segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

" Na sequência das reflexões do Eduardo Bento, o Antero Monteiro enviou-me estes pensamentos que aqui deixou para reflexão"...

Maiakovski
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu, ainda no início do século XX :


Na primeira noite, eles se aproximam

e colhem uma flor de nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,

pisam as flores, matam nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra

sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,

e, conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.


Depois de Maiakovski…


Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)


Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram

meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não me incomodei .

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar...
Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas.


Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,

Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;

Depois fecharam ruas, onde não moro;

Fecharam então o portão da favela, que não habito;

Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...

Cláudio Humberto, em 09 FEV 2007



O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.
Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio : porque a palavra, há muito se tornou inútil…

- até quando?...

2 comentários:

Anónimo disse...

Como se diz na Beira: Bem haja o Nelson pela tarefa técnica dificil e indispensável para que a expressão destes notáveis pensadores aqui chegasse!

Estes pensamentos lembram-nos sempre que a solidariedade e a nossa tomada de posição no tempo adequado será sempre importante.
Por outro lado tenho de dizer que não me identifico com a conclusão um tanto politizada que os acompanhava. Só os versos e a grandeza dos pensamentos expressos motivaram o interesse em partilhá-los com todos os amigos do blog.
Antero Monteiro

Anónimo disse...

Sempre considerei que o Blog não é somente um lugar de encontro de nostalgias. É, mas não só. Por isso considero de grande oportunidade tudo o que contribua para debater ideias, temas que nos preocupam. Estamos no mundo e somos cidadãos,isto é, na expressão de Aristóteles, políticos. Por isso aplaudo a iniciativa do Antero. No Blob há lugar para a saudade, o debate, o sentimento, a poesia... até para os excessos de um Vintém e de um Purificação. Mas temo que o Antero ao não se identificar "com a conclusão um tanto politizada" esteja a cair no mesmo erro daqueles que olhando para o lado verificavam que todos já tinham sido levados e que agora seria a sua vez.
Eduardo Bento