quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dando, recebemos.

Aldeia Nova ficou para trás, o emprego também. Situemo-nos em 1969, quando em Janeiro me alistei na Força Aérea Portuguesa (FAP) na base aérea da Ota. Quatro anos tinham passado, após a saída de Aldeia Nova. Tudo aquilo era diferente. As pessoas, os rituais, enfim... tudo o que o dia-a-dia nos dava. Após um ano de formação como especialista da Fap, (mecânico de material aéreo) voei para Angola em 1970, tendo ficado na base aérea 9 em Luanda. Aí começa verdadeiramente a história da minha vida militar. A minha especialidade, permitia-me andar sempre no ar. As primeiras semanas foram idílicas. Paisagens deslumbrantes, de guerra... nada. Até que um dia e durante mais de 2 anos tudo modificou. Fui destacado para os helicópteros e a vida passou a ser mais de guerra, não verdadeiramente actuante, mas com deslocações para os campos de confronto, buscando homens feridos, muitas vezes em estado muito critico, quando não, já para lá desta vida. Meus amigos. Foi duro pois se havia1 ou 2 dias em que não havia missão, dava graças a Deus por mim e pelos demais. Um dia, em vésperas de Natal, saí em missão de reconhecimento (seria um vôo normal) só que assim não aconteceu. Uma copa de árvore, quis beijar o rotor de cauda do héli e aí deu-se o inevitável. Sorte é que terra firme não estaria a mais de 40 metros e um acampamento do exército a 3 ou 4 km. Quando acordei, passado não sei quanto tempo, não sabia onde me encontrava. Fiquei apavorado. Olho em redor e estou sozinho. Meu companheiro de viagem (soube mais tarde) tinha partido, procurando ajuda junto dos militares próximos. Passado pouco tempo vi á minha frente duas criancinhas. Um deles, apontava-me ao outro e dizia: «Quem sabe se não foi o Pai Natal que o trouxe». As crianças estavam assustadas. Disse-lhes que não lhes fazia mal. Estavam pobremente vestidas. Perguntei-lhes onde moravam os pais. «Não temos pai nem mãe» responderam-me. Ali estavam dois órfãos, em situação bem pior do que a minha. Eles fizeram-me sentir a vergonha da minha tristeza e da piedade que sentia por mim. Esses dois órfãos deram-me a felicidade que havia meses não conhecia, fazendo-me esquecer o meu problema. Ao conversar com eles, compreendi quanto fora feliz. Agradeci a Deus os Natais que passei, iluminados pelo amor e pela ternura dos meus pais. Que tinha eu para os compensar... pensei. Olho em volta e espalhado pelo chão, restavam embalagens de bebida em lata e víveres da viagem. Estendi as mãos e ofertei as crianças. Aqueles olhares melancólicos, tornaram-se como que por magia, alegres e brilhantes. Os dois órfãos fizeram muito mais por mim, que eu por eles. Descobri que a felicidade é contagiosa. Dando, recebemos.

Um abraço.


Dinis Martins


P.S "criar laços " é também partilhar. Daí a razão deste texto.

2 comentários:

Anónimo disse...

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