quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Ser ou ter? Ser por ter ou ter para ser!... O que tem é? E o que não tem o que é?

                                                                                                 Fernando J. Vaz

Há dias fui visitar um amigo (uma relação) para preparar o batismo do último filho (Liam) e antes mesmo de me perguntarem como vai a saúde, a família... começaram a visita guiada da casa.
-Aquí é o hall de entrada onde se podem deixar os sapatos e o sobretudo...
-Não obrigado, não vou demorar...
-Aquí é a parte “dia”, toda aberta à maneira americana, com o salão, sala de jantar e cozinha com bar para tomar o  aperitivo ao mesmo tempo que se cozinha! Aperitivo?!
  Pensei que iamos parar por alí e dar inicio ao trabalho que justifica a minha deslocação e talvez  beber um café, pois gabaram muito a máquina toda automática, alí bem em evidência.
  Nada disso a visita continuou. Abriram uma porta e tive que admirar a retrete e a outra peça ao lado para arrumar aspirador e objectos domésticos...
-Agora passamos para a parte ”noite”... Desculpem lá, mas a parte noite fica para a próxima vez pois penso ir dormir a minha casa e até estou com bastante pressa. Parece que não gostaram da minha reacção e foi talvez por isso que não tive direito nem sequer a um copo de água... Falei-lhes do baptismo em geral e da cerimónia para o baptismo do Liam  em particular e marquei encontro com eles para 15 dias depois, mas desta vez na casa paroquial.
Quando cheguei a casa expliquei à minha mulher o momento desagradável que tinha vivido e até lhe disse que as nossas visitas devem pensar que nem temos quartos nem casa de banho pois sempre os recebemos na sala de jantar. Alguns só sabem que temos retrete pois tiveram necessidade de a utilizar!
Ela respondeu-me: para que te serviu estudares psicologia se não és capaz de te adaptar ás pessoas. Deste prova de pouca educação e nenhuma empatia. Muitas pessoas existem através do que têm e outros através do que são e todos merecem o mesmo respeito e atenção...
Não sei se sou ou se tenho (talvez um pouco de cada) mas de certeza que já passei a idade de suportar tanta banalidade.
Sei que não sou um caso único. Tenho uns amigos aí em Portugal, em Torres Novas... São eles mesmos...
Na casa deles conhecia bem as duas cozinhas, a churrasqueira o quarto onde dormi e a famosa cave.
Deve haver ainda outras partes que não conheço pois a casa é grande. E só soube que tinham um salão e uma sala de jantar, talvez na minha quinta visita, quando o Bispo deles se convidou para ir lá comer.
Porque disse tudo isto? Por nada, apeteceu-me!

Um abraço, do Fernando.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O importante é a mensagem não o mensageiro


O portal para um mundo diferente
Hoje que completo mais um ano de vida, tenho a certeza que muitos daqueles que não me acompanharam nas últimas cinco décadas, têm dificuldades em entender o porquê da importância que dou a nova era, e a mudança de paradigma. Como os meus últimos artigos têm gerado celeuma e reações hostis de alguns filósofos. Eu decidi por bem esclarecer.
    Quem lê os meus artigos está acostumado a ler (“não acreditem nem rejeitem aquilo que aqui escrevo”)…, por isso, não tenho a intensão de ensinar nada a alguém. Todos sabemos que uma reação violenta, em relação a qualquer coisa é originada no medo. Quero lembrar que não há que ter medo. Sugiro que peçam esclarecimentos, perante uma dúvida em vez de uma reação hostil que impede que se faça luz.
Como tudo começou. Já está quase a perfazer duas décadas que tudo começou. Era final de seculo e inicio de um novo milénio. Era o início do ano 2000 e coordenava na altura o instituto de gestão de stress, um projeto inovador, ao serviço de uma dezena de psiquiatras e outros agentes ligados a doenças aditivas. Neste espaço residencial, em regime de absoluto anonimato (indispensável ao estigma da doença), eram recebidos, homens e mulheres da classe média/alta, essencialmente com problemas de álcool. Era um serviço honesto e responsável, com resultados incríveis.
A grande cambalhota. Ainda no decorrer do ano 2000, é recebido no espaço que coordeno um novo residente do sexo masculino com 36 anos de idade (que vamos dar o nome de João), com um grave problema (Cirrose hepática), em estado de degradação avançada. A sua permanência tinha sido requerida, na esperança de o manter vivo até a hora do transplante (fígado). Apesar de jovem e simpático o mal-estar provocado pela doença e a ascite, tornava-o antissocial agravando ainda mais, a nada animadora deterioração física. As semanas passaram e o João, lenta, mas progressivamente começou a integrar-se na casa e no grupo que nela habitava. Começou por participar com a sua presença nas palestras diárias: em que entrava mudo e saía calado, e no final da 3 semana, a ascite estava a ceder e o volume dos líquidos abdominais (barriga d'água), tinham reduzido cerca de 50 %. A língua começou a desatar-se e os primeiros sorrisos começaram a esboçar-se e na quinta semana já fazia parte integrante de todos os trabalhos terapêuticos e das tarefas da casa. Na oitava semana o João está em condições físicas emocionais e mentais para regressar ao seu trabalho. O João não precisou mais de transplante e todos os valores estavam dentro na normalidade. Qual foi o tratamento? Somente as limpezas linfáticas normais e uma mudança de consciência. Nada mais. Na altura não tive consciência da dimensão real, e não dei importância ao caso. Ainda no mesmo ano outro caso neste caso uma senhora de 68 anos que vamos dar o nome de Maria, que apesar de um problema de álcool tinha cancro da mama, já com metástase nos ossos e pulmão. O seu estado era muito delicado. O objetivo era conseguir alguma qualidade para o tempo de vida que lhe restava. Da mesma forma como o João a Maria mudou a forma de ver vida e o mundo, e além de não precisar de adicionar o álcool para lidar com os seus sentimentos e emoções, também o cancro e as metástases desapareceram sem explicação. Uma recuperação incrível. Como o João e a Maria outros casos se seguiram de portadores de doenças crónicas como a diabetes e outras (alguns insulinodependentes). Depois de um estudo mais aprofundado percebi que todos que mudavam a forma de pensar, mudavam a forma de lidar com os sentimentos e as emoções, e problemas físicos mais ou menos graves desapareciam definitivamente. Por outras palavras, logo que a pessoa mudava tudo mudava na vida do individuo. Eufórico com as conclusões tentei expor o caso junto dos profissionais de saúde que me enviaram os pacientes com casos mais dramáticos, mas o melhor que consegui foi “cala-te bem calado, que é melhor para todos”. Achei a posição muito estranha, porque eram vários “profissionais” todos com postura igual…, alguns nunca mais me falam e nenhum dos que viram seus doentes recuperar para uma vida de qualidade, mandou mais doentes para o instituto que coordenava. Parece tudo muito estranho, mas não o é... Tudo é perfeito, não podia ser diferente…, embora na altura não conseguisse enxergar o grande benefício na “grande frustração”.
Procura e achareis. Apesar de todos os resultados conseguidos, não podia quebrar o anonimato dos residentes, e mesmo que alguém tivesse disposto a quebrar o anonimato (o caso da Maria), ficaríamos com um caso isolado que nada mostrava. E acima de tudo não tinha a intensão de tentar convencer alguém. Mas mostrar que o simples largar dum conceito pode fazer milagres de mudar uma realidade. Não desisti de procurar uma explicação, não porque tivesse qualquer dúvida, mas porque não queria embandeirar no folclore New Age da altura, carregado de misticismo…, ou pior ainda, fazerem de mim um Guru. Essa a razão de procurar explicação para todo o processo de recuperação e transformação pessoal a luz da ciência. Inicialmente cruzei-me com John Demartini um disléxico, que mostrou a quântica, e Amit Goswami que me mostrou o maravilhoso mundo da quântica, e como todo este processo de transformação pode ser explicado. É verdade que poderia simplesmente sugerir a leitura do “Universo Autoconsciente de Amit Goswami, em vez de escrever artigos, mas arriscava-me a ouvir que a leitura é difícil e confusa, onde a espiritualidade caminha lado a lado com equações complicadas.
Alusões finais
Caros leitores com este texto, não tive a intensão de justificar nada, o meu único objetivo é partilhar a minha experiência. E com minha experiência, acender uma luz no fundo do túnel daqueles que estão mergulhados no sofrimento. O meu trabalho destina-se a quem quer resultados, não para quem quer perder o tempo precioso que lhe resta a filosofar.
Continuo incondicionalmente aberto a qualquer pedido de esclarecimento


António Fernandes  

sábado, 17 de novembro de 2018

Fr. Clemente Maria de Oliveira




Rato cego! Fedelho de calça rachada!... Era assim que o bondoso padre Oliveira admoestava os distraídos, os indisciplinados, os faladores e os que se riam dos outros e de si mesmos. E quem é que não foi repreendido desta forma por ele?...
A sessenta e tantos anos de distância, recordo-o com uma saudade enorme, pelos mais diversos motivos. Um homem são e santo, introvertido talvez, mas que também ria com os que riam com ele. Eu deveria andar pelo segundo ou terceiro ano, quando foi anunciada a visita do Mestre Geral da Ordem Dominicana, um frade que dava pelo nome de Brown e que se bem me recordo era de nacionalidade alemã. Creio mesmo que foi bispo e cardeal. Como o homem era alemão, tinha que ser saudado em latim tendo sido o latinista Clemente de Oliveira o redactor da saudação. E agora vá-se lá saber porque é que o padre Oliveira me havia de seleccionar a mim para fazer a leitura de um pequeno texto em latim!?... Quem conheceu este mestre em latim e foi seu aluno como eu, sabe como ele se esforçava para que se falasse o latim com a acentuação devida, e com aquela cantata tão característica da língua de Cícero. E então ele chamava-me ao seu quarto e obrigava-me a ler repetidas vezes o pequeno texto, assim à guisa de ensaio. Na recepção ao Mestre Geral eu lá fui ler a saudação e no fim da cerimónia, com aquele sorriso que o caracterizava foi-me dizendo que estive bem. Tive comigo durante muitos anos esse pequeno papel, por ele escrito à máquina mas, as andanças da profissão fizeram com que ele desaparecesse, para grande desgosto meu.
As paródias, quando tínhamos por prefeito o padre Oliveira, eram muitas e diversificadas. Imagine-se por exemplo quando, em pleno estudo, ele repreendia alguém que conversava ou protagonizava qualquer acto susceptível de distrair os companheiros, lá tínhamos a voz do mestre:
Seu rato cego!...
Mas havia sempre alguém que, vestindo a capa da ingenuidade, perguntava:
-Sr. padre Oliveirinha, o que é um rato cego?
-Olha menino é aquele que não vê um palmo à frente do nariz!
Imagine-se agora uma sala inteira a estender a mão em frente ao nariz para medir um palmo!... Era a gargalhada geral, para irritação do bondoso Clemente Maria de Oliveira.
A Velha Casa ou Casa Amarela, era composta por três pisos habitáveis. No rés do chão, funcionava a cozinha, copa, o gabinete do director e respectivos aposentos, sala do capítulo, refeitório e um salão dedicado ao estudo do primeiro e segundo anos e sala de aulas do primeiro ano. A ligação ao primeiro andar era feita através de uma escadaria que partia de um hall da entrada da portaria e que rematava com as estantes da biblioteca. Este piso tinha a nascente um salão que servia de sala de aulas ao segundo ano e de salão de estudo para o terceiro, quarto e quinto, e dava acesso à capela. Deste salão partia um corredor que do lado direito dava acesso à sala do 3º ano e 4º anos a uma casa de banho destinada a suas reverências, a que se seguia um vão de escadas que dava acesso ao rés do chão e ao dormitório do terceiro piso. Ao fundo e do mesmo lado ficava o laboratório que era também a sala do 5º ano. Do lado esquerdo ficavam os quartos dos frades e dos irmãos que também eram frades professos, mas sem ordens presbiterais. O último piso, sótão adaptado, era destinado exclusivamente a dormitório, havendo a um canto, do lado poente, um quarto destinado ao perfeito e do lado oposto uma espécie de casa de banho que servia em exclusividade para diurese. A nascente e a toda a largura da parede havia diversos lavatórios para a higiene matinal e um espelho enorme para barbas e penteados. As casas de banho gerais, com urinóis, sanitas e chuveiros, funcionavam em anexo, situado no rés do chão junto à escadaria do coro da capela.
Vamos então à sala do 5º ano e laboratório, onde eu e os meus companheiros de então protagonizámos cenas verdadeiramente patéticas com o bom padre Oliveira e que, à distância de quase seis décadas, só têm explicação pela juventude que então respirávamos e pelo sangue irreverente que nos corria nas veias. Em primeiro, queria deixar os nomes da turma daquele quinto ano: Arnaldo Jordão do Vale, Domingos Branco, Fernando José Vaz, Manuel dos Santos Rufino, Nelson Amaral Veiga, Orlindo Gonçalves Igreja e Vitorino Vieira Dias. Destes aspirantes a noviços, só eu e o Orlindo Igreja não chegámos a vestir o hábito de S. Domingos. A sala era pequena e tinha a forma rectangular, com a porta de entrada sensivelmente a meio, com duas mesas compridas e estreitas e bancos do mesmo tamanho. Encostada à mesa da frente estava a secretária do professor e nas costas deste ficava o laboratório, que mais não era que um armário envidraçado, onde pontificavam frascos com diversos produtos químicos, alguns minerais, um microscópio e um metrónomo. E foi nesta pequena sala que eu tive aulas de inglês com o Fr. Legault, de física com o Fr. Vicente, de matemática com o Fr. Domingos, de francês com o Fr. Bernardo, de Religião com o Fr. Armindo Carvalho e de latim com o Fr. Clemente de Oliveira.  Já não recordo quem leccionava ciências!... E foi também aqui nesta sala que eu tive aulas de português com um homem de baixa estatura, cara larga e avermelhada e que penteava para trás o seu cabelo, levemente ondulado. Os dedos da sua mão direita estavam amarelecidos pelo fumo do tabaco, de que era consumidor confesso. Não largava a sua batina preta e lustrosa e com ela vestida se enfiava no seu calhambeque preto, muito antigo, que o levava até aos Milagres, em cada fim de semana. Foi por intermédio deste padre e mestre que eu, e suponho que muitos de  nós, ganhei a paixão pela leitura e pela escrita. Foi pelos ensinamentos dele que ganhei gosto e respeito pelo jornalismo, mal adivinhando eu que, décadas mais tarde, haveria de ser titular de uma carteira profissional de jornalista. Como ele nos falava do seu “Mensageiro”, o semanário interventivo dos Milagres, que era dirigido pelo seu amigo Pe. Lacerda!... Foi ele que nos embrenhou na história da literatura portuguesa e nos deu a conhecer os prosadores e poetas que tanto engradeceram a língua portuguesa ao longo dos tempos. Foi a ele que ouvi falar pela primeira vez em escritores contemporâneos cujos nomes, a esse tempo, eram para nós proibitivos, como Vitorino Nemésio, Aquilino Ribeiro, Francisco Costa, Alves Redol ou Fernando Namora. Obrigado padre António Francisco, padre Xico ou padre “Tomate”.
Mas eu queria falar das aulas do padre Oliveira que, vistas a esta distância, soam a saudade, a irrequietude a exageros e a remorso. Quando ele entrava na aula, começava de imediato o distúrbio. Era o metrónomo do laboratório que iniciava o seu cadenciado tic tac, eram os de trás que empurravam a mesa, eram os da frente que, em perfeita orquestração e sintonia se altercavam com os de trás… isto só para que o bom mestre se irritasse. Para iniciar a aula, se é que a aula se iniciava, ele rezava a primeira parte da Ave Maria, sempre em latim, Ave Maria gratia plena dominus tecum… e nós concluíamos a segunda parte cada um em seu tom, em português uns, em francês ou espanhol outros e até em línguas criadas no momento. Uma bola de pingue pongue escondida de baixo da mão e deixada cair ao de leve sobre a mesa, produzia um som irritante –trrrrr…trrrrrr….. O mestre via assim interrompida a sua dissertação sobre a Eneida ou sobre as Catilinárias e questionava a razão daquele ruído. De pronto o Fernando, olhando pela única janela que dava para o terraço da copa, onde já pousavam os ramos de uma figueira caduca, dizia ser barulho dos Xarréus,  nome que dava mais para peixe que para pássaro. Cada observação era sempre sublinhada com inoportuna risada, com a qual o mestre nem sempre condescendia.
O Igreja tinha ao tempo um corpo franzino e prestava-se a alguma irrequietude, mas era saudável que nem um pêro. Um dia, para o que lhe havia de dar, em plena aula de latim!... –Protagonizar um fingido e bem encenado desmaio. O resto da turma entrou na encenação e vá de ir buscar água para chapar na cara do Igreja, a ver se tão oportuno desmaio passava. Carregávamos o companheiro em braços, com grande alarido, até ao dormitório e lá se ia mais uma aula de latim. A cena haveria de repetir-se mais algumas vezes, tendo tal desmando chegado à reunião capitular, que valeu ao nosso companheiro um convite para abandonar a “Velha Casa”. E assim se perdeu um frade.
Um dos gestos primeiros do padre Oliveira quando chegava à aula, era pôr um relógio de bolso, já comido pelo tempo e pelo uso, em cima da secretária. Um belo dia, quando os de trás empurravam os da frente, a força conjunta foi de tal ordem que o relógio caiu ao chão e partiu-se. O rosto do bom frade iluminou-se de surpresa e espanto enquanto deixava transparecer alguma mágoa. Era um relógio que fora pertença de seu pai e que guardava como relíquia, disse-nos. Todos ficámos emudecidos e agarrámos a culpa que nos pertencia. Nunca mais vi o padre Clemente de Oliveira mas, há talvez uns vinte anos, li com mágoa na revista Visão a notícia do seu falecimento, onde lhe eram tecidos merecidos encómios, enaltecendo o facto de haver traduzido para latim “Os Lusíadas”.

Até sempre, Sr. Pe. Oliveira!...

Nelson Veiga

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

UMA NOVA VISÃO DE MUNDO - António Fernandes

Parte 1
Sei que sou um presunçoso a tentar mostrar-se humilde. Foi o que consegui perceber de mim ao longo das minhas vidas. Enxergar de vez em quando quanto cego eu sou, foi o melhor que consegui. Assim, não acredites numa só palavra que eu aqui escrevo. Mas não deixes de ler, para perceberes do que um pomposo presunçoso é capaz.
Sempre me interessei por história universal. E sempre filosofei sobre a decadência e morte das civilizações Mesopotâmica, Egípcia, Grega e Romana. O que mais me fascinou e fez pensar foi descobrir que a realidade das civilizações sempre dependeu da visão que o ser humano tinha dele em relação ao mundo, ao universo e a Deus.
Desde Babel até ao séc. XVII, altura em que Isaac Newton revolucionou o mundo e a ciência com as novas leis (gravitação universal, a mecânica dos sólidos e dos fluídos, inércia, dinâmica e alquimia), o ser humano julgava ter nascido com uma influência astral. A sua vida dependia dos movimentos astrais, e do temperamento de Deus ou dos deuses mitológicos. Uns julgavam que tinham nascido para predadores, outros para vítimas. Tinham um destino traçado que não poderiam mudar. Com esse conceito de mundo, consultavam os astros para tudo. Para casar, para comprar uma junta de bois ou para invadir a privacidade do vizinho. Teriam também de estar atentos para não desencadear a ira de um Deus tirano, que raramente tirava férias e governava o mundo e o universo com punho firme, como o aço. Com esse conceito as possibilidades de criar a realidade que desejavam era nulas, se não fosse da vontade dos astros e se os deuses não estivessem bem dispostos. Com a chegada de Isaac e a nova visão de mundo e universo, juntamente com o dualismo de René Descartes, a visão de mundo mudou a um ritmo lento e firme, sendo a visão dominante de mundo e universo nos dias de hoje.
Esta visão newtoniana/cartesiana, foi revolucionária na época, alimentando a revolução industrial e o capitalismo Adam Smith e tirando a Europa da época do feudalismo. A melhoria de vida com o desenvolvimento inquestionável em todas as áreas é uma realidade. O ser humano passou a ser livre do senhor feudal, mas tornou-se escravo do medo dele mesmo. Embora tudo isto faça parte de um livro em preparação, este artigo somente tem a pomposa pretensão de mostrar uma nova visão de mundo, segundo a visão da moderna física quântica.
Mas antes de irmos à nova visão de mundo (que nova pouco tem a não ser os termos), precisamos perceber qual a razão da urgência em ampliar a consciência para esse “novo” conceito.
A urgência para mudar de paradigma deve-se à profunda hipnose psicótica em que a humanidade está mergulhada. Apesar de todos os dias desabrocharem novas associações de defesa de animais e plantas e novas formas de luta contra doenças que afligem a humanidade, não se consegue tapar o sol com a peneira. O ser humano perdeu a individualidade, submeteu-se a um conceito normativo, acabando como parte de uma massa fácil de mover e modelar. Todas as doenças crescem a uma velocidade vertiginosa, apesar do milhões de dólares, euros e libras gastos diariamente… A cada três minutos uma mulher recebe um diagnóstico de cancro de mama… Porquê? Porque é que apesar das grandes campanhas contra o fumo a cada dia que passa 4.000 adolescentes começam a fumar no mundo? Porque é que apesar de se queimarem milhões de toneladas de trigo, e se pagar a agricultores para não cultivarem nos próximos 60 minutos 1.800 crianças morrerão de desnutrição e fome? Não falemos de um terço da população mundial contaminada pela tuberculose, nem dos distúrbios alimentares em 25% das mulheres, da síndrome de pânico, dos transtornos obsessivo compulsivo etc. etc. etc. O paradigma newtoniano/cartesiano cega-nos para a realidade, vivemos em estado de hipnose psicótica coletiva.
Será este estado de coisas “normal”?
Só precisamos aceitar que o paradigma newtoniano/cartesiano foi libertador, mas hoje está obsoleto.  Tudo no universo funciona assim…, nasce, cresce desenvolve-se e transforma-se. Se a humanidade já não usa no seu quotidiano, apetrechos construídos segundo as leis da física clássica, salvo raríssimas peças de coleção, a mecânica clássica já só é encontrada em museu. Da mesma forma que a mecânica clássica já não funciona nos utensílios de hoje, também não funciona como estrutura/padrão de princípios tão importantes como o amor, responsabilidade, humildade, honestidade, etc. etc.
Resumindo: a física clássica, com a sua estrutura rígida tridimensional, mantém o ser humano afastado da sua verdadeira identidade divina, excluído do universo e de Deus. Se antes da física clássica era uma marionete sujeita ao movimento astral ou dos astrólogos que os interpretavam…, depois como donos (conhecedores das leis universais) licenciaram-se legalmente na manipulação do próximo e o mundo com essas leis (chamam-lhe Marketing). Apesar dos grandes melhoramentos materiais que trouxeram o conforto e a possibilidade de viajar e admirar as belezas da criação, o homem continua vazio e excluído do mundo e do universo. Tanto manipulando como manipulado, na sua pequenez existencial é incapaz de atingir a santidade, admirando a obra da criação.
Ao não se contentar com a posição de filho rejeitado e muito menos com a angústia do vazio existencial, o homem na sua infinita procura sondou no lugar onde nunca antes tinha procurado. Dentro da matéria (aparência física) onde encontra o novo. O fascinante mundo atómico, pondo em causa a mecânica de Isaac Newton. Dentro dos microcosmos as leis da física clássica não têm utilidade. Tudo é movimento, fluxo e interação…, uma dança infinita onde tudo se encadeia.
Como é que essa descoberta pode salvar a humanidade do vazio existencial?
Essas descobertas revelam-nos os princípios espirituais do universo onde a criação (Deus) é reconhecida em tudo. Tudo o que existe é energia (Deus), está dentro da energia, enfim…, tudo é criação (ou Deus como cada um o concebe). Todas as coisas possuem uma natureza divina que reside latente dentro de si mesmas. Do ser mais pequeno ao maior, do átomo ao sol, da molécula a qualquer ser visível ou invisível, tudo que acontece no universo faz parte da perfeição divina. É urgente escolhermos se queremos continuar com a consciência clássica (relíquia de museu), submersos no vazio angustiante do sofrimento ou sair e assumir a divindade que carregamos no mais profundo de nós mesmos. Mas não importa se que aqueles que leem este texto façam de conta que isto não é para eles. A essência divina existe, está lá…, esperando a hora de se manifestar em toda a sua pureza e grandeza. Saber que a perfeição reside oculta em nosso ser é uma certeza que devemos ter sempre presente.
A partir desta premissa poderemos desenvolver uma nova visão de mundo, o texto já vai longo. Vou deixar para amanhã os novos princípios espirituais da mecânica quântica. Repito, que de novo pouco têm…
Incondicionalmente disponível fico a aguardar pelas dúvidas,



António Fernandes

sábado, 10 de novembro de 2018

ORDEM DO INFANTE D. HENRIQUE PARA A PROVÍNCIA DOMINICANA PORTUGUESA

Ao poder público, ou político como quiserem, compete reconhecer o mérito, a acção, o desempenho e a dedicação de cada cidadão, da comunidade de cidadãos, das instituições, sejam elas públicas, privadas ou regiosas, desde que tal desempenho contribua ou tenha contribuído para o bem comum. Finalmente, e já no século XXI, O presidente da República decidiu agraciar os Dominicanos de Portugal com a Ordem do Infante D. Henrique. Coube ao Fr. José Nunes receber o galardão, ontem dia nove, no Palácio de Belém. Fica o registo fotográfico.