Há 70 anos, a 6 de Outubro de 1940, nascia no Franco um bébé fragil, de aparência doentia. Foi batizado com urgência pois parecia ter nascido mais para a morte que para a vida!
Hoje com 70 anos, no dizer do filósofo e teólogo brasileiro Leonardo Boff, franciscano e depois pai de família, que passo a parafrasear, sou oficialmente velho. 70 anos não quer dizer próximo da morte. Esta quase ocorreu nos primeiros instantes de minha existência e pode ocorrer a todo o momento. Como não me surpreendeu antes, estou convencido que aos 70 anos se inicia outra etapa, a meu ver a última.Trata-se da dimensão biológica. O capital vital esgota-se. Debilitamo-nos. Perdemos o vigor dos sentidos e despedimo-nos lentamente das coisas, a começar pelas mais materiais.
O meu optimismo legendário impoe-me que olhe para a vida (mesmo aos 70 anos) de forma positiva. Diria pois que a velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros mas nunca estamos acabados. Temos que completar o nosso crescimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em génese: começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida, até acabar de nascer! Então entramos no silêncio!...
Penso que 70 anos é a boa idade para renunciarmos à nossa influência sobre os outros, para nos concentrarmos exclusivamente e definitivamente sobre nós mesmos... Esta última etapa será pessoalíssima. É importantissimo que deixemos cair as máscaras uma após outra. Máscaras que a vida nos impôs e sem as quais não poderíamos ter vivido em sociedade. Na verdade a vida é um verdadeiro teatro no qual desempenhamos diferentes papeis.
Eu por exemplo, nascí em Outubro. Foi pois neste mês que recebi a primeira máscara. Nascido no nordeste português, filho, neto, bisneto tataraneto... de lavradores. Fui lavrador e pastor: guiei tantas vezes os bois para que o rego fosse bem direitinho e o milho ou as batatas crescessem bem alinhados. Ajudei o pastor e os cães a levar o rebanho para o curral (ou estrubaría). Aos 7 anos (em Outubro de 1947) ajuntei a máscara do aluno àvido de conhecimento ...
Estas duas máscaras coabitaram ou alternaram-se até aos 14 anos!
Em outubro de 1954 veio juntar-se a terceira máscara, a do seminarista e frade dominicano. Durante 15 anos esta máscara foi dominante e tentou mesmo destruir as outras duas, mas sem sucesso!
Aos 25 anos (outubro de 65) uma nova máscara (a do amor ...) tentou impor-se mas foi regeitada com energia pela terceira que conseguiu resistir durante 4 anos. Em Outubro de 1969, a máscara do amor paixão, conseguiu instalar-se. Esta quarta máscara consegue ainda hoje coabitar com todas as outras depois de se ter fortificado nos dias dois e três de outubro de 1970 com a união oficial, à Geneviève, primeiro civilmente e depois dando-nos o sacramento do matrimónio ...
Neste mesmo ano uma quinta máscara (a da vida profissional) se ajuntaria a todas as outras...
A máscara a meu ver mais importante ( a sexta) foi-me presenteada no dia 29 de agosto 1973 . A máscara de pai, de chefe de familia com o nascimento da Isabelle. Esta máscara ganhou mais força e dinamismo em 75, Benoît,78 Marie Juliette e 79 François-André.
A 23 de abril de 1995, com a ordenação diaconal, a sétima máscara, veio de uma certa forma reavivar a terceira ...
Com o nascimento da minha primeira neta, a oitava e última máscara vem iluminar-me e embelezar-me. Ela tenta substituir todas as outras e penso que vai consegui-lo.
Na verdade, depois de se ter imposto com a chegada de Anna, esta oitava máscara foi ganhando em espessura com a chegada do Alexandre, Eloise, Adrien, Appoline, Antoine, Martin et Paul.
O último netinho, que chegou há oito dias, trouxe-me uma mensagem: “papy, abaixo as máscaras! Com 70 anos podes ser tu mesmo, já não estás em representação! Somos nós, os teus 8 netos, o único público que deve contar para tí. Para nós nem és lavrador nem seminarista ou frade, a vida profissional já não deve preocupar-te... Agora tu és unicamente avô”.
4 comentários:
Agora, sim, Fernando. Agora,já estou em melhores condições e sobretudo com mais à-vontade (e uma pontinha de inveja também) para te enviar um grande abraço de parabéns.
Ferraz
Voltaste ao blogue num auto-retrato desenhado com pinceladas nítidas e elegantes que revelam o modo como acompanhaste o teu próprio percurso que, lembro, ainda não acabou. Aos setenta anos somos uns jovens e prometedores velhos.
Um abraço, meu velho.
Jaime
Fazes falta neste espaço meu "velho" amigo. Ainda bem que estás de volta. Parabéns, saúde e muitos anos de vida.
Um abraço de parabéns ao Fernando Vaz que eu ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente.
É bom que estas reflexões sejam feitas para dar ânimo aos mais velhos e aos mais novos! Sempre pela positiva como é apanágio deste nosso amigo.
Enviar um comentário