segunda-feira, 30 de junho de 2008

A MINHA HOMENAGEM AO HORÁCIO


A memória atraiçoa-nos muito, sobretudo quando as memórias remontam há mais de quatro décadas.
Quando cheguei a Aldeia Nova, pela segunda vez, vindo do Canadá, e me enviaram para ali ajudar a formar candidatos a frades de S. Domingos, estava o Horácio e mais alguns colegas (Eduardo, Nuno. Vieira...) de partida para Fátima para iniciarem o noviciado. Só comecei a conhecer verdadeiramente o Horácio nos anos 68 e seguintes, quando fui para Fátima. Recordo antes disso umas férias no Pedrógão, na tal cavalariça de que falava o Fernando há poucos meses. Estive lá algum tempo como uma espécie de “capelão” dos estudantes.
Vivi de perto as consequências do acidente havido numa tardinha de chuva nas curvas do Reguengo do Fetal e passei umas férias com ele na Vagueira. Tive a sorte de ele ser meu amigo e de termos reflectido juntos sobre diversos temas. Mais tarde, pelos anos 73-74, ainda pensámos em hipóteses de continuar na Ordem em moldes diferentes do tradicional. Faltou o nihil obstat.
Mais tarde, já saídos da Ordem, deu-me a honra de ser o padrinho da Ana Teresa, como a Manuela foi a madrinha da minha Ana Isabel. Por isso pude conviver bastante com o Horácio e família, quer em Benfica, quer nos Chãos, onde gostava de se refugiar quando o trabalho lhe permitia e gostava de agricultar e jardinar.
Nestes anos, guardo do Horácio a memória de um homem muito trabalhador, culto, mas sem a falsa cultice ou dando-se ares de intelectual. Muito persistente, abraçava os seus projectos com muito entusiasmo. A sua simplicidade dotou-o de uma grande hospitalidade.
Se hoje podemos continuar a “criar laços” através deste blog e a encontrar-nos fisicamente pelo menos anualmente, ao Horácio o devemos em parte, que começou a organizar os primeiros encontros na Fonte da Telha pelo S. Martinho, em Fátima e em Aldeia Nova. Eram encontros muito simples, onde partilhávamos o que cada esposa procurava levar do mais gostoso que tinha e bebíamos um copo, enquanto dizíamos de cada um de nós e da família.
No celebração do seu funeral e da despedida pelos amigos, o fr. Miguel terminava a sua homília com este poema do nosso amigo :

Chegáramos sem o saber
e partíamos como se não fossemos.
Na distância das árvores
Deixávamos crepitando
Raízes longas
e a mágoa de todas as coisas boas
que jamais chegaríamos a ser.
(11.2.70)


O título do poema é POEMA DO FIM. A família do Horácio teve a feliz ideia de entregar aos amigos que foram participar na celebração do 7º Dia da sua passagem
um cartão com a reprodução de uma pintura do Horácio “Nas Margens dos Rios da Babilónia” com este poema no verso.

Teria muitas coisas a dizer do Horácio. Continuarei a lembrá-lo como um amigo que um dia encontrei e me acompanhou na minha caminhada. Fica também toda a amizade para a Manuela, o Filipe e a Anita.

Toninho

1 comentário:

Anónimo disse...

Não se passa um dia sem que me venha à memória tudo o que viví com o Horácio, tanto em Aldeia Nova (quando ele chegou eu andava no terceiro ano) e em Fátima durante três anos. Mantivemos correspondêcia quando ele estava em Espanha e eu na Itália. Alguns anos passaram e quando nos encontràmos de novo, já estavamos casados... Mas nunca mais nos perdemos de vista... Obrigado, Toninho, por me teres permitido passar mais uns momentos a pensar no Horácio e sua família! Fernando.