quarta-feira, 28 de março de 2012

APONTAMENTO SOBRE A PRESENÇA DOS DOMINICANOS EM CRISTO-REI - PORTO

Do livro “QUEM SOMOS E COMO VIVER COM SENTIDO PERSONALISTA?” do Fr. Bernardo Domingues, o.p., e com a sua permissão dada aquando da visita que lhe fiz à Casa de Saúde da Boavista”, Porto, onde ele estava internado a convalescer de uma melindrosa operação cirúrgica a que se submeteu em Paris, transcrevo o seguinte extracto.

Neves de Carvalho


1. Em 1834 os Dominicanos foram expulsos do seu Convento, no Porto, situado no Largo de S. Domingos. Tudo foi leiloado e integrado na “Fazenda Nacional”, como aconteceu ás diferentes Ordens e Congregações Religiosas.

2. Os Dominicanos regressaram em 1937, instalando-se na Rua Clemente Menéres, 88, junto ao Jardim do Carregal. O prédio foi alugado e adaptado para a vida comunitária e o culto público. A afluência de cristãos foi rápida e estável.


3. Entretanto o Bispo D. Agostinho de Jesus e Sousa contactou o Superior, fr. Tomás Maria Videira, propondo insistentemente para que a Comunidade planeasse uma mudança para a zona de Gomes da Costa, onde estavam em desenvolvimento novos núcleos da população que necessitavam de apoio cristão.

4. Concretizado o acordo da deslocação, em Agosto de 1949, parte da Comunidade instalou-se numa casa alugada na Rua Afonso de Albuquerque. O fr. Adriano Geraldes continuou no Carregal, apoiando os residentes dum “Lar da JOC” e a população que frequentava a Capela de N. S. do Rosário, que pertencia à Ordem provisoriamente. Deslocaram-se os fr. Estevão Faria, como Superior, fr. Gonçalo Tavares, fr. Bartolomeu Martins, fr. Pio Ribeiro Gomes, fr. Tomás Torres e fr. Reginaldo Vilela.


5. Após a mudança, instalaram uma capela numa sala da casa alugada, na Rua Afonso de Albuquerque nº 27, onde se iniciou o culto dos Frades e da acolhedora população da zona. Também continuaram as celebrações da Eucaristia na capela dos Condes de Vizela, que eram os donos de Serralves, actual Museu e Quinta.

6. Em vista do futuro e contando com o acolhimento caloroso e participativo das pessoas, passou-se ao processo da aquisição do terreno em vista da construção da Igreja e Convento, que recebeu o nome de Cristo-Rei, onde actualmente estamos “instalados”.


7. O terreno, sete mil e quinhentos metros quadrados, foi cedido pela Câmara do Porto, com direito de superfície, para a finalidade exclusiva da residência dos frades, do culto e cultura. Nessa altura o Prof. Dr. Luís de Pina era Presidente da Câmara do Porto. Entre os residentes da zona, que se empenharam na aquisição do terreno e na angariação de fundos para as construções da Igreja e Convento, constam especialmente o Prof. Dr. Luis de Pina, Dr. Nosolini, Engº Daniel Barbosa, Dr. António de Sousa Machado, Dr. José Bacelar, Dr. Albano Magalhães, Dr. Abel de Campos, Sr. Edgar Lello, Sr. José Moreira Rodrigues, Sr. José Aires Pereira. Tiveram acção preponderante D. Lia Madeira, D. Rosália Tamegão, D. Maria Aires Pereira, D. Maria Adriano Sampaio, D. Lúcia Monterroso Miranda, D. Noémia Pinheiro Torres, D. Margarida Martins, D. Maria Lívia Nosolini, D. Maria de Lurdes Pina, D. Maria Teresa Bacelar, D. Carolina Lello e D. Noémia Frias Ferreira.
Tiveram especial função coordenadora das comissões de angariação de fundos e de intervenção juntos dos “poderes instituídos” o Dr. Luis de Pina, o Conde de Vizela e o Dr. J. Rodrigues Gomes.

8. Depois de contactos com Arquitectos e seleccionado o actual projecto, a construção foi adjudicada à firma “Ramalho e Silva” em 1951. Preparado o terreno a “primeira pedra” foi benzida no dia 28 de Agosto pelo Bispo auxiliar do Porto, D. Policarpo da Costa Vaz. Desenvolveram-se actividades de angariação de fundos e o dinamismo dos noventa operários, a pressão simpática do fr. Estevão conseguiram que a Cripta fosse inaugurada e dedicada a Nossa Senhora do Rosário no dia 6 de Abril de 1952. Conseguida esta vitória, desenvolveram-se actividades renovadas especialmente a partir dessa Páscoa e da quantidade de fiéis que frequentavam as celebrações das Missas, 7, 9 e 12 horas, assim cmo a regular oração do Rosário e da Via-Sacra.

9. Parte do Covento foi inaugurado em 6 de Outubro de 1952 e a comunidade dos frades transferiu-se para a nova residência, o que facilitou o acolhimento e o apoio dos fiéris, tornando-se “famoso” local de procura do Sacramento da Reconciliação.
Em 1953 iniciou-se a catequese e o apoio a jovens, o que teve muita afluência e grande sucesso.


10. Em 23 de Maio de 1954 procedeu-se à inauguração e sagração da Igreja. Foi pregador o fr. Francisco Rendeiro o.p. e Bispo Coadjutor do Algarve. Presidiu à solene celebração D. António Ferreira Gomes e veio, de Roma o Mestre Geral da Ordem fr. Manuel Suarez. As autoridades civis e militares estiveram presentes e consta que houve entusiasmo na cidade.

11. Com o aumento dos frades, tornou-se formalmente uma Comunidade Conventual. O fr. João de Oliveira, o.p. iniciou cursos de Bíblia, com tal afluência que foi preciso transferi-los para a Cripta. E até que surgiu a necessidade de constituir uma nova Paróquia.


12. Foi o Dr. Abel de Campos, Desembargador e cristão activo, que desencadeou o processo de recolha de assinaturas e “influenciou” os mais renitentes que passaram a ser cooperantes. O Bispo encarregou D. Domingos de Pinho Brandão para delimitar os “termos geográficos” e “acalmar” os Párocos da vizinhança mais renitentes para se tornarem cooperantes ou pelo menos tolerantes para a “nova paróquia experimental” Tudo decrreu sem incidentes e até com sucesso. Devemos-lhe a eficaz intervenção e a informação de que dispomos.

13. Devemos ao fr. Rogério Guedes Amorim, nascido em 1933 e falecido no IPO-Porto a 23.05.1999 a Construção do Centro Paroquial, com a evidente grandeza, operacionalidade e discutível estética. Na vida e na morte foi um notável modelo de clarividência, coragem, fé operativa e persistência, em função do bem comum dos Irmãos o.p.. Isto ficou bem documentado em Nampula e em Cristo-Rei. Dois nomes a registar como eficazes congregadores e construtores - fr. Estevão e fr. Rogério. E deve-se ao fr. Lourenço da Rocha a construção do Convento dos Dominicanos em Fátima. “




7 comentários:

Antero disse...

Bom trabalho, Neves de Carvalho.
Estou intrinsecamente solidário com o património cultural desta Ordem e dos seus obreiros do presente, sem esquecer alguns, também valorosos, que já partiram.
Antero

Zé Celestino disse...

Parabéns ao Frei Bernardo Domingues pelo excelente trabalho de recolha, sistematização cronológica e publicação de factos e personagens relevantes na vida da Ordem Dominicana, «in casu», na cidade do Porto.

Um louvor ao Neves de Carvalho pela iniciativa de divulgar o trabalho do Frei Bernardo e, assim ,estimular,a nossa curiosidade e vontade de ler todo o livro.

A propósito da vida dos Dominicanos.

E que tal a ideia de criarmos um grupo que recolhesse as nossas «memórias» de Aldeia Nova/Fátima...

Como uso dizer, seria uma documento interessantíssimo «Ad perpetuam rei memoriam»....

Vamos trocar ideias..

Um grande abraço ao Frei Bernardo e ao Nelson e a todos os dominicanos que contribuiram para o prestígio da Ordem em Portugal e além fronteiras.

Zé Celestino

Jaime disse...

Boa ideia Zé Celestino. Quanto a Fátima uma boa fonte seria o material dos diários (tinham um nome de que não me recordo, quem se lembra?) que noviços e estudantes tinham a obrigação de manter em dia. Eram relatos de acontecimentos, às vezes misturados com um ou outro comentário pessoal do narrador. Como ainda não passaram cem anos, a dificuldade estará em que, os agora leigos, tenham acesso a eles.
Um abraço
Jaime

Nelson disse...

Boa Zé Celestino. O meu abraço para ti. E por onde andarão os livros de actas da Academia Fr. João de S. Tomás, que funcionava em Aldeia Nova? Ali estarão plasmadas muitas das nossas actividades no campo cultural - literatura, poesia, oratória, canto, teatro etc.!... No ano lectivo 1959/60 era o Fernando vaz presidente, eu vice-presidente e o António Ferreira secretário. A existirem ainda, seria também um bom contributo.
Abraços
Nelson

Anónimo disse...

Agradeço as palavras e o modo dos que a mim se referiram, por causa do extracto que exarei no nosso blog, referente ao trabalho do frei Bernardo. Concordo com a ideia de se fazer o levantamento da actas das sessões da academia de Aldeia Nova, exercícios que fazíamos nas artes da escrita, da poesia, da declamação, do teatro, do estar em público(ainda Dale Cornegie vinha longe...) e dar-lhes forma de livro, já que hoje isto é fácil. Talvez a ideia dos que quiserem passar uns dias em Fátima possa proporcionar esse levantamento... Ainda no nosso blog se poderá escrever outros extractos de obras de colegas que estão a publicar, e temo-los muito bons. Com a sua anuência, está claro. Isto seria a nossa academia dos tempos modernos, das novas tecnologias. O que escrevi é para pensar, mas sobretudo para agir...
Um abraço a todos

Neves de Carvalho

Anónimo disse...

Novas do Padre Bernardo.

Segundo informação do Padre Pedro,colhida hoje dia 30 de Março, o P.e Bernardo foi no dia 19 deste mês a Paris à consulta com o médico operador que o achou bastante bom. No mesmo dia regressou ao Porto onde se encontra no Convento de Cristo-Rei, fazendo a sua vida normal, embora num ritmo mais reduzido. Sabíamos que o P.e Bernardo é muito dinâmico, mas, daqui prà frente, se não puder andar a 200, que ande a 120, na certeza de que continuaremos atentos à sua obra que sempre foi e será de altíssima qualidade. Quando o visitei na Casa de Saúde da Boavista, fui acompanhado pelo Moreno, e da conversa com ele saiu a ideia de publicarmos no blog este extracto que copiei "ipsis verbis" do seu livro, que tem o númeo 59 da sua já vasta bibliografia.
Como tenho, e todos temos com certeza, muito carinho pelos nossos mestres que, na puberdade e adolescência, guiaram os nossos passos e formaram a nossa personalidade,o mínimo que podemos fazer por eles é acompanhá-los, ainda que de longe,e darmos-lhes força anímica e rezar pelo seu bem-estar.

Força Padre Bernardo!!

Com um abraço

Neves de Carvalho

Ribeiro disse...

Gostei muito deste texto,do qual já conhecia alguns factos. O que me tocou foi o de focar o nome de duas personalidades já falecidas com quem contactei pessoalmente, e muito devo: o meu Mestre Fr. Rogério Amorim (em A. Nova)e a minha ex-benfeitora D. Maria Ayres Pereira, nobre Senhora que fez parte na comissão de angariação de fundos para a construção do Convento de Cristo Rei. Por sua intervenção e apoio cheguei a A. Nova, onde aprendi a ser homem. Também entrei nesta igreja pela primeira vez em 1961 na sua companhia.
Um abraço a todos
J.Ribeiro