído pelo espírito revolucionário. Lembra-te que fora da Igreja não há salvação e que o Papa condena a teologia da Libertação. Tu és dos que pegaram na rabiça do arado e olharam para trás? Não tens medo de que te aconteça o mesmo que ao Fernando Vaz manchado pelos resíduos serôdios da Revolução Fancesa? )
Bom, desviei-me do meu propósito que era falar do Pe Oliveira. Já vai longo este texto. Continuarei na próxima.
José Oliveira (ex-fr. Imeldo)
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11 comentários:
Sê bem regressado, José Oliveira. Andou tão arredio destas páginas que julguei que já nos tínhamos visto livres de si... Mas com a crise que por aí vai, mais vale um Imeldo no blog que cem observadores mudos. Agora calhou-me em sorte ser o objecto do seu criticismo crónico. Como é que consegue ver um “espírito revolucionário” e “teologia da Libertação” por entre as minhas palavras pacíficas e ecológicas? O meu confrade tem uma imaginação muito fértil. Precisamente por ser humilde, (ao contrário do que me acusa) não tenho pretensões a intrometer-me em dimensões teológicas, onde não tenho qualquer competência. Portanto está a querer misturar duas dimensões completamente distintas. O bem estar dos seres humanos e um planeta ecologicamente são, não colide com a dimensão escatológica dos filhos de Deus. Estamos esclarecidos caro Imeldo?
Fraternalmente
A. Alexandrino
Reparam já como este renegado Imeldo corre atrás das coincidências?!... Encontrar o pobre e venerando ancião Fr. Clemente Maria de Oliveira, em volta da nua Tétis, e de lupa na mão?!...
Que diria disto o ex-Prancácio, que já em tempos o invectivara por ter deixado caír a vocação numa rua de Lisboa?...
Quosque tandem, Imeldus, abutere patientia nostra?
Ho Imeldo ho Imeldo
Muito culto pareces tu..
Quais são os teus intentos?
Não quererás que vão à tromba?...
Eu penso que o J. Oliveira (Imeldo) também gosta de levantar polémica.Eu próprio já fui arranhado por ele. Parece-me um conservador fora de moda. Mas devemos deixar com elevação, educação e cortesia que ele
aqui defeque as suas ideias. Eu sei que ele é um dos nossos e aparecerá num dos nossos encontros,
e aí lhe darei um abraço. E. Bento
Peço desculpa pelo tom, sobretudo ao Imeldo e ao Nelson. Com um fraterno abraço.
Ed. Bento
Esteve por aquí um dia de verdadeiro Verão! Fui para o quintal , pomar e jardim, às seis da manhã e só despeguei às 20h00 ( hora da França). Abrí agora o blog, com a intenção de dar-vos as minhas impressões sobre as eleições presidenciais, mas já não vai ser hoje. Abrí o blog, como disse e deparei com um texto cujo título me entusiasmou. A avidez foi tanta, que comecei a ler e a saborear, sem me ocupar do autor. Quanto mais avançava mais encontrava o propósito: bem escriro, profundo, culto, e bem documentado. Frases em latim e tudo...Mas quem será esta sumidade que frequentou as aulas do Nicolau Firmino, gramático fora de série! Fazia deslizar o texto no “écran” e antes de começar a ler o último parágrafo, deparo com a assinatura do Imeldo...Não queria acreditar que este texto que me tinha enchido as medidas fosse dele. Lí o último parágrafo e aí encontrei a verdadeira assinatura do José Oliveira: uma patada no Alexandrino, um pinote no Fernando, mas de facto temos que reconhecer que ele de burro não tem nada. Simplesmente deve ser-lhe impossível fazer algo de positivo a 100%. Porque não vai consultar o Jaime?! Sabeis o que vou fazer? Suprimo o último parágrafo e guardo este texto magnífico como o começo de um florilégio ao Pe Oliveira, rato de bibliotéca mas que de cégo não tinha nada! Soubeste relevar, Imeldo e com que mestría, Uma das facetas do Pe Oliveira. Pelo que soube de fonte digna de fé, foi consultado pelo Nicolau Firmino, antes de publicar a sua gramática de lingua latina. O Pe Oliveira não gostaría, tenho a certeza, que as outras facetas, de que tão bem fala o Avô Nelson, fossem esquecídas. O homem completo é aquele que nós conhecemos em Aldeia Nova, mas também esse de que faz memória o José Oliveira. Até te perdôo as parelhas que me tens dado, devido a este texto que comecei a apreciar antes de saber que era teu. Paz e Bem para todos, como dizem os nossos ex. primos franciscanos. Fernando.
Oh Imeldo,como pretendes que alguém que pegue na rabiça do arado, não acabe por olhar para trás? Ou será que já não é bastante as duras condições de trabalho, para ainda ter que fixar durante horas os trazeiros das vacas? As leis de trabalho estabelecem que o agente da força de trabalho tem de operar em condições de bom arejamento e com horizontes agradáveis ("condições de higiene e salubridade"). Quando essas condições não existem tem direito a intervalos para arejar, sem perca de remuneração.
Ergo, isso de pegar na rabiça do arado e não poder olhar para trás , era antes do 25 de Abril, no tempo da "outra senhora".
Teu
Ezequiel Vintém (ex-frei Pancrácio)
Oh Imeldo,
Pelos vistos o Vintem é que te topa. Deixa lá a rapaziada olhar para trás. Sempre se protegerá melhor de ataques traiçoeiros.
Lembras-te do Frei Porras?
Anónimo com uma mão no arado, um olho no traseiro das vacas e outro a vigiar a rectaguarda.
É inaceitável que, tendo sido formados numa escola de vida religiosa, muitos de nós tenham descambado para a impiedade e façam das coisas sérias uma risota.
É triste. Até porque se escondem sob anonimato. ´VERITAS,
José Oliveira
Oh Imeldo,
Não sabes que quem não se sente, não é filho de boa gente? Não foste tu o primeiro a refugiar-te no anonimato e a querer atear o fogo a quem pensas estar possuído do demónio? Se queres que te olhem nos olhos tens de aparecer à luz do dia. Não sendo o Blog o local mais próprio para um debate ideológico, sempre poderia haver uma troca de ideias sobre temáticas mais complexas da vida ou da morte. Mas sempre com respeito mútuo.Relê as tuas intervenções e concluirás que apareceste como um anjo da luz a amaldiçoar aqueles que, na tua apreciação, estão embebidos de ideias menos puras.Então esperavas que te tratassem com mimos? Tiveste e terás as respostas merecidas.Não gostas? Ainda vais levar mais caso insistas nas tuas invectivas.O Vintem é que te topou logo.
Anónimo atento
Olá, amigos de Portugal!
Sou brasileiro e estou escrevendo um artigo para a Wikipedia sobre traduções d'Os Lusíadas para o latim. Existem muito poucas informações na internet a respeito do assunto. Minha tarefa é remediar pelo menos um pouco essa situação.
Eu mesmo disponho de um exemplar da tradução d'Os Lusíadas pelo ilustre padre Clemente de Oliveira. É realmente um trabalho fantástico.
Ao pesquisar no google sobre "Clemente de Oliveira", deparei-me com este blog. Eu ficaria extremamente grato se alguém puder ajudar com o artigo, colocar mais informações sobre a obra, informações sobre a vida do Padre Clemente de Oliveira, enfim, quaisquer informações que julgarem necessária. Eu arriscaria até dizer que se poderia colocar um artigo individual sobre a biografia desse mestre.
Sintam-se livres para adicionar informações ao artigo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Lus%C3%ADadas_em_latim
Caso não se sintam à vontade para editar a wikipedia, podem mandar informações para meu e-mail, ou qualquer comentário ou cumprimento:
edvaldo_sachett@yahoo.com.br
Desde já, grato.
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