terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Papa anula a excomunhão de bispos ultraconservadores de Lefebvre


Desde sábado dia 24 de Janeiro, todos ouvimos e lemos comentários sobre um certo decreto publicado pelo Vaticano. O Papa Bento XVI, anulou com este decreto, a excomunhão decretada em 1988 por João Paulo II contra os bispos ultraconservadores do movimento cat3lico fundado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre. O decreto que suprime a excomunhão para os quatro bispos ordenados por monsenhor Lefebvre, foi assinado em nome do Sumo Pontífice pelo cardeal Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos. A ordenação de quatro bispos por parte do próprio Lefebvre (falecido em 25 de março de 1991), desobedecendo à autoridade do Papa, está entre as razões que o levaram a criar outra Igreja, com o cisma (separação) da Igreja oficial em 1988, o primeiro desde 1870. Os bispos ordenados, excomungados e agora beneficiados são o suíço Bernard Fellay, sucessor de Lefebvre, o francês Bernard Tissier de Mallerais, o inglês Richard Williamson e o hispano-argentino Alfonso de Galaretta. Anular a excomunhão constitui um passo importante para a reconciliação com o movimento tradicionalista e dogmático, que tem 460 padres espalhados por quase 50 países e tem sua maior comunidade na América Latina, em particular na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e República Dominicana.Desde o início de seu pontificado em 2005, Bento XVI fez vários gestos de “abertura” em direção ao movimento católico fundado pelo arcebispo francês:
-07.07.2007 - Os católicos tradicionalistas adeptos do monsenhor Lefebvre saudaram nesta data "o restabelecimento em seus direitos" da missa em latim, mas afirmam que "ainda existem dificuldades" com o Vaticano e desejam ir mais longe...
"A Fraternidade São Pio X deseja que o clima favorável instaurado pelas novas disposições da Santa Sé torne possível – logo que seja retirado o decreto de excomunhão que ainda afeta muitos de seus bispos - abordar com maior serenidade os pontos doutrinais em litígio".
O papa Bento XVI decidiu autorizar a celebração da missa em latim, abandonada pela Igreja depois do Concílio Vaticano II, aos sacerdotes e aos fiéis que assim solicitarem, num decreto divulgado neste sábado pela Santa Sé. Os sacerdotes das paróquias deverão acolher "de bom grado" as solicitações dos fiéis, indica o decreto ('motu proprio'), que satisfaz assim uma antiga reivindicação das correntes tradicionalistas da Igreja Católica.
Em caso de rejeição por parte de um sacerdote da solicitação dos fiéis, "pede-se vivamente ao bispo que satisfaça seu desejo".
O decreto papal também reconhece a possibilidade desta celebração em latim para circunstâncias particulares, como casamentos, funerais ou peregrinações.
A liberação da Missa antiga, que nunca foi revogada, não foi fácil. O Papa Bento XVI teve que enfrentar uma fortíssima oposição do Episcopado e mesmo de muitos Cardeais, que vêem na liberação da Missa uma condenação indireta e simbólica do Concílio Vaticano II. Foi por causa dessa oposição que Bento XVI liberou a Missa de sempre por meio de um Motu Proprio, isto é, por meio de um acto legislativo, implicando exclusivamente o Papa, sem consulta, aprovação ou reprovação do episcopado. Desse modo, a liberação da Missa por meio de um Motu Proprio foi um acto que passou por cima da Colegialidade promulgada pelo Concílio.
Em junho de 2008, o Vaticano renunciou a exigir dos adeptos de Lefebvre, reunidos na Fraternidade de São Pio X, fundada em 1969 em Econe (Suíça) pelo monsenhor Lefebvre, o reconhecimento das disposições do Concílio Vaticano II, celebrado entre 1962 e 1965 e que modernizou a Igreja.

Não sei se estou furioso ou triste, mas certamente os dois... O Concílio Vaticano II, esta 20ª àrvore que trazia nela tantas promessas, começava a florir... Ainda não deu todos os frutos prometidos e esperados e... começam a cortar ramos, a meu ver de forma imponderada, mesmo aqueles em que os frutos estão a amadorecer... Onde estão os Teólogos do século XXI?!... Parece-me que estamos orfãos de quase todos os grandes teólogos do século XX, que foram muitos e muito bons e foram eles que fizeram Vaticano II. Perdão, Karl Barth, Congar, Chenu, Henri de Lubac, Edward Schillebeeckx, Hans Küng, e tantos outros...
Hoje, quando digo no credo “creio na Igreja una, santa, católica e apostólica” não me refiro a uma realidade existente que proclamo, e ainda menos a um dogma, mas a uma aspiração, a uma invocação para que assim advenha. Felizmente que Cristo e a sua Boa Nova continuam intactos, de uma grande actualidade, dando-nos força e entusiásmo para continuar...
Um fraternal abraço,
Fernando.

20 comentários:

Anónimo disse...

Olha Fernando, conservadorismos à parte, eu conheço alguns "reverendos" por quem o Vaticano II segundo passou de relance e que de novo só lhes trouxe as celebrações litúrgicas em português. Eu próprio sou paroquiano de um deles que, por já ser octogenário, vou tolerando. Às vezes, até me convenço que são imposições da doutrina de José Maria Escrivá, de quem é muito fiel e dedicado servo. E estes nunca foram excomungados.
Abraço
Nelson

Anónimo disse...

Não disponho de informação sobre este assunto para poder tecer opiniões acerca da decisão Papa e dos ministros da Igreja em geral. O que conheço destas matérias desde o princípio dos anos 60, chega-me pelos media, o que talvez não seja suficiente.
É lindo ver gestos de reconciliação e de acolhimento das ovelhas tresmalhadas. Fica bem ao representante de Cristo na terra. Só que, alertam os bispos franceses, “o ressentimento, o anti-semitismo e a antimodernidade não deixam que os seguidores de Lefebvre correspondam ao gesto generoso de Bento XVI”.
Não estão em causa apenas questões de índole doutrinal ou ritual, mas também de ordem social e cultural.
E eu é que sou o “extremista”.

Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

Declaração de interesses, com o intuito de

não enganar ninguém que não queira sê-lo. Até à entrada na Universidade estudei em Aldeia-Nova e Fátima, em que vivi, junto dos Dominicanos, alguns dos quais foram também meus professores de certas disciplinas liceais e da disciplina de Moral que também existia nas escolas estatais. Nos últimos 2 anos estudámos em conjunto com os estudantes alojados entre os Franciscanos, da Consolata e Monfortinhos. Nenhum de nós usava qualquer uniforme exterior ou interior, não estudávamos Teologia, nem nada específico destas Ordens. Isso ficava para o Noviciado (estágio recíproco) e anos seguintes, não tendo eu comparecido a um e outros. Ou seja, não tenho competências formais, nem substanciais, para escrever sobre a matéria aqui em questão. Sei que, por exemplo, o Fernando, oToninho e o Ferraz têm essas competências e também que não vão insultar-me por meter a foice em seara alheia. Quem só quiser recordações desses anos, deve passar já para a parte final do comentário.

Li, há alguns dias, um artigo que, em epígrafe, não confirmada no corpo do texto, chamava extremista ao personagem Ezequiel Vintém. Os ressabiados costumam utilizar este tipo de técnica mas não posso saber se é o caso, porque não sei de que se trata. Passei à frente mas lembrei-me disso a partir do comentário deste e do texto que o antecede, escrito pelo Fernando, sobre um tema que estudei um pouco, nas minhas horas livres, quando chegou a minha hora de escolher entre aceitar aquilo que me deram ou aquilo que eu queria, como quem vai decidir pedir a emancipação antes de atingir a maioridade civil que, nesse tempo, só chegava aos 21 anos.

A mudança das palavras, só por si, não muda a realidade subjacente. Sejas ou não extremista, Ezequiel Vintém, a tua escrita não o é. Mesmo que, por hipótese o seja, continua a mostrá-la. Se isso vier a ser importante, tentarei fazer um comentário capaz de pôr algumas pessoas a dizer que não disseram o que já escreveram, quando se envergonharem se saber que disseram o que não queriam dizer.

E tu, Fernando, se calhar também és extremista, uma vez que não comes tudo o que te dão. Vê-se bem que sonhaste com o Vaticano II. Ainda bem. Hoje, até muitos antigos economistas liberais puros, duros e nada católicos, ou seja, extremistas falhados, sonham com uma coisa desse tipo para o Mundo, a outros níveis, porque, no seu entender, II é melhor que I, tal como no filme de Adão e Eva.

O Vaticano é um Estado de Direito, ainda que de um Direito à sua medida, o Direito Canónico, e o Papa é o seu Presidente. Se um bispo ordenar outros sem autorização papal da Santa Sé está a praticar um acto ilícito, punível com excomunhão, como aconteceu com M. Lefebre, pela ordenação de outros 4 bispos. Porém, a ordenação existiu e, com ou sem excomunhão, respeita ao valor que cada um dos intervenientes lhe dá, como tal sendo inatacável de fora.

Levantando a excomunhão, o papa vem, num caso concreto, excluir o efeito da referida ilicitude. É como um Presidente que concede indultos e amnistias, ou os recusa. Também há sempre um cheirinho de polémica, mais ou menos injustificada, como quando cheiramos os perfumes divulgados pelo Ezequiel Vintém.

O Papa é um chefe e, como tal, pode praticar determinados actos. Ponto final. Parágrafo. Travessão. Mas a vida não é só Direito, ainda que canónico, pois não? Um dos 4 Cardeais ex-excomunhados é um especialista em silogismos ao contrário. Parece pensar que o extermínio praticado nos campos de concentração nazis é pouco importante, por existirem outros extermínios na história, porque não foi tão grande como se diz e, ele que se julga dono disto, ainda não tem provas dos eventos.

Nós por cá, experimentadíssimos em silogismos ao contrário, ainda não sabemos o suficiente para pôr a tralha no cesto. O Papa sabe e pode, mas não quer. É lá com ele e com outros. Sei, claramente sabido, e não só dos livros, que o extermínio existiu, quem o praticou e com que motivação. Além disso, eu falei, ou melhor, no que diz respeito ao assunto, apenas vi alguém que viu.

No ano lectivo de 1969/70, tive um professor com cerca de 80 Kg e 1,90 metros, sorriso inocente, português abrasileirado e espanholado a partir do seu polaco nativo, voz relativamente forte e autónoma, mas estranhamente monocórdica naquele meio, naquela escola e entre aquela boa gente, entre quem ele parecia estar à vontade, mas sempre a alguma distância que nós não entendíamos.

Descrevo, por mim e por outros, para tanto não consultados, que havia algo a merecer perguntas e entendimento racional neste homem, porque nós, com 16/17/18 anos, não olhávamos só para o nosso umbigo, nem nos contentávamos com os entes da razão que apareciam aos saltos no livro do Bonifácio. Um dia, combinámos perguntar-lhe directamente, numa aula, como é que ele tinha conseguido escapar de onde. A resposta foi ouvida com os olhos, como quando se ouve o silêncio da noite ou num ermo.

O professor ficou calado na posição em que se encontrava no momento da pergunta, com uma pequena alteração no facies, suficiente para nos dizer a resposta. Nunca mais lhe vimos nada de semelhante, no resto do ano, porque nunca mais voltámos ao assunto. Durante mais de um minuto, ninguém ouviu ninguém respirar, nem outro ruído e, francamente, não sei de todo o que é que aconteceu para que a aula acabasse por prosseguir. Apenas sei que, depois de ter recomeçado a falar, ele regressou ao seu tom de sempre, ainda que, de repente, um pouco cansado. Ele esteve a honrar os seus ex-pares e, sem dar qualquer ordem nesse sentido, construiu, num instante, ali mesmo, a equipa que o ouviu, nesse ruidoso silêncio do universo de palavras.

Provas do extermínio? Brincamos com as palavras?

P.S.
Do que fui cheirando sobre o assunto, ao longo dos anos, julgo saber que, à semelhança de muitos outros campos da política, inclusive no seu âmbito religioso, certos comportamentos não sobrevivem à morte dos seus mentores. Vaticano II para o futuro depois de ser esquecido um certo ex-Papa João? - Parece que a regra se mantém. Nem nada de diferente seria de esperar do presente Papa, cuja preparação política é muito mais forte que a da maior parte dos políticos não eclesiásticos.

Anónimo disse...

O modernismo foi condenado pelo santo pastor Leão Xiii. É consolador ver como ainda há papas que se deixam inspirar. A nossa santa religião cristã católica não treme perante a impiedade crescente. Os vinténs passam a moeda de ouro fica.
António da purificação

Anónimo disse...

Tal como aqui comprovei há não muito tempo, um pseudónimo notóriamente conhecido goza de protecção legal idêntica à do nome.

António da Purificação,

Compreendeu, ou precisa que lhe faça um desenho?

Anónimo disse...

Meus caros amigos,
Devo confessar que pouco ou nada percebo de concílios e das alterações veículadas pelos mesmos, nomeadamente pelo Vaticano II. Nunca estudei teologia. Apenas vou sabendo o que o vulgar cidadão, pouco atento e não muito praticante vai absorvendo.
Porém, dir-vos-ei que de tenra idade comecei a comer bacalhau com azeite e batatas. Depois fui descobrindo mil e uma maneiras de comer bacalhau,com natas, com broa, com espargos, assado e desfiado, escondido, à Zé do Pipo, aquele bacalhau que se come num restaurante na Penha em Guimarães,muitos outros, em muitos lugares, etc. etc. O último que descobri foi o bacalhau à Conde da Guarda... que não tem a minha preferência.
Mal comparado, a questão da missa em qualquer lingua ou em latim é um pouco a mesma coisa. A oposição à mudança e ao modernismo é uma tendência humana. Quem quer missa em latim que usufrua e partilhe tal gosto. Não se percebe? Pois, a maior parte das cantorias líricas, algumas divinais, não se percebem. Óperas com músicas esplendorosas e transcendentes, são imperceptíveis, e há quem as aprecie extasiado, por uma ou outra razão. Não me espanta nem me incomoda. Gosto do que gosto, identifico-me com umas coisas e não com outras. Que os outros tenham o mesmo direito.
Estas coisas da excomunhão são para mim um pouco como o pai que renega o filho que se porta mal. São contra natura. A História, se bem me lembro, está cheia de excomunhões e até de revogações, quantas vezes por interesses nem sempre muito puristas.
Temos de partir sempre do princípio que, mesmo sem nos entendermos, o caminho da Humanidade faz-se com todos, os que concordam e os que discordam, certamente, uns e outros, pelas melhores razões e pelas mais inquebrantáveis convicções.
Assim, de um ponto de vista meramente leigo, não vejo mal nesta atitude do Papa.
Mas atenção, prossiga a caminhada e a liderança que a estrada é longa, as opções têm de ser tomadas - quantas vezes impostas - de acordo com aquilo que nos parece aqui e agora o rumo certo.
E, mal ou bem, quem faz o rumo no dia a dia é quem está ao comando da nau.

Antero Monteiro

Anónimo disse...

Caro Antero, caros amigos:
Estou de acordo com a tua análise mas não com a tua modéstia. Gostei da tua alegoria sobre o bacalhau que sublinha a tua adaptação a uma realidade evolutiva. É verdade que para mim, o “nec plus ultra” continua a ser o bacalhau cozido com batatas, um ovo também cozido, uma verdurinha (grelos de preferência) e tudo bem regado com azeite transmontano, se possível das minhas oliveiras. Absolutamente de acordo também com o teu desejo de diversidade e de respeito das ideias de cada um mesmo se forem diametralmente opostas às nossas. É também indispensável que o respeito pelas ideias dos outros não nos impeça de defender as nossas que evidentemente continuam a ter a nossa preferência...
Nos dominicanos sempre defendiamos a unidade contra a unicidade ou uniformidade: a uniformidade mata as diferenças, não aceita a diversidade, enquanto que a unidade as respeita o que é sempre enriquecedor. É por isso que a missa em latim não me pôe qualquer problema. O que se fez com o Vaticano II, foi abrir novas portas, alargar os horizontes... (fica para outra vez)
Mil vezes de acordo que um pai nunca deve renegar um filho, cometa ele os erros mais graves. Mas se o filho bate com a porta na cara do pai e abandona o lar, qual deve ser a atitude deste pai ofendido, mas sobretudo infeliz? Para mim deve abrir de novo a porta, dizer ao filho que a porta está aberta, e rezar para que ele volte. Assim fez o Pai com o filho pródigo, um dos mais belos textos da Biblia (Lucas 15; 11-32) ...
Estou de acordo que o Papa proceda como um pai e abra a casa a quem bate à porta. A condição é que quem quer entrar respeite aqueles que estão dentro, e que o convívio seja possível. O Pastor não teria ido buscar a ovelha perdida se não tivesse a certeza que as 99 estavam em segurança.
A verdade histórica é que o Arcebispo Lefebvre (falecido em 25 de março de 1991), desobedecendo à autoridade do Papa, ordenou quatro bispos, o suíço Bernard Fellay, sucessor de Lefebvre, o francês Bernard Tissier de Mallerais, o inglês Richard Williamson e o hispano-argentino Alfonso de Galaretta. Assim procedendo monseigneur Lefebvre provocava conscientemente o cisma (separação) da Igreja oficial em 1988, o primeiro desde 1870. Roma constatou ‘ipso facto’ que M. Lefebvre e os bispos por ele ordenados ou consagrados não estavam em comunhão com Roma, ex-comunhão, excomunhão, excomungados.
Estes quatro bispos não desejam voltar à comunhão com Roma, de modo especial Richard Williamson, que continua a defender as teses negacionistas da extrema direita, tanto antes como depois da anulação da excomunhão, pondo o Papa numa situação bem delicada com relação à grande maioria dos cristãos, aos Judeus e ao seu país de origem. Penso que se trata de uma estratégia da parte de R. Williamson para impedir um diálogo dos integristas com Roma. O Papa foi obrigado a fazer marcha atràs indicando claramente que para começar um dialogo, Williamson devia renunciar às suas teses (o que ele se recusa a fazer) e que os integristas deviam aceitar as conclusões do Vaticano II. Um pai deve guardar sempre os braços abertos para acolher, mas nada poderá fazer se o filho não quer ser acolhido.
Fernando

Anónimo disse...

Richard Williamson foi excomungado, porque conflituou com as ordens hierarquia, não porque mentiu.

Agora deixou de estar excomungado e, claro, pode continuar a mentir, porque não é disso que trata nenhuma excomunhão.

Se Richard Williamson estivesse a apresentar a negação do extermínio apenas como estratégia para qualquer coisa, ficaria, com certeza, desacreditado em poucos anos, apesar de os chineses acreditarem, com algum sucesso, que vale a pena continuar a disparar depois de esgotar o carregador de balas.

Acontece que ele não está sozinho na referida negação. Ela anda por aí, inclusive e principalmente entre quem nada têm a ver com a Igreja e os Católicos, em geral.

Desconheço se ele quer ser líder de um movimento desta natureza (o 11 de Setembro não é bem o que se diz, os nazis não foram assim tão maus, porque os russos não ficaram atrás e tudo isto são bandeiras, muito mais que matérias autónomas em que, no entanto, já estão questões bem precisas para identificar os proveitos que, por hipótese, se pretender retirar da mentira).

Quanto à comparação com o pai de família, era bonita e atractiva dentro do modelo de família patriarcal e patrimonial, em que a existência de filhos-pródigos e filhos-contribuintes fazia toda a diferença em relação à tendência actual para a formação de famílias de afinidade (não se confunda com desagregação da família).

P.S.
Diz o Fernando e nós aprendemos:

"...Nos dominicanos sempre defendíamos a unidade contra a unicidade ou uniformidade: a uniformidade mata as diferenças, não aceita a diversidade, enquanto que a unidade as respeita o que é sempre enriquecedor...."

Anónimo disse...

Caros amigos, Caro Fernando,

Surpreende-me a tua clareza de espírito, mesmo em assuntos desta complexidade.
Transcrevendo:
"não estavam em comunhão com Roma, ex-comunhão, excomunhão, excomungados".
De facto nunca ninguém me tinha explicado tão linearmente o que é a excomunhão.
De um modo geral concordo contigo.
Algumas questões que me sobram, muito por desconhecimento orgânico do Vaticano e do funcionamento da Igreja:
Quando me refiro a pai e filho, tem a ver com duas razões. A primeira é que a educação e comportamento dos filhos é sempre, em grande parte uma sequência ou mesmo consequência da educação e princípios dos pais. A segunda é que o pai por força da natureza, abre a porta e tenta explanar as razões e gerar a concórdia e voltar à harmonia e ao entendimento.
Porém a autoridade é em primeiro plano do pai, na casa deste.
Em termos empresariais o Presidente de uma empresa distribui pelouros, poderes, territórios e pede contas. Se as coisas não funcionam e se trata de um administrador que não pode afastar ( e é dificil o Papa, depois de nomeados, dispensar da fileira qualquer bispo...) retira-lhe as funções executivas, comparece apenas a actos especiais, como o conselho de administração mas as suas influências ficam limitadas e ensimesmadas (viradas para si próprio) e pouco mais.
É como um homem sadio que vira louco a partir de certo tempo, e há que limitar e controlar os seus estragos mas não podemos eliminá-lo.
É aqui que me falta o conhecimento e profundidade de análise para vislumbrar ouras soluções, porque à partida não conheço as coordenadas em que me posso/poderia mover:
Não pode o Papa retirar poder, território e representatividade ao Bispo que tem nas suas fileiras? Controlar e atenuar as suas asneiras ou quebras de consistência na malha da Igreja?
Pouco conheço dos outros bispos e dessa separação, suas circunstâncias, consequências e influências, mas no caso de Richard Williamson, que se comportou um pouco como louco ou desenraizado da realidade, entendo que deveria ser colocado o mais possível na "prateleira", tratado como família, mas defendido da sua própria loucura, assim se preservando a própria "família".
Devo confessar-me mais enriquecido com as breves reflexões que me alertaram para questões que, no essencial, me passavam ao lado.
Obrigado pelos esclarecimentos, sendo certo, pelo que percebi,que este tema é um mundo sem fundo.

PS.- Uma nota que me ocorreu no meio deste texto, embora a despropósito: amigo Fernando conheço-te através deste blog, com declarada origem transmontana. Leste por acaso "Vindima" romance do Miguel Torga? É um romance pequeno mas notável, em que o avô velho da família a coberto de que dizem já não regular bem, é o unico que consegue desancar o vilão dizendo-lhe tudo aquilo que os outros por falsa consideração não têm a coragem de lhe dizer.
Aqui fica como recomendação profana de leitura para todos.

Desculpem o alongamento de considerações...
Um abraço.
Antero Monteiro

Anónimo disse...

Caros amigos Isidro e Antero,
Gostei imenso de dialogar convosco sobre um tema complexoe em completa efervescência. Não é problema de vida ou de morte, mas o debate só está a começar. Quem quiser manter-se informado e aprofundar entra pelo GOOGLE escreve Richard Williamson e vai encontrar varias possibilidades uma delas é “Richard Williamson Wikipedia”
Terminas, caro Antero, com uma referência a Miguel Torga, um dos meus idolos. Foi o Pe Tomás Videira quem me falou dele pela primeira vez. Devo ter comprado nos inícios de 1960 os “Contos da montanha” livro pequenino e de papel bem ordinário mas que deu para eu ler várias vezes. Lí também a “vendima” romance bem realista que não deixava indiferente. Investiguei na inter neet e mando aquí algumas linhas interessantes de um comentário que encontrei num blog. Mando também outro texto, que diz respeito ao Miguel Torga, para ser publicado pelo nosso editor preferido.

Miguel Torga
-Os Contos da Montanha
-A Vindima

Ambos os livros nos remetem para o reino maravilhoso de Trás-os-Montes, terra de Deus e dos Deuses. A vindima coloca-nos no país rural, atrasado e classista. É bom conhecer os meandros do Doiro (o Doiro de Miguel Torga) e do vinho do Porto, das jornas intensivas, da organização do trabalho, das quintas que conhecemos só em postal (a Cavadinha que reconheci em passeio no mês de Setembro), da competição e jogos sujos entre os diversos interesses económicos, dos proprietários das cidades, do povo que só lá ia buscar uns tostões, da alegria desse povo, das aldeias hoje conhecidas turisticamente como vinhateiras –Galafura, Proverende, Celeirós, S. Martinho de Anta, etc. Conhecer esta geografia hoje remete-nos à história, a uma época em que tantos portugueses emigraram por fome de pão, num duro suborreco lá se foram em demanda do Brasil (sic). Algumas contruções apalaçadas, igrejas e capelas ao estilo barroco poderão ser encontradas nestas aldeias tão arrumadas do Doiro e que são obra de emigrantes da primeira levada para o Brasil. Apesar da nossa miséria, a Miguel Torga sente a pátria como uma iman, onde dificilmente se consegue viver longe. É este mundo rural que Torga escreve exemplarmente nos Contos da Montanha, um mundo telúrico onde o homem se funde com a natureza, da solidão da natureza, são os dramas vividos com uma graça que nos espanta e que nos faz venerar este povo. Percebo agora porque Torga não tenha qualquer paciência para aturar o homem pseudo-culto e que se tenha colocado à margem das homenagens e cerimónias do homem urbano.
KIVI

Anónimo disse...

O escritor Miguel Torga merece que eu continue a homenagem do Antero e do Fernando, através de uma nota biográfica (1.º parágrafo) e, sobretudo, com o modo como ele mesmo viu a sua "Vindima" na apresentação da respectiva tradução inglesa (2.º parágrafo).

Miguel Torga é o pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, nascido em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, em pleno Douro Vinhateiro. Faleceu em 17 de Janeiro de 1995 em Coimbra e é hoje considerado um dos mais conhecidos autores portugueses do século XX. Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne (1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993).

Vindima é o seu romance de 1945 onde denúncia a exploração do vindimador no Douro, como se pode ler no seu prefácio à tradução inglesa – “… Cingido à realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes, injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente está a mudar. Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, mas, enfim, em muitos aspectos, é sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas descem da Montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria.”

Anónimo disse...

A tradução mencionada no último parágrafo, mais acima, vem de
tovi.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Tendo feito uma brevíssima pesquisa segundo a sugestão do Fernando, deparei com um detalhe que vai dar que fazer ao Jaime, que aprendeu que o limbo foi teorizado por São Tomás de Aquino (eu escrevi algures, com menos certezas que ele, que foi Santo Agostinho).

Mas vamos então ao prometido.

Alguém fez a seguinte reflexão: uma vez que a Igreja nunca disse expressamente que um excomungado vai para o Inferno e, não parecendo que vá para o Céu, conclui-se que irá directamente para o Limbo, como as crianças por baptizar.

Eu não encontrei erros lógicos no raciocínio e só estou a divulgá-lo, porque o Papa só aplica a excomunhão nas sociedades em que espera obter benefícios políticos da medida.

No caso em apreço, a regra foi aplicada para levantar a excomunhão.

Por esta não estava eu à espera: excomungados no Limbo, eu que já mal me lembrava do que é.

Neste ponto, gostaria de conhecer a perspectiva do António da Purificação, do F.r. da Área Benta, do Ezequiel Vintém e ... do Francolino, pelo menos.

É que eu durmo muito bem para este lado, mas mantenho curiosidade intelectual pela matéria.

Anónimo disse...

Antes que os beatos que referiste te venham dizer que está tudo como dantes, informo-te que o limbo abriu falência. Sabes, nestes tempos conturbados em que é preciso racionar custos, não fazia sentido ter uma estrutura daquelas aberta sem clientes. Afinal, S. Agostinho estava errado porque não há pecado original na geração de bebés. Logo, os recém-nascidos que “vão para o céu” antes do baptismo, não vão para o limbo, mas para o céu, como a expressão popular já o afirmava.
Em 19 de Abril de 2008 o Papa Bento XVI decretou o fim do limbo.
Podes ler no endereço abaixo, uma explicação bem esquematizada sobre o assunto.
http://dn.sapo.pt/2007/05/12/opiniao/bento_aprovou_o_do_limbo.html

Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

Sem pretender que seja representativo do artigo que recomendaste, recolhi-lhe o seguinte extrato, muitíssimo brando em relação ao que encontrei na breve pesquisa adicional de outros:

"...Santo Agostinho não hesitou em deixar cair no inferno as crianças que morriam sem baptismo, entrando assim no Ocidente uma concepção bárbara de Deus. Como foi possível conceber um Deus que teria castigado a Humanidade inteira com o calvário todo da História e o inferno por causa de um único pecado de seres humanos ainda no dealbar da consciência? E como poderia aceitar-se a condenação eterna de crianças inocentes, a não ser que recebessem o baptismo?

O limbo apareceu na Idade Média para atenuar esta crueldade..."

Isto utilizando linguagem académica, porque, passando a uma linguagem menos esterereotipada, tudo fica ainda muito mais claro.

Anónimo disse...

Tentando responder ao desafio do Isidro:
Meu bom amigo: Parafraseando o frei Bento ( embora não partilhe das suas frequentes posiões esquerdistas ), da geografia do outro mundo, não sei grande coisa. Mas sei que o magistério da santa Igrja é infalível. O Limbo nunca foi um dogma, foi a tentativa de responder a um problema teológico.
Pronto, se o Papa diz que o limbo não existe, é porque ele não existe.
Quanto à excomunhão e contra o Vintém terei que afirmar que todo o excomungado vai para o inferno pois fora da Igreja não há salvação. E todo o excomungado foi posto fora da comunidade eclesial.


Fico a saber que o Fernando Vaz lia certos livros de Miguel Torga. Pois que admira que ele tivesse perdido a vocação?!

Costato também que em Fátima, onde não cheguei a estudar, os frades em vez de se preocuparem com a oração e com o estudo, equipavam-se para jogos de futebol. Olhai para a fotografia dos onze violinos. Quantos chegaram à ordem sacerdotal?
António da Purificação

Anónimo disse...

Tentando responder ao desafio do Isidro:
Meu bom amigo: Parafraseando o frei Bento ( embora não partilhe das suas frequentes posiões esquerdistas ), da geografia do outro mundo, não sei grande coisa. Mas sei que o magistério da santa Igrja é infalível. O Limbo nunca foi um dogma, foi a tentativa de responder a um problema teológico.
Pronto, se o Papa diz que o limbo não existe, é porque ele não existe.
Quanto à excomunhão e contra o Vintém terei que afirmar que todo o excomungado vai para o inferno pois fora da Igreja não há salvação. E todo o excomungado foi posto fora da comunidade eclesial.


Fico a saber que o Fernando Vaz lia certos livros de Miguel Torga. Pois que admira que ele tivesse perdido a vocação?!

Costato também que em Fátima, onde não cheguei a estudar, os frades em vez de se preocuparem com a oração e com o estudo, equipavam-se para jogos de futebol. Olhai para a fotografia dos onze violinos. Quantos chegaram à ordem sacerdotal?
António da Purificação

Anónimo disse...

Mau caro António Purificado
O que tu não sabes é que a rectaguarda não ficava desguarnecida nesses dias de futebol. Pois digo-te que a oração era assegurada por indefectíveis como o Fernando Vaz, o Francolino, o Ginja e tentos outros que rezavam a dobrar em substituição dos que se dedicavam a dar testemunho pelo desporto saudável. Porque uma mente sã, exige um corpo são, dizem. Estava tudo calculado. E havia gente para todos os munus, como mais adiante se verá.
Ezequiel Vintém (ex-frei Pancrácio)

Anónimo disse...

«...
Constato também que em Fátima, onde não cheguei a estudar, os frades em vez de se preocuparem com a oração e com o estudo, equipavam-se para jogos de futebol. Olhai para a fotografia dos onze violinos. Quantos chegaram à ordem sacerdotal?
António da Purificação

13 de Fevereiro de 2009 18:53
...»

Eles sabiam que o António da Purificação, cá por fora, fazia o sacrifício por eles, ... rezando muito e muitas vezes, ... como quem faz repetições da tabuada até à exaustão, embora sem o proveito deste último exercício que a "Escola de Matemática Moderna", por falta de memória, deprecou com os prejuizos à vista em Portugal e todo o Mundo que a teve, durante cerca 20 anos.

Tanto quanto vi, meio de fora, meio de dentro, os pré-dominicanos, os Dominicanos em formação, os semi-profissionais e os profissionais Dominicanos apostavam cada vez mais na qualidade, não na quantidade, ainda que tarde de mais, sem prejuizo de ter havido um ou outro beatão que não constituia perigo, a não ser que passasse a ter poder individual que o desproporcionasse - parece que isso aconteceu mais em Espanha que em Portugal e talvez seja por isso que um meu amigo e ex-colega ficou tão bloqueado quando lhe perguntei directamente porque é que não sobreviveu ao noviciado espanhol em que depositara tantas expectativas.

Segundo fonte não confirmada, um desses "exemplares" espanhóis ainda esteve durante um certo tempo a importunar com beatices e rudeza os bravos e imberbes rapazes de Aldeia-Nova no início da década de 70.

Anónimo disse...

Só agora me apercebi do sábio comentário do Isidro:
"gostaria de conhecer a perspectiva do António da Purificação, do F.r. da Área Benta, do Ezequiel Vintém e ... do Francolino, pelo menos".

Meu caro amigo, amici!

A minha ciência teológica nunca foi devidamente aprofundada. Embora a minha teoria seja seguramente diferente dos restantes citados, por ser actualizada diariamente, pela experiência de vida.
Assim, se atentarmos nos diários do Vaticano, verdadeiros ou imaginários, tomando conhecimento das páginas dos jornais, a conversa do Papa e seus assistentes próximos, deve ter subido de tom cada vez que se comentavam as aleivosias do Bispo Richard Williamson, até que, num belo dia, o Papa terá dito textualmente: mandem esse nosso destacado colaborador para a mãe que o pariu! Nascendo outra vez e com outras companhias há-de descobrir o caminho da verdade ou os Homens hão-de ter esquecido o passado negro do Reich e não será tão problemática a asneira grossa que vai espalhando!
Ao que, persignando-se duas vezes seguidas, respondeu o camareiro-mor "Gelásio": Mas isso não é possível! Tanto quanto sei já nem mãe terá! E se para Deus tudo é possível , para S.S. não é tanto assim. Logo que entregue a alma ao criador, vai direitinho para um inferno qualquer, particular, caso contrário ainda vai causar gáudio ao Diabo ter tão bons colaboradores!
Ora, face a tais pressupostos, e se a excomunhão lhe foi levantada também, já ele estaria há muito tempo no Inferno de Dante ou outro qualquer, muito distante.
Devo confessar que nunca percebi que Deus separasse os homens de tal maneira. Melhor seria manter as almas todas juntas no mesmo lugar, o céu, por exemplo. E bastaria atribuir regalias ou castigo conforme o merecimento de cada um: Quem falasse demais não ouvia salmos cantados, não comia o pudim do Abade de Priscos, não bebia Barca velha, e podia mesmo ter de se dedicar à limpeza das instalações.Isso sim seria grave e educativo!
Amigo Isidro, a minha teoria não está ainda completamente demonstrada mas para lá caminha. Aceitam-se seguidores!
Paz para o Céu e o Inferno.

PS.: SE o Frei Francolino se pronunciar um dia, como pessoa mais próxima de Deus e do Papa do que eu, acatarei as sua sábias explicações.
F.r. da Área Benta