Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
Sophia de Mello Breyner
Este poema de Sophia diz-nos do 25 de Abril, “onde emergimos da noite e do silêncio”. Ali começava toda a esperança. Uma esperança intemporal que tinha toda a eternidade para se cumprir. E o ar andava cheio de promessas, sonhos e canções. A poesia conquistou as ruas porque vinha aí o tempo do amadurar do trigo e os campos estavam cheios de papoilas.Então começávamos a tecer a liberdade e à nossa frente abriam-se caminhos, navegávamos por rios e mares desconhecidos e nenhum naufrágio era possível porque não havia distância nem lonjura e as nossas mãos abriam todas as cortinas da manhã.Mas não. Desfez-se o nevoeiro, surgiram as arestas e D. Sebastião não veio. Breve as estradas desembocaram na noite e os pastores do tempo tomaram conta de todos os caminhos. Era Ali que eu esperava a liberdade, o fim da guerra e da fome. Tinha a certeza de que assim seria. E esperei que Abril viesse, e tão pouco do que eu esperei aconteceu.
Estamos na história. É neste barco que vamos e não noutro. Estamos no reino das coisas imperfeitas. E há homens que sofrem o desemprego, a fome a pobreza. Em três décadas vimos morrer tanto sonho, desvanecer-se tanta esperança. Sabemos que poderia ter sido diferente. Bastava mais querer, menos conformismo. E que os interesses de alguns, poucos, não se tivessem sobrepujado aos de muitos. Bastava que o rotativismo partidário não fosse esta máquina de trucidar o Bem Comum. Bastava que o nosso egoísmo se transformasse em solidariedade.
Mas valeu a pena. Valeu a pena ter estado naquela madrugada e ter habitado, ainda que brevemente a “substância do tempo”. Apesar de tudo, Abril demora ainda em nós e espera Maio.
Eduardo Bento”
Estamos na história. É neste barco que vamos e não noutro. Estamos no reino das coisas imperfeitas. E há homens que sofrem o desemprego, a fome a pobreza. Em três décadas vimos morrer tanto sonho, desvanecer-se tanta esperança. Sabemos que poderia ter sido diferente. Bastava mais querer, menos conformismo. E que os interesses de alguns, poucos, não se tivessem sobrepujado aos de muitos. Bastava que o rotativismo partidário não fosse esta máquina de trucidar o Bem Comum. Bastava que o nosso egoísmo se transformasse em solidariedade.
Mas valeu a pena. Valeu a pena ter estado naquela madrugada e ter habitado, ainda que brevemente a “substância do tempo”. Apesar de tudo, Abril demora ainda em nós e espera Maio.
Eduardo Bento”
Texto deste blog (de 22 de Abril de 2008).
Nota:
Palavras com todo o seu significado. O seu eco parece eternizar-se neste périplo das nossas realizações sociais, económicas e financeiras, da nossa pequena política de País desgovernado em que apenas governantes e apaniguados se “governam”, apesar de nem eles passarem incólumes à crise … Compensa lembrar o passado, para conseguirmos fazer melhor no futuro.
Antero
Palavras com todo o seu significado. O seu eco parece eternizar-se neste périplo das nossas realizações sociais, económicas e financeiras, da nossa pequena política de País desgovernado em que apenas governantes e apaniguados se “governam”, apesar de nem eles passarem incólumes à crise … Compensa lembrar o passado, para conseguirmos fazer melhor no futuro.
Antero
2 comentários:
Texto profundo e cada vez mais atual!...Fernando
Muito bem Eduardo! É preciso a tua poesia para nos fazer lembrar que esse dia aconteceu! Quantos de nós, ainda que infimamente, contribuíram para essa madrugada!É preciso não perder a esperança, embora às vezes seja o desespero o vencedor.
Um abraço
Neves
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