sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

E ESTA?!...

Rezam as estatísticas de que vamos dispondo, que em Portugal há 38 mil jovens licenciados, desempregados. Não vos parece que a juventude a quem Vicente Jorge Silva um dia apelidou de "rasca", é hoje uma juventude "à rasca"?
Nelson

3 comentários:

Armando disse...

Mas sem a menor ponta de dúvida. Esta geração está feita num oito. O jovem actual acaba uma licenciatura e verifica que é insuficiente para ingressar no mundo do trabalho. Então tira uma pós-graduação e acaba por não conseguir um posto de trabalho. Parte para um mestrado, com tese e tudo, onde consome no mínimo dois anos. Apresenta-se ao universo laboral com estes créditos e consegue no máximo, mesmo na sua área das suas competências, um contrato de trabalho precário com um vencimento entre os 500 e os 700 euros. Olha para o recibo de vencimento e pensa: - Como posso suportar os encargos inerentes a uma casa? Agora, com 27 ou 28 anos já era altura de sair da casa paterna e ter uma vida autónoma. Terei que esperar por melhores dias. E quando vou conseguir constituir família?
Não está fácil.
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Nesta data, todas as gerações estão à "rasca", mesmo sem terem passado em Aldeia-Nova.

Fui educado a evitar a palavra "rasca" e não estava disposto a abandonar tudo o que sobre a mesma aprendi, porque não queria ouvir um sino igual ao de quase toda a gente. Não tenho boa vontade para as abordagens que pretendem, numa palavra popular, ou num título curto, facultar e emprestar ou vender soluções e interpretações tidas como geniais, mesmo quando são apenas ocultações cuidadas de outros aspectos menos inócuos, mas admito que, por vezes, não tive razão.

No que diz respeito a actividades científicas, técnicas e jornalísticas têm, por vezes, o cúmulo da simplicidade só ao alcance dos grandes investigadores que nos mostram, com muito trabalho, o que parece que já deveria ter sido criado e inovado, ou descoberto, há muitos anos. As próprias grandes teorias raramente são descritas em textos longos e a dimensão ficou nos respectivos papéis e trabalho, ainda que com a forma de romances.

Por acaso, ou talvez não, de certo jornalista, quando se encontrava na sua plenitude, ficou o dicionário prático da língua portuguesa enriquecido sobre a palavra "rasca", na medida em que a aplicou a uma geração inteira e não apenas a indivíduos, ainda que com alguma lisonja para as demais gerações que, nesta estrita perspectiva, não seriam tão "rasca" como a mostrada em traseiros adolescentes a uma Ministra. Blá-blá-blá.

Quem tem curiosidade na História do Quotidiano, já encontrou imputações de "rasca" em numerosas gerações dos últimos 3 000 anos, com o ponto comum de uma geração chamar "rasca" a outra, não sem sacudir um pouco de água do seu capote, mesmo que não fosse só para inspirar os defensivos da condução capaz de evitar todo e qualquer acidente.

Vamos lá a ver. 38 mil jovens licenciados, desempregados? - Ainda se fossem 38 000 licenciados, tínhamos um número grande, com 5 dígitos ... Quantos têm menos de 30 anos? Quantos têm mais de 40 anos? Aquele número foi apurado por um legislador tolo que só considera empregado quem tem contratos de duração indeterminada? Ou ainda omite o desemprego oculto, com diversas variantes?

Estou a partir do princípio de que a geração "rasca" tem, nesta data, 30 a 40 anos, nasceu entre 1968 e 1978, entre a Primavera Marcelista e a consolidação da Democracia, ou entre o Maio de 68 e qualquer coisa parecida com o que temos nesta data, o que nos leva a ver o nascimento das suas mamãs e papás nos 20 a 40 anos anteriores.

Entre 2 guerras mundiais e durante o conflito entre dois sistemas económicos tivemos a expansão da capacidade produtiva a um ponto tal que permitiu a existência de uma sociedade de consumo, do acentuar das desigualdades e, ainda assim, dar a quase todo o Mundo o que ainda só tinha sido miragem da elite iluminada das gerações anteriores, ainda que ficando para a história a enorme diferença entre igualdade (quantidade para todos) e equidade (distribuição segundo os méritos).

Os pais da “geração rasca” estiveram assoberbados com a guerra fria, a guerra colonial e a segunda edição do Maio de 68, à maneira portuguesa, no 25 de Abril, com cravos na ponta da espingarda e na lapela dos manifestantes, mal sabendo que importância emocional tinham para os filhos, pelo que não lhes davam ordens. Punham-se a jeito de as receber antes do tempo. Agora admiram-se que eles tenham mostrado as nádegas à Ministra mas não se admiram que ela não tenha aplicado uma palmada em cada uma, se é que não aplicou.

Estes pais que, em regra, tiveram um emprego "rasca" enquanto fizeram os seus estudos primários, preparatórios, secundários ou superiores, acreditaram que bastaria dar tudo para que os seus filhos estivessem longamente na escola, se possível até um doutoramento, mesmo que em farinha "Amparo", de terceira categoria, um Mestrado que esbatesse as falhas da licenciatura e sucessivamente a outros níveis. Tudo isto na parte do tempo em que estiveram em manifestações, greves e protestos, ou a sonhar no que quer que fosse o que, ainda assim, é um bem que parece faltar aos seus filhos.

Pagaram propinas em Universidades que de tal quase só tinham o nome e em colégios que pouco mais valiam que a instalação e uma disciplina pessoal a fingir que era melhor que as escolas públicas, também elas mais cheias que competentes. Entretanto, os filhinhos estudaram pouco, ou não aprenderam o suficiente e agora, aos 30/40 anos, só são grupais para ver quem bebe mais. Quanto ao prometido emprego com que suplantariam os pais e os avós, nem vê-lo, nem compreendê-lo enquanto desfrutam de cama, mesa e roupa lavada de progenitores generosos e exaustos, cuja capacidade para prever o futuro quase nunca se confirmou.

Na minha experiência, há "rascas" em todas as gerações mas não querem ver que, nesta dos 31/39 anos, o seu número me parece tão abundante que dou o benefício da dúvida ao seu divulgador? São os que não recebem ordens de ninguém. Não sabem nada. Não trabalham em equipa. Bebem de mais. Dormem fora de horas e têm "raiva" dos que têm "emprego". Se os deixarem, não tardará que quebrem a solidariedade entre gerações, não em abstracto, mas como os que abandonam velhos nos hospitais, para não dizer pior.

Não digo que estejam perdidos para sempre, mas convém que olhem também um pouco para si mesmos, não se limitem a ter pena de si próprios, a ponto de beberem mais, consumirem mais ansiolíticos e verem mais iguais a si mesmos, nem encontrem tantos inimigos imaginários. Não sei se é suficiente, nem se isso pode poupá-los ao desespero. Mas é com o intuito de os ajudar a evitá-lo que estou a fazer o presente débito.

Para muitos é bem difícil calcular de cabeça o que quer que seja e, quando dispõem uma calculadora, ou um computador, não sabem que fazer a uma simples percentagem, porque há muitas e bem diferentes umas das outras. Nesta base, como é que poderão ser capazes de pensar quando é que um calculador habilidoso está a ultrapassá-los com promessas, contra-promessas ou ficções?

Nesta data, todas as gerações estão à "rasca", apesar de uma ínfima parte ter passado em Aldeia-Nova.

Anónimo disse...

Além da juventude "à rasca", estão os pais enrascados. Em vez de terminarem a sua função com o empenho de patrocinarem formação profissional ou escolar aos filhos e depois deixá-los voar com as suas próprias asas, têm de subsidiar as suas dificuldades e quantas vezes sofrer com as suas frustradas expectativas.
Em vez de melhorar, estamos a partir para mais um ano dificil, em que haverá muita concorrência com pessoas mais experientes. Também desse ponto de vista se complica a vida dos mais novos.
Não esqueçamos que um português "à rasca" é quase sempre de seguida um português desenrascado. Acreditemos que funcione!
Preocupa-me essencialmente o facto, salientado pelo Alexandrino: mesmo com emprego e alta formação, auferem vencimentos de miséria que não suportam uma vida meridiana, casa,carro,custos mínimos, filhos...
Aqui se hipoteca também o nosso futuro de Nação.
Mas o emprego será cada vez mais escasso quanto mais evoluir a tecnologia. Nesta matéria o futuro é muito negro. O tema é profundo e interessante, mas tratando-se de um simples comentário, por aqui me fico.
Antero Monteiro