PARA ONDE VAMOS?
“Todos os males atingiram o seu limite, não podem piorar mais.”
Babeuf
As palavras que servem de epígrafe a este texto inscrevem-se numa concepção pessimista do estado a que chegou o mundo. Será pessimismo ou, antes, um olhar consciente lançado com realismo sobre o tempo em que desembocou a História? Muitas vozes, e vindas das mais diversas áreas do pensamento filosófico ou científico, fazem-se ouvir chamando a atenção para o desequilíbrio a que se chegou, seja em questões económicas, climatéricas, educacionais… Parece que essas vozes não encontram eco porque os problemas crescem, a situação agrava-se. Sente-se a necessidade de uma refundação ética da humanidade mas tudo parece propiciar a injustiça, a exclusão, a violência, enfim, a desumanidade da humanidade.
Perguntamo-nos, com inquietação, para onde vamos, que esperança podemos acalentar para emergir desta presente derrota da esperança. Sobretudo, que possibilidades estamos a dar aos mais novos? Como podem eles constituir família, tornar-se independentes dos seus pais? Olhando à nossa volta vemos como os caminhos se fecham aos jovens, como as suas possibilidades são a prazo e tudo parece aniquilar os sonhos e os projectos de quem quer dar um rumo e um sentido à sua vida.
Em Portugal a taxa de desemprego atinge o nível gritante de 8,4 por cento e 18,1 por cento dos jovens entre os 15 e os 24 anos estão desempregados. Como podemos falar de democracia e de liberdade se as pessoas são coarctadas na construção de projectos de vida e estão impossibilitadas de escolha porque lhes falta aquilo que é um direito reconhecido: o trabalho? Onde estão a concretização das fáceis promessas eleitorais? Não foi o actual Primeiro Ministro que prometeu em campanha eleitoral a criação de 150.000 empregos? Todos os dias cresce o desemprego, fecham empresas,
há salários em atraso.
Vão-se levantando algumas vozes denunciando estes problemas, crescem atitudes solidárias de grupos que vão respondendo à situação o melhor que podem. Mas podem pouco perante o deserto que tudo atrofia e seca à sua volta, perante a ganância global dos senhores do mundo e a indiferença ou a colaboração dos que estão à frente do poder dos Estados. Estabeleceu-se uma descrença generalizada no papel dos políticos perante a sua incapacidade de dar resposta eficaz aos problemas dos povos que governam.
Há hoje uma perigosa desordem global que assola o mundo. Perigosa porque, assente na injustiça, não ouve o grito dos mais pobres. Abate-se sobre o mundo a arrogância de um poder obscuro movido pela indiferença para com a injustiça. Situações semelhantes à que vivemos hoje, geraram na história convulsões de consequências profundamente nefastas para a humanidade.
É tempo de pensar o lugar aonde chegámos se queremos que o presente não comprometa a esperança no futuro. Hoje a História interpela, também, cada um de nós, pois todos temos obrigação de “saber” e a nossa consciência de homens não nos deixa cair na indiferença mas atira-nos para um desafio que rompe com todo o pessimismo: «Que posso eu fazer para transformar o mundo?»
Eduardo Bento
2 comentários:
Obrigadissimo, Eduardo Bento, por este texto magnífico, tanto na forma como no fundo. Não é pessimista nem alarmista, antes fosse, é simplesmente realista. É tempo que encontrem eco palavras como as tuas, quando não, levamos para o caos, as gerações que nos seguem. Os nossos actos repercutem-se indefinidamente, como o eco vai de montanha em montanha sem que ninguém o possa neutralizar!... Um abraço, Fernando.
Oh Eduardo
A tua reflexão é linda, é enternecedora, é poética, é idealista. Porquê? Porque as leis que nos regem são as leis do mercado, da livre concorrência, da competição desenfreada, da propriedade privada. Essas sim, fazem mover o mundo, dizem. Preocupaste que os políticos não saibam resolver os problemas dos povos, porém hoje o que se espera deles é que se aproveitem dos povos para resolver os próprios problemas.
Como diz o Mário Cesariny:
"Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come."
A. Alexandrino
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