Já não consigo
situá-la no tempo, mas sei que a determinada altura houve uma remodelação “ministerial,”
melhor dizendo – conventual. Quando eu entrei para A. Nova o elenco era composto
por: Fr. Luís Cerdeira o director, Fr. Raúl Rolo o Superior e Conselheiro
espiritual, o Fr. Estevão, corpulento e que diziam só ter um pulmão, o Fr.
Clemente de Oliveira, latinista insigne, o Fr. Simonin, o novíssimo e recém
chegado Fr. Armindo Carvalho e ainda o padre António Francisco, diocesano que
ao fim de semana se deslocava para os Milagres, próximo de Leiria, onde
colaborava com o Padre Lacerda num jornal que este dirigia – O Mensageiro. Com
a chegada do Fr. Bernardo e do Fr. João Domingos, acontece a dita remodelação.
Saem o Fr. Cerdeira e Fr. Rolo, e o Fr. Armindo assume a direcção da Escola
Apostólica Dominicana de Aldeia Nova. Mais tarde, se a memória me não atraiçoa,
sai o Fr. Estevão e entra o Fr. Domingos, insigne matemático e o Fr. Vicente
que eu considerava assim uma espécie de híbrido. Se calhar estou a ser injusto,
mas sempre assumi que não gostava dele, nem ele de mim. Outros depois haveriam de passar por
lá, como o Fr. Miguel, que incutiu em todos nós o gosto pelo escutismo e também
o Fr. Gil. Uma outra venerando figura de homem bom, consensual que irradiava
simpatia, era o Fr. Tomás Videira.
A chegada do Fr.
Bernardo, vindo de França, irmão do Fr. Bento e do Zé Espirito Santo, foi assim
uma espécie de “Pedrada no Charco”. Homem aberto, moderno, que tinha digerido
na escola francesa os propósitos e projectos de uma nova igreja, ou renovada,
começou a incutir em nós, indelevelmente, uma espécie de ponte entre um
conservadorismo arcaico e os alvores de um Vaticano II que se adivinhava. Os
santinhos com corações a jorrar sangue começavam a deixar de fazer sentido,
ante as novas formas de entender e perceber uma igreja que se queria aberta e
realista.
O Fr. João
Domingos, vindo do Canadá, foi ele principalmente o advento de uma nova aurora,
na maneira de educar e de conduzir adolescentes e jovens e sobretudo no
relacionamento com todos e cada um, tão diferente e tão distante da metodologia
ditatorial e repressiva implementada pelo homem que havia sido guindado a
promotor do nacional do Rosário Perpétuo – Fr. Luís Cerdeira.
Com esta equipa
de formadores, a vida dentro da Velha Casa, mudava de paradigma. A abertura ao
diálogo, a forma de relacionamento, as novas posturas e os novos saberes, foram
renovando os ares e tudo ficou mais respirável embora nas horas de penumbra,
permanecesse o zumbido inesquecível do petromax.
3 comentários:
Mais uma vez deixas aqui um belo texto que nos ajuda a reencontrar o nosso tempo comum, a avivar a memória. Tu, o primeiro poeta que eu conheci. Mas penso ser excessiva a expressão «metodologia ditatorial e repressiva». Nós em nenhum momento vivemos uma Manhã Submersa. O Pe Luís era fruto duma educação tacanha e conservadora.
Se publicares põe lá Eduardo Bento
Aceito que me tenha excedido na qualificação dos métodos do Fr. Luís Cerdeira, mas eu vivi aquilo nos meus 12/13 anos, e guardo na memória aquela escova que ele levava para a aula de português que, virada do avesso e a estalar na palma das mãos de muitos de nós, tresandava a terror!... Ele frequentou a mesma escola de Virgílio Ferreira, por isso a "manhã submersa" deles, não terá sido a nossa.Concordo.
Abração Meu Velho!
Nelson
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