segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"MORIENTE DIE"

Antero, era mais um, dos entre vinte e tal colegas que eu tinha, e que compunham a minha turma da 4ª classe. Vivia com suas tias, na Casa do Burgo, assim era conhecida e a poucas centenas de metros de casa de meus pais. Testa alta encimada por um corropio de cabelo hirto,de andar altivo e olhar sobranceiro. Sem nunca ter existido o mais pequeno motivo, ele sempre me tratava com distanciamento, por vezes até desprezo.Como fazia com qualquer outro colega, eu tentava ultrapassar a situação procurando a camaradagem o convívio. Com ele nada conseguia, a nega era repetitiva.
Na minha rua, que aliás era a mesma da nossa escola, eu visitava, eu conhecia as casas de todos e todas as colegas, onde passavamos, conviviamos e brincavamos aos fins-de-semana ou nas férias. Só ele nunca veio a minha casa, nem eu nunca fui á dele. Tomei uma atitude. Passei então a olhar, este filho de ninguém ( era como eu o sentia na altura, por nunca conhecer os pais), com indeferença. Era o único com quem não falei mais.Vinha eu um dia de regresso a casa, depois de ter passado a tarde em casa de meu avô. O tempo estava incerto e cinzento, algumas núvens e os aguaceiros eram frequentes e rápidos. Eis que em determinado momento, a poucos metros, na berma do outro lado da estrada e no mesmo sentido, seguia o Antero para casa de suas tias. Viu-me, não disse qualquer palavra nem fez qualquer aceno. De repente, mais um aguaceiro. Abro meu guarda-chuva, sigo o meu caminho. Rápidamente sinto uns passos de corrida atravessando a estrada na minha direcção. Era ele, com um sorriso amarelo e sem dizer palavra tentava se abrigar.
Não me regozijo da atitude que tomei naquela altura, mas digo, hoje fazia o mesmo. Não dava a outra face. Num instinto mecânico e de revolta, por tamanha hipocrisia e arrogância, desviei o meu guarda-chuva e continuei o meu caminho: só. Uma das suas tias, que o aguardava á porta viu. Talvez, melhor de certeza, que não gostou e ainda mais por desconhecer totalmente os antecedentes. O Antero, esse, a partir dessa altura nunca mais me olhou lá do alto, nunca mais me olhou com desprezo.
Baixava o olhar ou tentava passar à distância.
(in"memórias"-J.V.Ribeiro)

Não insistas em bater á porta
daqueles que nunca te querem falar.
( rivus )J.Vieira Ribeiro

9 comentários:

Zé Celestino disse...

Caros amigos,

Salvo o devido respeito por opinião contrária, considero que o bloge não deve ser um mural onde sejam apostas intervenções do tipo desta e, muito menos, quando fazem referência a factualidade longínqua, in casu, reportada a relações bilaterais do tempo da escola primária...

Como é da natureza humana e dos sãos princípios do contraditório, qualquer pessoa que se sinta atacada/desprestigiada tem o direito de se defender e de contraatacar...

É assim que se geram os conflitos inter pessoas,acabando, muitas vezes, em incompatibilidades insanáveis...

Mesmo Cristo, dizem as escrituras (?) que um dia chicoteou uns vendedores que faziam do Templo «feira da ladra»...

Tudo isto para concluir que repudio o recursso ao bloge para ataques pessoais...

Quero, contudo, dizer que conheço o Antero há mais de 30 anos, pois fomos colegas na Faculdade de Direito de Lisboa e convivemos muitas vezes,nomeadamente em encontros alargados de colegas de curso.

Quer no meio ambiente académico quer ao nível das relações pessoais o Antero é conhecido como um colega muito amável e amigo do seu amigo.

Tais qualidades grangearam-lhe, aliás, um leque de amigos muito amplo, entre os quais tenho o prazer de me encontrar.

Para o Antero vai, pois um forte abraço amigo e solidário.


Zé Celestino

Fernando disse...

Li este texto pensando que se tratava de um extrato de um romance e que o Antero citado nada não era o nosso Antero do blog. Como romance até achei engraçado e estava à espera de mais. Se a analise do Celestino se verifica,este texto que não contribui para criar laços, muito pelo contràrio,deve ser excluido do blog e com ele este meu comentàrio. Um abraço ao Américo se se sentiu visado. Fernando

nelson disse...

Quando me foi enviado este texto para publicação, li-o atentamente antes de o publicar. Faço isso com todos. Senti que o Antero de que fala o texto, é uma personagem ficcionada pelo seu autor, o J. Vieira Ribeiro, e nunca o meu vizinho Monteiro, natural de Chãos - Meda. Não partilho por isso da análise do meu bom e velho amigo Zé Celestino. Peço pois, ao J. Vieira Ribeiro que se explique.
Um abraço amigo
Nelson

Antero disse...

Amici:

Saúdo o autor, por ter quebrado a monotonia com um belo texto que nos pôs em campo de corpo e pensamento!
Posso garantir-vos que nada tem a ver com a minha pessoa. Antes pelo contrário.
É uma simples coincidência.
De resto o autor invoca tal texto como extracto das "Memórias".
Na verdade os Antero's são tão raros que tal coincidência é por natureza rara. Assim, por força da raridade, ainda mais difícil é encontrar um Antero com tão má catadura...
Mas a mim e ao J.V.Ribeiro - que não estou a visualizar em concreto ( gostava de saber donde é, e em que altura andou em Aldeia Nova)- nada nos separa, tudo certamente nos une, desde as recordações de Aldeia Nova aos nossos estimados e incontornáveis amigos de sempre e deste blog.
Assim, percebi agora mesmo, quando li pela primeira vez que li o texto, que nada nele foi motivado na minha pessoa.
Devo confessar que me sensibilizou a boa intenção e a solidariedade do nosso Amigo Celestino (pensando que fosse eu o visado, e dos Amigos Fernando e Nelson, tendo estes logo percebido o fundamento do texto).
Um dia, em breve (o tempo tem andado escasso), escreverei aqui umas coisas em que traçarei um perfil da minha aldeia... porque quero que os meus amigos me conheçam melhor.
Obrigado Celestino pelas tuas palavras.Também por isso e pela tua voluntariedade e acção, te admiro.
Um abraço para todos. Um abraço para o J.V.Ribeiro que nos acordou. Com amizade e a fraternidade de sempre.
Antero Monteiro

Jaime disse...

Também pensei que esta história, ainda que verídica, era, aqui, uma metáfora, uma espécie de filme com mensagem, como se dizia nos nossos tempos. Ainda que rejeite a mensagem que na história li que de algum modo vê arrogância e desprezo na nossa falta de participação no blogue, não me passou pela mente que este Antero fosse o nosso Antero. De qualquer forma teve o merecimento que o Antero assinala: fez-nos acordar para o blogue.
E aproveito para um abraço a todos.
Jaime

Anónimo disse...

Venho por este meio apresentar as minhas desculpas, se o texto enviado,está como dizem fora dos parâmetros deste blogue.Só por isso e nada mais.
1-Não foi minha intenção "magoar" ninguém.
2-Marias hà muitas, Anteros também.
Conheci um Antero colega do meu pai. Um Antero é meu primo;Outro Antero éra enteado de meu avô.O Antero que descrevo no texto é verídico, mas não é nenhum destes que acabo de referir.
3-Ao Antero de A. Nova, nem preciso de pedir desculpa, porque apesar de nem sequer o conhecer,ele sabe que esta situação não foi com ele e que nem sequer é de Lousada.
4-Celestino.É costume dizer-se "quem não se sente, não é filho de boa gente", mas neste caso eu emprego outro," a quem servir a carapuça..."
Já não te lembras das piadas sarcásticas que me mandavas, na presença do saudoso Horácio Peixoto.É pena teres falado por outros e antes do tempo.
5-Estou feliz.Havia um lago de águas paradas, estava já a criar fungos... a mosca do dengue já começava a germinar.Atirei apenas uma pequena pedra.As águas se agitaram, e para espanto meu, provocou mesmo ondas !!
6-Estive em A.Nova 60-65.
Até mais ver.
J.V.Ribeiro

Zé Celestino disse...

Caro J. V. Ribeiro,

Já li e reli todas as tuas intervenções/comentários do bloge.

Confesso que nos registos da minha boa memória, incluindo a visual, não consigo encontrar o Quim, o Joaquim,o Ambrósio, o Vieira ou o Ribeiro que se diz ser dos anos de 60/65 de Aldeia Nova.

Situando-me, porém, no tempo, direi que pode até acontecer nunca nos termos cruzado em Aldeia Nova.

É que 1960 foi o ano em que eu entrei no Noviciado... Agosto? Outubro?, depois das férias do Verão.

Faço referência a estas datas para, eventualmente, encontrar um Álibi e «defender a minha honra» às imputações que me fazes de te dirigir, nos tempos de Aldeia Nova, umas «piadas sarcásticas» na presença do nosso BOM amigo Horácio Peixoto.

Se tal aconteceu, desde já te peço sinceras desculpas, certo de que não o fiz com ânimo ofensivo.

Mas não estarás tu a referir-te a outro «Antero», que não a mim, José de São Pedro Celestino, que talvez até nem conheças pessoalmente?

É certo que cultivo relações francas, cordiais, sem reservas,frequentemente com aivos de brincadeira, porém, sempre com o máximo de respeito pelos outros e preocupação de não os magoar.

Foi, alás, esta a cultura que trouxe dos Dominicanos e pela qual, com sucesso, me tenho pautado ao longo da vida, grangeando, nos meios académicos e laborais por onde tenho passado, muitos e bons amigos.

A propósito, no próximo Domingo estarei no Porto e marquei já encontro com o Brízido, o Leopoldo, o Zé Espírito Santo, esperando que apareçam também o Quim Moreno e o Neves de Carvalho.

Se puderes, aparece no Hotel Tiara Park, pelas 19.00 H, pois teremos oportunidade de, em colectivo de antigos alunos dominicanos,conversar um pouco e beber um café e/ou jantar numa das muitas «habadias» que existem no Porto...

Se não puderes aparecer, vai continuando a dar notícias tuas no bloge.

Abraço


Zé Celestino

Anónimo disse...

Tem piada, como a descrição de determinados comportamentos infantis passados num certo ambiente rural, que eu interpretei como um conto, tivesse dado azo a uma certa efervescência na malta do Criar Laços.Da confusão instalada e já desfeita, tenho que fazer uma pequena correcção ao Zé Celestino:- é que entrámos no noviciado em Agosto de 1961, tendo saído de Aldeia Nova em Junho/Julho do mesmo ano.Eu também não me lembro do J. Vieira Ribeiro desse tempo, e pelos vistos, quando ele entrou em Aldeia Nova, entrámos nós para o quinto ano, e já dávamos assim um ar de "doutores" perante os mais novitos, atitude de que me lembro dos antecessores,mas era natural. Continua a escrever J.Vieira Ribeiro e vejam lá se não fazem mais confusões, pois o seu único mérito é espevitar o pessoal.
Um abraço
Neves de Carvalho

Antero disse...

Também não me recordo do J.V.Ribeiro, pois entrei em 1964 e saí em 1969.
No meu tempo havia poucos chapéus de chuva.
Mas, oh Ribeiro, pelo facto de teres muitos Anteros por perto, trata-os bem pois isso continua a ser raro...
Por exemplo, em Aldeia Nova não me lembro de mais nenhum além de mim.
Um abraço.

A.M.