terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MEMÓRIAS À VOLTA DE UMA FOTO OU ENGROSSANDO OS LAÇOS QUE CRIÁMOS.


Obrigado ao Toninho por ter desencantado esta foto. Recordo-me. Fomos para uma visita de estudo com quintanistas de Aldeia Nova. Tenho momentos bem claros de pormenores da viagem e lapsos de memória relativamente a boa parte dela. Um dos que me recordo foi deste que a fotografia se encarrega de avivar. Uma grande névoa sobre todo o resto do percurso, até à volta, perto de Vila Franca de Xira onde a carrinha começou a falhar. Teve tempo de chegar à oficina. E o diagnóstico, rude, definitivo: motor gripado. O que implica que não anda mais até adequada reparação. Novo lapso: não faço ideia como viemos parar a Aldeia Nova. Só me recordo de voltar a buscá-la, uma semana depois. Não levava dinheiro. Porquê? (lapso). No entanto autorizaram-me o levantamento do material. Era nos tempos em que palavra de frade valia. Mandei cheque depois, fazendo jus à confiança. No regresso, já noite, por alturas do Cartaxo, um pouco antes, a Volkswagen voltou a emburrar. Consegui sair da estrada para debaixo de umas árvores e fiz algumas tentativas para levar o combustível ao carburador. Nada. Resolvi então ir à procura de uma pensão para passar a noite, sem êxito. Voltei e dormi na ampla carrinha (para que precisava, afinal, de mais) coberto por uma saca e só no outro dia percebi que dormira num acampamento de ciganos quando acordei rodeado deles, curiosos. Mais do que curiosos, exigentes. Queriam alguma coisa em paga da sua honestidade: “bem vê, podíamos tê-lo assaltado”. Não assaltaram. E também nada levaram porque um teso não tem nada para assaltar nem para dar. Milagre! Consegui, ao primeiro movimento de chave, uma resposta positiva do motor o que me pôs a salvo da constrangedora situação.
Prosseguindo a viagem dei boleia a um agente da PSP, devidamente fardado. Sublinho o pormenor porque era assim que, também nós, conseguíamos boleia: fardados.
Cheguei a tempo de cumprir as funções litúrgicas que me estavam destinadas na celebração do padroeiro do Olival. (Toninho, tens fotos?)
À distância, encontro explicações para o motor gripado. Em primeiro lugar negligência na verificação atempada dos níveis do óleo, certamente. Aconteceu-me isso mais do que uma vez para desmerecimento da minha fama de bom chauffeur. Olhando para a fotografia tenho a adicionar a esta razão o número de passageiros. Dez à vista e um fotógrafo; mais o almoço, pois não fomos, seguramente, a nenhum restaurante. Tudo isto fazia carga a mais para o esforço a que as serras nos obrigavam no caminho de Sintra, por onde passámos à ida
.

PS pró Toninho: Não queres identificar as caras? Reconheço-as mas não consigo dar-lhes nomes.

Um abraço a todos
Jaime

4 comentários:

Armando disse...

Caro Jaime
Não assinas, mas o estilo é inconfundível. Tal e qual como na expressão oral. Penso ser o teu primeiro texto na primeira página do blog. Por isso uma saudação especial. Até aqui tens-nos brindado com muitos e eloquentes comentários. Quanto aos meninos da fotografia, os meus lapsus memóriae não me permitem identificar nenhum. Vá Toninho ilumina-nos.
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Alexandrino: O Jaime assinou o texto, eu é que ando a falhar!... Reposta a 'legalidade', apresento as minhas desculpas.
Nelson

Armando disse...

“(…) só no outro dia percebi que dormira num acampamento de ciganos quando acordei rodeado deles, curiosos. Mais do que curiosos, exigentes. Queriam alguma coisa em paga da sua honestidade: “bem vê, podíamos tê-lo assaltado”. Conta o Jaime

"Apelamos aos proprietários do navio para estabelecerem um diálogo honesto com o objectivo de pôr termo a esta crise", afirma Mohamed Said, o porta-voz dos piratas somalis a bordo do petroleiro Sirius.

A globalização ainda não chegou à ética. Como vemos ainda há muitas éticas.
A. Alexandrino

Anónimo disse...

Ai que vergonha, Toninho. Então, já não reconhecemos o Tó Carvalho (irmão do Alberto Carvalho) e o Dinis (Franco- Mirandela)?
O que eu não entendo é o que fazia esta equipa de desenfiados lá para os lados de Lisboa. A história da viagem alucinante não me convence nem à custa de uma visita de estudo. Quintanistas? Homessa, eles nem sequer andavam todos no mesmo ano!... Alguns nem chegaram ao 5º ano!... Vá, venham mais pormenores. Cheira-me a que o António da Purificação não vai gostar nada da brincadeira.
Um abraço. Ferraz