Para maior confusão, vou esclarecer o que poderá ter sido um mal entendido que contaminou, por estes dias, o nosso blog.
O António da Purificação – o autêntico - morreu. Finou-se em finais do Verão confortado com os sacramentos da santa madre igreja. Desde que saiu de Aldeia Nova fixou residência num povoado ali para os lados de Sortelha. Era mais do que um bom homem, era catequista. Filho de boas famílias, pois seu pai foi sacristão e a mãe zeladora da capela local, tem rua com o seu nome na aldeia onde teve piedoso passamento. Foi um beato dos autênticos, refinadíssimo e muito exigente na doutrina e na prática da virtude. Confidenciou-me o Nelson, com quem o António se encontrava algumas vezes, que este nosso catequista considerava a passagem mais importante do Pai Nosso o “venha a nós…”. Dizia até que a tradução do aramaico para o grego e do grego para o latim deveria estar errada e seria mais correcta: “venha a mim…”.
António da Purificação teve sempre um papel activo na vida da sua comunidade e granjeou fama e proveito de ser um acérrimo defensor da moral e dos bons costumes. Ele foi um cidadão dos autênticos, doou todos os seus livros de Piedade à biblioteca local e fundou a Associação contra a Extinção do Burro. Dizia ele que temia pela sua própria sobrevivência, que era uma questão de Ser, não uma preocupação ecológica mas ontológica.
Dizem que as suas últimas palavras foram: “ Fui sempre bem intencionado, faltou-me foi lucidez” .
Aqui ficam alguns dados para caracterizar este nosso colega, nunca assaz enaltecido pelo seu empenho em favor do Bem Comum. Antónios haverá muitos, mas António da Purificação apenas ele.
Eduardo Bento
6 comentários:
Nem sempre compreendo a Justiça Divina...
O nosso António da Purificação ainda teria muito para nos dar...
Andaria, pela nota do EB, a rondar os 60 anos?
A propósito, e um tal Ezequiel Vintêm? Ainda é vivo? Ou será que foi fazer companhia ao António da Purificação?
Vamos lá mas é organizar um encontro de reflexão na adega do EB, antes que o frio nos congele a alma e o corpo...
Mens sana in corpore sano... Onde é que eu aprendi este «aforismo/brocardo»?
Abraço
Zé Celestino
Paz à alma do António da Purificação, o autêntico!
Pena ter morrido tão cedo, se é que estão certos os cálculos do Celestino.
Do cuidadoso estudo que dele faz o seu biógrafo, Eduardo Bento, adivinhamos quanto teria ainda para nos dar. -Onde temos agora figuras como ele, "exigentes na doutrina e na prática da virtude"? -Onde os "cidadãos autênticos defensores da moral e bons costumes" como ele era (aparte a linguagem um tanto desbragada a que, por vezes, recorria e que se desculpa pela exaltação própria da defesa das suas convicções)? -Onde estão assim tantos que o igualem na escrita acutilante e escorreita a que nos habituou?
E o inteligente filósofo que com ele se foi? Eduardo Bento limita-se a referir este aspecto sem lhe dar, quanto a mim, o devido realce. Mas atentem na fundamentação que está na origem da criação da Associação contra a Extinção do Burro e digam-me se o seu desabafo último ("fui sempre bem intencionado, faltou-me foi a lucidez") poderá ser outra coisa se não uma derradeira expressão de modéstia.
Não terá deixado um discípulo, um admirador que, com nome próprio, queira dar continuidade ao António da Purificação, quando não em todas as facetas da sua personalidade, tarefa hercúlea ao alcance de poucos, ao menos numa ou noutra? -Olhem, pode ser na escrita de que o nosso blogue precisa como de pão para a boca!
Jaime
Esclarecimento II
"A confusão é o melhor meio de esclarecer as coisas" (Sócrates).
Celestino e Jaime: do António da Purificação já nada havia a esperar. Viveu uma vida farta de anos e de indulgências. Ele tinha 82 anos. Era do tempo em que o Pe Rendeiro,depois bispo do Algave, foi director de Aldeia Nova. Ainda hoje se discute se a sua vocação de catequista começou nessa altura ou se lhe foi inoculada pela que viria a ser sua esposa, D. Clemência da Anunciada, autêntica rata de sacristia ( no bom sentido, claro ).
Celestino, quanto à adega, consulta o comentário que eu faço às palavras do arguto Área Benta num outro espaço do Blog.
Jaime, parece que convidas a aventuras plumitivas neste espaço. Seria bom se o Nelson não fizesse de uns filhos e de outros enteados. Ainda ontem me disse que eu não poderia escrever mais do que quatro linhas de cada vez. Enfim...
Eduardo Bento
Quatro linhas de cada vez é bem bom! Eu só escrevo uma letra. Devo ser eu o enteado. Não do Nelson, mas da Mãe Natureza.
Jaime
Com esta graçola inoportuna, interrompi o movimento que se tinha desenhado para "novas aventuras plumitivas". Corrijo o tiro e retomo a ideia. Porque não pensar nisso? Nos mesmos moldes: artigo de fundo e comentários ou noutro que a plataforma do blogue permita? Falar disso exige que se faça fora daqui ou a evolução da discussão ficaria desmembrada pelos múltiplos espaços de comentários o que dificultava uma visão sintética.
Era bom não desistir e revitalizar o blogue, isto é, o contacto, a troca de ideias entre nós.
Jaime
Jaime:
Para que não fiques com sentimentos - tu dirás, na tua especialidade, complexos de culpa - venho informar-te que me fartei de rir com a tua saudável saída.
E um abraço
E Bento
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