segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

MAIS UM NATAL



Para os amigos que escrevem ou visitam o Blog, com votos de Boas Festas
E. B.

Dantes o Natal era em Dezembro. Agora ele começa muito tempo antes com anúncios, slogans publicitários. Há por todo o lado o desafio ao consumo e os grandes centros comerciais enchem-se de rostos ansiosos e apressados. Há um Pai Natal em cada canto apontando o produto que nos poderá fazer saudáveis e felizes; Há Pais Natal escalando paredes, dependurados de janelas, assomando a varandas. Lâmpadas multicores piscam em árvores de plástico rodeadas de prendas. As ruas das cidades são uma profusão de luz e cor num desafio aos olhos de quem passa. Luzes, muitas luzes, umas estáticas, outras intermitentes, a piscar, ou a desenhar palavras e imagens no céu da nossa noite.
O Natal é hoje um espectáculo oferecido aos nossos sentidos. Mensagem que nos arrasta para o exterior de nós mesmos e nos propõe, esplendorosamente, que vamos por aí fora transformando-nos em pacíficos e alegres consumidores. E então somos todos fraternalmente muito bonzinhos. Saudamo-nos com amizade, desejando «Boas Festas».
Lembro-me do Natal de outros tempos. A longa noite da consoada… o acolhimento da lareira… Ainda estavam todos vivos. A mesa ainda não tinha lugares vazios…Alguns vinham de longe e havia a alegria do reencontro. Andávamos de casa em casa, todas as portas estavam abertas e a mesa estava posta e nela havia lugar para todos.
Na noite escura da aldeia, um enorme tronco ardia no largo enchendo a noite de fulgurações. Olhando o céu escuro esperava que a qualquer momento a estrela dos Reis Magos se levantasse de Oriente e enchesse de luz os quatro cantos cardeais. Mas não, nunca veio a estrela. E tocava o sino na capela do vale. A estrada de terra não tinha luz mas nós lá íamos à missa da consoada e quando as vozes se erguiam no cântico «Alegrem-se os céus e a terra» um sentimento, vindo de longínquas eras enchia-nos de comoção. Não havia árvore de Natal, mas um presépio feito de musgo e povoado de figuras de barro; não havia Pai Natal mas era o Menino Jesus que trazia as prendas que deixava no sapatinho colocado à lareira. Prendas tão pobres mas que nos enchiam de pleno contentamento.

Não resta muito do Natal da minha infância. Mas que ao menos perdure o profundo significado dessa festa. O estreitar de laços entre as pessoas; a confraternização; o desejo de harmonia e o sonho de paz universal.
A profunda simbologia do Natal remete para uma vida de simplicidade e de despojamento, longe da ostentação. Ele é a recusa de todas as formas de violência e um convite ao reencontro dos sonhos mais profundos que o homem alberga no coração.

Eduardo Bento

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Eduardo Bento por esta, tão completa, reflexão sobre o Natal, que nos vai ajudar a vivê-lo de modo mais autêntico e profundo. Penso que vou terminar a homilia do dia de Natal com os dois últimos paragrafos do teu texto, que merecem ser proclamados numa igreja ou mesmo numa catedral!... É um Natal assim que eu quero desejar a cada um de vós. Nunca nos esqueçamos que receberemos o centuplo do bem (mesmo material), do amor, do carinho, da felicidade com que gratificamos os outros! Na missa do dia 25 pensarei em todos vós que me leis e em muitos outros, quando cantar:
“Quando entre os homens
florir a amizade,
então só então será Natal.
Faz-te meu irmão e Cristo nascerá.
Paz na terra aos homens,
alegria e bem,
Foi a Boa Nova de Cristo em Belém!"
Feliz Natal e um Ano 2008 repleto de tudo o que há de melhor, para nós todos, pois vamos receber o centuplo de todo o bem que temos feito. Um grande abraço, Fernando.

Anónimo disse...

Parabéns Eduardo pela tua menságem! Partilho, plenamente, da opinião do Fernando. Se não tivesse deixado o programa de rádio que mantive, coordenei e apresentei durante 22 anos, certamente te pediria autorização para a apresentar como menságem deste Natal do meu programa “Do Minho a Timor”, no dia 24 de Dezembro.
Obrigado pelas tuas sábias palavras e sublimes pensamentos. De resto, com licensa do Fernando, faço minhas as suas palavras.
Feliz Natal para todos e que o ano de 2008 seja o melhor de sempre.
Votos do Ferreira