segunda-feira, 30 de abril de 2007
"ONDE É QUE TU ESTAVAS NO DIA 25 DE ABRIL DE 1974?"
Instintivamente, como ainda hoje, estendi o braço em direcção à mesa de cabeceira para rodar o botão do rádio. Silêncio absoluto. Sintonizei outra estação e a resposta foi a mesma. Eu e minha mulher desculpámos o mutismo das estações de rádio, com algum ‘apagão’ lá para as bandas de Lisboa. Preparámo-nos para mais um dia de trabalho e, enquanto a Graça se dirigia para a escola de carro, eu fazia a pé os cerca de mil metros que separavam a minha residência da Repartição de Finanças de Mangualde. Não tinha ainda andado uma dezena de metros, quando ao meu lado se queda o Morris do meu saudoso amigo Madeira.
-Entre e ouça! – disse-me de supetão.
“Aqui, posto de comando do Movimentos das Forças Armadas… …”
A notícia chegava-me assim, cerca das 8,30 da manhã, no carro de um amigo precocemente desaparecido.
Por ser o funcionário mais graduado via-me, ao tempo e interinamente, investido nas funções de chefia da Repartição, por vacatura do lugar. Ali chegado e com os demais funcionários, partilhámos notícias e trocámos impressões. O dia de serviço desenvolveu-se dentro da normalidade, com novas mais ou menos acaloradas que os utentes vinham trazendo junto do balcão.
Já no dia 26, quando entrei no meu serviço, o funcionário C.A. dirige-se-me sem conseguir disfarçar uma preocupante postura, já a raiar o medo.
-Preciso de falar consigo no gabinete.
C.A. era, e felizmente ainda é, o alentejano mais beirão que eu conheço. Nascido no Alandroal, quis o destino que aportasse a Mangualde no início da década de cinquenta, como oficial de diligências das Execuções Fiscais, cargo que lhe conseguira o presidente da câmara do seu concelho. Aqui se prendeu de amores, aqui nasceram os filhos e netos e aqui perdeu o sotaque alentejano.
Seguiu-me para o gabinete e fechou a porta, para que os desabafos não fossem escutados. Instado por mim, sobre as razões de tão tímida atitude, começou a desfiar palavras trémulas enquanto os olhos se humedeciam.
-Sabe, o meu pai foi pedir ao presidente da câmara da minha terra para me arranjar um emprego. Ele prometeu que iria tratar disso e que depois diria alguma coisa. Passados dias, chamou-me à câmara para me dizer que podia entrar para as Finanças como oficial de diligências, mas tinha que me inscrever na Legião Portuguesa. Eu aceitei. Distribuíram-me um fato macaco, umas botas e uma boina, mas eu nunca participei em nada e até fui colocado aqui. Eu até só visto o fato macaco para lavar o carro!... Mas ouvi na rádio e na televisão que os legionários podem ser presos e não sei que mais!... O que é que faço à minha via?... Ajude-me!
Tinha acabado de ouvir uma vítima de um despotismo enterrado no dia anterior. Não sabia muito bem o que responder-lhe, mas sempre lhe fui dizendo que tinha acabado o tempo dos medos. Comparei-lhe a minha ida à guerra colonial com a sua condição de legionário passivo e recomendei-lhe que continuasse a lavar o carro com o fato macaco. Ainda hoje, recordamos este episódio de Abril.
Nelson
"ONDE É QUE TU ESTAVAS NO DIA 25 DE ABRIL DE 1974"
Eu fui acordado muito cedo, cerca das 6:00 horas, pelo Joaquim Moreno, que então trabalhava no jornal o “Século”.
- Estive a fazer tempo, - disse-me ele – para não acordar o Luís (recém-nascido), mas estava ansioso para te avisar que está em curso uma revolução, e não pude aguentar mais. Desculpem lá se acordei o puto. Não saiam de casa e liguem o rádio.
- Não será mais uma intentona como a do dia 16 de Março?
- Não, desta vez é mesmo a sério.
Toda a família se levantou de imediato, e ligámos o rádio, que apenas emitia marchas militares. Notava-se no entanto que algo estava a acontecer, porque a programação tinha sido radicalmente alterada, quer na Emissora Nacional, quer no Rádio Clube Português.
Só passado algum tempo, surgiu a leitura dum comunicado, pela voz de Luís Filipe Rocha, ainda muito lacónico, que informava estarem em curso operações militares, aconselhando a população de Lisboa a permanecer em casa e as forças militarizadas a não oferecerem resistência a fim de se evitar o derramamento de sangue. Pouco tempo depois, começaram a ouvir-se canções do Zeca Afonso, o que dava já uma pista sobre a orientação do auto-denominado Movimento das Forças Armadas.
Dia 25 representava o dia de recebimento do ordenado mensal. Ora nessa manhã, eu dispunha de apenas 40$00. Era forçoso procurar levantar dinheiro de forma a estar preparado para qualquer eventualidade. Assim, dirigi-me à agência mais próxima do Banco onde trabalhava. Havia já um aglomerado de pessoas à porta, com a mesma intenção de levantar dinheiro. O gerente, que me descobriu no meio dos clientes, fez-me sinal para entrar por uma porta lateral. Tinha recebido ordens para não abrir. As pessoas que esperavam à porta, quando tal lhes foi comunicado, entraram em fúria e levantaram a voz em uníssono numa gritaria que ecoou pela ruas e praças contíguas: “ abram a porta”; o dinheiro é nosso”; gatunos, queremos o nosso dinheiro”.
Retirei-me com os meus colegas, tão cedo quanto possível e dirigi-me para a estação da C.P., onde estavam a chegar de regresso, muitas pessoas que tinham ido trabalhar, e que contavam ter visto carros de combate, canhões e transportes de militares em toda a baixa lisboeta.
Nas ruas da Amadora havia muita agitação de gente que acorria às mercearias e supermercados, para se abastecerem de mantimentos, sobretudo conservas. Os carros formaram filas nos postos de abastecimento de combustíveis e as bilhas de gás esgotaram.
Havia no ar uma grande interrogação. Todos estavam apreensivos. Ninguém tinha a certeza de nada.
Pelas 13.00 horas telefonei ao meu Director dando-lhe conta do motivo de não ter ido trabalhar e receber instruções para o dia seguinte. Respondeu-me com voz trémula que tinha feito bem e acrescentou comovido: “até amanhã se Deus quiser, Alexandrino”.
Estranhei que quem inicialmente me atendeu e passou o telefone ao meu director, tivesse sido o presidente do Conselho de Administração, o Prof. Dr. Correia de Oliveira, ex-ministro do Estado Novo. O mundo estava às avessas. O titular do mais alto posto da empresa, exercia agora funções de telefonista.
Soube depois que a Administração se reunira excepcionalmente nas instalações da Dir. Recursos Humanos, mesmo ao lado da Dir. Estrangeiro, onde se verificou enorme azáfama naquele dia. É claro que nem nos passa pela cabeça que tivesse havido qualquer movimento de divisas, naquele dia, para países estrangeiros. O único motivo porque a Administração se reuniu naquelas instalações, pela única vez na vida da empresa, foi tão só, para justificar as faltas dos trabalhadores, já que era muito trabalho para o Director de Pessoal…
No final do dia, com as notícias a aclararem a situação, começou a notar-se entre as pessoas uma descompressão que foi abrindo os sorrisos e dando início a uma alegria que só foi plena e transbordante no dia 1 de Maio.
A certeza de que foi um dia extraordinário, está no facto de nos ter ficado na memória em traços indeléveis.
Estamos de novo preocupados com o presente e apreensivos com o futuro, mas a enorme alegria que sentimos então, ninguém a vai conseguir apagar da nossa memória.
A. Alexandrino
domingo, 29 de abril de 2007
NASCEU O RODRIGO
Para o Nelson, avô babado.
Também nós nascemos
em cada dia
ou mesmo em cada hora…
Levando com dor ou alegria
o menino que em nós mora
Ed. Bento
TESTEMUNHO DO 25 DE ABRIL DE 1974 - por Neves de Carvalho
Não entrei no 25 de Abril porque já tinha saído da tropa em 1 de Abril 1971; portanto ainda tivemos que sofrer mais três anos!
Mas antes de sair, estava eu no quartel da Artilharia Pesada 2 em Gaia, quando, num belo dia, o Cor. Pinto Simões ( que foi Presidente da Câmara de Gaia já em democracia) me diz: "Carvalho pegue no pelotão dos Praças, e vá tomar posições de defesa à entrada da Ponte de Arrábida; você saberá o que fazer" Eu era alferes atirador de Artilharia maS não cheguei a ir para o Ultramar, estando já nos últimos meses de serviço militar obrigatório. Como eu sabia que o Cor. Pinto Simões ( morreu há uns anos ) era do contra, pois, nas eleições em 1969, estávamos os dois em Espinho, ele major como 2º Comandante, e eu como alferes, me dizia a mim e a outros camaradas, como o Romero de Magalhães, Barbosa da Costa... "eh pá, vão votar, pois é uma obrigação de cidadania". E ele dizia isso com uma certa cumplicidade, pois se percebia bem que ele era contra a "situação", embora não se pudesse falar abertamente por haver, no quartel, gente que, como o Ten Esteves, lateiro, estava do lado da dita... Fui então para a Ponte da Arrábida e tomei posições com os soldados por mim comandados. Ali passei uma boa parte do dia à espera do que pudesse acontecer, concluindo no final que se tratava dum exercício militar como qualquer outro. Mas também admiti que, vindo de quem vinha a ordem de defender a ponte, havia naquilo um significado que já prenunciava um movimento que mais tarde acabou por vir à luz do dia.
Nesse belo dia 25 de Abril era o Cor. Pinto Simões Comandante da Pesada 2 e o Delegado do MFA no Norte. Logo a seguir fui ter com ele ao quartel, dei-lhe um abraço e ofereci-me para ajudar no que ele entendesse. Disse-me que não era preciso nada, a não ser vigilância activa. Como trabalhava na Refinaria da Sacor, em Leça da Palmeira, foi preciso realmente fazer vigilância pois se tratava de um complexo industrial estratégico para o País.Quanto ao dia 25 de Abril, foi uma beleza! Saí nesse dia às 5 da manhã da Refinaria, pois estive a trabalhar de noite. Já fora da cerca da Refinaria ouvi um mecânico dizer: "eh pá, há qualquer coisa em Lisboa com a tropa; estão a emitir comunicados e música". Fui para casa e, ao deitar-me, disse para minha mulher, jovem médica e grávida da minha filha, que nesse dia estava de urgência no Hospital de S.João: "vê o que se passa, pois em Lisboa há restolho com os militares". Quando ela chegou por volta do meio dia, para o almoço, e me contou, acordando-me, o que se passava, saltei da cama, arranjei-me rápidamente, almocei e fui para a Baixa do Porto. Nos Aliados vi a carrinha da Polícia do Santos Júnior ser apedrejada com os paralelos arrancados da calçada. Um polícia ficou a sangrar, outro rapa da pistola e faz fogo que atinge um cidadão. Vem uma ambulância e leva-o para o Hospital de S. João, e sei mais tarde que minha mulher ficou aflita pois sabia que eu estava no meio dos acontecimentos. Chega entretanto um Unimog do Quartel General e um alferes a comandar uma secção de soldados, armados da célebre G3. A carrinha da Polícia debanda, sendo apedrejada pela malta, e vai a correr para o Hospital de Santo António, pois já levava alguém ferido. Ouço um berro: "agarra que é PIDE", e um gajo a correr pela Rua de Ceuta abaixo e se encafua no escritório das camionetas do Magalhães, de Braga. Entretanto, íamos acompanhando o que se passava em Lisboa pela rádio e pelas notícias no Placard do Comércio do Porto. Quando vem finalmente a boa nova de que o Marcelo se entregou no quartel do Carmo, ouviu-se um grito de Liberdade naquela Baixa do Porto, e milhares de cidadãos festejaram como loucos, com a alegria estampada no rosto. Foi um dia que virou um País, até aí amarrado, kafkiano, atrasado, e prometeu novos horizontes de Liberdade e desenvolvimento. Mas, como sempre... há os puros e os oportunistas.Apesar de tudo, dos sofrimentos que hoje muitos passam por injustiças de toda a ordem, valeu a pena!
Vale sempre a pena a Liberdade!
sábado, 28 de abril de 2007
ANTÓNIO FERREIRA - Da Austrália com saudade!...
Antes disso, (reforma) obviamente muita coisa se passou. Praticamente… toda uma vida útil de trabalho que decorreu mais ou menos assim:
Casei-me a 15 de Junho de 1968. Nove meses depois era um vaidoso pai de uma menina que pelo Baptismo levou o nome de Graça Antónia. Não se havia passado um ano ainda, nasceu o nosso segundo rebento, um rapaz, João Paulo. E… se eu era vaidoso antes, mais vaidoso fiquei, claro! Mais ou menos 2 anos depois, nascia o nosso terceiro descendente – a Suzie Paula.
Portanto, temos três descendentes a saber: a Graça, o João Paulo e a Suzie que foram e são o meu enlevo.
Todos eles são filhos da terra Timorense, embora hoje sejam "Ozis" (calão para designar Australianos).
A minha vida decorria entre o trabalho e a vida caseira. Muito ocupado!
Da parte da manhã, (7 às 13) trabalhava para os S. G. e C. (Serviços Geográficos e Cadastrais) de Timor. Este era o meu emprego por excelência.
Depois de um pequeno descanço a seguir ao almoço, trabalhava para uma empresa particular que me pagava ainda melhor do que o departamento governamental. Aqui também como topógrafo.
Depois, o resto do dia e parte da noite era passado nos meus afazeres particulares de entre os quais, o principal era o desenho. Montei um pequeno "atlier" e recebia trabalhos particulares. Deitei-me tarde muitas vezes para satisfazer compromissos no que respeitava a datas, para a apresentação dos trabalhos.
Como disse, uma vida muito ocupada. Mas… o dinheiro parecia caír do céu. Tinha, portanto, a minha vida estabelecida e garantida enquanto eu podesse trabalhar.
Mas, claro, "não há bem que sempre dure…" e deu-se o 25 de Abril.
Durante um ano tudo continuou calmo, em Timor. Entretanto os políticos do 25 de Abril, começaram a politizar os estudantes de Timor que se encontravam em Portugal. Por outro lado, mandaram novos elementos (oficiais do exército) para Timor para que, aí eles "injetássem" as ideias deles na população Timorense. Assim nasceram os partidos políticos da UDT e FRETILIN (os dois partidos principais) dos quais, tenho a certeza, muito teem ouvido falar, além de bastantes outros. Depois… em 1975, em Agosto, os problemas começaram a esboçar-se em Dili-Capital de Timor.
Com aquilo que dizem ter sido um golpe de Estado, a UDT que não conseguiu aguentar o movimento a que, com tão boas intenções, deu início no dia 15 de Agosto de 1975 (espero que a minha memória não me atraiçoe), começou a perder terreno a favor do contragolpe da Fretilin. Ora, a Fretilin, tendo o apoio de toda a parte do exército português que se encontrava em Timor mais parte das forças militares Timorenses, que lhes entregaram todas as armas e munições existentes em Timor, usando as ambulâncias militares como camuflagem para transporte das mesmas, estava numa situação priveligiada para ter todo o sucesso. E o que é certo é que foi empurrando toda a UDT para a fronteira com a Indonésia até que foram forçados a refugiarem-se aí mesmo.
Euquanto tudo isso se passava, houve uma evacuação generalizada para as mulheres, crianças e todos os portugueses e suas famílias.
Felizmente, para mim, a minha esposa juntamente com os nossos 3 filhos, conseguiu embarcar. Para mim, a coisa complicou-se um pouco mais e… fui detido e acusado de ter pegado em armas e colaborado com o movimento. Pura mentira!
Assim fui forçado a ficar para trás praticamente debaixo de prisão. Isto porque me disseram que precisavam de mim ao que eu respondi: eu fui ter com vocês quando tudo começou e a resposta que vocês me deram foi: "você mantenha-se for a disto porque isto é um problema entre Timorenses e não seu".
Agora que estão a "arder" dizem que precisam de mim! Para quê? Carne para canhão!?… Pois eu não os acompanho.
E… contra-resposta veio logo a seguir. "Ou vens connosco ou encostamos-te à parede e acabamos contigo já aqui!!!
A isto eu respondi ( talvez um pouco temerariamente): "Pois acabem, mas com vocês eu não vou"!
A resposta que se seguiu da parte deles foi: "Ficas aqui sobe a guarda deste homem enquanto nós vamos falar com o comandante e voltamos já".
A volta foi muito mais demorada do que aquilo que eu esperava e isso começou a fazer germinar a ideia da fuga na minha cabeça. E então, quando a noite caíu, esta velha carcaça, na altura ainda jovem e com uma preparação física de fazer inveja, transformou-se num fugitivo que teve homens armados até aos dentes, passando por cima da sua cabeça, apenas com a separação de uma tábua, mergulhado em água e gasóleo até ao pescoço. Mas depois de muitas mais peripécias – algumas de um certo risco, consegui mesmo pôr-me a salvo e chegar à Austrália, onde desembarquei em Darwin- capital do Norte da Austrália – no dia 29 de Agosto de 1975.
E… chega por hoje! Desculpai a maçada. Quando conseguir publicar no Blog já não vos maçarei mais.
Até lá…
Aquele velho abraço, meus amigos! Até à próxima.
AFerreira
segunda-feira, 23 de abril de 2007
ANTÓNIO DA SILVA FERREIRA, o homem dos antípodas
Portanto, houve reviravolta de 180 graus na minha vida, devido à qual (reviravolta) a minha vida e planos mudaram também.
Fiz, então um curso de desenho arquitectónico e concorri à primeira vaga que houve no quadro das OP de Timor. Não sei como mas… fui o primeiro classificado. Passei, então de hidrometrista a desenhador, profissão de que realmente gostei. Mas não era por aí que eu queria ficar. Comecei, pouco tempo depois, com um curso de topografia que conclui, com sucesso, 3 anos depois. Foi neste trabalho que atingi a minha reforma já aqui na Australia.
Depois virá mais, prometo.
Por agora um grande abraço do velho amigo
AFerreira.
domingo, 22 de abril de 2007
Memória breve do notável santo e homem culto, latinista horaciano, o padre Clemente de Oliveira... ...
Foi o P.e Oliveira o primeiro dominicano com que hei tido contacto depois que senti em mim despertar aquele apelo do Senhor que alguns designam, muito apropriadamente, por vocação. Concluído o curso na Un. De Lisboa, procurando um contacto com os dominicanos fui encaminhado para Queluz, onde um amigo me dizia haver um convento dominicano e em que discretamente pontificava um santo de nome Oliveira. (Coincidência ou não era meu homónimo).
Descobri no Pe. Oliveira um santo e um sábio, o maior latinista que conheci, eu que frequentei umas aulas livres do gramático notável Nicolau Firmino.
Era de uma inteligência fina, homem clarividente, bondoso mas que nunca deixava fazer o ninho atrás da orelha (perdoe-me ele este grosseiro plebeísmo!) Ouvi depois, quando passei por Fátima, antigos alunos seus contarem interessantes histórias acerca do ambiente de trabalho e de disciplina com que decorriam as suas aulas. Parece que os alunos, imóveis e atentos participavam nas suas aulas com religioso silêncio e laboriosa compostura bebendo as suas lições. Lamento nunca ter sido aluno do Pe Oliveira.
Este homem raro recebeu-me várias vezes no seu cenóbio de Queluz. Daqui me apontou os pedregosos recantos da serra d`Aire onde cheguei num domingo de Abril ecoando, então, por toda a capela a salmodia do ofício divino. Era a hora de Vésperas. Aquele monástico som encheu-me a alma e de mim se apoderou para sempre.
Num dos encontros que tive em Queluz com o Pe Oliveira, o sábio varão retrovertia os Lusíadas para latim, tarefa em que andava empenhado há alguns anos. Era já noite quando nos encontrámos e (pasme-se !) o velho frade fazia o seu trabalho com uma lupa que ele próprio havia construído e desenrolava a sua tarefa alumiado por dois cotos de vela para poupar na electricidade. Eu sei, ele tinha feito voto de pobreza.
Lembro-me. Precisamente nesse dia ele traduzia aquela passagem do Canto V em que a ninfa Tétis sai do mar impudicamente toda nua.
…………………………mihi nocte
Eminus albae, solius, nudae Thetis
Pulchra species sese obviam dedit.
Então o homem sentado à luz de dois pedaços de vela comentava:
«Devemos olhar esta e outras passagens dos Lusíadas à luz da cultura clássica. Devemos olhar com olhos espirituais aquilo que a concupiscência da carne nos convida a olhar com lubricidade. Estas referências dos autores pagãos e dos seus seguidores são uma prefiguração de Maria. Tota pulchra es»
Quem duvida da sabedoria da santidade do Pe Oliveira? O último encontro que tive com ele falou sobretudo, do necessário espírito de humildade que deve ter todo o homem religioso.
( Por falar em humildade… Oh Alexandrino, tu que ainda há dias mereceste de mim alguns elogios pelo teu equilíbrio…Com o teu último texto para o Blog pareces estar possuído pelo espírito revolucionário. Lembra-te que fora da Igreja não há salvação e que o Papa condena a teologia da Libertação. Tu és dos que pegaram na rabiça do arado e olharam para trás? Não tens medo de que te aconteça o mesmo que ao Fernando Vaz manchado pelos resíduos serôdios da Revolução Fancesa? )
Bom, desviei-me do meu propósito que era falar do Pe Oliveira. Já vai longo este texto. Continuarei na próxima.
José Oliveira (ex-fr. Imeldo)
Outra vez avô!...
Um abraço para todos
Nelson
sexta-feira, 20 de abril de 2007
MEMÓRIAS DE MIM (IV) - O Igreja
Na falta de um arquivo fotográfico para partilhar convosco, sou forçado a recorrer a pequenas estórias que a memória guardou. Cá vai mais uma:
De estatura meã, franzino, muita irrequietude pelo meio, dava e dá pelo nome de Orlindo Gonçalves Igreja. Foi nado nas raianas terras do Jarmelo, entre a forte, fria, fiel, feia e farta cidade da Guarda e os contrafortes da praça de Almeida. Aportou a Aldeia Nova no mesmo dia que eu, Celestino, Alexandrino, Rufino, Vitorino (tanto ino), o Nuno Jacinto, o Xico Saraiva, Manuel Salvado, o Melro, o Eduardo Seixas, o Manuel José Brás e tantos outros!... Um seu parente próximo, tio ou primo, era um tal irmão Igreja (Justino?) que em Aldeia Nova desempenhou funções de motorista e penso que ainda chegou a cozinhar, quando o fr. Porras foi sacudido, lembram-se?
Aquietem-se que o Igreja não vai levar a mal ser tema desta crónica, pois embora não o veja há quase meio século, já o localizei e falei com ele telefonicamente. Andou emigrado pela Europa e assentou praça em Vilar Formoso, como empresário comercial do ramo de electrodomésticos, -a TECNOVILAR.
Nos tempos em que Portugal ganhava a fio campeonatos mundiais de hóquei em patins, entrou em A. N. a febre do hóquei em campo. O Igreja tornou-se um exímio manobrador do stick, e era vedeta disputada nas mais variadas equipas. O estrelato, porém, haveria de atingi-lo nas aulas do Sr. padre Oliveirinha, concorrendo para muitas borlas nas aulas de latim. Quando já se esgotava a nossa capacidade para improvisar pequenas maldadezitas, o Igreja desmaiava. E tão bem que ele encenava a situação!... Naturalmente que uma situação daquelas, requeria uma mobilização geral e, então, quando a “reanimação” não acontecia na própria aula, dentro do mais animado espalhafato e com muita água no rosto da vítima, lá carregavamos nós o Igreja, desmaiado, até ao dormitório. A cena repetiu-se algumas vezes, e terá ultrapassado a esfera restrita das aulas de latim. O protagonismo do nosso colega atingiu tal nível, que chegou à “reunião capitular”, para a qual nem sequer foi convocado, para alegar em sua defesa. Recebeu guia de marcha para a Cerdeira do Côa, perdendo-se assim, um tanto ingloriamente, mais um aspirante a dominicano.
Nelson
quinta-feira, 19 de abril de 2007
terça-feira, 17 de abril de 2007
segunda-feira, 16 de abril de 2007
UM PLANETA MAIS LINDO E MAIS JUSTO PARA OS NOSSOS NETOS
Isto de ser avô de uma super-heroína é duma grande complexidade…
Primeiramente tenho de investigar qual a dimensão do mundo desta criança. Depois há que aderir à sua convicção de que é possível salvar o mundo. Para uma pessoa da minha idade é difícil regressar à idade das ilusões e dos ideais.
- Logo agora que estou tão ocupado a tentar salvar o blog “criar laços”, netinha!
- Tive um ideia, avô! Pedes ajuda aos teus amigos para salvar o mundo, e no intervalo, brinca-mos aos blogs.
- Boa ideia Vitória! Os meus amigos estão tão ocupados a salvar o mundo, que nem fazem um intervalo para brincar aos blogs.
É impossível ignorar o apelo, dos nossos netos, porque é grande o receio de acabarem vivendo num mundo inóspito e sem humanidade.
A poluição aumenta incessantemente apesar de todos os apelos e alertas. Os maiores poluidores não estão dispostos a prescindir de uma parcela do lucro para aliviar a pressão sobre o frágil equilíbrio das condições naturais da mãe terra.
Perante esta progressiva degradação do ambiente, muitos seres vivos não terão condições de sobreviver e muitas espécies que ainda tivemos a sorte de conhecer, só ficarão em filme para os nossos netos.
A exploração desenfreada dos recursos naturais, sem o mínimo de preocupação de preservação desses recursos para as gerações vindouras, ameaçam deixar os oceanos vazios, os solos e subsolos esgotados.
A exploração dos humanos por outros humanos, cuja única preocupação é acumular riqueza sem a mínima preocupação de distribuição justa dessa riqueza por aqueles que colaboraram nessa acumulação. O peso dos custos salariais no total dos encargos com os factores de produção das empresas passou de 60% nos anos 70, para valores inferiores a 50% nos dias de hoje. Esta diminuição é proporcionalmente inversa ao aumento dos lucros, por exemplo nos Bancos.
Há sinais preocupantes do acolhimento destas políticas de gestão desumanizantes. Quando uma empresa cotada em bolsa anuncia um qualquer esquema de redução de pessoal, é de imediato premiada com uma subida do valor das respectivas acções. Um Banco surgido em Portugal nos anos setenta que adoptou como política de recrutamento a exclusão de elementos do sexo feminino, foi premiado com um crescimento vertiginoso, que rapidamente o transformou no maior Banco privado português.
Segundo um estudo das Nações Unidas efectuado em 2000, 2% dos adultos mais ricos possuem mais de metade de toda a riqueza mundial. Na metade inferior dessa pirâmide, no entanto, 50% da população mundial adulta tem de se conformar com 1% da riqueza mundial.
Em Portugal, as desigualdades sociais atingem valores alarmantes. Os dez por cento dos portugueses mais pobres, detêm dois por cento do rendimento nacional; os dez por cento dos portugueses mais ricos, concentram 29 por cento desse rendimento.
E o que mais preocupa é que a tendência é para o agravamento destas desigualdades, porque os ricos cada vez aumentam mais o seu pecúlio e os pobres cada vez têm mais dificuldade para angariar o sustento diário.
O dilema é que os recursos ainda existem em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades básicas da humanidade. Só que a sua distribuição é tremendamente injusta. Enquanto nalgumas zonas do globo há enormes desperdícios, noutras, a escassez mata milhares de fome no dia a dia.
Começa a verificar-se um sentimento de má consciência por parte dos mais ricos, mas as suas acções beneméritas têm o aspecto de mera publicidade em benefício dos respectivos produtos ou serviços.
Angustia-me pensar que vamos deixar os nossos netos num mundo onde não se pode respirar, nem trabalhar com dignidade. Dói pensar que serão agravadas as condições em que já vive a geração dos nossos filhos, com o desemprego, a precariedade do trabalho, a degradação dos recursos naturais, a fealdade dos nossos ambientes.
Que podemos fazer? Alertar, “avisar a malta”, como dizia o poeta.
Acabei agora mesmo de ouvir uma publicidade onde se afirma que “a salvação do mundo está nas nossas mãos”. Afinal a minha neta tem razão em ter esperança.
A. Alexandrino
terça-feira, 10 de abril de 2007
MENINOS, MÃOS À OBRA!...
Agora, agradecia que me dessem que fazer, senão pasmo de tédio. Postei o velho emblema de Aldeia Nova ( que fui buscar a uma relíquia que brevemente partilharei convosco), em jeito de provocação, e ninguém se manifestou!... Não gostaram?
Mandem novidades, velhas ou novas, para animar a malta!... É o que faz falta!
Um abraço do vosso "editor".
Nelson
sexta-feira, 6 de abril de 2007
Boas Festas de Páscoa
"A PÁSCOA ESTÁ NA DOR QUE RESSUSCITA!
O Dominicano José Augusto Mourão termina um poema dizendo,”meditai na vida não na morte, a Páscoa está na dor que Ressuscita”. Os cristãos do mundo inteiro revivem no espaço de uma semana: a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, sua Paixão e Morte, sua Ressurreição.
Deixemos pois de lado por algum tempo a reflexão sobre os emigrantes e a emigração para vivermos aqui e agora este tempo, que vai ser Pascal, tão propício à meditação. Durante este período somos chamados a transcender-nos, a ir das trevas para a luz, do ordinário para o excepcional, ultrapassando o quotidiano. Não podemos limitar-nos a preocupações puramente alimentares ou económicas. “Nem só de pão vive o homem”!...Não é com penitências, jejuns e abstinências que podemos preparar-nos para a Páscoa. Essas atitudes tantas vezes negativas e estéreis, são sempre egoístas e levam-nos a curvar-nos sobre nós mesmos. Páscoa é passagem, é ponte para ir da morte para a vida, das trevas para a luz; do mal e da mediocridade para o bem e a excelência. Páscoa deve ser DOM. Para dar temos que ir ao encontro dos outros, somos obrigados a descentrar-nos de nós mesmos e fazer-nos violência para pensarmos mais nos outros, relegando-nos para o segundo ou terceiro lugar. Quando falo de dom não me refiro especialmente ao material, mas a atitudes de respeito, de atenção, ao dom de si mesmo, e a abertura do coração. É bem mais fácil abrir a carteira que o coração!
No Domingo de Ramos, Jesus é aclamado por uma multidão imensa, para ser humilhado, escarnecido, empurrado para a morte, na sexta-feira, pela mesma multidão. É tão fácil manipular uma multidão. Os mesmos que gritam hossanas e estendem mantos considerando Jesus como um Imperador, vão preparar a coroa de espinhos e gritar: à morte, crucifica-o! Só um bandido crucificado com Cristo, o reconheceu como Rei dizendo-lhe: “recorda-te de mim quando vieres inaugurar o teu Reino”. E foi um pagão, um centurião do exército romano, que fez um acto de fé, ao proclamar: “de certeza que este homem é um justo”.
Na sexta-feira Santa, com a mesma facilidade com que se apaga uma vela, apaga-se a esperança. Ao pé da cruz tanto os que aclamavam o Messias no domingo, como os que pediam a sua condenação alguns dias depois, ficaram inertes e perplexos. Cristo não condenou, mas disse apenas, “não sabiam o que faziam”. Nesta sexta-feira comemoramos uma cena terrível. Aquele que durante toda a sua vida e sobretudo durante os três últimos anos, fascinou e deslocou multidões, foi abandonado de todos. A Paz, o Amor, a Esperança, foram flagelados, crucificados. Comprometeu-se o futuro, obscureceu-se o horizonte. A pedra rolou e parece ter esmagado e enterrado as promessas do Messias. É o tempo do silêncio! Jesus entra no silêncio depois de ter proclamado a boa nova em toda a Galileia. Depois de ter curado os doentes, dado vista aos cegos e transformado o coração dos ricos. O silêncio de Jesus na cruz, liberta a palavra e então alguém diz: “verdadeiramente este homem era o filho de Deus”!
A esperança renasce! Ele está vivo, Aleluia! Se tentamos seguir Jesus, ser cristão é finalmente muito simples: é ser plenamente homem. Acolher sua vida de homem tal como é, uma história de amor. Ser cristão é amar e deixar-se amar. Aceitar ser chamado a uma nova vida, bem superior a tudo o que poderíamos imaginar. Muito para além das nossas projecções por muito optimistas que sejam. Para além dos nossos rancores, dos nossos egoísmos. Para além dos nossos limites, dos nossos fracassos ou dos nossos erros.
Não permitamos que neste Domingo de Páscoa Cristo ressuscite sozinho. Ressuscitemos com Ele. As nossas existências são bem tristonhas e bem cinzentas. Iluminemos as nossas vidas renunciando a tudo o que nos impede de subir à montanha da transfiguração...Cristo quer acordar-nos para uma nova vida. Uma vida em harmonia com a natureza, com a humanidade, com nós mesmos e com o nosso Deus que nos criou para a Paz, o Amor e a Felicidade. Boas Festas de Páscoa!"
segunda-feira, 2 de abril de 2007
O PATOÁ TRANSMONTANO
Nada disso, afirmou ele todo vermelho. Ir de carreira quer dizer ir a correr. Negrilhos são negros pequenos. Folar é um lenço em françês.Trigo é um cereal de que se faz pão. Rijões pela explicação que dás, devem ser torresmos e alheiras devem ser farinheiras (agora as alheiras de Mirandela são conhecidas por todo o lado, mesmo em França) Cibos e purís, isso não está no dicionário. Felizmente que a malta não troçava muito. Todos sabiam que na próxima podia-lhes calhar a eles. Havia também os outros Trasmontanos, principalmente o Manuel Alberto Rodrigues e o Francolino José Gonçalves que nesse momento não estavam mais avançados do que eu. Veio depois em meu auxílio o meu conterraneo Camilo, que me fez a lista das palavras que só existiam na nossa terra e que não deviamos utilizar em Aldeia Nova. Mas faz cuidado, recomendou-me, não as esqueças senão durante as férias vão gozar contigo, dizendo que já não conheces o engaço, o ancinho...O charréu, pelos vistos ficou na memória! Atenção, Nelson, não era xarréu com x de xá à Lisboeta. É com ch, pronunciado com a boca toda, como ‘ciao’. Um charréu é, no Franco, uma espécie de pardal. Que até faz ao cantar o mesmo barulho que fazia a bola de ping-pong. Como vez já conhecia as onomatopeias!
Devido a estas e outras, no primeiro e segundo anos nunca passei de oito ou nove em português. Felizmente que sempre fui bom em matemática...Por sorte minha, o padre Chico esteve ausente durante um ano ou dois. Foi trabalhar (pelo que disseram na época) como redactor de um jornal, fundado e dirigido pelo seu amigo cónego... Lacerda? Tive o frei Bernardo Domingues, (irmão do Bento) como professor de português. Este até me dava boas notas. Achou que eu lia bem no refeitório e que até escrevia bem...surpresa! É verdade que o Pinho (António Batista de Pinho) me tinha dado algumas explicações, e mesmo feito algumas redacções. Obrigado Pinho. O Pinho, com o Francolino eram para mim inteligências raras, duma grande simplicidade, modelos de constância no trabalho, e de fidelidade em amizade, tanto em Aldeia Nova como em Fátima. Recordais-vos do concurso que o Pe Alberto, o sardento (que Deus lhe dê o eterno descanso) organizou entre as diferentes comunidades que vinham às nossas aulas?! Foi o Pinho quem ganhou com um trabalho em que pôs em cena a Vontade e a Inteligência. Chegou à conclusão que a vontade era cega e a inteligência manca e que uma sem a outra não podiam ir longe. Achei a imagem formidável! Gostaria imenso de ter notícias tuas amigo Pinho, temos mais para recordar.
O Francolino tive o grande prazer de encontrá-lo na Escola Bíblica de Jerusalém há alguns anos. Com um grupo de diáconos e esposas, fiz uma peregrinação à Terra Santa. Tínhamos como guia um grande teólogo e exegeta françês. Perguntei a este nosso acompanhador se podia dispor de uma ou duas horas para visitar um amigo professor na Escola Biblica. –Como se chama? Achei a pergunta estranha e respondi: Francolino. Francolino Gonçalves?! Perguntou ele assentuando bem as últimas sílabas. Não é só professor, mas sub-Director e todos o reconhecem como o maior especialista mundial do Profeta Isaías. Continuou a tecer elogios sobre o meu amigo Francolino para terminar dizendo: passei seis meses em Jerusalém a seguir os seus cursos e considero-o como um grande Mestre! Fiquei orgulhoso como se aqueles elogios caíssem sobre mim. O Francolino, que fui visitar com minha mulher, serviu-nos de guia na Escola Biblica, aceitou jantar conosco, como se seu tempo não fosse precioso. Escondeu bem todos os seus canudos e especializações. Encontrei o meu amigo trasmontano, simples, acolhedor e disponível...Os que são verdadeiramente grandes, não precisam de salvar as aparências. Eles não parecem, são!
Voltemos alguns decénios atrás, ao ano em que me tinha habituado a trezes e quatorzes em redacção. O frei Bernardo foi chamado a outras tarefas. Ó surpresa, ó desastre, eis que volta de novo o Tomate, cada vez mais vermelho. Pelos vistos não tinha esquecido os meus oitos e noves, que recomeçou a ministrar-me. Á terceira nota negativa entrei-lhe pela porta dentro e disse-lhe, baixando a cabeça, para o mirar bem nos olhos: as minhas redacções hoje não valem oito, mas pelo menos doze pontos. Faça favor de esquecer o Fernando do passado e ler com atenção as minhas redacções de hoje. A partir desse dia nunca tive menos de doze. Porquê?! É verdade que ele era um pernas curtas e eu já era matulão...(podeis rir). Por falar em redacções e escrever, tenho ainda que confessar, amigo Nelson, que nunca escrevi no ‘Facho’, como tu já pretendeste convencer-me. Depois de ter reflectido recordo-me que saiu um artigo com a minha assinatura, mas foi o Marcos quem o escreveu... Obrigado Marcos!
Se me autorizardes ainda continuarei com estas incursões pelo nosso passado dentro!...
Fernando Vaz