segunda-feira, 16 de abril de 2007

UM PLANETA MAIS LINDO E MAIS JUSTO PARA OS NOSSOS NETOS

- Avô, ajuda-me a salvar o mundo!
Isto de ser avô de uma super-heroína é duma grande complexidade…
Primeiramente tenho de investigar qual a dimensão do mundo desta criança. Depois há que aderir à sua convicção de que é possível salvar o mundo. Para uma pessoa da minha idade é difícil regressar à idade das ilusões e dos ideais.
- Logo agora que estou tão ocupado a tentar salvar o blog “criar laços”, netinha!
- Tive um ideia, avô! Pedes ajuda aos teus amigos para salvar o mundo, e no intervalo, brinca-mos aos blogs.
- Boa ideia Vitória! Os meus amigos estão tão ocupados a salvar o mundo, que nem fazem um intervalo para brincar aos blogs.
É impossível ignorar o apelo, dos nossos netos, porque é grande o receio de acabarem vivendo num mundo inóspito e sem humanidade.
A poluição aumenta incessantemente apesar de todos os apelos e alertas. Os maiores poluidores não estão dispostos a prescindir de uma parcela do lucro para aliviar a pressão sobre o frágil equilíbrio das condições naturais da mãe terra.
Perante esta progressiva degradação do ambiente, muitos seres vivos não terão condições de sobreviver e muitas espécies que ainda tivemos a sorte de conhecer, só ficarão em filme para os nossos netos.
A exploração desenfreada dos recursos naturais, sem o mínimo de preocupação de preservação desses recursos para as gerações vindouras, ameaçam deixar os oceanos vazios, os solos e subsolos esgotados.
A exploração dos humanos por outros humanos, cuja única preocupação é acumular riqueza sem a mínima preocupação de distribuição justa dessa riqueza por aqueles que colaboraram nessa acumulação. O peso dos custos salariais no total dos encargos com os factores de produção das empresas passou de 60% nos anos 70, para valores inferiores a 50% nos dias de hoje. Esta diminuição é proporcionalmente inversa ao aumento dos lucros, por exemplo nos Bancos.
Há sinais preocupantes do acolhimento destas políticas de gestão desumanizantes. Quando uma empresa cotada em bolsa anuncia um qualquer esquema de redução de pessoal, é de imediato premiada com uma subida do valor das respectivas acções. Um Banco surgido em Portugal nos anos setenta que adoptou como política de recrutamento a exclusão de elementos do sexo feminino, foi premiado com um crescimento vertiginoso, que rapidamente o transformou no maior Banco privado português.
Segundo um estudo das Nações Unidas efectuado em 2000, 2% dos adultos mais ricos possuem mais de metade de toda a riqueza mundial. Na metade inferior dessa pirâmide, no entanto, 50% da população mundial adulta tem de se conformar com 1% da riqueza mundial.
Em Portugal, as desigualdades sociais atingem valores alarmantes. Os dez por cento dos portugueses mais pobres, detêm dois por cento do rendimento nacional; os dez por cento dos portugueses mais ricos, concentram 29 por cento desse rendimento.
E o que mais preocupa é que a tendência é para o agravamento destas desigualdades, porque os ricos cada vez aumentam mais o seu pecúlio e os pobres cada vez têm mais dificuldade para angariar o sustento diário.
O dilema é que os recursos ainda existem em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades básicas da humanidade. Só que a sua distribuição é tremendamente injusta. Enquanto nalgumas zonas do globo há enormes desperdícios, noutras, a escassez mata milhares de fome no dia a dia.
Começa a verificar-se um sentimento de má consciência por parte dos mais ricos, mas as suas acções beneméritas têm o aspecto de mera publicidade em benefício dos respectivos produtos ou serviços.
Angustia-me pensar que vamos deixar os nossos netos num mundo onde não se pode respirar, nem trabalhar com dignidade. Dói pensar que serão agravadas as condições em que já vive a geração dos nossos filhos, com o desemprego, a precariedade do trabalho, a degradação dos recursos naturais, a fealdade dos nossos ambientes.
Que podemos fazer? Alertar, “avisar a malta”, como dizia o poeta.
Acabei agora mesmo de ouvir uma publicidade onde se afirma que “a salvação do mundo está nas nossas mãos”. Afinal a minha neta tem razão em ter esperança.
A. Alexandrino

4 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Alexandrino :
Obrigado por este texto que nos ajuda a reflectir. Na verdade a tua netinha Vitória é duma inteligência e sensibilidade excepcionais, o que não me admira, conhecendo o avô, e sem desfazer no resto da família. Temos que apresentá-la ao meu Alexandre que também é extraordinário...Temos que levar realmente muito a sério todas as advertências e admoestações que se multiplicam e são cada vez mais concordantes. Os cientistas ou investigadores do mundo inteiro alertam para a gravidade da situação. Na nossa infãcia bebiamos em qualquer ribeira, não presisavamos de ir para às montanhas para respirar. Comiamos pouca carne ou peixe mas que bons eram! Que podemos fazer concretamente? Respeitar-nos e respeitar a terra e votar por aqueles que se comprometem verdadeiramente neste sentido. Nunca utilizar adubos nem pesticidas, mas só produtos naturais... Ler atentamente e deixar-nos impregnar por textos como este e os do amigo Moreno e outros convencidos, militantes e bem informados. Atenção as vacas e as aves já começaram a vingar-se. Um abraço do Fernando.

Anónimo disse...

E outros exemplos negativos, como o de Angola, cujas potencialidades eu conheci, em que a riqueza está nas mãos de quem governa e na dos familiares! Neste país, que poderia e deveria ser rico, morre-se de fome e sub-nutrição.
O buraco do ozono roubou-me a alegria de ver a neve, mais que uma vez em cada ano, cobrir de branco a minha aldeia, por dias e dias a fio, numa beleza desesperante, que hoje se tornou uma história para contar aos netos. É o homem lobo do homem.
Um bravo à neta do Alexandrino, que com tanta paixão e oportunidade inspira o avô!...

Anónimo disse...

Ora viva! Com que então a inspirar-se numa inocente...

A esperança e o futuro estão sempre presentes nos mais jovens. A nossa geração conseguiu algumas coisas e eles vão conseguir outras. É a estória do avanço pendular da História. A nível da distribuição da riqueza o pêndulo terá que mudar de direcção sob pena de "explosão".

Estamos todos mais conscientes, do que estiveram as gerações dos nossos pais e a nossa. Chega-nos notícia de tudo e, em simultâneo. Ninguém pode dizer "não sei"... Se vemos, ouvimos e lemos, não poderemos ignorar.

Quanto aos netinhos, são felizes os que têm avós que os ensinam duma forma serena a fazer as escolhas que virão a contribuir para um mundo melhor. Muitas vezes nas coisas mais simples. Sou muito pelo exemplo pessoal. Aprendi que a culpa não é apenas dos outros.

Pode escrever o 2º. Capítulo...

Um abraço

Cremilde

Anónimo disse...

Interessante a tua análise que é um grito de alerta. Se somos todos responsáveis há uns mais responsáveis que outros.O sgrandes interesses devoram o mundo perante a capitulação dos políticos. O meu pessimismo leva-me a interrogar se haverá esperança para o Tempo da tua neta.
Eduardo Bento