Hei-de confessar
que não gosto da maneira como os políticos, nos tempos que correm, se fazem
qualificar entre direita e esquerda. Mas, claro, sou eu que não gosto e nem
serei obrigado a gostar. É que tal divisão arrasta laivos de segregacionismo,
sectarismo e alguma xenofobia à mistura. Mas, e volto a repetir-me, sou eu que
não gosto.
Ora este
divisionismo acentuou-se mais, depois do quadro político que resultou das
eleições legislativas de Outubro do ano findo, em que os partidos vencedores do
sufrágio, não conseguiram apoio parlamentar para suporte do governo. Assim
sendo, o partido que ficou em segundo lugar, estende a mão esquerda, à esquerda
que lhe deu a mão, e assim se afirma uma esquerda contra a direita. Até aqui tudo
legítimo ou, pelo menos, legitimado. Claro que este rendez-vous abarca contrapartidas, acordos indigestos e outros
amargos de boca. Os anseios das minorias passaram a prevalecer, em ordem ao voto
que se pretende para suportar o governo, que o mesmo é dizer, o poder. Há quem
diga que é um poder a qualquer preço, mas quem está a pagar e quem vai pagar o
preço desse poder, é a sociedade e são todos aqueles que não sufragaram um
poder com este figurino. E o governo tem cedido aos ditames da sua mão esquerda,
ou da esquerda da sua mão, fazendo aprovar no Parlamento temas fracturantes da
nossa sociedade, questões que careciam de amplo debate, de discussão pública e
que apenas são anseios de uma minoria. Foi no passado com a despenalização do
aborto, foi com o casamento entre pessoas do mesmo sexo e foi, mais
recentemente, com a aprovação da lei da adopção por casais do mesmo sexo.
Como se não bastasse o que atrás fica dito, desfralda-se agora bandeira da eutanásia. A
palavra eutanásia, que pretende significar uma
morte fácil, uma morte calma, está a
entrar pelas nossas casas adentro, quase sem pedir licença. A implementação da eutanásia visa roubar precocemente a vida às
pessoas que são portadoras de doença em fase terminal, que estejam em
sofrimento e que manifestem o desejo de morrer. Assim, a morte teria lugar
através da intervenção médica. E por isso lhe chamam, morte medicamente
assistida.
É pois um tema
fracturante, que a mão esquerda do poder pretende fazer aprovar no parlamento,
sem que tal assunto constasse do seu manifesto eleitoral e sem que a sociedade
portuguesa seja chamada a pronunciar-se sobre um tema tão melindroso. Todos
temos o direito de morrer com dignidade mas, para isso, não precisamos que nos
matem. Todos temos o direito a viver com dignidade e a morrer com dignidade,
sem que uma lei homicida venha decidir sobre a duração da nossa vida. E para
alguém, mesmo com doença terminal, poder morrer com dignidade, não é preciso
ser eutanasiado, o que é imperioso é
que lhe sejam ministrados cuidados paliativos, por forma a que os últimos dias
sejam tranquilos, sem dores e que a morte venha serenamente. Ao invés da pressa
em fazer passar uma lei sobre a eutanásia, porque não implementa a tal esquerda,
métodos e legislação que amplie e diversifique a Rede de Cuidados Paliativos?
O bastonário da
Ordem dos Médicos, em entrevista recente, teceu duras críticas à eutanásia
enquanto método para ajudar a morrer. E afirmou mesmo: “Quer dar-se o direito às pessoas a terem acesso à
morte antecipada sem que tenham, previamente, o direito de aceder a uma unidade
de cuidados paliativos. A verdade é que aquilo que se verifica é que as pessoas
que têm acesso a uma unidade de cuidados paliativos, normalmente, já não querem
morrer. Porquê? Porque deixam de estar em sofrimento e as suas dores são
adequadamente tratadas".
Conhecida é a posição da
Igreja Católica, que se declara deliberadamente contra qualquer tipo de
eutanásia, e muitas e proeminentes são as vozes que se levantam contra este
método atentatório da dignidade da pessoa humana.
Ajudem-nos a morrer com
dignidade, mas não nos matem.
Isto, digo eu.
Nelson Veiga
2 comentários:
Obrigado pelo excelente artigo cujo conteúdo partilho integralmente mas que por incompetência literária e preguiça não partilho com os outros que infelizmente na grande maioria partilham comigo estes defeitos.
Ó Amigo Anónimo, ou Anónimo Amigo:
Ainda bem para mim, que já há mais um a concordar comigo. Graças a Deus são muitos. Essa da "partilha" e não percebi muito bem, mas fica assim mesmo.
Obrigado
Enviar um comentário