sexta-feira, 20 de abril de 2007

MEMÓRIAS DE MIM (IV) - O Igreja


Na falta de um arquivo fotográfico para partilhar convosco, sou forçado a recorrer a pequenas estórias que a memória guardou. Cá vai mais uma:

De estatura meã, franzino, muita irrequietude pelo meio, dava e dá pelo nome de Orlindo Gonçalves Igreja. Foi nado nas raianas terras do Jarmelo, entre a forte, fria, fiel, feia e farta cidade da Guarda e os contrafortes da praça de Almeida. Aportou a Aldeia Nova no mesmo dia que eu, Celestino, Alexandrino, Rufino, Vitorino (tanto ino), o Nuno Jacinto, o Xico Saraiva, Manuel Salvado, o Melro, o Eduardo Seixas, o Manuel José Brás e tantos outros!... Um seu parente próximo, tio ou primo, era um tal irmão Igreja (Justino?) que em Aldeia Nova desempenhou funções de motorista e penso que ainda chegou a cozinhar, quando o fr. Porras foi sacudido, lembram-se?
Aquietem-se que o Igreja não vai levar a mal ser tema desta crónica, pois embora não o veja há quase meio século, já o localizei e falei com ele telefonicamente. Andou emigrado pela Europa e assentou praça em Vilar Formoso, como empresário comercial do ramo de electrodomésticos, -a TECNOVILAR.
Nos tempos em que Portugal ganhava a fio campeonatos mundiais de hóquei em patins, entrou em A. N. a febre do hóquei em campo. O Igreja tornou-se um exímio manobrador do stick, e era vedeta disputada nas mais variadas equipas. O estrelato, porém, haveria de atingi-lo nas aulas do Sr. padre Oliveirinha, concorrendo para muitas borlas nas aulas de latim. Quando já se esgotava a nossa capacidade para improvisar pequenas maldadezitas, o Igreja desmaiava. E tão bem que ele encenava a situação!... Naturalmente que uma situação daquelas, requeria uma mobilização geral e, então, quando a “reanimação” não acontecia na própria aula, dentro do mais animado espalhafato e com muita água no rosto da vítima, lá carregavamos nós o Igreja, desmaiado, até ao dormitório. A cena repetiu-se algumas vezes, e terá ultrapassado a esfera restrita das aulas de latim. O protagonismo do nosso colega atingiu tal nível, que chegou à “reunião capitular”, para a qual nem sequer foi convocado, para alegar em sua defesa. Recebeu guia de marcha para a Cerdeira do Côa, perdendo-se assim, um tanto ingloriamente, mais um aspirante a dominicano.

Nelson

Sem comentários: