terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O CRIADOR DE GAMBOZINOS

( Dedico este texto ao extremista Vintém e ao fantasmagórico Purificação)


O CRIADOR DE GAMBOZINOS


O Malaquias é muito esperto, mesmo muito esperto. Ele é, mais que tudo, um optimista. Quando todos os seus vizinhos, amigos e conhecidos, andam cabisbaixos, tristonhos e sem saber o que fazer da vida, o Malaquias sorri, assobia e alisa, satisfeito, a barriga. Diga-se que a barriga do Malaquias é a parte mais importante do seu ser, mais importante ainda que a cabeça de que ele às vezes se serve para pensar. Ele é homem de ver à distância.
Então não é que o Malaquias, nestes conturbados tempos, engendrou um projecto para sair por cima desta crise? Este fura-vidas, com a sua esperteza natural, projectou uma empresa de criação de gambozinos. Isso mesmo. Está tudo no papel e ele já solicitou apoio financeiro, desse que o governo disponibiliza para as pequenas e médias empresas. E o sonho do Malaquias vai certamente ser subsidiado pois ele tem dois compadres altamente colocados. Surgirá um grande empreendimento, voltado para todo o mercado nacional quiçá até envolvido na exportação. Será auto-suficiente no campo energético pois conta fazer dos dejectos dos animais uma fonte de produção de electricidade. Homem empreendedor, está voltado para as novas tecnologias e as energias renováveis não lhe passam ao lado. Como homem desenrascado e espertalhão tem tudo pensado. Melhor dizendo, tudo bem calculado, porque o Malaquias raramente pensa, ele calcula. É homem de medir, longamente, o salto… Paira, paira e só depois cai a pique sobre a situação. Tem uma certeza: será empresa modelar. Tudo está dependente do subsídio.
Aqui será o escritório, ali o armazém, além as diversas capoeiras de criação de gambozinos. Ah! Mas o Malaquias tem uma dúvida. Ele não sabe se os bichos são aves ou mamíferos, muito menos sabe se eles se dão em cativeiro. Não importa, a seu tempo tudo se há-de resolver. Mas é no átrio, ao ar livre, que o empresário põe todo o seu cuidado. O Malaquias já se vê ali, à entrada, sentado num confortável cadeirão, a dirigir, a dar ordens, sob a sombra frondosa de uma tília ainda a plantar e que em poucos anos há-de ser multissecular.
Assim venha depressa o subsídio que ele, Malaquias, há-de ser um exemplo de iniciativa e criatividade.

Eduardo Bento

12 comentários:

Anónimo disse...

Bravo! Bravíssimo!!!
Fico muito sensibilizado com a dedicatória, ainda por cima com texto de tal quilate. Permites no entanto que discorde da classificação de extremista, primeiro porque discordo do método de avaliação, segundo porque o meu sindicato exige se faça uma auto-avaliação. Ora a minha auto-avaliação considera-me o mais moderado inter pares.
Aliás num país de “brandos costumes”não há lugar a extremismos. Cá pratica-se o desenrascanço e o chico-espertismo tal como o Malaquias.
Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

O Livro de Malaquias é parte do Antigo Testamento. Por ser um livro pequeno, o seu autor foi considerado um profeta menor e, segundo parece, nem mereceu citação nos demais livros.

Assim sendo, não estará completamente mal o nome escolhido pelo Eduardo para o seu empresário subsidio-dependente das especiarias da Índia, do ouro do Brasil, dos escravos africanos, dos subsídios comunitários e outras subvenções destinadas a evitar falências, comprar automóveis e produzir gambozinos.

No meu imaginário, a dúvida ainda se colocava entre pássaros e peixes. O Eduardo situa-os entre aves e mamíferos. Não é importante, porque a escolha nunca é feita pelo ingénuo. Este vai caçar o que lhe prometeram.

Porém, o Malaquias do livro não é incauto. Ele propõe a realização de reformas antes da chegada do Messias, prevenindo que pode ser demasiado tarde esperar por Ele sem fazer nada.

Já estão a ver por que o consideraram um livro menor? - A matéria dele não era muito conveniente. Ele tentava indicar o caminho.

Anónimo disse...

Ora, meu amigo, não sei porque me designas de fantasmagórico. Penso que o que tu queres dizer é que o meu pensamento já se não usa, está fora de moda. Ainda há dias, em Sortelha onde sou catequista, fui interpelado, violentamente, pelo pai de um aluno por lhe ter ensinado um dos nossos santos dogmas: o da Ressureição da Carne.
Mas que hei-de fazer?! Este tempo é propício à heresia e a todas as formas de pecado, pecados peçonhentos que só podem dar muito consolo a Satanás. olhemos um jornal ou a televisão e tudo nos diz que chegou o tempo da incarnação do mal. Tudo aponta para a concupiscência e a licença carnal. As crianças recebem exemplos de retorcida lascívia e de libertinagem. Viscosidades da alma a que temos que resistir com muita coragem. Nós os melhores é que temos que dizer não.
António da Purificação

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Logo haverias de invocar o nome do profeta Malaquias que não açambarcou sequer tinta nem papiro para arrasoar tanto como os escribas concorrentes ( segundo diz um tal Isidro que costuma falar do que sabe...)!
Mal o Vintém expôs em verso luxurioso que vai meter torneira à pipa ( maugrado as enxadas...) logo chega dedicatória!
E com os princípios clarividentes arregimentados, bem pode o mesmo Vintém artesanar um subsidiosinho para a geada deste ano e para a falta dela no próximo!
E depois o pensamentosinho perverso com o negócio dos gambozinos... Apesar das inúmeras tentativas dos que chegavam de novo a Aldeia Nova, nunca se conseguiu apanhar nenhum! quanto mais fazer criação...Cáspite!
Paz ao mundo e aos subsidiodependentes que, se pudessem, levavam até a cera das velas e o vinho das galhetas.
P.S. - Será que a pipa se descobre com gps...?
F.r. da Área Benta

Anónimo disse...

Então, caro Eduardo Bento, esta crise seria assim tão artificial, virtual, ou imaginària que se possa resolver com uma criação de gambozinos?! Aqui vemos bem a tua veia poética em que até as tilias são multiseculares em poucos anos... Na minha terra, no Nordeste Transmontno, nunca medraram os gambozinos mas os cassapos parece que proliféram. Uma noite com outros ganapos là fui à caça dos cassapos. Um dos mais crédulos ficou na boca do acqueduto(tunelzito que passa por baixo da estrada) com um grande saco aberto à espera que eles entrassem, enquanto os outros, iamos encaminhà-los para a entrada do dito tunel. Pensàmos que, cinco minutos depois, o rapaz do saco compreenderia e como todos os outros iria dormir, mas não. Ficou là toda a noite à espera dos cassapos que afinal nunca chegaram pois não era a época deles. Boa caça, Fernando

Anónimo disse...

Escusas de estar já salivar, a fiar o dente e sintonizar o GPS, meu caro Área Benta (terá a ver com a zona onde não se pode carregar o guarda redes?) ou Areia Benta ( desculpa, mas muita areia para a minha camioneta), porque desta vez o convite foi para os citadinos. Também que diabo, eu não sou propriamente o Fernando Vaz que albergou no Verão passado, p’raí uns seis casais portugas, com mesa, cama e tudo à grande. Dizem que ainda gostava de ter recebido mais gente. Ah homem duma figa!!! Parece que em Royat – Clermont-Ferrand - França, ele é tão importante como o Papa em Roma.
O Eduardo que conhece o Malaquias é que podia ver se ele me arranjava um subsiodiozinho, que nós cá nas berças só sabemos granjear a terra.
Um vosso criado
Ezequiel Vintém

Anónimo disse...

Pelos vistos andas bem informado, Ezequiel Vintém. Na verdade gosto de receber os amigos. Considero como amigos e irãos todos os que passaram por Aldeia Nova e Fatima. Formàmos uma verdadeira familia.
Quanto à minha importância estàs muito aquèm da realidade. A ultima vez que estive em Roma, estando eu ao lado do Papa em frente da Basilica, ouviu-se na praça de São Pedro um clamor: "mas quem é aquele homem vestido de branco ao lado do Fernando Vaz?" està tudo dito, Fernando.

Anónimo disse...

Boa malha, Fernando.
Mas, voltando aos gambozinos daquelas paragens, as histórias são muito antigas, pelo menos tão antigas como os nossos amigos do tempo do Eduardo Bento. No meu tempo de mais velho andavam pouco assanhados e pertenciam a uma espécie em vias de extinção. Reinava a santa ingenuidade. Pelo contrário, no 1º ano, fomos umas vítimas desse delírio cinegético. Presumo até que esse homónimo do profeta menor terá saído um dia da escola de A. Nova e obteve nota máxima (14, claro) à disciplina de "gambozinologia", que não precisava de professor de fora: parece-me que o Padre Vicente era um dos catedráticos e tinha óptimos assistentes entre os alunos finalistas.
Eu nunca vi nenhum desses exemplares e não sei onde é que Lineu tinha o chapéu quando organizou a sua taxonomia, mas posso assegurar que o espécime, ou lá o que seja, reproduzia-se pelo menos uma vez por ano nesse ecossistema sui generis que correspondia pelo menos a toda a área da quinta do Seminário. Ouvi dizer que também em Fátima, nos montes entre os Valinhos e Lombo-de-égua, havia-os de boa qualidade, bem luzidios e que até apareciam muitas vezes nas aulas de Ontologia, quando se discutia Metafísica, sendo conhecidos, com eufemismo, por "entes de razão".
Bom esforço este do Malaquias. Não lhe faltarão sócios motivados nessa actividade.
Um abraço.

Anónimo disse...

A Gambozinologia seria uma ciência sem objecto, a não ser que se lhe fizesse uma adaptação arrojada dos "entes da razão" no sentido das ficções jurídicas que inspiram as ordens ditadas nos Palácios da Justiça. Se a ideia de criar tal disciplina tivesse êxito na invenção de Deus, já teríamos gambozinólogos tão encartados como os teólogos.

À semelhança de Agostinho, santo que inventou o Limbo para as crianças não baptizadas, teríamos também gambozinólogos a estudar a vida dos verdadeiros filhos de virgens, crucificados para salvação de outros, fingindo-se mortos durante algum tempo e ressuscitando ao terceiro dia.

Hoje, quando perguntassem a uma criança catequizada quem fez o mundo ela responderia que foram os gambozinos durante o dia de descanso (7.º dia).

Jaime disse...

Sempre pensei -e modestamente me orgulhei como dominicano- que tinha sido S. Tomás de
aquino, OP se não a inventar, pelo menos a teorizar o conceito/lugar/estado de limbo. Vem agora o Isidro a retirar-me essa convicção atribindo o feito a S. Agostinho.
Bom, não me provoca uma crise existencial. Afinal era dele a regra por que nos regíamos. Recordam-se: primum propter quod...
Ou também aqui estou equivocado.
Saudações.
Jaime