segunda-feira, 2 de junho de 2008

O GORGULHO DO ORGULHO





Aí está de novo o orgulho de ser português. E ser português – dizem alguns – é uma arte. Ser português é ser artista. E já cá estava a fazer falta um evento que nos ajudasse a concretizar a nossa arte. A arte que é a artimanha de levantar o ânimo e esconjurar o pessimismo. Somos mesmo uns grandes inventores. Mas também há portugueses que chafurdam na má língua e recusam olhar para este belo país com optimismo que é como os bois, com os seus grandes olhos, olham para o pasto. Na verdade houve, há e haverá maus portugueses. São aqueles que nunca sentem motivo de orgulho em sê-lo nem sequer parecê-lo.

E hoje temos motivo para andar com o ânimo subido e o peito inchado de orgulho. Somos vice-campeões da Europa e o Ronaldo é um dos jogadores mais bem pagos do mundo. Basta olhar para a nossa selecção nacional conduzida por Scolari, movida pela arte de um Deco e de um Pepe para nos lembrarmos de que os tempos que correm não são apenas de promessas mas de jucundas certezas.
Hoje o centro do orgulho nacional não é Guimarães, onde nascemos todos; não é a Torre de Belém de onde partimos para a Índia; não é o mosteiro da Batalha onde refundámos a pátria – é Viseu.
Viseu é hoje o fogo vestal onde se alimenta o presente e o futuro de Portugal. Aí se concentra a selecção nacional de futebol, que em denodado esforço, prenhe de sacrifícios, toca o coração de todos nós e por nós chama como quem congrega todo um povo em ordem de batalha. Levanta a alma, povo cabisbaixo! A Suiça espera por teus heróicos feitos… E ei-las: mães de família sorumbáticas, moças donairosas, velhas, novas… e também eles acorrem pressurosos: os pais, os tios, os avós. Deixam os desempregos, os salários em atraso, a prestação da casa por pagar…E devotamente assistem aos treinos no estádio do Fontelo, e humildemente suplicam, que ainda que por breve tempo, os deixem lobrigar os Petis, os Quins, os Nanis… Ah, gente beirã, que me estilhaças o pessimismo e me ajudas a contornar, com um sorriso, o meus quinhentos e vinte euros de salário!
Já não são apenas os discursos de José Sócrates que nos dão ânimo e nos levam a acreditar que vamos para melhor. Também de Viseu, pátrio ninho de Viriato, sopra um vento que nos puxa pela alma e nos empurra para a frente. Os jogadores da selecção são essa força que nos arrasta como uma mula ajaezada puxa uma carroça.
Sim! Em breve estaremos na Suiça, no campeonato europeu, a alma impante de orgulho por sermos portugueses. Os francos, os alemães, os suecos, os helvécios e todos os outros, até têm pena de não ser como nós. Mas tenham paciência, a História escolheu-nos a nós.

(Pára, meu coração, e vai à janela do teu terceiro andar, iça bem alto a bandeira de Portugal. Vai, que a História chama e todos nós somos poucos para empurrar para a frente… viva a bola
!)
Luis Moutinho

2 comentários:

Anónimo disse...

Pena não conhecerdes o meu amigo Moutinho! Não é parente do pequeno sportinguista, nem algarvio como ele. Mas, apesar das razões explicitadas no texto, ele é grande aficcionada da bola e um patriota dos quatro costados. Desde há décadas, quando houve notícia de que Mário Soares pisara a bandeira portuguesa em Londres, na altura de uma visita de Marcelo Caetano a Sua Majestade, que ele ganhou uma devoção cega pela bandeira. Exigiu-me que este texto plasmasse as cores do nosso símbolo!!!

Anónimo disse...

Lindo texto, Luis Moutinho quem quer que tu sejas. E manejas o verbo como poucos. E dizes grandes verdades, com uma mistura de ironia e humor profundo.
Neste rectângulo fisicamente virado para o mar, qual campo de futebol, está tudo preparado para a festa. Estamos orgulhosos e cheios de ma esperança alegre. Quase todos esperamos que lá fora, como sempre, os nossos artistas superem mais esta dificuldade, que sejam dignos dos seus antepassados, dos que conquistaram esta terra, dos que daqui saíram para explorar outras terras e outros povos e dos que saíram para servir outros senhores e ganhar o seu pão. Há bandeiras por todo o lado, nas varandas das casas, em mastros originais ou improvisados, nas antenas dos automóveis, enfunadas pelo vento, a tapar os peitos e a cabeça das nossas moças, é o símbolo unificador das nossas vontades.
Como há 511 anos, os nossos heróis partiram de Belém, foram até ao "soberano" prometer a vitória ou pelo menos o esforço. E a pátria os recompensará um dia. Porque a recompensa não está nas vil moedas que recebem em troca da sua arte.
Não faltarão, como sempre, os velhos dos restelos, vociferando contra esta fuga. Como não faltaram os "cobardes" que criavam dúvidas nos heróis que de Belém partiam a defender a pátria noutras pátrias.
E nestes dias, vamos esquecer que os petróleos e outros óleos estão a preços proibitivos, que nos falta o cereal, que os nossos pescadores se recusam a pescar o nosso peixe, porque é preciso apoiar os nossos combatentes, já logo à tarde num jogo que está para lá de um simples desporto. Não faltará quem vos apoie no campo e fora dele.
Entretanto, não nos faltarão outros incentivos para as nossas dificuldades. Depois do Rock in rio, também perto de Belém, temos o festival do fado no castelo de S. Jorge, o fado que os mouros nos legaram, tal como os romanos nos tinham deixado “panem e circenses”. E Fátima continuará a ser um dos centros da cristandade, o lugar dos nossos murmúrios, o muro das nossas lamentações.
Mas hoje, dia 7 de Junho, a romaria é em Genebra.