quarta-feira, 11 de março de 2009

ENFANCE TRAHIE

Mando-vos este texto que gostaria de ter escrito! Na verdade queria levar este assunto para o nosso blog para reagir contra estes prelados que fazem passar o direito canonico (que precisa ele também de uma eminentissima reforma) antes do Evangelho que é a lei do Amor. Desculpai se o mando em francês. Todos aqueles que conheço lêem esta lingua sem dificuldade!
Fernando

Bonjour:
L'archevêque de Recife, ce jour là, aurait mieux fait de se taire. Question de dignité... Parce que quoi dire à une petite fille de 9 ans, violée depuis des années par son beau-père et qui se retrouve enceinte? (cliquer pour lire) Agiter le drapeau de l'excommunication pour sa mère et ses médecins, qui décident de l'avortement, invoquer "la loi de Dieu contre la loi des hommes", oser affirmer qu'un viol est moins "grave" qu'un avortement, est proprement intenable. C'est non seulement le message évangélique qui est ici brouillé, mais aussi celui de l'Eglise, qui, dans sa pratique pastorale, insiste toujours sur la notion du "moindre mal" dans des choix délicats. Or, ici, le "moindre mal" n"était-il pas, sans contestation possible, du côté de la vie et du devenir de cette enfant, déjà largement compromis par la faute d'un seul? Vous êtes très nombreux à exprimer votre indignation. Discutez-en avec Jean-Luc Ragonneau, jésuite, sur le blog de notre revue partenaire Croire aujourd'hui (cliquez pour lire). Et lisez ce qu'en disent aussi nos internautes!

Vos journaux habituels vous ont, peut-être, transmis cette information où le sordide le partage à l’ignominieux : une fillette brésilienne (à 9 ans, on ne peut user d’un autre terme), violée depuis l’âge de 6 ans par son beau-père, enceinte de jumeaux al ors qu’elle a maintenant 9 ans, a subi un avortement. Le fait, dans sa brutalité, fait déjà mal : on verrait plutôt la fillette en train de câliner une poupée… Eh bien non ! Il y a d’horribles personnages qui volent l’enfance ! Si le fait est douloureux, la suite pour le croyant que je suis l’est encore plus : l’évêque du lieu, l’archevêque de Recife, n’a pas hésité à excommunier l’équipe médicale qui a pratiqué l’avortement et la mère de la fillette, arguant de ce que “la loi de Dieu est au-dessus de la loi des hommes”. Loin de moi de le dénier, mais en moi la certitude que la miséricorde de Dieu n’emprunte pas toujours les canaux ecclésiaux et qu’elle est toujours(et heureusement !) plus infinie que celle des hommes souvent étroite.
Certes toute vie humaine est à respecter, à protéger, à faire advenir à son excellence, mais quand il y a conflit de devoirs… peut-être faut-il se souvenir que dans certains cas nous sommes confrontés à deux maux et qu’il nous faut choisir le moindre mal. Où était-il dans l’affaire qui nous occupe ? Ne serait-ce pas de permettre à cet enfant de retrouver un possible chemin de vie ?
Pour que l’information soit complè te, précisons que l’archevêque en question a été soutenu par le cardinal Re, à Rome ! De plus l’affaire est d’autant plus triste, pénible (les mots manquent) que le violeur, lui, s’il encourt le poids de la loi humaine n’a rien à craindre d’aussi sévère de la loi canonique.
Je ne sais pas comment l’archevêque en question a médité, et/ou a commenté l’évangile de ce jour. Je me permets d’en citer un extrait : “Soyez miséricordieux comme votre Père est miséricordieux. Ne jugez pas, et vous ne serez pas jugés ; ne condamnez pas et vous ne serez pas condamnés…” (Luc 6, 36-38). Il ne s’agit pas, c’est évident, de tout excuser, de tout permettre, mais il s’agit de se mettre à l’école du Père qui par le Fils nous indique de quel Esprit nous devons vivre.
NON… on ne peut appliquer le droit canon aveuglément… OUI nous devons défendre la vie, toute vie… mais il y a des cas où malheureusement, en défendre une oblige à en sacrifier une autre. C’est terrible mais peut-on faire autrement. Nous ne pouvons pas tout maîtriser. Dans le cas relaté, la vie de la fillette (vie physique, vie spirituelle, vie psychologique…) était en danger. Devait-on la laisser mourir alors que la survie de ses jumeaux aurait été accrochée à un “miracle”?
Dénonçons une culture de mort et promouvons une culte de l’amour, mais avec une raison éclairée ! L’Eglise n’a certainement pas à se glisser dans les oripeaux de l’époque, de la mode ou du “monde”, mais il y a des cas où les atours de sa parole doivent accepter quelques faux-plis.
09/03/2009

12 comentários:

Anónimo disse...

Pessoalmente, não estava preparado para a leitura, porque quase não acreditava que ainda existisse disto.

Li o texto de fio a pavio e, porque me pareceu cheio de brandura e formalismo, em contraste com o que parecia a intenção proposta, e pesquisei um pouco a informação originária, no Brasil. Também telefonei a uma pessoa especializada em áreas afins às do Mendes e do Jaime. A primeira observação que me fez foi a seguinte: "acontece muito mais que o que se diz; agora está a dar brado a prisão, em Portugal, de um casal da classe média que, em simultâneo, abusava sexualmente da sua filha de 9 anos".

Não, Fernando, esta não é uma discussão sobre a vida e o valor da vida. Com ou sem regras abstrusas, um bispo que excomunha o médico salvador de uma menina de 9 anos e nem ao menos o faz também ao padrasto violador é o quê? - É um trapaceiro que tenta explorar os sentimentos de uma população brasileira que, em 95%, se diz católica. Aquele bispo excomunha com o objectivo de proteger a sua área de negócios. Quando isso não resultar, volta-se para outra direcção. Cá também temos desses, embora menos descarados mas, como bestas que são, temos conseguido pôr-lhes rédea curta para que os danos sejam minimizados.

A discussão sobre a vida é algo mais profundo e também mais simples. Para ser feita, não deve ser distraída por disfuncionais como o bispo e quejandos citados no artigo que divulgaste.

PS1
A menina brasileira, de 9 anos, estava grávida de gémeos, há 4 meses, data em que tinha tido a última mentruação. Tendo-se queixado de dores, foi levada pela mãe ao hospital, tendo sido feito diagnóstico rápido, programada e executado o necessário aborto. A menina está bem e apenas continua no hospital, porque, na falta de experiência médica sobre o acompanhamento de operações destas naquela idade, é necessário redobrar as cautelas, inclusive no que se refere a doenças sexualmente transmissíveis.

Agora, quem quer que pense em pensar asneiras, lembre-se que a menina que acabou de fazer um aborto já está outra vez a brincar com bonecas.

Armando disse...

O arcebispo do Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, já deveria estar aposentado, pois em 30 de Junho de 2008 completou 75 anos, idade em que bispos devem apresentar sua renúncia ao papa.
Conservador de linha dura, Dom José entrou em choque com o clero logo após a posse, quando mandou fechar seminários que adoptavam “métodos liberais”.
Perante dois delitos, o arcebispo considera mais grave o aborto que o estupro, excomungando a menina de 9 anos, a mãe e os médicos e esquecendo o padrasto.
Este juízo configura tiques de misoginia com que alguns príncipes da Igreja são conotados.
Os tempos correm rápido, mas muitas vezes a humanidade dá passos atrás, contra o que seria natural. Este bispo sucedeu a D. Hélder Câmara de boa memória.
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Este caso devia fazer reflectir a Igreja.
O tempo que passa não se compadece com comportamentos medievais e tacanhos.
Quem quer calçar as sandálias do Pescador? Como se interpreta este Mundo com os olhos distantes da realidade?
O saudoso D. Hélder da Câmara, na sua clarividência, haveria de dizer que o protagonista desta triste cena era seu irmão, porque todos éramos, mas que, provavelmente, já nem Deus falava com ele todos os dias, tão isolado do mundo e da realidade ele se mostrava.
Se o Homem não é amigo do Homem, do bom e do mau, e não o tenta compreender, há-de tratá-lo sempre de cima para baixo e à pedrada. Nada melhora com tão pouca sabedoria e a desconsideração pela espécie humana.
F.r. da Área Benta

PS.-Valha-me S. Clairmont Ferrand!
Desculpa lá Fernando, eu acho que este Clairmont Ferrand não era santo, mas aproveita e diz-nos qualquer coisa sobre ele....

Anónimo disse...

Meu caro F. r. da Área benta:
- No dia 10 passado, o Papa escreveu uma carta de 7 páginas aos bispos de toda a Igreja. Já está na internet, e pude lê-la com o máximo de atenção. Fiquei triste e mais uma vez desiludido! Nesta carta trata-se sòmente da justificação do levantamento da excomunhão dos quatro bispos integristas (problema já ultrapassado) e nem uma palavra sobre a excomunhão lançada pelo bispo de Recife e confirmada pelo prelado RE, o mesmo que assinou o documento que fez com que o negacionista ficasse mais branco que neve. Nesta carta o Papa diz: “ Disseram-me que se tivesse seguido com atenção as informações a que se pode acceder pela internet, me teria permitido conhecer ràpidamente o problema . (refere-se às declarações do negacionista). Serve-me de lição e no futuro faremos mais atenção a esta fonte de informações.” Conversa fiada, visto que internet está repleto do drama desta menina de 9 anos de sua excomunhão etc. E sua Santidade fala-nos de um problema que já cheira a podre!...
- Sim valha-nos São Clair mont, posto que nenhum dos santos canonicamente venerados nos poderá valer. Estão todos feitos com Roma. Clermont não é, propriamente falando, um santo mas um “clair mont” ou um “mont clair” fazendo alusão ao monte Puy de Dôme (que posso admirar do meu balcão)e que neste momento e durante todo o inverno está todo branquinho.
Se quiseres saber mais sobre Clermont-Ferrand vais à internet ou vens até aquí e se provares que és um dos nossos (ex...) servir-te-ei de guia com grande prazer. Um abraço, Fernando.

Anónimo disse...

Obrigado caro Fernando,
Já aprendi mais umas coisas.
Quanto a conhecer melhor essa bela terra, é mais difícil. É um pouco distante. Mas fala-se por aqui do TGV e outras modernices, e ainda de uma associação embrionária que, com tempo e jeito, ainda marca para esses lados uma reunião plenária em honra de "S." Fernando, pois, subrepticia e indirectamente, foi a quem pedi ajuda, mesmo para falar de Clermont Ferrand.
Um grande abraço.Muito obrigado pelas tuas amistosas palavras.
F.r. da Área Benta

Ps. Decorridos tantos anos, não tenho grandes credenciais de passagem por Aldeia Nova, mas com meia dúzia de perguntas, reconhecer-nos-iamos como membros da mesma confraria.

Anónimo disse...

Neste momento em que muitos cristãos estão perturbados pela atitude da hieraequia da Igreja (que utiliza leis ultrapassadas e mesmo caducas para condenar e excomungar inocentes, levantando outras excomunhões, que eu não aprovo, mas bem mais justificadas), faz bem escutar um homem que tem um coração e que para mais é um bispo com grandes responsabilidades na Igreja de França.


"il y avait autre chose à dire..."

"J'ai appris comme tout le monde que la mère d'une fille de neuf ans,
enceinte de son beau-père, avait été excommuniée par son évêque au
Brésil, avec l'équipe médicale qui avait procédé à l'avortement de sa
fille. Comme évêque, je suis solidaire de tous les évêques du monde.
La solidarité impose de dire ses désaccords, sinon elle ne serait que complicité. Je dois dire à mon frère l'évêque de Recife - et au cardinal qui l'a soutenu - que je ne comprends pas leur ntervention. Devant un tel drame, devant la blessure d'une enfant violée et incapable, même physiquement, de mener à terme une grossesse, il y avait autre chose à dire, et surtout des questions à se poser : comment accompagner, encourager, permettre de sortir de l'horreur, de retrouver sens et goût à la vie ? comment aider la fille et la mère à se reconstruire ? Nous
balbutions, surtout nous les hommes, et devons compter sur les femmes pour être là avec plus de présence que de paroles. Mais des paroles de condamnation, un rappel de la loi, aussi juste soit-elle : c'est ce qu'il ne faut pas faire.

Jésus aurait dit que la morale est faite pour l'homme et non l'homme
pour la morale. Il a dénoncé l'hypocrisie de ceux qui lient de pesants fardeaux sur les épaules des autres.

Je confesse que j'ai accompagné des femmes avant et après une IVG. Je crois que l'Église catholique assume sa responsabilité sociale en insistant, à temps et à contre-temps, sur le respect de la vie humaine « depuis la conception jusqu'à la mort naturelle ». Nous manquerions à notre responsabilité en taisant cet appel, qui relève de la défense des plus petits et des plus faibles. Après, il s'agit d'accompagner chaque personne, dans des situations où je ne voudrais pas être, et où chacun
essaie de faire au mieux de ce qu'il ou elle peut. Dieu nous appelle à des décisions qui peuvent être exigeantes, mais d'abord il nous enveloppe de sa tendresse, et il nous accueille dans les obscurités et les drames de la vie. J'attends des hommes d'Église, mes frères, qu'ils
n'utilisent pas son nom (de l'Eglise) pour condamner des personnes ou les enfermer
dans la culpabilité."

/Francis Deniau, évêque pour la Nièvre/

Anónimo disse...

Ai, ai, ai, Fernando, que estás contaminado.
António da Purificação

Anónimo disse...

Fernando, obrigado por trazeres à reflexão este acontecimento triste. A Igreja não aprende. Junto uma carta, tirada do jornal "Le témoignage chrétien", bem elucidativo do sentimento de muitos cristãos :

"À une maman de Recife, par Gérard Bessière

Madame,
Sans doute ma lettre ne vous parviendra-t-elle jamais… Cependant, il ne m’est pas possible de ne pas l’écrire et de ne pas la lancer vers vous sur les vastes espaces d’Internet.
Je veux vous dire mon indignation devant « l’excommunication » prononcée contre vous par un évêque, appuyé par un cardinal romain. Non ! Dans le regard de Jésus, vous n’êtes pas excommuniée, ni vous, ni l’équipe médicale qui vous a secourue. Ces « excommunicateurs » — un évêque, un cardinal — sont-ils eux-mêmes en « communion » avec Jésus ? Je ne le crois pas. Ces hommes sans humanité excommunieraient Jésus, s’ils le pouvaient. Des évêques, des collègues de ces dignitaires, crieront-ils leur indignation ?
Je voudrais que vous sachiez que beaucoup de femmes et d’hommes, et particulièrement de celles et de ceux qui s’efforcent de marcher à la suite de Jésus, sont avec vous et vous expriment, à vous et à votre fille, leur respect, leur estime et leur affection.

Gérard Bessière, prêtre"

Anónimo disse...

Tradicionalmente há um corte entre a letra e o espírito; entre a palavra e a atitude. A igreja, a hierarquia martela-nos com citações do Livro, vem à estocada por causas perdidas. Mas não toma posição sobre os reais problemas que atingem a vida das pessoas. Há um claro compromisso com os senhores do mundo. Quem são os excomungados? Cristo excomungaria alguém?
Mas aquele que arrecada milhões e despede dezenas de trabalhadores continua a ter o primeiro lugar no templo.
E. Bento

Anónimo disse...

Eu, que nunca fui um papa-bíblias, mas sempre tive grande curiosidade sobre a antiguidade e interesse pelos respectivos contos e histórias, também acumulei um pequeno saber sobre a matéria ao longo da vida. De resto, as questões económicas e informativas levaram-me, com alguma frequência a revisitar certas épocas. Tudo isto, em conjunto com algumas informações Dominicanas, dadas contra a corrente dominante, a favor da verdade investigada e, na parte final, por um Monfortinho mais esperto e inteligente que quase toda a gente, deram-me, nas suas aulas, alguma pretensão de, pelo menos, saber descodificar as asneiras que apareciam nos catecismos a que tive acesso na infância e, mais tarde, quando não tinha nada para ler além do horário dos comboios e autocarros. Guardei este hábito pela vida fora - de tempos a tempos, leio qualquer tipo de pasquim com vista a ter uma ideia mais completa sobre quem os consome. Nem sempre foi perda de tempo e energia.

Foi a lembrar-me disto que li o antecedente comentário do filósofo e educador, parece, Eduardo Bento, um verdadeiro ex-dominicano e não um diletante como eu. Em dois parágrafos, ele diz tudo. Eu preciso de um universo algo maior. Vejamos, então a que me levou o referido trabalho associativo, cruzando memórias díspares e intemporais com as que suponho na cabeça de muitos do meu tempo e na curiosidade de alguns raros mais jovens e mais velhos.

Até ao ingresso na Universidade, num curso de Economia, estudei em 2 Centros Dominicanos Portugueses, durante 7 anos, entre os 11 e os 18 anos, sendo que um deles chamava-se "Seminário" de Aldeia-Nova/Olival/Ourém e o outro chamava-se "Convento Dominicano" de Fátima. Em ambos estudávamos conforme os programas liceais em vigor, de resto sendo avaliados periodicamente no Liceu Nacional de Leiria. Tínhamos aulas todos os dias e, em todos os anos havia um ou dois professores que eram melhores que os outros. Além disso, quem não trabalhasse a sério tinha os dias contados. Eu próprio, que até era um dos melhores alunos, fui um dia salvo da exclusão através de uma reunião pedida ao Director por toda a minha turma. Não se esquece coisas destas. Quem não for capaz de invejar amigos destes, mal sabe que terrenos pisa.

Aquela vida, em regime de internato, bem alimentado e bem dormido, era, pois, bastante exigente em termos escolares, desportivos, culturais e sociais, também mantendo-se o contacto regular com a família de sangue, junto da qual, de resto, passava 4 meses de férias por ano. À minha família, este bem custava 150 escudos por mês, algo como 60 a 100 euros mensais em 2009. No meu tempo, à maior parte custava ainda menos, ou apenas nada, bem podendo dizer-se que era um verdadeiro Liceo dos Pobres e Remediados (lê-se "LiCéu") que nasceram longe das escolas públicas, como acontecia em quase todo o país na segunda metade da década de 60 e, com as devidas adaptações, na década anterior (há pouco tempo, o António da Purificação, que por lá passou 15 anos antes, disse que pagava 10 escudos por mês e teve de sair quando deixou de poder pagar essa importência, algo como 6 a 10 euros por mês em 2009 - se lerem os limiares de pobreza e miséria em muitos pontos do Mundo actual e contarem as respectiva cabeças e impactos, compreendem, sem miserabilismo, o que estou a dizer).

Havendo, embora, um mínimo de rituais religiosos, no meio de vários professores laicos, a sua quantidade não era superior à de vários colégios privados, bem caros nesse tempo, também podendo dizer-se que o seu melhor estava na existência de um tutor por aluno que, na verdade, era mais um pai/professor temporário e substituto que uma figura religiosa que, em geral, também era. Bem sabíamos que, quem não mantivesse, ou atingisse, determinado nível escolar, saía, como "desistente" ou "expulso". Do grupo de 40 que entrou em 1964, restavam 25, dois anos mais tarde, chegando 20 ao 5.º ano. Nesta data, sobraram 6 para os dois últimos anos (nesta data, uma parte das saídas já teve, sobretudo, uma assumida causa hormonal e não a estratégia escolar da liderança). No entanto, apesar de termos ficado lá até aos 18 anos, não chegámos a vestir o hábito profissional, nem a prestar votos de pobreza, obediência e castidade que, em gerações anteriores eram prestados em data precoce, 2/3 anos mais cedo, aos 14/15 anos. Sorte a nossa, na medida em que pudemos sair com a cabeça mais limpa que outros, em datas anteriores, ainda hoje ruminando e reflectindo sobre coisas que, normalmente, já deveriam estar resolvidas há muitos anos. Porém, que não se julgue ninguém. Fique claro que não pretendo roubar-lhes nada. Também só lhes empresto a minha escrita, que pretendo manter como um pouco maçadora e chegada à incomodidade, com o privilégio que sempre tive de pensar o que vou dizer, sem prejuízo dos 5 sentidos (6 em épocas de grande crise, porque são então muito necessários).

O Livro (Bíblia significa "vários livros" em grego clássico) tem, de ponta a ponta, letras para todos os gostos religiosos, agnósticos e respectivos conteúdos, a ponto de haver edições bastante diferentes umas das outras. A Igreja apropria-se do que sabe e lhe convém, sobretudo quando acciona os respectivos poderes de supervisão, no seu interior e exterior. Hoje, através das edições electrónicas deste maior "best-seller" de todos os tempos, isso vê-se de maneira mais económica, eficiente e eficaz que nunca, na medida em que a pesquisa por palavra-chave tornou obsoleto o sistema de versículos numerados. Há pouco até encontrei uma bastante sofisticada sob integração a preceito num sistema operativo da vanguarda tecnológica. Bem se vê que há quem não tenha mesmo nada mais para fazer. Será? - Não me parece, mas fico por aqui. Um Livro é um Livro. Este, na sua versão britânica, uniformizou a língua inglesa em todo o Mundo, um bem deixado pelos Protestantes e não por outros, parece.

A direcção, o sentido e a intensidade com que a Igreja produz interpretações costuma estar alinhada com o que lhe é permitido em cada época, sociedade, cultura e país ou, mais raramente, de acordo com simples lideranças inovadoras como foi a do papa João XXIII, o tal do Vaticano II, definitivamente em crise no decurso da presente pesquisa papal de académicos em todo o Mundo, com vista a reaproximar o Vaticano dos altos comandos que lhe vão escapando por toda a parte, ainda que à custa da profunda devastação que vai espalhando através de infâmias sobre o preservativo masculino, a qualidade de vida de meninas de 10 anos e outras enormidades a quem o meu avô diria, com alguma conformidade e impotência: "vão para o diabo que os carregue".

A existência daquele papa João só foi possível em certa janela de oportunidade que nunca poderia estar aberta durante muito tempo. O seu sorriso contagiante dizia tudo sobre o desfrutar do momento, por si e por todos, ele que foi eleito quase por engano colectivo, depois de mais de 10 votações, sob grandes divergências no colégio eleitoral. Fotografia do papa João XXIII: http://2.bp.blogspot.com/_HnvLZ7YW7hs/SRFtyRFputI/AAAAAAAAAV8/iYeCG_aGkCw/s320/Papa.jpg

Ainda assim, o que lhe foi permitido não era tomado completamente a sério por se saber que, na sua avançada idade, já não teria muitos anos pela frente. Se não deixou raízes na hierarquia, alimentou, fora dela, um bom número de sonhos entre laicos, eclesiásticos e Ordens. Quem quiser abarcar, com rapidez e pouco esforço o que estou a dizer, leia ou veja na cara alguém conversador que tenha estado no activo, nesse tempo, no Vaticano ou até fora dele, devidamente alinhado com certos ventos de mudança na primeira metade da década de 60.

Na mesma época, Kennedy, Presidente dos EUA, orientava, ou aceitava, as reuniões dos seus consultores sob um método muito semelhante ao do Papa João XXIII, no concílio/congresso e fora dele. Tanto quanto sei, a experiência não voltou a ser repetida, em parte nenhuma ou, se o foi, não teve suficiente projecção pública para que pudesse ser teorizada, a ponto de se provar que poderia ser repetida.

Que método era esse, o de João e de Kennedy? Que coisa esquisita os anichou, durante alguns anos sob o mesmo abrigo metodológico? Quem se julga este escriba para fazer tais comparações? - Acertarão na resposta, porque cada um pode pensar o que quiser para si mesmo, ainda que não saiba, não queira ou não possa ir mais longe na análise ou em simples especulação baseada em recordações dispersas ao longo da vida.
Agora, não esqueçam.
Amanhã é um dia novo!

Anónimo disse...

Tenho a certeza que o nosso amigo Isidro (com todos os textos que está a publicar aquí no blog) se prepara para publicar as suas e nossas memórias em Aldeia Nova e Fátima! Força. Uma pequena precisão: O direito canónico só permitia a tomada de hábito com 15 anos completos. Foi por esse motivo que o Vitorino Vieira Dias, que entrou para Aldeia Nova antes de ter completado os 10 anos (muito precoce) não pôde tomar o hábito 5 anos depois com os colégas. Começou o noviciado à paisana e só se revestiu de alvura dois ou três meses mais tarde. Um abraço, Fernando.

Anónimo disse...

Fernando,

Obrigado por clarificares que não eram 14/15 anos, sendo exactamente 15 os então necessários.

Já agora, quando a data da alvura foi diferida para 2 anos mais tarde, houve apenas uma opção técnica dos Dominicanos do meu tempo ou também existiu alguma alteração do direito canónico em relação ao tempo do Ferraz, do Pacheco, do Abílio, do Paulo, do Mendes e demais anteriores a 1969/70?

O resto é simpatia tua para lembrares que tenho escrevinhado umas notas por aqui - o culpado pela minha persistência a provocar-vos é o Domingos Carvalhais que me indicou a existência deste blogue, desde logo dizendo que tinha sido lançado por "mais velhos que nós" e também "ex-dominicanos" (nessa data eu nem sequer pensara na posse real e jurídica dessa expressão efectiva).