sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Uma frase de hoje
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Perfumes abençoados
As qualidades terapêuticas dos produtos começaram a ganhar fama e, em 1612, a farmácia foi aberta ao público. Em 1700, países como a Rússia, a Índia ou a China tornaram-se consumidores e, em 1866, a Officina Profumo-Farmaceutica tornou-se propriedade do Estado, que a cedeu ao sobrinho do último frade director da Officina.
(…)
Aqui, os aromas e as embalagens falam por si, por isso a loja tem um aspecto muito simples, branco, depurado. Pode-se mexer em tudo, cheirar tudo, experimentar e descobrir a versatilidade das linhas.
(…)
Há 40 perfumes, entre eles a clássica Acqua della Reina, feita propositadamente para Catarina de Medici (depois, o perfumista mudou-se para Colónia, na Alemanha, dando origem à famosa água de colónia), ou a Angels of Florence, dedicada a todos os que ajudaram nas cheias que inundaram Florença em 1966. Todos os aromas assentam em produtos naturais, e oscilam entre coisas tão variadas como o âmbar, madressilva, gardénia, rosa, sândalo, musgo, frésia, íris, lavanda, magnólia, violeta, patchouli ou verbena. Pelo meio, uma linha com especialidades gastronómicas: mel, compotas, chás, tisanas, misturas de ervas, chocolates, azeite, especiarias ou licores. Tudo biológico, para não destoar do resto.
Alguns dos rótulos que envolvem os produtos continuam a ser iguais aos originais, o que ajuda à originalidade da marca e àquele aspecto de botica antiga. E apesar de a produção ser cada vez mais automatizada, para poder responder a todos os pedidos, os membros da congregação continuam a estar muito envolvidos no processo.
(…)
Os postais de Natal, por exemplo, são feitos à mão por uma freira. A história e longevidade da marca, a preocupação ambiental (nenhum produto é testado em animais) e as propriedades dos produtos têm um preço.
(…)
Enquanto não puder ir a Florença ver a loja original, sedeada numa antiga igreja, passe por esta. Carolina Faúlha garante que quem vai a primeira vez, volta sempre. “As pessoas ficam fascinadas com o perfume”, diz. Nada como experimentar.”
Ezequiel Vintém
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
AVISO À NAVEGAÇÃO
O facto de ter tomado a iniciativa de transcrever para este espaço um texto do romance do nosso ex-colega João de Melo, acarreta a responsabilidade de adiantar alguns esclarecimentos, considerando que este veículo de comunicação está ao alcance de quem nos conhece e também dos que estão muito distantes da nossa realidade.
Não comungo da mesma visão negativa expressa em “Gente feliz com lágrimas” sobre o seminário de Aldeia Nova. Também não me venho justificar com receio do que quer que seja.
Naquele velho casarão, vivemos em condições precárias, sobretudo quando analisadas sob o prisma dos critérios actuais, mas não tenho a mínima referência a maus tratos. Reporto-me é claro ao que conheço, ou seja, a segunda metade da década de cinquenta do século XX. Tenho orgulho e sinto-me grato pela educação ali recebida.
No entanto, percorrendo este blog, sem censura e sem tabus, deparamos com alguns relatos de injustiça, expostos com toda a frontalidade, mas no cômputo geral vemos um ambiente de reconhecimento a muitos dos mestres que nos acompanharam.
“A invenção é indissociável do trabalho do ficcionista. Até porque, quem conta um conto aumenta um ponto, como diz a sabedoria popular. E o romancista nada mais é do que um contador de histórias onde se misturam, em grau variável, imaginação e realidade.”
“Ao abrir um romance, o leitor sabe que está entrando num mundo de fantasia, no qual o autor não tem obrigação de respeitar as regras da realidade.”
Assim, não lhe causa a menor estranheza um protagonista acordar, uma bela manhã, transformado em insecto ou escrever frases do tipo: “Despedidas de surpresa e no meio do silêncio, as bofetadas abriam clareiras de corpos derrubados que se espalhavam pelo chão das salas de estudo como corolas de animais abatidos.”
Convivi um ano com o tal reitor e nunca me apercebi que o seu desporto fosse fazer rolar corpos de alunos pelo chão ao impacto das suas bofetadas.
Cultivava-se em Aldeia Nova, já na altura, um espírito de grande abertura comparativamente a instituições idênticas. Incentivava-se o espírito crítico e os alunos eram postos ao corrente do que se passava no país e no mundo na medida das possibilidades de então. Recordo por exemplo o entusiasmo que se viveu com a campanha do General Humberto Delgado.
Este tipo de educação leva-nos precisamente a acolher todas as perspectivas sobre o nosso passado comum em plena liberdade e compreensão.
É sintomático que o nosso amigo Isidro da Silva Dias no texto anterior, traga à colação a obra de Virgílio Ferreira, “Manhã Submersa”, que debruçando-se sobre o mesmo tipo de estabelecimento de ensino, descreve uma vivência de autêntico suplício, com uma educação repressiva num espaço de aprisionamento.
“Manhã submersa” decorre num seminário da Beira Interior nos anos 20.
“Gente feliz com lágrimas” relata um seminário dos anos 60.
Transcrevendo palavras do Eduardo Bento: “Como não recordar esse tempo, recuperar esse lugar?! Foi aqui que, irmanados, no mesmo barco nos lançámos na aventura dos dias; foi aqui que nos fizemos, nos humanizámos e recebemos uma inapagável chama que para sempre ficou a acalentar as nossas vidas e é ainda essa chama que nos impulsiona pela encosta de um destino comum. Para sempre”.
A. Alexandrino
sábado, 24 de janeiro de 2009
Melo, João de: Gente Feliz com Lágrimas; Círculo dos Leitores, Outubro de 1989, páginas 23 a 27
A “Gente Feliz com Lágrimas”, de João de Melo, em 1989, é um presente que
recebi há muitos anos, na “Feira do Livro”, em Lisboa, por ter dito que conheci este
autor, então presente numa sessão de autógrafos, como o único a receber o primeiro
prémio literário dos “Jogos Florais” de um certo “internato gratuito e na província”,
em 1964/1965. Eu, que fui um dos seus sucessores locais, nunca viria a passar do
segundo prémio, porque, após a sua partida, o primeiro não foi atribuído em 4 anos
seguidos - mais ninguém se aproximou o suficiente do seu nível literário.
Feita a minha própria revisão das recordações, a que também não faltaria a “Manhã
Submersa”, de Virgílio Ferreira, resolvi e esqueci o tema até ter lido:
· Excerto de "Gente Feliz com Lágrimas" de João de Melo (22 de Janeiro de 2009)
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com/2009/01/excerto-de-gente-feliz-com-lgrimas-de.html
· João de Melo - Escritor - um dos nossos (12 de Janeiro de 2009)
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com/2009/01/joo-de-melo-escritor-um-dos-nossos.html
· Turma de 1965-1969, Aldeia Nova - Antero Monteiro (25 de Outubro de 2008)
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.com/2008/10/turma-de-1965-1969-aldeia-nova-antero.html
Entrei no “Liceo de Aldeia-Nova” em 1964/65, como um privilegiado que fez a longa
viagem acompanhado por um irmão mais velho que igualmente me apresentou o meu
futuro “defensor”, “Elias”, durante os primeiros 2 anos. Ainda assim, alguém disse:
“És tão pequeno?” – “Os homens não se medem aos palmos”, respondi eu com
alguma sorte, não inferior à de ter assistido, na nossa “Academia” à sublime
representação, pelos mais velhos, de “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de
Melo, outro “João de Melo”, este do Brasil.
Quanto aos palmos, bem vi quantos já tinham os 6 finalistas desse ano – o “Paulo”
tinha o número maior, tanto quanto o do “Director”, mas o citado autor também já
estava bem crescido.
Cabe aqui recordar que, à entrada, o tamanho era importante para “avaliar”a futura condição atlética na equipa de futebol local.
Na escrita e na vida, o “Pacheco” já o tinha precedido. Obrigado pela lição.
Lisboa, em 23/Jan/2009
(a) Isidro da Silva Dias isidrosdias@gmail.com
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
FR. GIL - PARABÉNS!...
Parabens!
Hoje completa 73 anos o fr. Gil (Manuel ) da Conceição Filipe. Sobrinho de outro famoso e conhecido o.p., o padre fr. Gil . Entrou em A. Nova em 1946, juntamente com o fr. João Domingos, o fr. Bernardo, o Videira da Guarda e outros, a que se juntou o fr.Miguel em 1951, a que se seguiu o noviciado em Sintra (?) Após 52, o estudo da filosofia e da teologia em Fátima. Ordenado em 1959, exerceu o ministério em várias casas da província, tendo-lhe tocado a vez de experimentar o ambiente castrense, em África.
Aluno e frade discreto, mas possuidor de uma grande riqueza humana e sempre disposto para tudo e bem disposto, notabilizou-se em A.Nova pelos raides que fazia em direcção à baliza do lado do seminário, pela ponta esquerda, ladeando e fintando o carvalho que na altura aí se erguia, meio corcunda. Gostava também de defender a baliza para ir buscar a bola por cima ou por baixo das laranjeiras.
Participou no último encontro em Fátima e encontrava-se em Angola.
Parabéns, fr. Gil. Ergo a taça e bebo à tua saúde ad multos. Um abraço.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
EXCERTO DE "GENTE FELIZ COM LÁGRIMAS" DE JOÃO DE MELO
“Esta é a altura, este é o momento.” - Sócrates, José, dixit.
Ocupado que está com as funções de adido cultural na Embaixada de Portugal em Madrid e na provável elaboração de mais uma obra literária, o João de Melo não responde ao repto de nos fazer companhia neste blogue. Quiçá responderá, já tendes matéria publicada sobre as minhas recordações de Aldeia Nova. O publicado é do domínio público, por isso não achamos abusiva a publicação de excertos da sua obra. É claro que qualquer semelhança com o velho casarão de Aldeia Nova é pura coincidência, já que não está registado que por lá tenha passado um menino de nome Nuno Miguel.
“Estaremos em 1960, quando o próprio autor — nascido em 1949 em Achadinha, na ilha de São Miguel — deixa os Açores para prosseguir estudos no Seminário dos Dominicanos? É possível, há mais indícios autobiográficos (senão mesmo pegadas)”
Esta dúvida para nós será académica, pois sabemos a que casarão se refere, a que dormitório se acolheu, a que reitor faz referência.
A. Alexandrino
“Nuno Miguel sentiu-se levado ao contrário: o seu espírito saiu das horas diurnas de Lisboa para a noite pesada da província. Atravessou o país na diagonal, em companhia de dois homens sorridentes que durante três horas se esforçaram em vão por entender o seu discurso açoriano. No decorrer dessa noite infinita, ou de todas as que se lhe seguiram, fizeram-lhe dezenas de perguntas inúteis, e ele esforçou-se sempre por a elas responder dum modo claro, martelando bem as sílabas e escolhendo, por simples intuição, o seu melhor vocabulário. Ao mesmo tempo, preocupou-se em evitar o emprego dos sons ossudos, decidindo-se por imitar a pronúncia redonda e as frases proferidas pelos seus interlocutores.
Quando chegaram à aldeia e ele avistou ao longe um casarão iluminado na noite sem estrelas desse tempo, percorreu-o um indefinido terror. A casa era afinal um túmulo em ponto grande. A noite que a rodeava dificilmente deixava de parecer-se com a seda de que são feitos os véus dos defuntos. Apeou-se da furgoneta e teve de ser amparado pelos ombros, porque cambaleava nas trevas. Sono, fadiga e desânimo vinham juntar-se à sua timidez e apô-lo ao ridículo e ao riso dos outros. Daí a pouco, vieram recebê-lo dois padres acinzentados no sorriso que trajavam túnicas cor de pérola. As cabecinhas de pássaro, rapadas à navalha na altura da nuca, tornaram-se irrequietas, lá ao cimo do escapulário e do capuz descaído sobre os ombros. O mundo estava todo do avesso, porque Nuno sempre vira os padres vestidos de negro. Pensava que só essa cor aplicava a importância e a mortalha mundana de todos os padres, o seu tristonho olhar de corvos e até a pequena santidade dos seus ritos.
Também eles se inclinaram para ele e apuraram o ouvido, pedindo-lhe que repetisse e falasse mais alto, a fim de o perceberem. Compreendeu que começavam a acusá-lo de ter chegado com dois meses de atraso. A acusá-lo da sua linguagem, do malote de ripas que o pai fizera e cuja pega de alumínio se partira, e a acusá-lo da primeira e única solidão que os meninos herdaram de mamã. Já com a bagagem arrumada debaixo da cama que lhe havia sido reservada ao canto do dormitório, disseram-lhe para descer. O reitor esperava-o cá em baixo, ao fundo de dois lanços de escadas. Viu-o de pé, entre os bustos dos santos perfilados nas suas peanhas, e receou estar sendo levado à presença dum colosso. Disseram-lhe que devia beijar-lhe a mão, flectir simbolicamente os joelhos, baixar a cabeça e dizer-lhe boa noite. Além da lisura dos tecidos e das polpas de carne que a almofadavam por dentro, impressionou-o logo o tamanho excessivo daquela mão. Ao olhar lá muito para cima, na esperança de lhe ver o rosto, avistou apenas as narinas dum homem ainda jovem, mas da altura do tecto. Os braços findavam nuns ombros grossos e tão salientes como asas de anjo. Mais tarde, quando se tomou vítima daquela força, Nuno havia de pensar que existia uma harmonia perfeita entre a estatura do homem e o poder quase divino da voz, dos passos pesados e da justiça canónica do reitor. Os mesmos braços que fortemente o estreitavam contra si e quase o tomaram em peso seriam afinal os que vezes sem conta, ao longo de anos, o educariam ao bofetão. Despedidas de surpresa e no meio do silêncio, as bofetadas abriam clareiras de corpos derrubados que se espalhavam pelo chão das salas de estudo como corolas de animais abatidos. Força, violência e exaustão, além do castigo de ir rezar durante as horas do recreio, educaram-no para o respeito e para o ódio. Contudo, sempre que dera por si a voar e a cair das cadeiras sob o impulso daquelas mãos, limitara-se a invocar o santo nome de Deus, sabendo que o fazia repetidamente em vão.
No refeitório, uma onda de entusiasmo recebeu-o de mesa em mesa, ao ser apresentado a todos como «o açoriano». Assim que o reitor bateu as palmas, e o prefeito, secundando-o com ar servil, exigiu silêncio, sua reverência deu as boas-vindas ao candidato, deplorou os seus dois meses de atraso nos estudos e pediu a todos a caridade de o ajudarem na Matemática e no Latim. Estava finalmente entre os muitos que Deus chamara e os poucos por Ele escolhidos – com um prato de carne assada e esparguete na frente, os ossos moídos pela fadiga e um sino de pranto na alma. Sem olhar os rostos que o rodeavam e começavam a inclinar-se para si, viu os rostos. Recebeu nos seus o peso de todos aqueles olhos. Aos primeiros interrogatórios respondeu que se chamava Nuno Botelho, ia fazer onze anos e tinha seis irmãos nos Açores. Educadamente, pediram-lhe que fizesse o favor de repetir. E como ficassem a olhar uns para os outros e a franzir os lábios e a encolher os ombros, sempre educadamente, teve a lucidez triste de pensar que talvez fossem cidadãos dum país em tudo diferente do seu. O mesmo no nome e na religião, sem dúvida. Porém, quanto ao nome, ao verbo e à origem dos seus santos, um país sem mar nem barcos e já muito distante da sua infância.
Após o recreio nocturno, seguiu a multidão dos seminaristas até à capela. Embrulhado no tropel dos passos que martelavam os sobrados e depois fizeram ranger as bancadas do templo, não pudera ainda aperceber-se de que ali as horas haviam sido subtraídas aos relógios. O tempo era a sineta de bronze, as filas intermináveis, o culto do silêncio, a proibição religiosa da alegria. Serviu-se dum manual de orações para seguir as rezas que a maioria aprendera já a reproduzir de cor. Compreendeu apenas que o Sono dos Justos, ao qual o salmo aludia, estava já clamando no deserto, dentro de si. A fadiga do corpo turvava-lhe o espírito, esvaziando-o de todas as emoções. Depois, já com as luzes do dormitório apagadas, desejou poder dissolver-se nas trevas e extinguir-se na noite enigmática do futuro. O som de esporas dos colchões, o sussurro dos vizinhos de cama e o chiar de murganho dos sapatos do prefeito perturbavam definitivamente o silêncio interior e esse desejo de sono e dissolução. Sabia que ia precisar de dormir muitas horas seguidas para conseguir superar o tumulto do mar e dos barcos, o qual perdurava dentro de si como uma surdez que lhe envolvia não um mas todos os sentidos. Não lhe fora dito ainda que, no outro dia e em quantos deviam seguir-se-lhe, viria sempre um prefeito às seis da manhã acordá-lo. Ele bateria as palmas ao longo daquele corredor de camas, os seminaristas pôr-se-iam religiosamente de pé, benzendo-se estremunhadamente, e a sua voz fria e madrugadora diria dum modo imperativo, difícil de reproduzir:
– Benedicamus domino!
– Deo gratias!
Quando estava quase a dissolver-se nesse sono sem princípio nem fim, do qual vieram a turvar-se todos os anos, recomeçaram a girar-lhe dentro da cabeça as turbinas dos barcos, o zumbido do motor da furgoneta atravessando a noite provinciana e também as vozes daqueles que, perto de si, continuavam a chamá-lo baixinho. Atormentava-os uma curiosidade minuciosa, feita de segredo e clausura, por mais esse naufrágio. Só que aquele náufrago, assim inquirido e misterioso, viera mesmo do mar e só ele trazia consigo a notícia dum passado açoriano.
Aterrorizou-o um pouco a ideia de ficar ali, abandonado à presença de tantos estranhos. De dormir entre gente vinda de todas as terras do seu país, falando a mesma língua, mas gente que não entendera ainda uma única das suas frases e jamais entenderia uma ideia, uma palavra que fosse de cada uma das suas frases...
Para não ter de continuar a responder-lhes e a não ser compreendido, decidiu agarrar na almofada e comprimi-la à volta dos ouvidos. A sua vida ia assim mergulhar num subterrâneo sem fundo nem altura. Nunca mais ele voltaria a ser igual a si mesmo. Então, abriu muito os olhos. Queria conhecer e ao mesmo tempo despedir-se, decifrar e compreender as formas que se modelavam no escuro do dormitório. Amá-las com ódio e odiá-las com amor, talvez. Vendo-as, não estranhou o arrepio e por isso voltou a cerrar os olhos com força. Surpreendeu-o então o facto de o rosto da mãe se ter iluminado, como numa aparição. Havia uma auréola de santa, ou tão-só uma estrela que parecia palpitar no coração da noite. Levado por tal ilusão, tentou sorrir-lhe. Contudo o sorriso dela era também feito de sombra. Não pôde resistir às sombras. Um sorriso assim doía mais do que a dor de estar vivo. Valia talvez um pranto ou um riso convulso. Ao sentir a boca torcer-se e fazer apelo a esse pranto, Nuno procurou suster toda a emoção dentro de si. Prometeu que não ia nunca chorar sobre as lágrimas e sobre a terra da infância. E que ia ser feliz.”
© João de Melo, Gente Feliz com Lágrimas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1989.
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
CONVÍVIO COM O «GRUPO DO NORTE»
O nosso e meu particular amigo Leopoldo informou da sua impossibilidade de aparecer, uma vez que se encontrava convalescente de uma intervenção cirúrgica a um pé partido na sequência de uma queda...
Aquele «trio» brindou-me com um mimado programa a que só faltou o tocar de bandas à minha chegada ao Aeroporto...
Cerca das 17.00 H, o Neves de Carvalho foi-me buscar ao hotel, partindo ambos para um passeio para os lados da Foz, onde nos encontramos com o Brízido.
Durante cerca de duas horas falamos, essencialmente, dos tempos e peripécias de Aldeia Nova....
Imaginai os temas e pormenores das nossas conversa....
Quem nos observasse, diria que estavam ali três tontos que «riam a bandeiras despregadas»...
Dali partimos para o Convento dos Dominicanos onde nos aguardavam os Frs Pedro, Bernardo Domingues e Jerónimo Carneiro.
Entretanto, chagara o José Espírito Santo.
Do programa constava um juntar alargado, com a participação dos ex OP,s Moreno, Neves, Brízido, Espírito Santo, Celestino e os Frs. Pedro, João Leite, Miguel, Jerónimo Carneiro e Bernardo Domingues.
Devido a « afazeres profissionais urgentes e inadiáveis»,os Frs. João Leite e Miguel não puderam participar da reunião gastronómica... Estão, porém, já agendados para apróxima...
O Jantar realizou-se, pois, com o colectivo que aparece na foto e que ficará no blogue « ad perpetuam rei memoriam».
Foram para mim momentos de muita alegria e até de alguma emoção os vividos no dia 12 com o Grupo do Norte, ao qual agradeço as muitas atenções dispensadas...
Espero poder corresponder a tão grandes manifestações de simpatia e amizade...
Penso que terão decorrido mais de 40 anos desde o meu último encontro com os Frs João Leite e Jerónimo Carneiro...
Ambos matêm vivo o ideal de Dominicanos...
Por razões que não sei bem explicar os convívios com a «malta» de Aldeia Nova e/ou de Fátima reforçam sempre em mim os sentimentos de fraternidade e de uma perspectiva da vida com práticas mais justas e de reforço das amizades.
Teria, naturalmente, razão Vinicius de Moraes ao dizer « eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos».
Aquele abraço a todos.
Zé Celestino
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
JOÃO DE MELO - ESCRITOR - Um dos nossos
João Manuel de Melo Pacheco, natural dos Açores, mais conhecido por JOÃO DE MELO, foi também aluno de Aldeia Nova (e não sei se de Fátima).
Muitos dos nossos colegas com intervenção neste blog serão do tempo de João de Melo, uma vez que ele frequentava o quarto ou quinto ano quando eu entrei em 1965.
Estarão certamente lembrados dele como um dos poucos açorianos que ao tempo frequentavam Aldeia Nova. Apenas me lembro, além dele, do José Maria, mais velho que a maioria de nós, que se destacava pela sua estatura e pela sua qualidade de guarda redes.
Não quero aqui contar a história da passagem por Aldeia Nova de JOÃO DE MELO, uma vez que o próprio o poderá fazer, se assim o entender, com a sabedoria, propriedade e legitimidade que eu não tenho.
Quero sim alertar para o facto de ser figura pública e reconhecido escritor, que acompanho ao longo de muitos anos, pessoal e profissionalmente, como amigo.
Para informação dos que entraram antes ou depois da passagem dele e que por tal motivo não o conhecem como um dos nossos aqui deixo esta referência.
Facilmente poderão obter informação, mesmo na Internet (bastará inserir o seu nome no google).
Enquanto escritor, reconhecido, premiado e mesmo condecorado, tem já uma obra vasta e notável de que destaco :
O MEU MUNDO NÃO É DESTE REINO (1983) romance
AUTÓPSIA DE UM MAR DE RUÍNAS (1984) romance
ENTRE PÁSSARO E ANJO (1987) contos
OS ANOS DA GUERRA – Antologia (2 vols.)
GENTE FELIZ COM LÁGRIMAS (1988) romance
BEM-AVENTURANÇAS (1992) contos
DICIONÁRIO DE PAIXÕES (1994) crónicas
O HOMEM SUSPENSO romance
AÇORES, O SEGREDO DAS ILHAS (2000) viagens
AS COISAS DA ALMA (2003) contos
O MAR DE MADRID (2005) romance
O VINHO - Ilustração de Paula Rego – (2007)
A sua obra encontra-se editada pela D. Quixote, penso que na totalidade, embora também tenha publicado no Circulo de Leitores e na Assírio & Alvim. Está editado em diversas línguas e países.
Tendo cumprido serviço militar em Angola, alguns dos seus livros abordam o tema da guerra (de que destaco, nesta área, e recomendo “Autópsia de um Mar de Ruínas” e a Antologia- lembrei-me deste livro – Autópsia - quando vi no blog os versos recentemente colocados sobre o tema da guerra e da morte).
Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, depois de uma longa carreira no ensino, é há vários anos Conselheiro Cultural de Embaixada de Portugal em Madrid.
Para os mais atentos não será novidade, mas espero contribuir deste modo para enriquecer a informação do nosso blog e espero também que ele próprio, apesar da sua falta de tempo, possa ter aqui intervenção se assim o desejar.
Um abraço para todos e especialmente para o João de Melo, que espero que oportunamente apareça por aqui.
Lisboa, 2009.01.12
Antero Monteiro
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
O ZÉ
A manhã vai rósea
presa em degredos
marcados de ardósia
em verdes negros
que os céus pintaram
de cacimbo baixo,
Já todos se levantaram
mas de ânimo em baixo.
Como Zunis, zumbis
deslizam pelo quartel
como zumbis, zunis
como o vento em papel,
mãos inertes nos bolsos
de cabeças derrubadas
como se não tivessem ossos
suas mentes perturbadas.
Olhos sem direcção
sombrios como a manhã
sem conter a emoção
de corações em lágrimas
sem saberem o amanhã
de vidas em anagramas
sem sentido, vida vã.
Os pássaros silenciosos
quietos nas seringueiras,
muito estranhos, preguiçosos
e pousados nas mangueiras,
sem fome, e mais além
uma preguiça nas asas
que ali só os retém
prisioneiros em gaiolas.
Chega ao quartel um ruído
que acentua o silêncio negro
um ruído de pilão cozido
que os prende ao degredo
daquele ritmo lento.
Presos já não no segredo
da doce brisa ou do vento
mas de doble triste a finados
com que foram enganados.
Ah quanta melancolia
quanta, quanta ilusão
aquela alma vazia,
que sinto inútil e fria
em cada um, seu ser, coração!
Há luto no coração
muito negro, cor de breu
morreu quem lutou em vão,
hoje ele, amanhã eu!..
Há luto muito pesado
numa dor que se quebrou
num corpo armadilhado,
o Zé, o Zé, o Zé finou!..
O Zé Domingos morreu
aos gritos sem voz contida
porquê ele, e não eu?
Gritava com força a vida!..
cadáver da vontade feita,
mito real, sonho a sentir,
vida interrompida, eleita
para o destino de partir.
O cadáver do Zé Domingos,
está ali, está lá,
na capela improvisada,
á sorte abandonado,
em lençol embrulhado
que logo manchou de sangue,
em caixão improvisado,
entregue a si e ao mundo,
por não ter caixão de chumbo.
Ali ficou, pesadelo permanente,
aflição de náusea e vómito,
a todos perturbava a mente
espontâneos e indómitos.
Amavam-no sem reticências,
lembravam seu semblante,
sua alegria ambulante,
suas anedotas frescas,
contadas em barítono perfeito,
com o seu modo e seu jeito,
preenchidas de pormenores,
imaginativas, hilariantes,
que enchiam os instantes.
Era amigo.
Amigo a tem inteiro,
entre muitos o primeiro,
daqueles que a guerra gera,
a sorte, e o fado alimenta,
que se agarram como a era,
que resistia à tormenta,
a nossa vida tempera
com o bem, sem nenhum mal
sabendo temperar sem sal!..
O Zé estava ali, estava lá,
estava ali a sangrar,
dia eternidade, a inchar
negro, negro a entardecer
perdido já em não ser!..
Nervosos sem orações,
apenas lamentações,
à mistura com transmissões,
mensagem codificada
a pássaro que não voava,
cada um por si olhava
o céu, não para rezar,
pedir um anjo, ou pedir bênção,
antes um helicóptero
que traga outro caixão
de chumbo para o Zé, sem ceptro.
Era doloroso tê-lo ali a inchar,
já morto, em decomposição,
seu corpo a minar
pelo calor que era Verão.
Era pequeno o caixão,
tentaram quebrar-lhe as pernas
e dar corpo ao caixão,
para que ali coubesse,
em corpo que se enobrece
mas o Zé, apesar do seu cheiro
só a morte o apodrece,
protestou, exigiu ficar inteiro.
Era um morto tão nobre,
tão grande, tão grande,
tão grande era o pobre,
que não cabia na bitola,
miserável de seu país,
que caixão lhe dava por esmola,
país, que não Pátria,
que o tirara da terra
e o empurrara para a guerra.
Cabia-lhe agora o direito,
de o ter talhado à medida,
talhado bem a seu jeito
se a vida estava perdida!..
A vida estava perdida?
Estou louco ou a sonhar?
Sono de ser, ser remédio,
estou louco a delirar!..
Leve mágoa, breve tédio,
vestígios do que já foi,
não sei se pára se fluí;
se evoco com dor tua Vida,
sei que existe mas dói.
Meu Deus porquê?
Para quê esta força traída!..
E a noite se fez dia,
em tempo noite de breu
que só África, África tem
enfeitada a seu jeito
no sangue que corre do peito.
O helicóptero já não vem.
Fez-se silêncio de morte,
e a noite negra de breu
apesar de bem juntinhos,
remetidos ao avesso,
cada um está sozinho,
sem palavras, adereço,
ruminando a solidão,
a morte, talvez, a caminho,
sem dó, sem compaixão.
Mãe estás-me a ouvir?
Não posso morrer sem ti,
eu quero partir, fugir,
eu quero sair daqui.
João com o aerograma,
sobre a tampa do caixote,
delirava, sonhava, sonhava,
que escrevia o seu drama,
dando de todos o mote,
em forma de telegrama.
A vontade toda de fugir,
desfeita a última ilusão,
de gritar, de não mentir,
o valor da pátria razão
de quem o roubou da terra
e sem dó, nem compaixão,
o enviou para a guerra.
O cadáver do amigo Zé,
ali ao lado, ali ao pé,
era suprema acusação
dum povo, duma nação:
que soldado morto não é “herói”
para os políticos é empecilho,
que se tenta enfardar
no primeiro caixão vazio,
no caixão que se achar,
como qualquer andarilho.
Mãe, não quero morrer aqui,
esventrado por granada,
naquela emboscada ali,
num assalto à mão armada,
numa mina –anti- carro,
numa arma armadilhada,
em bailarina abraçado,
na cama do abrigo,
mãe, quero morrer contigo.
Mas não. O João mentia:
mãe, por estas “bandas”
há saúde, paz e alegria,
as águas são cristalinas,
há pássaros e poesia.
Não há guerra, não há minas,
situação normalizada,
terra de paz e amada.
Quem morre é por desastre,
por desastre ou por tolice,
se os conselhos não ouvisse.
Somos todos bem tratados,
e melhor alimentados.
Mandou visitas, saudades,
pensamentos bem pensados,
os cumprimentos da praxe,
a todos disse amar,
em escrita epistolar!..
Como o Zé, sentia-se a morrer
na mentira verdadeira,
sentia-se a apodrecer,
na alma prisioneira,
na alma a inundação,
em prece de aflição,
que Deus nos cubra de bênção,
nas horas de aflição,
nas horas que sobram
de guerra, dor, solidão.
O tempo não desconta, chora,
o tempo não sussurra, grita,
o tempo não tarda demora,
nada dele resta e fica.
Hoje, décadas do tempo não fala,
fez-se pêndulos silenciosos,
que rói, rói, mas não cala
a corpos vazios incensos.
Se décadas depois, nada esquecido,
nada compreendes, nada persegues
ao trazeres por ilusão teu ser contigo,
nada és, nada podes, nada consegues!..
Jazes morto.
Morto, ponto final.
Teu nome morreu contigo.
E nós, há décadas emboscados
em sequelas entrincheirados,
pela dor do stress minados
nossas vidas são recados.
Recados a quem de direito
de quem se dispôs a morrer
deste ou daquele jeito
e que morre hoje a sofrer!..
Abílio Rocha
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
"VEMOS, OUVIMOS E LEMOS, NÃO PODEMOS IGNORAR..." - uma reflexão oferecida pelo Alexandrino, que a administração do blog entendeu partilhar com todos.
ALZARITH TOMBADA NA RUA (Baptista-Bastos Escritor e jornalista) b.bastos@netcabo.pt
Aqui, a morte não consente metáforas. A miúda está estendida na rua, um fio de sangue saiu da nuca e secou no pó da rua, a rua traça um diâmetro com a eternidade. Chamava-se Alzarith, tinha seis anos, e corria - sabe-se lá para onde? Mas corria, penso, atribuindo à modesta ideia a substância improvisada das coisas. Os miúdos são feitos para correr e transportar no riso a felicidade dos adultos. Os miúdos não nascem para sujeitos destas fotografias, marcadas pela recôndita obscenidade da morte. Podemos, talvez, reconstituir, mentalmente, o silêncio de depois do tiro fatal. A rua está deserta. Volátil, o pó atribui à cena uma densidade inesperadamente bela, comovente e humilde. Alzarith, os cabelos longos de Alzarith parecem uma estrela no chão; os braços de Alzarith estão abertos, crucificados num espanto sem palavras, num assombro sem piedade; e uma das pernas ergue-se levemente. Jaz. A fotografia não é o mudo instante de uma tragédia. É o absoluto da infâmia. É a insuportável humilhação aplicada pela morte. Sem tecto, entre ruínas. Lembro Raul Brandão, pelo desamparo exposto no corpo caído numa rua de prédios cavernosos, fieiras de cavos olhos desorbitados. Nem vivalma - e a rua é longa e larga. Pressente-se o silêncio e a desolação. A quem pertence esta Alzarith, cujo nome o repórter fotográfico apôs na legenda, tirando-o do árabe antigo e cujo ambíguo significado poderá ser: a que ninguém conhece. Mal aplicado o nome: alguém deverá, certamente, conhecer a menina caída na rua. Serão vivos, ainda, os pais? Terá irmãos e irmãs? Quem a chora? Quem a procura? Quem por ela desespera? Houve um homem desavisado, e certamente em dia de cólera, que descarregou, em duas frases cruéis e cegas, o secreto desassossego que o perseguia: "Todos somos culpados. Ninguém é inocente." Alzarith é culpada de quê? De ter nascido num mundo concentracionário, de ser cativa de uma época da qual tudo ignoramos ou tudo desejamos ignorar? A fotografia evoca a perda de sentido e, também, a teatralização com que a morte se ornamenta, sem arrependimento nem pesar. O conceito de crime (penso agora, examinando, detidamente, a imagem e o que ela oculta) adquire, aqui, uma envergadura difícil de interpretar. A comparência do horror, ei-la, como urgência universal da memória e da auto-acusação. Multiplicam-se as declarações piedosas. As metáforas do arrependimento, da confissão e das desculpas passam a outra escala. E Alzarith está estendida na rua, tornando-se numa outra banalidade da aversão e do ódio. Na gíria, foi reduzida a um bom "boneco", tema de primeira página de jornal ou de capa de revista. Inventaram-lhe um nome. Porém, será sempre ela, a menina morta numa poeirenta rua de Gaza.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
" Na sequência das reflexões do Eduardo Bento, o Antero Monteiro enviou-me estes pensamentos que aqui deixou para reflexão"...
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu, ainda no início do século XX :
Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Depois de Maiakovski…
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...
Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas.
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...
Cláudio Humberto, em 09 FEV 2007
O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.
Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio : porque a palavra, há muito se tornou inútil…
- até quando?...
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
"OS PROFESSORES GANHAM SEMPRE"
-“Sabes porque é que tu não ganhas, avô? Porque eu sou a professora e os professores ganham sempre. Mas deixa lá avô. Eu vou-te ensinar, que é para tu também ganhares.”
Então eu ouço atentamente as explicações da minha neta Vitória.
E de seguida ela exclama radiante. ”Vês avô, agora ganhamos os dois.”
A. Alexandrino