sexta-feira, 8 de julho de 2011

NAQUELE TEMPO... LEMBRAS-TE? (I)



ALDEIA NOVA

REGRESSO A UM LUGAR
ONDE UMA VELHA CASA…

Estivemos aqui. Estive neste lugar onde agora regresso. E haverá regresso?
Passaram tantos anos mas reencontro ainda os meus pés gravados no pó destes caminhos. Aí estão marcados também os sulcos dos teus passos, pois, tu e eu fizemos em comum o percurso inicial que nos abriu os horizontes da vida. E nenhum vento pode apagar as marcas que ajudaram a abrir todas as manhãs vindouras.
Naquele tempo…lembras-te? (a saudade é uma ave incendiando a memória). Ah! Ecoam ainda em mim estridentes gritos no recreio, dispersas vozes chamamentos. Agora é um rosto, um olhar que me interpela, logo, um nome, esbatido pelos dias, arrastado pelo rio do tempo, que vem ter comigo.
É ainda a névoa da memória que me reconduz à sala de estudo, às noites ao longo dormitório, ao recreio onde um retorcido carvalho, umbroso, nos reconhecia a todos. Ai as declinações, o ablativo absoluto o verbo fero e eu in albis a ir para as aulas.

E havia risos, cânticos e sonhos, por vezes muita inquietação e dor. Então era o tempo da rosa, dos floridos jardins da juventude e uma paisagem infinita abria-se à nossa frente pois todos os caminhos então eram possíveis. Lembras-te?
Como não recordar esse tempo, recuperar esse lugar?! Foi aqui que, irmanados, no mesmo barco nos lançámos na aventura dos dias; foi aqui que nos fizemos, nos humanizámos e recebemos uma inapagável chama que para sempre ficou a acalentar as nossas vidas e é ainda essa chama que nos impulsiona pela encosta de um destino comum. Para sempre.
Em ti, alguns sonhos perduram desse tempo ou todos morreram na voragem dos dias que vieram depois? Remexe as frias cinzas da memória e encontrarás ainda o antigo fogo. Talvez o fogo conjugado com o gelo, num lugar onde, tu e eu, nos olhámos e de onde as nossas vidas dispersas enfrentaram o tempo. Olha, é preciso, sempre e sempre deixar ouvir o coração.

Eduardo de Jesus Bento “
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Nota:
Assim escreveu Eduardo Bento, em 7 de Fev 2007.
É um autêntico hino e poema a Aldeia Nova e às nossas vivências ! Abrangente e que nos apanha por dentro e nos faz viajar no tempo, com uma intensidade que só nós, viajantes do mesmo espaço e tempo, podemos compreender inteiramente. Com a devida vénia e amizade pelo autor, aqui vou buscar o título “Naquele tempo…lembras-te?” para renovar estas nossas memórias e experiências comuns. Este texto não mereceu na altura qualquer comentário (!) e quando o li (um ano e tal quase dois, depois, quando descobri o blog) fiquei surpreendido com a sua completude, até porque nem conhecia o Autor.
Pesquem nas mesmas águas: releiam o blog e dêem relevo aos textos que alguns de nós desconhecemos. E se quiserem usem esta rubrica ou outra forma que o nosso “editor” aceite.
Faço este comentário por ser o primeiro texto repescado e para justificar a rubrica que se inicia com este texto. De futuro não farei comentários aos textos, a não ser como qualquer um dos leitores, nos “comentários” . E peço desculpa ao Eduardo Bento por “pendurar” aqui no seu belo texto este arrazoado.
Antero

2 comentários:

Domingos disse...

Pese embora dar uma olhada todos os dia ao blog, não tenho por hábito fazer comentários, mas este texto do Eduardo Bento bem o merece, causa-me sempre um arrepio e uma mescla de sentimentos difícil de catalogar, emoção, saudade, alguma nostalgia, perca... contentamento, eu sei lá mais o quê! e pelos contactos que tenho mantido com alguns antigos alunos e pelas experiências partilhadas nas "reuniões de trabalho" à volta da mesa, parece-me que o que sinto é comum aos demais.

Domingos

Anónimo disse...

Estou de acordo com o Domingos, pois ao ler este texto-poema do Eduardo Bento,sou invadido por todos esses sentimentos acima expressos. A nossa vida - nesse tempo em que estudávamos o latim com o Padre Oliveira que nos chamava de rato cego quando alguma asneirita cometíamos, o português do Padre António, a matemática e a geografia ou o inglês do padre João Domingos- a nossa vida, dizia,era ainda uma alegria, um companheirismos entre todos, irmanados certamente num ideal que pretendíamos atingir. Depois, com o 5ª ano feito,tivemos que definir o que realmente queríamos fazer dela, sermos religiosos dominicanos, ou pura e simplesmente trilharmos outros caminhos que nos dessem a satisfação dos nossos anseios. Esta decisão( ou um caminho ou outro), para jóvens que foram formados na autenticidade do ser e no cumprimento da honra e do dever, tornava-se por vezes dramática. Por isso tudo o que o Eduardo escreveu, espelha bem todo o mundo que, nesses tempos, habitava dentro de nós e nos tem acompanhado pela vida fora.
Um abraço, Eduardo Bento e continua a escrever coisas lindas.

Neves de Carvalho