segunda-feira, 12 de abril de 2010

Caro Dinis:

Sejas benvindo a este blog (amigo conterraneo) e que nele permaneças por muitos e longos anos ! Insinúas que eu tive alguma culpa na tua ida para Aldeia Nova ! Volto-te o cumprimento dizendo-te que regresso hoje ao blog, graças a ti… Há uns tempos para cá, o blog é utilizado quase exclusivamente para nos congratularmos uns com os outros por ocasião dos aniversários. Acho isso muito bem, mas a meu ver não é suficiente. Podia ter decidido implicar-me de novo mais acctivamente mas escolhí a outra alternativa… baixar os braços.
Até me fiz um pouco violência não felicitando alguns aniversariantes que me são muito caros. Nunca é tarde para dar um grande abraço de felicitações ao Francolino que estava presente no inicio das minhas tribulações mesmo antes de chegar a Aldeia Nova pela primeira vez, mas também foi testemunha de momentos de muita alegria e felicidade tanto em Aldeia Nova como em Fátima. Um dos momentos de excepção, foi a visita de Jerusalém com a minha mulher e alguns amigos em sua companhia. Um grande abraço também ao Augusto Matias, que apesar da sua simplicidade e humildade é uma luz que continua a iluminar a nossa aldeia «Ó glória da nossa terra » e que tenho o grande prazer de contar como primo e amigo. Ao Joaquim Moreno, amigo desde 1960 e “ad vitam eternam », se ele o deseja, um obrigado por tudo o que faz pela comunidade. Ad multos…
Na realidade, com a chegada do Dinis parece que o blog rejuvenesceu, recordando-me a minha juventude e mesmo a minha infância. Explico-me. O Dinis chegou a Aldeia Nova em 1960, ano em que eu entrei para o noviciado. Ele tinha 11 ou 12 anos e eu 19! Conhecia bem e tinha muita estima por seus pais com quem gostava de conviver durante as férias. Seu pai era citadino, trabalhava em Mirandela para onde se deslocava, numa grande mota, todas as manhãs, por motivos profissionais. - O teu pai, no inicio, era considerado como« estrangeiro » la na nossa terra. Não nasceu no Franco mas a alguns Kms de distância. Por isso eu apreciava imenso dialogar com o Sr Américo, teu pai (que Deus tem) devido à sua lúcida visão da realidade !... Vinha de outros mundos ! Tinha horizontes mais largos que o comum dos habitantes do Franco. Penso que nos apreciavamos e estimavamos e… reciprocamente. Um casamento, na aldeia, era sempre um acontecimento importante e um dia festivo.
Quando os teus pais casaram, caro Dinis, teria eu uns 8 anos, foi um dia excepcional ! O casamento da moça mais linda lá da terra, filha do Senhor José Pires e da Dona Cândida , que eram os meus padrinhos.
Vim aquí ter convosco para vos contar a história verídica que segue, para fazer memória dos meus padrinhos e avós maternos do Diniz. Como já vos disse neste blog (há pelo menos dois anos), quando nascí, ninguém pensava que fosse para durar… A parteira desenganou logo a minha mãe. Era mesmo inútil chamar o médico. Não chegaría a tempo. A minha irmã mais velha, com uns dez aninhos(que por várias vezes me narrou este episódio fundador da minha existência) correu chamar o Senhor Pe Fernando e os padrinhos, previstos de longa data. Todos viviamos a uns metros da Igreja. Dez minutos depois lá chegava eu ao batistério, embrulhado num lençol para grande desgosto da minha madrinha a quem não deixei o tempo necessário para me comprar o lindo vestido com rendas e bordados, que constituia o traje batismal de todos os batizandos, sem diferença de sexo ! A cerimónia deve ter durado dois minutos. Tempo suficiente para pronunciar a frase sacramental, perante uma assistência de quatro ou cinco pessoas. Levaram-me para casa embrulhado na mortalha branca, naquela manhã fresca do início de Outubro de 1940! Já se ouviam ao longe as últimas marteladas com que António carpinteiro terminava a encomenda para um anjinho que partia antes de ter vivido. ( Sei bem que é de mau gosto mas não pude resistir !...)
Era sem contar com o ar fresco que desce da serra da Garraia e que é abençoado ao passar pela capela da Santa Comba e da Santa Bárbara (que mais tarde restaurei) que conjugados com a água benta e o grão de sal, me deram nova vida.
Ultrapassada a surpresa e convencidos de que finalmente eu viveria, os meus padrinhos não queriam conformar-se com aquele batizado improvisado. Algumas semanas depois, tentaram convencer o pároco que era necessario recomeçar a cerimónia. O Pe Fernando que me gratificou com o seu nome, pois nada tinha sido previsto, foi intransigente. Canónicamente falando o batizado era válido e o vestido não era importante. A opinião dos meus padrinhos era bem diferente mas não havia nada a fazer. Queriam no entanto marcar o acontecimento e prometeram oferecer-me um fato e uns sapatos (o que para a época era extraordinário) logo que eu começasse a andar. Desde esse momento a minha irmã só tinha um objectivo, fazer-me andar o mais depressa possível. Quando dei o primeiro passo foi uma alegria ! Mas eu tinha que ir a pé até ao comércio de roupas do meu padrinho. A minha irmã bem puxava por mim mas não havia meio. Um dia, já estava quase maduro, fizemos um último exercício !... No sobrado do cabanal havia uns buracos e sem que a minha guia se apercebesse metí um pé num deles e ela continuou a puxar-me pelo braço e desmanchou-me um pé (devia ser o esquerdo pois ainda hoje sinto uma certa fragilidade) e recomecei a andar de gatas, durante meses… Entretanto infelizmente o meu padrinho faleceu e a história do fato e dos sapatos passou para outro plano. Recordo perfeitamente que alguns anos depois, no domingo de Pàscoa, quando levava o fular à minha madrinha, por quem sempre tive muito carinho e admiração, regressava invariavelmente a casa com vários presentes. As minhas mais belas camisas foram-me oferecidas pela minha madrinha, senhora Dona Cândida de santa memória! Penso que já estava aquí em França quando ela faleceu. Fará sempre parte das recordações felizes da minha infância e das das pessoas que recordo regularmente nas minhas orações.
Fernando »

4 comentários:

Dinis disse...

Caro Fernando,no dia em que descobri o blogue e vi textos assinados por ti, mais me despertou a curiosidade e a vontade de continuar leitor assíduo do mesmo.

No que me diz respeito e uma vez que referes pessoas que muito amo, quero agradecer-te a lembrança que tiveste, ao contar factos verídicos, passados há mais de meio século.

Muitas vezes me contaram esta versão na família, tendo esta história, contribuído para uma amizade pura e duradoira entre nossas famílias.

Quero aqui deixar escrito, para todos que possam vir a ler, que o Fernando Vaz, na aldeia do Franco, sempre foi respeitado, admirado e bem quisto por todos, não só pela sua simplicidade, humildade e carácter, mas também pelo homem culto que é, tendo por isso merecido o respeito e admiração de todos os seus conterrâneos.

Continua pois Fernando, a deliciar-nos a todos os frequentadores deste blogue,com o teu contributo.
Dinis.

Zé Celestino disse...

Não conheço o Dinis...
Sabendo, porém, que passou por Aldeia Nova,que nasceu em Trás-os-Montes, na bucólica localidade de Franco ( que eu já visitei três vezes) e que é amigo e conterrâneo do Fernando Vaz e do Matias será, sem margem para dúvidas um homem fixe...

Matias, vai dando notícias e aparece nos convívios da malta...

Abraço

Zé Celestino

Ambrosio disse...

Amigo Fernando,
Sou da mesma openião.Este blog ser utilisado, e muito bém, para transmitir felicitações,combinar almoços, convívios etc. ...mas quanto a mim, eu que como já varias vezes afirmei, que quase diáriamente antes ou logo após ver notícias "on line" venho sempre a esta página.
Aquí, a participação deveria ser mais ampla, mais diversificada.É apenas a minha opinião.Se por A. Nova passaram eventualmente 500, a minha percentagem de "voto" será apenas e só de 0,2%.
A um artigo que recentemente enviei, não só houveram opiniões contrárias (o que acho corrrecto e normal) só não aceitei foi a vontade de censura.O 25 de Abril fará este mês 36 anos!!!
Um abraço.
J.Vieira Ribeiro

nelson disse...

Essa da "censura" não comigo, o editor do blog, pois não?!...
Nelson