Não sei onde pára nem que é feito
dele.
Perdi-lhe o rasto. Perdemos-lhe o
rasto. Anafado quanto baste, chegou a Aldeia Nova vindo de Lisboa. Dada a
Instituição donde provinha, haveria de carregar consigo o nome de Casa Pia. Recordo-lhe as feições, as
rechonchudas faces, a proeminência abdominal que rebentava com os botões do
guarda-pó e o insaciável apetite que evidenciava em redor da marmórea mesa do
gélido refeitório. Indiferente à cantilena monocórdica que um paciente leitor
debitava durante a refeição, lá ia devorando o que aparecia sem se perturbar em
demasia com a ementa ou o paladar.
A esse tempo,
década de cinquenta do século passado, a selecção nacional de hóquei em patins,
ganhava tudo o que, nessa matéria, havia para ganhar. A imaginação dos
adolescentes e jovens que povoavam a Escola Apostólica Dominicana de Aldeia
Nova era fértil e cedo se adoptou uma nova modalidade desportiva que, não sendo
hóquei em campo, era um hóquei jogado sem patins. Os ramos resultantes da poda
das oliveiras, era matéria-prima ideal para o fabrico de um stick. Rapidamente se delimitavam os ringues e institucionalizou-se a prática
do hóquei, em homenagem, sabe-se lá, ao Perdigão, Raio, Edgar, Vaz Guedes e
mais tarde ao Adrião ao Velasco ao Boussós e a tantos outros exímios
praticantes do pau e bola. Entre a população da Velha Casa, cedo se distinguiam
hábeis praticantes da novel modalidade, permitindo-me destacar o Igreja, o
Vitorino, o António Júlio e o Bravinho que não gostava nada de perder.
Reconhecendo a
sua pouca aptidão para a condução da bola com o pauzinho, o Casa Pia entendeu por bem fazer jus à
sua compleição física, mediu o seu corpanzil com a baliza e vá de se assumir
como um guarda-redes imbatível. Como mesmo assim sofresse alguns golos, entendeu
que um stick adequado ao seu físico,
poderia fazer a diferença. Fez planos e depressa descortinou um tronco de
oliveira, recurvado numa extremidade que seria o adereço ideal para suavizar
algumas goleadas. Passou horas a desbastar o tronco, mas conseguiu apelidar de stick a uma peça com alguns dez
centímetros de largura e uns setenta de comprimento, que usava para manter
inviolável a baliza. Para além de ser motivo de chacota, todos se recusavam a
jogar contra o Casa Pia, desde que
fosse ele o guarda-redes e teimasse em utilizar tal adereço.
Um dia, após um
reunião capitular, terá sido convidado a abandonar Aldeia Nova. Os motivos eram
sempre desconhecidos, mas se calhar a vocação por lá ficou, perdida num ringue
de hóquei.
Era o Orlando Manuel Pinto.
Alguém se lembra
dele?...
Nelson
Nelson
2 comentários:
Mais um texto de boa-memória. Lembro-me bem desse nosso companheiro.
Não sei porquê demos-lhe o nome de Pompeu. Também gostava de saber dele.
Bom retrato, fiel lembrança, Nelson.
EBento
Era o "Pompeu"!... Vá-se lá saber porquê!... Era a nossa imaginação que era fértil.
Abraço Eduardo.
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