sexta-feira, 6 de abril de 2007

Boas Festas de Páscoa

Neste tempo pascal, é importante que este nosso espaço contenha também um momento de reflexão. O Fernando Vaz partilhou com os leitores do meu jornal a mensagem que aqui vos deixo, peniteniciando-me desde já, perante ele, pela utilização abusiva dos direitos de autor.

"A PÁSCOA ESTÁ NA DOR QUE RESSUSCITA!

O Dominicano José Augusto Mourão termina um poema dizendo,”meditai na vida não na morte, a Páscoa está na dor que Ressuscita”. Os cristãos do mundo inteiro revivem no espaço de uma semana: a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, sua Paixão e Morte, sua Ressurreição.
Deixemos pois de lado por algum tempo a reflexão sobre os emigrantes e a emigração para vivermos aqui e agora este tempo, que vai ser Pascal, tão propício à meditação. Durante este período somos chamados a transcender-nos, a ir das trevas para a luz, do ordinário para o excepcional, ultrapassando o quotidiano. Não podemos limitar-nos a preocupações puramente alimentares ou económicas. “Nem só de pão vive o homem”!...Não é com penitências, jejuns e abstinências que podemos preparar-nos para a Páscoa. Essas atitudes tantas vezes negativas e estéreis, são sempre egoístas e levam-nos a curvar-nos sobre nós mesmos. Páscoa é passagem, é ponte para ir da morte para a vida, das trevas para a luz; do mal e da mediocridade para o bem e a excelência. Páscoa deve ser DOM. Para dar temos que ir ao encontro dos outros, somos obrigados a descentrar-nos de nós mesmos e fazer-nos violência para pensarmos mais nos outros, relegando-nos para o segundo ou terceiro lugar. Quando falo de dom não me refiro especialmente ao material, mas a atitudes de respeito, de atenção, ao dom de si mesmo, e a abertura do coração. É bem mais fácil abrir a carteira que o coração!
No Domingo de Ramos, Jesus é aclamado por uma multidão imensa, para ser humilhado, escarnecido, empurrado para a morte, na sexta-feira, pela mesma multidão. É tão fácil manipular uma multidão. Os mesmos que gritam hossanas e estendem mantos considerando Jesus como um Imperador, vão preparar a coroa de espinhos e gritar: à morte, crucifica-o! Só um bandido crucificado com Cristo, o reconheceu como Rei dizendo-lhe: “recorda-te de mim quando vieres inaugurar o teu Reino”. E foi um pagão, um centurião do exército romano, que fez um acto de fé, ao proclamar: “de certeza que este homem é um justo”.
Na sexta-feira Santa, com a mesma facilidade com que se apaga uma vela, apaga-se a esperança. Ao pé da cruz tanto os que aclamavam o Messias no domingo, como os que pediam a sua condenação alguns dias depois, ficaram inertes e perplexos. Cristo não condenou, mas disse apenas, “não sabiam o que faziam”. Nesta sexta-feira comemoramos uma cena terrível. Aquele que durante toda a sua vida e sobretudo durante os três últimos anos, fascinou e deslocou multidões, foi abandonado de todos. A Paz, o Amor, a Esperança, foram flagelados, crucificados. Comprometeu-se o futuro, obscureceu-se o horizonte. A pedra rolou e parece ter esmagado e enterrado as promessas do Messias. É o tempo do silêncio! Jesus entra no silêncio depois de ter proclamado a boa nova em toda a Galileia. Depois de ter curado os doentes, dado vista aos cegos e transformado o coração dos ricos. O silêncio de Jesus na cruz, liberta a palavra e então alguém diz: “verdadeiramente este homem era o filho de Deus”!
A esperança renasce! Ele está vivo, Aleluia! Se tentamos seguir Jesus, ser cristão é finalmente muito simples: é ser plenamente homem. Acolher sua vida de homem tal como é, uma história de amor. Ser cristão é amar e deixar-se amar. Aceitar ser chamado a uma nova vida, bem superior a tudo o que poderíamos imaginar. Muito para além das nossas projecções por muito optimistas que sejam. Para além dos nossos rancores, dos nossos egoísmos. Para além dos nossos limites, dos nossos fracassos ou dos nossos erros.
Não permitamos que neste Domingo de Páscoa Cristo ressuscite sozinho. Ressuscitemos com Ele. As nossas existências são bem tristonhas e bem cinzentas. Iluminemos as nossas vidas renunciando a tudo o que nos impede de subir à montanha da transfiguração...Cristo quer acordar-nos para uma nova vida. Uma vida em harmonia com a natureza, com a humanidade, com nós mesmos e com o nosso Deus que nos criou para a Paz, o Amor e a Felicidade. Boas Festas de Páscoa!
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2 comentários:

Anónimo disse...

A ressurreição de Cristo é de facto a alavanca para a posterior força do cristianismo. Entretanto somos levados a especular como seria diferente se Jesus tivesse ficado em carne e osso, entre nós. É claro que teria de ressuscitar inúmeras vezes, porque seria repetidamente morto pelos mais variados motivos. Por ser cristão, por ser judeu, por ser palestiniano, por ser revolucionário, por ser contra-revolucionário, por ser comunista, por ser reaccionário, por ser a favor dos pobres, por ser a favor dos explorados, por ser bruxo, por ser louco, por ser visionário, etc, etc.
Exequiel Vintém (ex-frei Pancrácio)

Anónimo disse...

Amigo Pancrácio,
Nem sei porque motivo persistes no anonimato, pois não só tens ideias formidáveis (às vezes) mas sabes sempre exprimi-las num estilo agradável e com imagens bem coloridas e expressívas! Gostei por exemplo da alavanca! Deve faltar-lhe o ponto de apoio, pois está a levantar cada vez menos, infelizmente. De certeza que Cristo teria sido levado à morte centenas de vezes e até foi e não só na cruz. Foi gaseado, morreu afogado com os Africanos que tentam ganhar a Europa. E continua a morrere no Iraque, na Palestina etc. etc. Ele está em todo o ser humano perseguido, condenado e executado injustamente, devido àquilo que é, faz ou diz. “Em verdade vos digo: sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fazeis. Mt 25,40 Também é verdade quando fazemos o bem. Um abraço Fernando.