A SEDES, associação que há largos anos se dedica ao estudo das questões económicas e sociais, divulgou num relatório recente: «sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional».
Esse mal estar surpreende-se nas conversas, nas notícias diárias, nos acontecimentos que fazem a nossa vida comum. E recuso ser pessimista, porém não podemos ignorar que uma funda inquietação perpassa pela vida real das pessoas. Silenciar essa crise, que vai minando a vida dos indivíduos, das famílias, da sociedade em geral, seria pactuar com esta perigosa situação de conflito social que se vem acentuando. Há também, hoje, como que uma desistência de ser cidadão. Há um cansaço civil que vai minando tudo. Um divórcio litigioso entre os governados e governantes envenena os valores democráticos e impede construir um projecto nacional que congregue e mobilize.
É que as pessoas não são tratadas como pessoas. Nega-se-lhes a saúde, demora-se-lhes a justiça, degrada-se-lhes a educação. A vida empobrece e não se alcança um horizonte de esperança. Somos contribuintes a quem, com aparato e promessas, se pede, de tempos a tempos, um voto. E depois das eleições, desmobilizadas as falanges com bandeiras e cartazes, calados os discursos, o cidadão verifica que as coisas se não pioram, também não melhoram.
Sente-se a desigualdade e a injusta distribuição da riqueza. Um estudo europeu vem dizer-nos que há, entre nós, um número crescente de crianças em risco de pobreza. Contudo, o lucro dos bancos nunca foi tão acentuado, apesar da crise. Os salários estão estagnados há vários anos.
Os discursos oficiais dizem-nos que vivemos no melhor dos mundos. Mas as pessoas, na sua vida real, sabem que não é assim.
Diz ainda o estudo da SEDES que o Estado deve urgentemente ouvir os cidadãos. Certo. A arrogância e a solidão do poder criam o vazio à sua volta e secam a vitalidade necessária à existência de um povo. Mas não basta ouvir. É preciso mudar na economia, na justiça, na saúde, na educação. O país não pode ser o lugar onde alguns passeiam o luxo e a ostentação e onde uma maioria suporta o insuportável. O rumo que levamos não augura nada de bom.
É preciso construir a esperança mas esta faz-se com factos reais, criando possibilidades de vida melhor e não com discursos.
Eduardo Bento
Esse mal estar surpreende-se nas conversas, nas notícias diárias, nos acontecimentos que fazem a nossa vida comum. E recuso ser pessimista, porém não podemos ignorar que uma funda inquietação perpassa pela vida real das pessoas. Silenciar essa crise, que vai minando a vida dos indivíduos, das famílias, da sociedade em geral, seria pactuar com esta perigosa situação de conflito social que se vem acentuando. Há também, hoje, como que uma desistência de ser cidadão. Há um cansaço civil que vai minando tudo. Um divórcio litigioso entre os governados e governantes envenena os valores democráticos e impede construir um projecto nacional que congregue e mobilize.
É que as pessoas não são tratadas como pessoas. Nega-se-lhes a saúde, demora-se-lhes a justiça, degrada-se-lhes a educação. A vida empobrece e não se alcança um horizonte de esperança. Somos contribuintes a quem, com aparato e promessas, se pede, de tempos a tempos, um voto. E depois das eleições, desmobilizadas as falanges com bandeiras e cartazes, calados os discursos, o cidadão verifica que as coisas se não pioram, também não melhoram.
Sente-se a desigualdade e a injusta distribuição da riqueza. Um estudo europeu vem dizer-nos que há, entre nós, um número crescente de crianças em risco de pobreza. Contudo, o lucro dos bancos nunca foi tão acentuado, apesar da crise. Os salários estão estagnados há vários anos.
Os discursos oficiais dizem-nos que vivemos no melhor dos mundos. Mas as pessoas, na sua vida real, sabem que não é assim.
Diz ainda o estudo da SEDES que o Estado deve urgentemente ouvir os cidadãos. Certo. A arrogância e a solidão do poder criam o vazio à sua volta e secam a vitalidade necessária à existência de um povo. Mas não basta ouvir. É preciso mudar na economia, na justiça, na saúde, na educação. O país não pode ser o lugar onde alguns passeiam o luxo e a ostentação e onde uma maioria suporta o insuportável. O rumo que levamos não augura nada de bom.
É preciso construir a esperança mas esta faz-se com factos reais, criando possibilidades de vida melhor e não com discursos.
Eduardo Bento
3 comentários:
O meu aplauso a esta magnífica intervenção cívica. Na minha modesta tribuna, também não tenho calado a insensibilidade com que somos governados. Andamos comandados por estatísticas e olhamos apalermados para o ar de felicidade com que nos anunciam que atrás de nós ainda temos este, aquele e aqueloutro país!... A taxa de desemprego desce, mas os desempregados aumentam!!! Eu vivo nesta Beira que desaparece paulatina e quotidianamente, que se desertifica, onde as pessoas fogem para outras paragens, precisamente porque lhe roubam a escola, a saúde e direito de serem felizes na terra que os viu nascer. Estou contigo Eduardo.
Um abraço
Lá vêm eles outra vez com os lucros dos Bancos “ que se vão acentuando, apesar da crise”. Sabem a que é devido esse raciocínio? Deve-se a uma vivência mesquinha, de contar tostões, de vistas curtas sem pretensões a alargar horizontes… Os portadores destas mentalidades ofuscam-se com umas centenas de milhões…
Ò meus amigos. Os banqueiros ficam desiludidos quando olham para esses parcos lucros, coitados. Só quem os ouve chorar à mesa das negociações com os sindicatos. Ainda este ano, os pobres, andam a jurar desde Novembro, que não podem dar mais de 1% de aumento. Com um esforço enorme, talvez se aproximem do aumento da função pública de 2% e uns pozinhos. E com atraso, já que deveria reportar-se a 1 de Janeiro. Por isso meus amigos vamos lá ter compaixão dos nossos banqueiros.
Ezequiel Vintém
Eduardo Bento,
Concordo e aceito a tua leitura. As coisas acontecem, de facto assim, porquê?
Eu também sou um desses cidadãos que, por vezes, deixam de o ser ou pelo menos de ser bom cidadão. E é exactamente por isso que, pontualmente sou obrigado a ver este filme ao contrário: a partir do próprio cidadão. Não pretendo exorcizar espíritos nem levantar fantasmas da tumba, mas apetece, neste "mal estar difuso", como dizes, recordar eventuais desabafos quando, impotentes, admitimos ser este um povo ingovernável ou mais ou menos assim; outros admitiriam que só dentro da Ibéria este País faria e ficaria em sentido. Os governantes não os conheço, ouço dizer coisas deles e, quando me aparecem pela frente, mesmo em mangas de camisa, vêm sempre envernizados. Agora, as pessoas como eu, cidadão nas horas vagas, essas conheço, sou obrigado a conhecer, ainda que nunca as tenha visto. Parece-me que, após tantos anos de "valores democráticos", aprendemos muito pouco dessas virtudes imperfeitas. Julgo até que o povo serve-se da democracia como de uma meretriz de vão de escada.
-"Nega-se-lhes a saúde"? É verdade, mesmo asim, o "cidadão" conhecendo os perigos, gosta muito de cair doente, aos milhares. Não se cuida, nem quer!
-"Demora-se-lhes a justiça"? Claro, mas ama um bom conflito, brando talvez, mas conflito, intolerância, abuso; aos milhares, aos milhões, até asfixiarem a própria justiça.
-"Degrada-se-lhes a educação"? Sim, mas aos magotes não a querem nem desejam: é chata, normativa, é "betinha" e tu conheces bem isso por dentro, ó Eduardo.
Termino como comecei: concordo e aceito a tua leitura e gosto muito de reler esta peça, mas às vezes apetece-me ver o filme ao contrário, ao lado da tua cadeira. Um abraço. Ferraz
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