quinta-feira, 6 de novembro de 2008
DIÁRIO - José Carlos Amado Santos
15 de Novembro de 1972
-Maldita sorte!Acabei de jogar mesm agora à bola e perdi 4 a 2.
17 de Novembro
Hoje fui chamado a história e não tive nenhuma sorte!Embora eu tivesse respondido a quase todas as perguntas o professor deu-me um A(9).Como os professores às vezes são injustos!Estive a falar com o senhor padre Gil sobre os meus problemas de vida sexual e sobre o meu comportamento. Acho que ele não sabe explicar bem essas coisas. Hoje não houve ginástica por causa do tempo estar um pouco mau.
18 Novembro
Hoje joguei à bola e ganhei 2 pontos.O ponto de latim era para ser hoje mas o professor ,não sei porque motivo ,mudou-o para sábado que vem.
19 Novembro
Hoje não tomei o pequeno almoço porque fiquei mais tempo na cama que era costume.Esta é a minha semana de servir à mesa.O seminário foi jogar com a Urqueira perdeu 9 a 1.
20 de Novembro
Tivemos de ir fazer ginástica para o Telheiro porque estava a chover e não podiamos fazer na rua.Na aula de português eu estava com um medo terrivel de ser chamado.Felizmente não fui chamado. Vimos na televisão,isto é ,aqueles que têm mais de quatorze anos ,um filme policial.
21 de Novembro
Hoje os do quarto ano (actual 2º ano liceal )tiveram um ponto de fisica.Ainda não fui chamado a português ,mas espero ser chamado muito em breve.
23 de Novembro
Estou a escrever no estudo da tarde e o Frei José João é que está a vigiar o 1º e 2º anos. O Paulo Borges ia-me apanhando a escrever o meu diário. Não lhe faltava mais nada ter de saber o que eu faço. Tive de parar de escrever o diário 3 ou mais vezes porque o Gabriel passou agora ao lado da minha carteira. O seminário anda em reparações.
27 de Novembro de 1972
Já há vários dias que não escrevo o meu diário porque tenho muito que estudar. Hoje recebi a prova escrita de matemática. Joguei à bola com a linha B empatámos 1 a 1. Tive uma dor de barriga antes da aula de português, pensava que ia ser chamado mas afinal ainda não fui chamado. Hoje ainda vou ver televisão 30 de Novembro Hoje Houve passeio. Levamos a merenda e fomos para o lado de Espite. Não gostei muito do passeio, quando paramos eu fui ler até ao lanche depois viemos para o seminário e eu tomei o banho habitual. Hoje a professora de Francês não veio e nós não tivemos francês. Amanhã há um passeio até Vila Nova de Ourém.
1 de Dezembro de 1972 ,sexta-feira
Hoje todos os do seminário fizeram um passeio até ao castelo de Vila Nova de OUrém. Partimos do seminário às 10 horas e chegamos às 11 h e 30m. Andei a ver o castelo embora tenha pouco para ver. O castelo de Vila Nova de Ourém está muito estragado, a muralha principal está toda arrasada. Almoçamos no castelo e passado algum tempo voltamos para o seminário. Eu vim com o Salzedas e o que me valeu foi que eu apanhei uma boleia porque eu já ia com os pés cansados e doiam-me muito.
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16 comentários:
Confirma-se. Há enormes diferenças entre o Seminário de Aldeia Nova e o Colégio com o mesmo nome. Só de ouvir que perderam com a Urqueira por 9 a 1 até me arrepia. Ó meus amigos! Então eu vou-vos contar.
Na última metade dos anos cinquenta e década de sessenta era assim. Com a Urqueira lembro-me dum jogo em que ganhamos por números que nem interessa referir (foi por muitos). Havia então um avançado, o Fontelo que arrasava.
Fomos a Caxarias e ganhamos por 3 a 1 apesar de se terem reforçado com profissionais, dos quais retenho o nome do guarda-redes Capela, que na época jogava na Académica. Os jogadores do clube do Olival, quando nos defrontavam entrevam em campo a tremer como os romanos quando tinham que enfrentar os gauleses chefiados pelo Asterix. Porque as goleadas sucediam-se.
Os próprios alfacinhas lá foram receber uma lição, quando o Colégio do Clenardo teve a ousadia de medir forças connosco.
E por aqui me fico.
Com amizade
Ezequiel Vintém
Confirmo Ezequiel. Como eu me lembro!... Guarda-redes, o malogrado Manuel Júlio... E o nosso Filipe "Pastilhas" cuja alcunha lhe advinha do seu remate fulminante?!... Se bem me recordo, o guarda-redes do Clenardo era um internacional de andebol, não sei dos lagartos se dos lampiões!... O "Fontelo" -António Pereira de Carvalho natural de Fontelo de S. Domingos (Armamar)- era o mais extraordinário jogador que conheci. Foi pena ter-se quedado por Lamego.
Abraços
Nelson
Heróis do mar, nobre povo, nação valente.
Jaime
Meu Caro Vintém
Permite-me, na minha humildade, discordar da apreciação injusta que fazes dos artistas da bola mais novos do que tu e do que nós e que, como tu, surgiam daquele alfobre de Aldeia Nova que tantas glórias deu ao nosso pequeno mundo. Encontrando-me eu num ponto intermédio face ao tempo dos acontecimentos aqui narrados, embora sem qualquer privilégio especial, parece-me que é justo ou, pelo menos, decente compreender os desaires futebolísticos do tempo do Zé Carlos e seus heróis.
Na verdade, no teu ambiente temporal, caro Vintém, falando nós de bolas redondas, só os seminários, colégios e quejandos é que as tinham; a sociedade civil nem por isso. Timidamente, animados pelos feitos dos “cinco violinos” andavam os civis ainda a limpar algum terreno inculto que um morgado ou um comendador lá da parvónia lhes cedera para o “jogo do chuto” e pediam, depois, aos seminaristas de Aldeia Nova que ali fossem fazer uma demonstração… Claro, perdiam por muitos! Para mais, a Guerra do Ultramar deixava nas aldeias só os mancebos mais desajeitados.
Os rapazes de Aldeia Nova, naquele entonces, treinavam diariamente, eram mimados pelos seus fãs, tinham às vezes rancho melhorado à base de batata doce e eram detentores de um estádio com cómodas bancadas escavadas no saibro, que partilhavam apenas com os carros de bois que pachorrentamente o atravessavam de ponta a ponta na sua circunspecta e prioritária lide diária.
Os anos foram passando, caro Vintém, adivinhava-se já na irreverência dos modos os alvores do 25 de Abril. A sociedade civil erguia-se e desatava as amarras até no futebol. Já no meu tempo os civis tinham burilado o esférico e perdiam o respeito aos seminaristas, padres e tudo, irreverentes para com a linha avançada dos guardiães da única fé do nosso cosmos. Às vezes já nem os santos nos valiam. Num esforço derradeiro para nos mantermos a tope, pedíamos emprestados a Fátima o João Gonçalves e o Manel Evangelista. Não me espanta que, anos depois, os nossos sucessores sentissem na carne a derrota amarga por 9-1 contra a Urqueira e a chorassem nos seus escritos. Faço vénias à coragem do Zé Carlos por cantar esse feito no seu diário; outros teriam rasgado semelhante página negra. Os tempos eram já outros, Vintém, as tácticas muito diversificadas e até as militares vergavam-se sob o peso do reumático. A vitória, no entanto, espreitava… Era uma questão de muito treino e alguma sorte.
Até logo. Um abraço. Ferraz
Eu suponho que sou de tempos anteriores ao Vintém e ao Ferraz.Por isso acho piada estas disputas futebolísticas. Nem sei quem é esse Fontelo. Quando passei por Aldeia Nova estudava-se e rezava-se. Rezava-se muito. O Senhor chamou-nos para salvar almas não foi para dar pontapés na bola.
António da Purificação
Abençoado diàrio que permitiu comentàrios tão interessantes!...
Fernando Vaz
Olá Fernando Vaz
Não serás tu o António da Purificação?
Um abraço
Jaime
Não te conheço, Vaz, mas sei que por essa França continuas a espalhar o virus da indiferença e da irreverência que te fez perder a vocação. Mas mesmo assim continuo a rezar por ti. Um abraço com fraternal estima.
António da Purificação
Desculpa Ferraz. Respeito profundamente as razões aduzidas numa douta fundamentação científico-filosófica, para explicação do fenómeno. Porém, desde logo as lendas não se racionalizam. Segundo, na década de cinquenta, os negros ainda não sabiam contar e portanto não tinham ainda consciência que pelo número suplantavam o apetrechamento técnico dos colonos. Logo ainda não havia guerra. Estava reservada para a nossa geração.
Há um ponto em que acertas em cheio, desvendando aliás um segredo até hoje não revelado: “os carros de bois que pachorrentamente o (o campo) atravessavam de ponta a ponta na sua circunspecta e prioritária lide diária”. Pois. Era exactamente pelos sulcos deixados mesmo a meio das balizas, por esses remotos veículos, que as bolas entravam por debaixo dos guarda-redes adversários, sem que eles chegassem a saber como tal acontecia.
Quanto a mim a explicação para a saga vitoriosa dos anos cinquenta versus anos setenta, reside no seguinte:
- Nós comíamos ao pequeno almoço farinha de trigo com açúcar. Eles não.
- Engolíamos diariamente dum só golo, uma colher de sopa de óleo de fígado de bacalhau, com o nariz apertado entre o indicador e polegar. Eles não.
- Provávamos o vinho da adega do frei Domingos, quando íamos repor o stock das galhetas. Eles não.
- Completavamos o jantar com figos surripiados á noite, na quinta do frei Domingos. Eles não.
- Tomávamos banho de água fria todo o ano. Eles certamente tomavam duche e quiçá banhos de imersão em água quentinha, o que amolece o corpo e a vontade.
E mais não disse. Mas houvera muito mais a dizer.
Um abraço
Ezequiel Vintém
Já não nos bastava o Vintém, o Oliveira, o Imeldo e outros ilustres "anónimos", agora aparece um António da Purificação, vindo não se sabe donde e a-temporal. Diz que é anterior ao Vintém, mas não conheceu o Fontelo. E isto de Antónios, há muitos e eu não tenho nada com este. Como não tinhas geito nenhum para a bola que foi introduzida pelos romanos com o nome de "pela", vens agora com essa de só se rezava! Olha, do teu tempo devo ser eu e ainda me lembro do Fontelo.
Ó Ferraz, o suplemento alimentício nos dias de jogos grandes com os tais da sociedade civil, por vezes integrava o bifinho e comia-se a horas próprias. Até já se preparavam os jogos com a táctica através de esquemas no quadro e uma palestra. Só me lembro de termos perdido com o Colégio de Alvaiázere, lá. Mas depois vingámo-nos no nosso estádio (Olival).
Até breve. Um abraço.
Toninho
Desculpa Ferraz. Respeito profundamente as razões aduzidas numa douta fundamentação científico-filosófica, para explicação do fenómeno. Porém, desde logo as lendas não se racionalizam. Secundo, na década de cinquenta, os indígenas ainda não sabiam contar e portanto não tinham ainda consciência que pelo número suplantavam o apetrechamento técnico dos colonos. Logo ainda não havia guerra. Estava reservada para a nossa geração.
Há um ponto em que acertas em cheio, desvendando aliás um segredo até hoje não revelado: “os carros de bois que pachorrentamente o (o campo) atravessavam de ponta a ponta na sua circunspecta e prioritária lide diária”. Pois. Era exactamente pelos sulcos deixados mesmo a meio das balizas, por esses remotos veículos, que as bolas entravam por debaixo dos guarda-redes adversários, sem que eles chegassem a saber como tal acontecia.
Quanto a mim a explicação para a saga vitoriosa dos anos cinquenta versus anos setenta, reside no seguinte:
- Nós comíamos ao pequeno almoço farinha de trigo com açúcar. Eles talvez não.
- Engolíamos diariamente dum só golo, uma colher de sopa de óleo de fígado de bacalhau, com o nariz apertado entre o indicador e polegar. Eles talvez não.
- Provávamos o vinho da adega do frei Domingos, quando íamos repor o stock das galhetas. Eles talvez não.
- Completávamos o jantar, com figos surripiados na quinta do frei Domingos. Eles talvez não.
- Tomávamos banho de água fria todo o ano. Eles certamente tomavam duche e quiçá banhos de imersão em água quentinha, o que amolece o corpo e a vontade.
E mais não disse. Mas houvera muito mais a dizer.
Um abraço
Ezequiel Vintém
Estou mesmo a gostar destes comentarios, excluindo evidentemente, as beatisses do Antonio da purificação. Ele precisavas era de purificar a lingua e dizer menos asneiras. Vou seguir o teu conselho e contigo, Purificação, serei indiferente e se necessàrio irreverente. Desculpa,Jaime, mas até me estas a ofender imaginando-me na pele desse inergumeno da Purificação. A minha assinatura é Fernando ou frei Lucas.
Estou a gostar muito das intervenções do Ferraz, de que não me recordo. Faz comentarios de alto nivel. Até o Ezequiel Vintém teve que fazer um esforço para não desmerecer... Gostei muito da fidelidade do teu texto, meu Vintém, e das imagens utilizadas. Faltaram so as papas, pois era assim que chamàvamos essa tal farinha de trigo, que era tão boa!Um abraço para todos... Recordar é verdadeiramente viver... Fernando
Olha lá ó Purificação?!... Tu não és da Beira Baixa (sem ofensa ao Zé Celestino)?... Lembro-me vagamente de um beatarrão como tu que era do Terreiro das Bruxas... vizinho dos Cerdeiras!... Ai és tu és!... De certeza. Confessa-te lá.
Salvé!
Para todos e em especial para o Carlos Amado.
Era um rapazinho circunspecto bastante calmo e extremamente sensato. Aqui vão umas palavras de simpatia, é pena eu não ter retribuição idêntica, mas maior pena ainda é imaginar tanta gente do meu tempo e... enfim imaginemos tinta branca em fundo branco...
O diário do Carlos Amado transporta-nos ao passado e faz-me lembrar aquelas traquinices da adolescência, aquelas palpitações de coração quando chegava o momento, creio que, após o jantar... a correria doida para ir ver o FUJITIVO...e apanhar os primeiros lugares no palco do salão em frente de um aparelho de televisão que por vezes tinha daqueles crises grisalhas ou falhanços técnicos da idade e que por vezes os mais velhos conseguiam superar. Era simplesmente mágico, o fim era mais triste.
Também havia vedetas de futebol, o duo CANDEIAS e DOMINIQUE sem esquecer o grande guarda-redes ADOSINDO que não obstante acabava por ser vítima de enormes frangalhões, para contentamento da equipa adversária.
Diz-me Carlos Amado eras tu do meu ano ou mais Novo?
Um abraço do TREZE
Nelson: Eu entrei um ano antes do que viria a ser o Pe João Domingos com quem fiquei sempre relacionado. Ainda recentemente estive na homenagem que fizeram àquele santo homem na sua terra natal,aliás não muito distante da minha: Casteleiro (Sortelha) não muito distante de Terreiro das Bruxas, como dizes. Tu tiveste um contacto comigo quando o João Domingos fez uma prégação na tua terra e fez o favor de me levar contigo. Foi em casa de teus pais que almoçámos. Bons tempoe! Ainda
a descrença não tinha galgado tão assanhadamente estas terras de Portugal.
Quanto às ameaças (certamente cristãs) do Fernando Vaz, ignoro-as.
Nada me fará trair as promessas baptismais que outrora fiz na pessoa dos meus padrinhos.
António da Purificação
Caro Purificação:
Estou situado já e peço desculpa pela minha confusão em relação à tua aldeia. Se apareceres no próximo encontro, apertaremos os ossos.
Nelson
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