quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Uma questão fracturante na nossa sociedade?

Depois de alguns de nós se haverem deliciado com uma pequena amostra daquilo que vai no baú de recordações do Filipe Batista, que tal se falássemos um pouco do presente?... Ocorreu-me deixar à discussão um tema que, mau grado a sua actualidade, só pela rama se fala dele e sempre à margem de uma reflexão séria. Refiro-me ao "casamento entre homosexuais", tema sobre o qual o governo se apresta para produzir legislação tendente à sua concretização legal. Do meu ponto de vista trata-se, como fica dito em epígrafe, de uma questão fracturante da nossa sociedade, que não foi posta à discussão pública, que vive medrosamente acontonada no programa do partido que ganhou as últimas eleições legislativas e que lá foi plantada para satisfação de uma minoria clientelar.
Num tempo em que as uniões de facto já são contempladas com legislação protectora, designadamente para efeitos fiscais, faz sentido a urgência na aprovação desta lei?... Acham que este tema merecia ser referendado?...
Gostava de ver a vossa opinião.
Abraços
Nelson

5 comentários:

Fernando disse...

Meu caro Nelson,
Francamente, não quero entrar neste debate que no que me diz respeito a mim e aos meus filhos seria simplesmente intelectual e teórico e eu tento agir sobre o real e o concreto.
Se falasse deste tema nem à rama lhe chegava ou então cortava-o logo pela raiz...
Compreendo perfeitamente que como director de Jornal e como jornalista participes no debate que pelos vistos é de actualidade bem mais em Portugal que em França.
A minha opinião de homem de quase 70 anos, que nasceu por tràs dos montes e recebeu a educação que bem sabemos, não se presta a confusões. Deus criou-nos homem e mulher e disse-nos “ crescei e multiplicai-vos.” Sei que é uma opinião muito simplista. Não vou pedir desculpa a ninguém por ter uma opinião tão definitiva. Respeito a opinião dos outros e exijo que respeitem a minha. Deixo no entanto o debate sobre a sexualidade ( e sobretudo a homosexualidade) aos especialistas ou conhecedores. Faço minha a tua interrogação, amigo Nelson, mas deixo a resposta aos peritos :”Num tempo em que as uniões de facto já são contempladas com legislação protectora, designadamente para efeitos fiscais, faz sentido a urgência na aprovação desta lei?...” Um abraço, Fernando

Antero disse...

Revejo-me nas palavras do Fernando.
Fale-se de sexualidade, de liberdade pessoal, etc...
Mas... casamento!?
Com uma pedrada vão estragar-se várias coisas.
Por outro lado, a verdade é que o assunto e as suas consequências nunca foram debatidas com profundidade na sociedade portuguesa. E deviam ser. Porque ninguém votou no partido do governo (nomeadamente eu) por conter uma proposta destas, que ele próprio manteve em lume brando e sem fazer ondas...
É um facto que, na minha modesta opinião, os referendos, com as regras que têm, servem para empatar. Penso que neste caso tinha essa virtude, pelo menos.
Sou completamente contra a descaracterização do casamento. Chamem-lhe o que quiserem, casamento é que não. Penso que as sociedades modernas, estão tão preocupadas com as minorias, as igualdades e os direitos de cada um, que chegam ao absurdo de desproteger a maioria e a normalidade.
Fernando, também gostava de saber como está este tema em França. Como gostava de saber como está no Canadá, na Austrália e nos restantes Países onde temos "correspondentes"...
Antero Monteiro

Ferraz disse...

Nélson,
A atitude mais correcta parece-me ser a da honestidade intelectual perante um problema que também não me diz muito, para além daquilo que pontualmente leio, no meio do barulho. Para mim esta discussão é algo académica e pouco mais. Admito que para outros possa constituir um verdadeiro tormento conviver com uma tendência que ainda não é um direito. Por isso, julgo que a tolerância em relação a esta prática vem atrasada uns bons milhares de anos. Incomoda-me que, ainda hoje e nalgumas sociedades, a homossexualidade seja considerada uma prática criminosa, sancionada por códigos atribuídos a deuses ou a “vacas sagradas” das suas tradições. Não me vale a pena presumir, pois também eu sou filho dessas tradições que me formataram a cabeça e reconheço a dificuldade em lidar com a questão. Só prometo esforçar-me todos os dias pelo menos a exercitar a tolerância e aceitar a liberdade dos meus semelhantes, se não me prejudicarem ostensivamente. Quanto ao resto, não me vejo no papel de educador do povo, muito menos de algoz da consciência dos outros, quando conhecemos países muito mais arranjadinhos do que o nosso, com cidadãos mais qualificados, alguns até de cariz filoconservador, embora democráticos, que há muito despenalizaram a homossexualidade e legalizaram esse tipo de casamentos com ou sem matizes.
No entanto, parece-me que há aqui algum tipo de exagero quanto à oportunidade – como referem os comentários anteriores – e sobretudo um mau negócio para o Estado.
Os casamentos, sendo contratos reconhecidos oficialmente, as partes contratantes devem beneficiar-se mutuamente; caso contrário, tornam-se desinteressantes e inúteis para alguém.
Num casamento entre heterossexuais, o Estado dá-se ao trabalho de o reconhecer e até recompensar, pois com ele beneficia, pelo menos em potência, da possibilidade de renovar a sua população, por processos naturais e de forma sustentada na célula familiar, sem a qual a Nação desapareceria.
O casal de cidadãos homossexuais, não podendo oferecer esta contrapartida ao Estado que o protege, fica claramente a ganhar, obtendo os mesmos benefícios previstos para quem dá filhos ou poderia dar.Podem os casais homossexuais responder com a intenção ou direito de adopção, mas essas crianças não foram geradas por si. Aliás, tenho para mim – mas sem perceber muito do assunto - que a adopção de crianças nada tem a ver com casais sejam eles de que tipo forem. As crianças deveriam ser adoptadas por adultos idóneos, casados ou solteiros, tanto faz.

Isidro disse...

Honrando os convites que me antecedem, do Nelson, do Fernando, do Antero e do Ferraz, noto que também eu sou muito antiquado, uma vez que partilho a intimidade com a mesma mulher há mais de 30 anos, nunca tendo nós prometido um ao outro mais que 1 dia de cada vez, ainda que selando o habitual contrato entre pessoas de bem. Somos tão antiquados que até temos descendência que pensa como nós. Respeitamos outras opções, mas não admitimos supostas raças superiores, baseadas na orientação sexual que, nem entre os animais não humanos é única.

Eu estou com o frei Bento Domingues, que cito de cor, quando diz que, a fazer fé nas estatísticas de divórcios e casamentos, este contrato cível/religioso/divino já quase só é tema de interesse para os padres e os homossexuais.

Por exemplo, para que serviam o dote ao pai da noiva e a obrigatoriedade de dar a totalidade da herança ao exacto filho varão? A sabedoria milenar ensina-nos que o número de interessados no casamento, enquanto contrato de direito divino, religioso ou civil tem dependido da evolução da posse de bens e é nesse sentido que foram reconhecidas as Uniões de Facto.

Se os solteiros e solteiras idóneos com mais de 30 anos podem adoptar crianças e jovens, por que é que continuam a falar só em adopções por casais disto e daquilo? Para aumentar algum segmento de mercado?

Por que motivo haveríamos de eleger deputados de 4 em 4 anos? - Só para lhes dar emprego ou pluriemprego durante a alimentação de conversa fiada? Se têm mandato e mérito para legislar, legislem como é normal.

Anónimo disse...

-Nada tenho contra os homosexuais,contudo só o pronunciar a palavra já me dá algum desconforto.A homosexualidade um defeito,embora muito boa gente possa dizer que não. Nada tenho no entanto, contra o "dito" casamento;trata-se apenas de regulamentação jurídico-civil do indvíduo, contra a exclusão e a favor de igualdade de direitos,ou o mais próximo possível, do casal dito normal(homem/mulher).
-Referendo? -"Never", nunca,"jamais".
O parlamento deve resolver o assunto, e não lavar daí as suas mãos.Para o aumento dos impostos ou para a mísera subida do salário mínimo nacional não fazem referendo, e aquí neste caso atinge a totalidade da população.
-Os padres(a igreja) devem-se abster, pois este tema nada tem a ver com relegião(não é Matrimónio).
Não tenho conhecimento que a igreja alguma vez tivesse proposto referendo contra o casamento civil entre Homem/Mulher.
A Igreja deve preocupa-se com a educação da sociedade propondo o Amor, a Paz, a Solidariedade. Nas paróquias não levantar conflitos desnecessários com alterações radicais aos costumes nem ser demasiado conservadora.
A Igreja precisa de evoluir na continuidade, não estamos no século I nem na Idade Média.

--Minoria? Quando é que o maior é minoria? Neste caso "estar" não "ser".Está em minoria quando as outras minorias (4 minorias + 1 micro-minoria -os Verdes-)se unem.
Conclusão: o partido do governo não tem a maioria a assembleia, contudo é actualmente o maior a nível nacional. Os que se abstiveram? Ah! Esses com essa atitude devem ficar calados, pois pelo que demonstram para eles qualquer coisa serve: governo pode aumentar os impostos,os empresários fecharem as empresas. Só fazem barulho nas filas dos hospitais, nas paragens dos autocarros,ao verem os preços do pão do leite...á porta das repartições de finanças,dos bancos!
Abraços
J.V.Ribeiro