sábado, 28 de abril de 2007

ANTÓNIO FERREIRA - Da Austrália com saudade!...

(continuação)
Pois… se bem se lembram onde fiquei na última mensagem (reforma, já na Austrália)
Antes disso, (reforma) obviamente muita coisa se passou. Praticamente… toda uma vida útil de trabalho que decorreu mais ou menos assim:
Casei-me a 15 de Junho de 1968. Nove meses depois era um vaidoso pai de uma menina que pelo Baptismo levou o nome de Graça Antónia. Não se havia passado um ano ainda, nasceu o nosso segundo rebento, um rapaz, João Paulo. E… se eu era vaidoso antes, mais vaidoso fiquei, claro! Mais ou menos 2 anos depois, nascia o nosso terceiro descendente – a Suzie Paula.
Portanto, temos três descendentes a saber: a Graça, o João Paulo e a Suzie que foram e são o meu enlevo.
Todos eles são filhos da terra Timorense, embora hoje sejam "Ozis" (calão para designar Australianos).
A minha vida decorria entre o trabalho e a vida caseira. Muito ocupado!
Da parte da manhã, (7 às 13) trabalhava para os S. G. e C. (Serviços Geográficos e Cadastrais) de Timor. Este era o meu emprego por excelência.
Depois de um pequeno descanço a seguir ao almoço, trabalhava para uma empresa particular que me pagava ainda melhor do que o departamento governamental. Aqui também como topógrafo.
Depois, o resto do dia e parte da noite era passado nos meus afazeres particulares de entre os quais, o principal era o desenho. Montei um pequeno "atlier" e recebia trabalhos particulares. Deitei-me tarde muitas vezes para satisfazer compromissos no que respeitava a datas, para a apresentação dos trabalhos.
Como disse, uma vida muito ocupada. Mas… o dinheiro parecia caír do céu. Tinha, portanto, a minha vida estabelecida e garantida enquanto eu podesse trabalhar.
Mas, claro, "não há bem que sempre dure…" e deu-se o 25 de Abril.
Durante um ano tudo continuou calmo, em Timor. Entretanto os políticos do 25 de Abril, começaram a politizar os estudantes de Timor que se encontravam em Portugal. Por outro lado, mandaram novos elementos (oficiais do exército) para Timor para que, aí eles "injetássem" as ideias deles na população Timorense. Assim nasceram os partidos políticos da UDT e FRETILIN (os dois partidos principais) dos quais, tenho a certeza, muito teem ouvido falar, além de bastantes outros. Depois… em 1975, em Agosto, os problemas começaram a esboçar-se em Dili-Capital de Timor.
Com aquilo que dizem ter sido um golpe de Estado, a UDT que não conseguiu aguentar o movimento a que, com tão boas intenções, deu início no dia 15 de Agosto de 1975 (espero que a minha memória não me atraiçoe), começou a perder terreno a favor do contragolpe da Fretilin. Ora, a Fretilin, tendo o apoio de toda a parte do exército português que se encontrava em Timor mais parte das forças militares Timorenses, que lhes entregaram todas as armas e munições existentes em Timor, usando as ambulâncias militares como camuflagem para transporte das mesmas, estava numa situação priveligiada para ter todo o sucesso. E o que é certo é que foi empurrando toda a UDT para a fronteira com a Indonésia até que foram forçados a refugiarem-se aí mesmo.
Euquanto tudo isso se passava, houve uma evacuação generalizada para as mulheres, crianças e todos os portugueses e suas famílias.
Felizmente, para mim, a minha esposa juntamente com os nossos 3 filhos, conseguiu embarcar. Para mim, a coisa complicou-se um pouco mais e… fui detido e acusado de ter pegado em armas e colaborado com o movimento. Pura mentira!
Assim fui forçado a ficar para trás praticamente debaixo de prisão. Isto porque me disseram que precisavam de mim ao que eu respondi: eu fui ter com vocês quando tudo começou e a resposta que vocês me deram foi: "você mantenha-se for a disto porque isto é um problema entre Timorenses e não seu".
Agora que estão a "arder" dizem que precisam de mim! Para quê? Carne para canhão!?… Pois eu não os acompanho.
E… contra-resposta veio logo a seguir. "Ou vens connosco ou encostamos-te à parede e acabamos contigo já aqui!!!
A isto eu respondi ( talvez um pouco temerariamente): "Pois acabem, mas com vocês eu não vou"!
A resposta que se seguiu da parte deles foi: "Ficas aqui sobe a guarda deste homem enquanto nós vamos falar com o comandante e voltamos já".
A volta foi muito mais demorada do que aquilo que eu esperava e isso começou a fazer germinar a ideia da fuga na minha cabeça. E então, quando a noite caíu, esta velha carcaça, na altura ainda jovem e com uma preparação física de fazer inveja, transformou-se num fugitivo que teve homens armados até aos dentes, passando por cima da sua cabeça, apenas com a separação de uma tábua, mergulhado em água e gasóleo até ao pescoço. Mas depois de muitas mais peripécias – algumas de um certo risco, consegui mesmo pôr-me a salvo e chegar à Austrália, onde desembarquei em Darwin- capital do Norte da Austrália – no dia 29 de Agosto de 1975.
E… chega por hoje! Desculpai a maçada. Quando conseguir publicar no Blog já não vos maçarei mais.
Até lá…
Aquele velho abraço, meus amigos! Até à próxima.
AFerreira

7 comentários:

Anónimo disse...

Há bravos dos quais a história nunca rezará!... E tu serás um deles. Mas serás sempre o herói da história que legarás aos teus filhos e aos teus netos.
Um grande abraço, meu minhoto de uma figa!...

Armando disse...

Isto são histórias de vida de arrepiar, até aos que como eu passaram pela guerra colonial. Graças ao blog temos a feicidade de saber dos nossos amigos que o destino empurrou para terras do fim do mundo e de quem nada sabiamos. Ficamos todos suspensos de ler a continuação da história que nos faz lembrar as aventuras de E. Salgary, mas agora com gente real, de quem sabemos a origem e o nome, porque vivemos lado a lado.
Um forte abraço bravo Ferreira, do amigo
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Meu caro Ferreira,

Depois da nossa troca de e-mails, constato que já conseguiste aceder ao Blog. Optimo!... Assim já podes dirigir-te à malta toda. A tua recente foto, divulgada, pelo Nelson, quase se confunde com o Primeiro Ministro australiano, John Winston Howard...O bigode é que disfarça...De facto, a tua hitória de vida dá para reflectir... A que estava destinado um minhoto que até foi dominicano... Mas, graças a Deus, venceste todas as dificuldades e estabilizaste nessa linda terra dos cangurus,de grande desenvolvimento económico e que, de acordo com alguns historiadores, terão sido os portugueses os primeiros europeus aí a desembarca... Um dia ainda aí apareço... Quando me pre-reformar da TAP...Desejo-te as maiores felicidades no teu meio ambiente familiar. E vai dando notícias.
Um abraço amigo,

Zé Celestino

Anónimo disse...

Caro António Ferreira,
Mais uma vez, lí com imenso prazer e um pouco de emoção, a continuação da tua biografia. Faz prazer saber que apesar dos dramas, que felizmente ultrapassaste, continuas de pé e sempre voltado para o futuro. O nosso blog já era internacional, mas com a tua participação, tenho a impressão que ganha uma dimensão mundial. Com a tua colaboração estás a enriquecer o blog pois traze-nos o testemunho de mundos com outras dimensões (nem só geográficas) e outras culturas. Ajudas-nos a ultrapassar os limites, que nos pareciam já bem amplos e a alargar os horizontes! Um abraço do Fernando.

Anónimo disse...

do Ferreira :
Obrigado Fernando Vaz!
De facto ao descobrir "o nosso blog” (graças J.Moreno), consegui que elasticidade do mesmo atingisse porporções extraordinárias ao ponto de dar meia volta ao mundo.
Aínda bem que assim foi! Deu-me a oportunidade de contactar com tantos amigos de velhos tempos. Tantas e tantas vezes pensei nesses velhos amigos sem saber se algum dia nos voltaríamos a encontrar. Este ponto de encontro (o blog) veio concretizar 50% do meu sonho. A outra metade – ou uma pequena fracção menos pois já tive a alegria e a satisfação de me encontrar com o Neves de Carvalho; ele, por sua vez, facilitou o meu encontro com o Leopoldo(Joaquim da Silva) e com o Brízido(Antonio Augusto). Mais tarde – de novo o Neves e o Brízido - facilitaram-me o encontro com o grande e vellho amigo Eduardo de Jesus Bento e mais tarde aínda (4 anos depois) com o grande amigo Joaquim Moreno).
Como ia dizendo, a parte do sonho que me falta realizar – encontrar-me com todos vós pessoalmente, penso fazê-lo tão cedo quanto possível, durante um tempo de férias, aquando do vosso (nosso) encontro.
Mas… entretanto… considero-me feliz por estarmos todos em contacto atravez do “criar laços”.
Uma vez mais Fernando, obrigado pelas tuas palavras amigas e… um grande abraço do velho
AFerreira

Joaquim Ambrosio disse...

Foi com grande satisfação, mas por mero acaso que descobri este bloge,um meio que nos permite contactar e trocar experiencias.
Nesta minha primeira entrada deixaria uma ideia,na maioria estamos a comemorar os 50 anos de Aldeia Nova, porque não um Encontro Nacional?
Por agora, até qualquer dia.

Isidro disse...

Eu ainda não fui a nenhum mas sei que em cada um dos 3 últimos anos existiram encontros nacionais, primeiro em Aldeia-Nova, depois em Fátima, incluindo almoço,ect.