A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Ela ocorre quarenta dias antes da Páscoa sem contar os domingos ( que não são incluídos na Quaresma); ela ocorre quarenta e seis dias antes da Sexta-feira Santa contando os domingos. Seu posicionamento varia a cada ano, dependendo da data da Páscoa. A data pode variar do começo de fevereiro até a segunda semana de março.
O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo Testamento. As cinzas simbolizam dor, morte e penitência. Por exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas quando soube do decreto do Rei Asuer I (Xerxes, 485-464 antes de Cristo) da Pérsia que condenou à morte todos os judeus de seu império. (Est 4,1). Jó (cuja história foi escrita entre os anos VII e V antes de Cristo) mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6). Daniel (cerca de 550 antes de Cristo) ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: "Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza" (Dn 9,3). No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre cinzas (Jn 3,5-6). Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram a prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos compreendiam) de arrependimento.
O próprio Jesus fez referência ao uso das cinzas. A respeito daqueles povos que se recusavam a arrepender-se de seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Ele proferiu: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21)
Para enriquecer esta reflexão aqui vai a “marcha da quarta feira das cinzas” de Carlos Lyra e Venícios de Moraes.
“Hoje é quarta feira das cinzas, acabou nosso carnaval.
Ninguém ouve cantar canções, ninguém passa mais cantando feliz;
E nos corações, saudades e cinzas foi o que restou.
Pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê,
Que nem se sorri e se beija e se abraça e sai cantando, dançando, cantigas de amor!
E no entanto é preciso cantar... Mais que nunca é preciso cantar!
É preciso cantar e alegrar a cidade.
A tristeza que a gente tem, qualquer dia vai-se acabar.
Todos vão sorrir! Voltou a esperança!
E o povo que dança, contente da vida, feliz a cantar...
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar, que a gente nem sabe!
Quem me dera viver para ver e brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais.
Que marchas tão lindas e o povo cantando
Seu canto de paz... Seu canto de paz...
Aqui vai outro poema com cheiro a cinza e a consolação
Poema de fr. josé Augusto Mourão, op, in: Vazio Verde
Dia Cinzento
guiai-nos, Deus,
na viagem através do deserto
até ao lugar da tua crucifixão
e da tua Páscoa.
guiai-nos, Deus,
da via cinzenta dos nossos dias
à via gloriosa da tua cidade.
seja este o tempo favorável
para a confissão do pecado e do louvor,
nós que vivemos na fragilidade do corpo nómada
o imaginário do oásis
e os lugares de repouso.
guia-nos, Deus,
para a inquietação que permanentemente te nomeia,
Deus em Jesus Cristo e no Espírito consolados.
12 comentários:
Retiro tudo o que disse acerca do progressismo do Fernando. Pelas suas posiçõesn neste blog, levava-me a crer que está eivado de ideias do revolucionário Robespièrre e do irreverente e anti-Roma Voltaire. Mas este bonito texto sobre a quarta feira de cinzas diz-me que ele não apostatou de todo. Os outros dois textos também são muito belos. Falam da nossa fragilidade e dizem-nos que não somos daqui.
Parabéns, Fernando. Gosto de te ver de volta. Há mais alegria no céu por um pecador que se converte...
António da Purificação.
Será que tu, Purificação, não te andas a candidatar a uma beatificação em vida?...
No comentário anterior, "Armando" e "Ezequiel Vintém" são alterónimos? (sff não confundir com heterónimos)
Confesso que, apesar de doutas explicações de que algumas vezes terei usufruído, nunca percebi porque razão as festas "anuais" ou pelo menos celebradas todos os anos, como é o caso de
Páscoa;
Corpo de Deus;
Carnaval; etc..
calham sempre em dias diferentes...
Imagino-me a fazer anos em dias diferentes todos os anos...
Por certo a minha santa ignorância é demasiada ou a minha vertente racional e lógica, continua a prevalecer.
Por isso continuo a não conseguir programar o "computador" e a celebrar o que me indicam quando me indicam.
Espero que por muitos anos.
PS. Ó Isidro, podias deixar passar essa...seja alterónimo ou heterónimo.
Antero Monteiro
Fiquei de cara à banda. Nem por sonhos me atreveria a pensar que o algarvio Alexandrino tivesse a desfaçatez de se aboletar com o meu nome para assinar um comentário um pouco mais atrevido. Eu tenho as costas largas, mas um comentário daqueles, não me assenta. Qualquer um topava isso, mesmo sem lupa.
O que é mais espantoso, é esta artimanha ter saído dum rapazinho tão sossegado, tão certinho, fora as distracções que lhe são peculiares. Espero uma retratação ou a retirada de tão absurdo dislate.
Ezequiel Vintém
Vejo que já fio suprimido, sem cinzas, o comentário apresentado sob o duplo nome de Armando/Ezequiel Vintém e junta a contestação deste último, aparentemente acreditando que se tratou de provocação do primeiro. Como eles se dão bem...
Caros amigos,
Informa-vos que para dispor das informações que seguem e de tantas outras sobre as festas fixas e móveis basta ir : http://pt.wikipedia.org/wiki
O meu mérito está só em desejar saber, gostar de partilhar e ter tempo para procurar.
Como o próprio nome sugere, "festas fixas" são aquelas cujas datas de comemoração não variam, permanecem sempre imutáveis conforme estabelece o Calendário Romano Geral. São tipificadas por festa ou solenidade.
Falemos especialmente das festas moveis:
A data da Páscoa foi fixada no primeiro concílio de Nicéia, no ano de 325.
O calendário judeu é baseado na Lua, a Páscoa cristã passa a ser móvel no calendário cristão, assim como as demais datas referentes a Páscoa, tanto na Igreja Católica como nas Igrejas Protestantes e Igrejas Ortodoxas.
A Páscoa é um feriado móvel que serve de referência para outras datas. É calculado como sendo o primeiro domingo após a lua cheia seguinte à entrada do equinócio de outono no hemisfério sul ou o equinócio de primavera no hemisfério norte, podendo ocorrer entre 22 de março e 25 de abril.
As datas móveis que dependem da Páscoa são:
Terça-feira de Carnaval - quarenta e sete dias antes da Páscoa
Quaresma - Inicia na quarta-feira de cinzas e termina no domingo de Ramos (uma semana antes da Páscoa)
Domingo de Ramos - Celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. Domingo anterior à Páscoa.
Quarta - Feira Santa- Dia da Celebração do Encontro.
Quinta-Feira Santa - Dia em que se celebra a instituição da Eucaristia por Cristo. A quinta-feira anterior à Páscoa. Feriado nacional.
Sexta-feira Santa - Dia que relembra a morte de Cristo. Não há missas, somente uma ação litúrgica às 15:00 hs. A sexta feira anterior à Páscoa. Feriado nacional.
Sábado Santo - Sábado de Aleluia - Sábado da Solene Vigília Pascal - o sábado de véspera. Feriado nacional.
Ascensão do Senhor - o sexto domingo após a Páscoa.
Pentecostes (50 dias depois da Páscoa)- o sétimo domingo após a Páscoa.
Santíssma Trindade - o domingo após Pentecostes.
Corpus Christi ou Corpo de Deus - a quinta-feira imediatamente após o domingo da Santíssima Trindade.
Para calcular a terça-feira de Carnaval, basta subtrair 47 dias do domingo de Páscoa.Para calcular a quinta-feira de Corpus Christi, soma-se 60 dias ao domingo de Páscoa.
Datas do Domingo de Páscoa,
2008-2020
2008: 23 de Março
2009: 12 de Abril
2010: 4 de Abril
2011: 24 de Abril
2012: 8 de Abril
2013: 31 de Março
2014: 20 de Abril
2015: 5 de Abril
2016: 27 de Março
2017: 16 de Abril
2018: 1 de Abril
2019: 21 de Abril
2020: 12 de Abril
Um abraço para o Antero Monteiro(que sabe bem mais que o que deixa transparecer) e a todos os outros que tiverem pachorra para ler este comentàrio até ao fim, Fernando.
Obrigado Fernando, pelos teus esclarecimentos sobre as festas litúrgicas, sempre oportunos para todos e úteis para alguns dos nossos amigos que se mostram de ignorantes e que mais não são do que grandes fingidores do que (não) aprenderam no seminário...ou no liceu!...
Mas permite-me um acrescento : antigamente a festa da ascenção celebrava-se no 40º dia após a Páscoa (tantos quantos a quaresma).
Ainda hoje aqui na zona do Ribatejo, esse dia é feriado municipal em quase todos os concelhos e organizam-se excursões para ir apanhar a "Espiga". Quem não vai em excursão, vai até ao campo apanhá-la e até já se vende apanhada nas cidades. A "Espiga" é constituida por um ramo de que consta : espiga(s) de trigo (símbolo do pão), ramos de oliveira (paz), videira (alegria)e as seguintes flores : malmequer (ouro e prata,riqueza), papoila (amor e vida) e o alecrim (saúde e força) Na Beira Alta (pelo menos na minha terra) nesse dia ia-se às cearas colocarmuma cruz feita com os ramos do domingo dos ditos. Hoje em dia servem para queimar e fazer as cinzas da quarta-feira de cinzas do ano seguinte.
Um abraço, Toninho
Obrigado Toninho, aprendi umas coisas. Gosto destes simbolismos e destas tradiçõe que se perpetuam e contribuem para a comunicação entre todos. Não sabia que a videira simbolizava alegria... Esquecia-me do vinho! Não me admira que a papoila seja o simbolo do amor e da vida, sobretudo la para
Tràs-os-Montes...
Um abraço, Fernando.
Obrigado amigos.
Aprende-se sempre com quem sabe.
A vossa cultura é grande e a minha, assim, vai aumentando.
Essa da composição do ramo da "espiga" é interessante!
P.S. - Uma questão que nada tem a ver com o tema supra:
Alguém se lembra do Edmundo Gonçalves, João Gonçalves e, penso eu, ainda teriam outro irmão que teria passado por Aldeia Nova ou Fátima. Têm alguma coisa a ver com o Frei Fancolino Gonçalves?
Fernando, penso que eram da tua zona transmontana...
Um abraço para todos.
Antero Monteiro
Caro Antero,
O João Gonçalves é o irmão do Francolino de Corujas, Macedo de Cavaleiros, e está aquí em França, mas não sei em que cidade. Quando ele chegou a Aldeia Nova jà eu estava em Fátima, assim como o Francolino.Mal o conheci.
Para mais informações, vais ao blog, dia 1° de Dezembro, vez a foto e lez os comentários e a tua dúvida ficará esclarecida. Um abraço, Fernando.
Caro Fernando,
Obrigado pela ajuda. Então concluo que o Edmundo, do meu tempo,( era Delegado do Ministério Público em Loures e deve entretanto ter subido à Relaçao..)é irmão desses dois...
Quarta-feira já pergunto ao Frei Francolino e darei notícias.
Abraço.
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