Quando éramos pequeninos (parvos no sentido latino do termo, chavalecos, gaiatos) enfiavam-nos na cachimónia umas lengalengas para cercear espaço a pensamentos ou conversas menos virtuosos, que cantávamos em grupo quando deambulávamos pelos campos fora, em longas passeatas pedestres, também propositadas para fazer esquecer certas energias orgânicas que teimavam em manifestar-se. Há dias num ripanço na casa dum dos nossos, veio-nos à memória, a recordação dalgumas dessas jóias musicais, que lá fomos trauteando, com mais ou menos atropelo. Debrucei-me (ia-me desequilibrando…) sobre o assunto e procedi à recolha de algumas dessas cantigas, das quais aqui deixo esta pérola, para na próxima sairmos mais afinados.
A SANTA CATARINA
A santa Catarina, prelim perlim pépé (bis)
Era filha do rei (tri)
Seu pai era pagão, prelim perlim pépé (bis)
Mas a sua mãe não (bis)
Que fazes Catarina, prelim perlim pépé (bis)
Ajoelhada aí (tri)
Eu rezo a Deus meu pai, prelim perlim pépé (bis)
Que não conheces tu (tri)
Ou deixas de rezar, prelim perlim pépé (bis)
Ou mando-te matar (tri)
Pois podes-me matar, prelim perlim pépé (bis)
Não deixarei de rezar (tri)
O pai num turbilhão, prelim perlim pépé (bis)
Amandou-lhe um facalhão (tri)
E os anjinhos do céu, prelim perlim pépé (bis)
Avieram buscar (tri)
Alexandrino
3 comentários:
Como é que haviamos de esquecer. Começo a perder a memória do que fiz ontem, mas o que fizemos anteontem nunca vai esquecer. Por aqueles caminhos e aquelas estradas fora, às vezes durante 25 km e bem contentes e a cantar!... O Eduardo Bento disse-me que às vezes demorava uma semana a recuperar completamente. Chegàmos a fazer 25 km , banho e brincadeira no rio durante horas e voltavamos à pata! Muitas vezes já dormiamos de pé... Desde que estou em Royat tenho ido a pé a Orcival (25 km) todas as segundas feiras de Pentecostes. Ainda há bons restos. Os meus dois rapazes fazem melhor: correm o marathon 42.195Km em menos de 4.horas. Qualquer dia vão fazer o de Lisboa e eu irei apludir. Venham outras cantigas daqueles tempos... “amandou-lhe um facalhão...” qual esquecer... Um abraço Fernando.
Também me lembro. Aí por princípios dos sempre recordados anos 60, chegou-nos uma versão (talvez rock) dessa cantiguinha do cancioneiro popular, que esganiçadamente entoávamos encostados ao muro do “Palheira”, enquanto não consolidávamos o inglês suficiente para imitar os Beatles.
Recordo-me que, por essa altura em que ela estava na moda, numa aula de Português com o Padre António Francisco, dos Milagres, um compincha do 3º ano (juro que não fui eu, homessa!) deu como exemplo duma onomatopeia o “pirolim” da canção. – O quê, Nino?! – Atroou pela sala acanhada a voz do saudoso Padre Chico. Pela expressão das sobrancelhas, vimos logo que não achou piada à onomatopeia e lá tivemos que procurar outro exemplo que encaixasse nos anais da disciplina. Tenho para mim, ainda hoje, que o “pirolim” ou “prelim” é uma onomatopeia, sim senhores; pelo menos terá tanto disso como a desditosa princesa tem de santa. O Padre Chico é que não sabia canção.
Um abraço.
Ferraz Faria, Manuel
Era uma aula de História?
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