O meu psiquiatra já me detectou muitos traumas. E para ele não me julgar um pelintra, também lhe fiquei com meia dúzia de complexos. Ainda não me resolveu nenhum, o que é legítimo, mas agora está debruçado sobre um que me perturba sobremaneira: o nome.
É um trauma contumaz. Agarrado como uma pele á minha personalidade.
O nome ou antes apelido (Vintém), que o meu padrinho me atribuiu, tem-me causado grandes dissabores e discriminações ao longo da vida.
Eu sei que a intenção do meu padrinho é louvável. Ele procurou um nome que desse uma imagem de humildade, o último dos últimos, “vintém”, o mais pequeno.
Porém, basta reparar nos remoques e insultos de que tenho sido vítima, desde o primeiro dia que surgi aqui no blog, para perceber que o meu padrinho não conseguiu passar a mensagem.
Primeira investida. 24 de Março. “Olha Pancrácio, não vales mesmo um vintém.”
Segunda investida. 3 de Maio. “Que raio de pseudónimo tu arranjaste.” A coroar esta, seguiu-se uma girândola de impropérios que me escuso de referir, por pudor. Aqui até chamam pseudónimo ao meu apelido. Como quem diz: é impossível que alguém tenha um nome destes. Logo, só pode ser pseudónimo.
Não raro o meu nome se torna alvo de jocosas ou imbecis provocações, as mais das vezes algo antipáticas e subtis agressões às quais (por força das instintivas defesas) rapidamente me tornei indiferente
Pois bem, antes que eu reaja mal, porque um homem não é de pau, e vá dar com os costados na barra dos tribunais, é forçoso resolver esta situação. Suponham que venho a ser constituído arguido. Passo desde logo a ser uma personalidade pública e posso mesmo vir a ser eleito Presidente de Câmara aqui de Alguidares de Baixo. Ora isso vai contra a personalidade modesta que o meu padrinho idealizou.
Que tal Pintalhão? É um nome forte, inconfundível, é nome de comandante. E de santo. E de mártir. Tem mesmo muita pinta.
Começo por convocar os nossos melhores especialistas em Portugal, que por sinal são nossos ex-colegas.
Desde logo, interrogo os ilustres psicanalistas, se:
a) os danos psíquicos causados por tantos anos de humilhações traumáticas podem de algum modo ser reparados no todo ou em parte?
b) a minha personalidade não será afectada pela adopção de um novo nome, nomeadamente pelo surgimento de uma dupla personalidade?
De seguida, há que obter um parecer dos nossos ilustres juristas, sobre o modus operandi e os procedimentos jurídicos e notariais, para proceder com segurança e exactidão à mudança de nome.
Por último, escutar a opinião de todos os amigos, se acham bem ou mal uma eventual mudança de Vintém para Pintalhão.
Fico ansiosamente a aguardar pelo contributo de todos.
Saudações bloguistas do vosso
Ezequiel Vintém ( ex-frei Pancrácio)
10 comentários:
Meu caro Ezequiel:
Isto, afinal, parece-me uma questão monetária, ou melhor de moedas... Vintém, como dizes, o último dos últimos. Pintalhão... lá vamos nós às moedas, não foi o pinto uma antiga moeda lusitana?
Vendo bem, Pintalhão será um apelido menos pejorativo, enquanto Vintém, para além de todos os contras por ti referidos, arrasta consigo outras conotações menos próprias deste espaço.
Toda a minha solidariedade.
Nelson
Caro Ezequiel Vintém,
Tinha prometido não dialogar com pessoas que não conheço, mas o teu desespero ou pelo menos mal estar, sensibilizou-me e penso poder aliviar-te. Estudei em tempos, um pouco de psicologia aplicada e permito-me dar-te alguns concelhos!
1° Abandona já o teu psiquiatra. Vai acabar por te destruir completamente...É a tua carteira que lhe interessa e não tu.
2° O teu problema não é o nome, mas a imagem demasiado negativa que tens de ti mesmo: humildade, o último dos últimos... A humindade , quase sempre falsa, foi raramente uma qualidade, e ainda menos uma virtude, mas serve de desculpa aos preguiçosos para nada fazer. Desculpam-se dizendo: não sou capaz, sou novo de mais, sou velho de mais, não possuo as competências requeridas, etc. Tu tens muitas qualidades. Façamos o elenco de todas as que eu pressinto só ao ler-te:
a/ A tua clareza de escritura tem que corresponder a uma limpidez de alma e de sentimentos.
b/ Escreves num estilo conciso, organizado, com pontuação de mestre. Mete estas qualidades na tua vida e o equilibrio te será dado por acréscimo.
c/ O teu estilo é poderoso, viril. A revolta não está longe! Apropría-te de novo da tua própria vida, não a deponhas aos pés de um charlatão qualquer, ele vai espezinhar...
d/ Podes mudar de nome 10 vezes, se não mudas em profundidade a imagem que tens de ti, de nada serve. Tu vales mais que o teu nome, aliás já existias antes que te dessem um apelido. O nome só existe para facilitar a relação com os outros. Nós não nos chamamos, nós somos.
Em conclusão diria que todo trauma pode ser reparado, mas a tua personalidade vai ser evidentemente afectada pelo tratamento que te proponho. Voltarás á tua personalidade original, antes que tivesse sido deformada , quase destriuida, por pessoas que não te querem bem! O tratamento é simples mas exigente: sempre que algo de negativo, que te possa diminuir ou humilhar te venha ao pensamento, manda para as urtigas e substitui imediatamente por um momento da tua vida em que eras feliz, te sentias bem, em que foste apludido, amado...Hoje ficamos por aquí. É um curso em 10 lições... Mas se vieres passar aqui oito dias, partirás com o teu problema resolvido. A não ser que com a influência de um mestre como eu, passes de um extremo ao outro e comeces para ai a gritar: sou eu o mais forte, o mais inteligente o mais bonito...
Mas que grande lição Fernando.
E esta é só a primeira. Porque, dizes, ainda faltam nove.Tá bem, eu reconheço que é científico, psicológico, pensado, reflectido, filosófico com uma pitada de teológico. Mas é muito trabalho! Eu sou mais pela intuição, pelo palpite, pelo faro. Por sinal tenho outra receita para o meu mal, mais prática, mais sincrética, mais portuguesa.
Mestre Alves, na Revista Oculta, nº5 Junho/07, deixa dicas para tratar pessoas com “carga negativa” [sic]: “Deve pôr um quilo de sal natural em água bem quente e ficar dentro dela meia hora. Ao fim desse tempo deve rezar o credo ou o pai-nosso. Isso durante três ou quatro dias seguidos antes de ir para a cama.”
Não será tempo demais sem ir para a cama?
Tchau Fernando. Obrigado na mesma.
Ezequiel Vintém
Oh Ezequiel, Pancrácio ou Vintém, se queres ser Pintalhão, como será chamada a tua esposa? Pintã? Pintona? Pintoa? Pintalhoa?
Olha, ao contrário da opinião do F. Vaz, tu não precisas dum psiquiatra, tu precisas é de uma grande sova.
A vida é para ser vivida com seriedade.
José Oliveira
Oh Imeldo (José Oliveira)
...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ...
(Sá de Miranda)
Como é possível, que um beato embora Tartufo, e apesar de ter frequentado a escola dominicana, seja capaz de tamanhas aleivosias. Não te terás enganado no século? Vê bem. Acho que o teu lugar é na era da pedra lascada.
E mais não digo, para não me chamarem "desbragado".
Ezequiel Vintém
Ezaquiel, lembra-te que também Sá de Miranda nos disse: "Oh cousas todas vãs, todas mudáves".
E tu pensas que as coisas deste mundo são eternas. Lembra-te que no inferno está um relógio a badalar:Sempre/Nunca; Sempre/Nunca.
José Oliveira
Isto é que vai uma açorda!...
Um abraço a todos e um óptimo fim de demana!...
Eu parto, ao fim da tarde de hoje, para a BB... (Beira Baixa) e espero fazer uma visita à Srª. do Almurtão....pedindo-lhe que ilumine todos os nossos confrades...
Zé Celestino
Senhora do Almortão
Eu p'ró ano lá hei-de ir
Ou casado ou solteiro
Ou mocinho de servir
Que eu este ano não posso ir
Estou de serviço ao blog
Que não para de me fazer rir
Bom fim de semana ao Celestino e a todos os confrades
Ezequiel Vintém
Amigo Ezequiel Vintém,
Anoto, com especial simpatia, o teu conhecimento dos cantares raianos...
Na primeira oportunidade terei muito gosto em te oferecer um CD com muitos dos cantares da Beira Baixa, alguns alusivos à Srª do Almurtão.
O Zeca Afonso - que tanto aprecias e,com frequência,invocas - recorreu ao folclore raiano em muitas das letras e músicas das sua canções.
Pelos vistos, o Conservador recusou-te a alteração de nome...
De facto, «Pintalhão» é passível de alguns «lapsus calami»...
Vamos lá ver se cada um de nós consegue trazer para o Blog «outro amigo» de Aldeia Nova/Fátima...
Zé Celestino
Por mim, bem tenho esforçado e não me canso de propagandear o nosso endereço, por todos aqueles que vão estando ao meu alcance... Porém, constato que só espreitam e nada de conversas.
Nelson
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