quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESTIVEMOS AQUI

Onde os rios do tempo
guardam lentamente a recordação das margens
e onde a memória é um pássaro de fogo
incendiando os dias:
Só a cinza, um traço, um vestígio leve, um sinal.

E olha para trás...
Oh tempo, tempo fechado,
círculo de gelo.
Teu rosto fundido no meu rosto,
apagados os gestos
esgotado o desejo...
(Como fere a distante presença das tuas mãos nas minhas mãos).
E a noite avança pela tarde.
Ei-la! Transporta em taças de vento
frias estrelas que bebemos.
Já nem as palavras sustêm
o galopar do medo,
o disfarce da voz,
a máscara do rosto...

Os cavalos do tempo
galopam sem retorno
e um silêncio frio cresce
em redor da tua ausência.

Eduardo Bento
in O Nevoeiro dos Dias

5 comentários:

Zé Celestino disse...

Um grande abraço ao amigo Eduardo Bento.

A veia poética do Eduardo desenvolveu-se em Aldeia Nova/Fátima...

Todos os que com ele conviveram têm presente as suas participações culturais, caracterizadas por rara qualidade declamatória e cultura poética.

Daqui lanço um repto a todos os que admiram a obra do Eduardo e o estimam, para que nos juntemos um dia próximo e partilhemos ao vivo a poesia e a obra do Eduardo com a sua presença.

Zé Celestino

Anónimo disse...

Obrigado pelas referências. Quanto ao resto vamos a isso.
Mas corrijo: onde se lê "como fera", deve ler-se "como fere"
EBento

Nelson disse...

Caro Eduardo:
Já está corrigido. Ficam as minhas desculpas! Falta-me aqui um revisor de texto!!!
Um abraço
Nelson

Anónimo disse...

Caro Eduardo
Não li só o teu poema, li o teu livro de um sopro. Tens o dom de Orfeu e um lirismo apolíneo. Não há razão para medos informes.Às divindades negativas o chantre de Quios disse não.
Abraço
Abel Pena

Fernando disse...

O Celestino está muito presente no blog, e temos que reconhecer que é eficaz e que das proposições que vem fazendo, aquí está uma que me agrada. Avisai-me com antecedência, pois não falharei de modo nenhum, num encontro organizado à volta da poesia do Eduardo Bento. Gosto imenso de ler e ainda mais de ouvir os poemas quando são apresentados pelo autor ou outras pessoas competentes. No livro de que falamos o E.Bento publicou 65 poemas. Sei que as gavetas estão cheias de muitos outros de igual qualidade. Vamos esperar pelos 100 anos do Eduardo para que publique mais de 100 que por lá andam. É mais seguro que os apreciemos antes. Conto contigo, Celestino, para que a tua brilhante ideia se concretize!
Em todo o caso se for obrigatório apresentar um poema eu reservo o da pagina 57 ,
"CORPO I
Tudo em ti é breve.
folha outonal
caindo"
Um abraço, Fernando