Recebi a notícia pelo mesmo mensageiro, embora aqui, na freguesia onde resido, se encontrem muitos familiares do Horácio que me facultavam os pormenores, que ninguém deseja saber, desde que se manifestou a doença fatal que o ceifaria em muito pouco tempo, mau grado a sua humildade e a coragem com que a enfrentou, como era seu timbre. A todos nos chocou a notícia até porque o Horácio passava por aqui amiúde ou quando podia, para encontrar familiares e amigos e era sempre bem-vindo e estimado pela sua bondade e exemplo de conterrâneo que, voando mais alto do que a mediania, servia de boa referência e motivo para colocar a sua terra no mapa.
Pelos anos 40, nasceu este meu vizinho, na freguesia que dá pelo nome de Vila de Prado, plantada no vale do Cávado, a meia dúzia de quilómetros da cidade de Braga. Era o terceiro de cinco irmãos, família humilde, e deu nas vistas logo na escola primária, pelo que, “seria uma pena se não seguisse os estudos”. Os seminários encarregavam-se de deitar a mão a estes “dotados” sem posses. Desta sorte, coube a vez aos Dominicanos e creio que em boa hora o fizeram, pois colheram dessa cepa um daqueles rebentos que produzem frutos da mais elevada qualidade: não abundam, infelizmente, muitos Horácios assim, senão a Terra seria certamente melhor.
Também eu entrei para Aldeia Nova um pouco pela mão do Horácio, ia ele para o 3º ano. Já não sei bem como foi, mas este patrício, sem querer, era um bom referente para a miudagem. Era também para mim um irmão mais velho, um protector que me envaidecia e a quem a minha mãe ordenava, por diversas vezes, no termo das férias: - Se for preciso, você puxe-lhe as orelhas!... - Nunca mas puxou, mas parece-me que bem podia tê-lo feito algumas vezes. Com ele tive e tivemos a sorte de conviver vários anos, em Aldeia Nova, em Fátima, Valência e Lisboa. São sempre breves esses anos, mas fica a memória de muitas e boas coisas: é essa a minha eternidade.
Lisboa está longe, cada vez mais longe, mas devo-lhe essa homenagem da minha presença e amanhã levar-lhe-ei a recordação daquele sabor e do aroma do último café que tomámos os dois, pela Páscoa do ano passado, numa pastelaria cá da terra. Nunca mais cá voltou, não lho permitiram e eu fiquei-lhe a dever uma rodada. Até amanhã, caro amigo.
Prado, 8 de Junho de 2008
Manuel Ferraz de Faria
4 comentários:
Encontrámo-nos por breves momentos no funetal do Horácio. Gostaria de saber da saúde do Gama mas não tenho o teu telefone nem o dele. Fiquei preocupado com ele. Manda-me notícias.
E. Bento
Ferraz
Junto-me ao Eduardo Bento nas preocupações e pedido.
Abraços
J.Moreno
Telefonei para o Ferraz anteontem por volta das 20h. Já iam de regresso, falei com o Gama e estava tudo bem. Um abraço.
Toninho
Caros amigos,
Tudo se recompôs. Foi apenas um susto justificado ademais pelo quadro clínico algo delicado com que o Gama vive que, não sendo preocupante merece algum cuidado, após ter padecido de uma deficiência cardíaca há cerca de 2 anos. No entanto, a paragem que fez, desta feita, foi ténue e inócua malgrado a demora na urgência do hospital. Isto deveu-se fundamentalmente à espera pelo resultado de meios de diagnóstico mais concludentes. Enfim, a conjugação de alguns factores como a temperatura que se fazia sentir, a proximidade da refeição e a emoção do momento, foram as causas próximas, mas está tudo ultrapassado e foi entregue são e salvo à família.
Obrigado pela V/ solidariedade. Um grande abraço. Até logo.
Ferraz
Enviar um comentário