quarta-feira, 17 de outubro de 2018

REMODELAÇÃO



Já não consigo situá-la no tempo, mas sei que a determinada altura houve uma remodelação “ministerial,” melhor dizendo – conventual. Quando eu entrei para A. Nova o elenco era composto por: Fr. Luís Cerdeira o director, Fr. Raúl Rolo o Superior e Conselheiro espiritual, o Fr. Estevão, corpulento e que diziam só ter um pulmão, o Fr. Clemente de Oliveira, latinista insigne, o Fr. Simonin, o novíssimo e recém chegado Fr. Armindo Carvalho e ainda o padre António Francisco, diocesano que ao fim de semana se deslocava para os Milagres, próximo de Leiria, onde colaborava com o Padre Lacerda num jornal que este dirigia – O Mensageiro. Com a chegada do Fr. Bernardo e do Fr. João Domingos, acontece a dita remodelação. Saem o Fr. Cerdeira e Fr. Rolo, e o Fr. Armindo assume a direcção da Escola Apostólica Dominicana de Aldeia Nova. Mais tarde, se a memória me não atraiçoa, sai o Fr. Estevão e entra o Fr. Domingos, insigne matemático e o Fr. Vicente que eu considerava assim uma espécie de híbrido. Se calhar estou a ser injusto, mas sempre assumi que não gostava dele, nem ele de mim. Outros depois haveriam de passar por lá, como o Fr. Miguel, que incutiu em todos nós o gosto pelo escutismo e também o Fr. Gil. Uma outra venerando figura de homem bom, consensual que irradiava simpatia, era o Fr. Tomás Videira.
A chegada do Fr. Bernardo, vindo de França, irmão do Fr. Bento e do Zé Espirito Santo, foi assim uma espécie de “Pedrada no Charco”. Homem aberto, moderno, que tinha digerido na escola francesa os propósitos e projectos de uma nova igreja, ou renovada, começou a incutir em nós, indelevelmente, uma espécie de ponte entre um conservadorismo arcaico e os alvores de um Vaticano II que se adivinhava. Os santinhos com corações a jorrar sangue começavam a deixar de fazer sentido, ante as novas formas de entender e perceber uma igreja que se queria aberta e realista.
O Fr. João Domingos, vindo do Canadá, foi ele principalmente o advento de uma nova aurora, na maneira de educar e de conduzir adolescentes e jovens e sobretudo no relacionamento com todos e cada um, tão diferente e tão distante da metodologia ditatorial e repressiva implementada pelo homem que havia sido guindado a promotor do nacional do Rosário Perpétuo – Fr. Luís Cerdeira.

Com esta equipa de formadores, a vida dentro da Velha Casa, mudava de paradigma. A abertura ao diálogo, a forma de relacionamento, as novas posturas e os novos saberes, foram renovando os ares e tudo ficou mais respirável embora nas horas de penumbra, permanecesse o zumbido inesquecível do petromax.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez deixas aqui um belo texto que nos ajuda a reencontrar o nosso tempo comum, a avivar a memória. Tu, o primeiro poeta que eu conheci. Mas penso ser excessiva a expressão «metodologia ditatorial e repressiva». Nós em nenhum momento vivemos uma Manhã Submersa. O Pe Luís era fruto duma educação tacanha e conservadora.

Anónimo disse...

Se publicares põe lá Eduardo Bento

Nelson disse...

Aceito que me tenha excedido na qualificação dos métodos do Fr. Luís Cerdeira, mas eu vivi aquilo nos meus 12/13 anos, e guardo na memória aquela escova que ele levava para a aula de português que, virada do avesso e a estalar na palma das mãos de muitos de nós, tresandava a terror!... Ele frequentou a mesma escola de Virgílio Ferreira, por isso a "manhã submersa" deles, não terá sido a nossa.Concordo.
Abração Meu Velho!
Nelson